Fim de Ano



Último dia do ano, acabou 2010. Como acontece em toda virada de ano, os povos do mundo inteiro criam grandes expectativas para o ano novo que se inicia. Quanta esperança... Os céus se enchem de luzes e cores com o espoucar dos fogos de artifício. Nos lares, nos clubes e em qualquer lugar onde haja pessoas comemorando também se ouve a explosão das rolhas de cortiça arremessadas das garrafas de espumante. Todos se cumprimentam, todos querem comemorar.


Feliz Ano Novo

E o tempo, ora mocinho, ora vilão, continua seu curso inexorável, indiferente a mudança no calendário. Os acontecimentos se sucedem, novas tragédias sepultam as antigas e assim o mundo continua rodando sem parar.
No apagar das luzes de 2010, no último dia de seu governo, o presidente Lula concedeu o direito de permanência no Brasil ao italiano Battisti, condenado em seu país. Vamos sofrer as consequências dessa decisão, não tenham dúvidas. Quem viver verá!
E as decisões do Supremo Tribunal ficam cada dia mais desacreditadas...
Alguém ainda se lembra dos atletas cubanos que desertaram e foram depois deportados pelo Brasil? Eles não eram bandidos, eram apenas atletas tentando uma vida melhor num país "democrático". Por que será que não houve nenhuma clemência para com eles???
Que pena, dois pesos e duas medidas. É assim que funcionam as coisas por aqui. Para o Battiste, condenado por morte na itália, visto de permanência. Para os pobres atletas cubanos, deportação. E o pequeno Sean continua impedido de ter contato com sua família brasileira...
Nossa, acho melhor parar por aqui. Enxergar somente o lado podre dos acontecimentos faz mal a saúde. Vamos continuar acreditando em dias melhores e torcer para que 2011 seja um ano cheio de paz e prosperidade. Vamos torcer também para que o novo governo seja mais comprometido com o real crescimento e desenvolvimento do nosso Brasil varonil.
Para todos que visitam o pausa para viajar meus votos de um Feliz 2011.

Era um portão que não fechava nada


Tentei estacionar numa entrequadra da Asa Sul para fazer compras com minha filha, mas foi impossível porque estava tudo lotado. Paramos numa quadra residencial próxima, caminhamos pelos jardins e veja o que encontramos: este portão da foto ao lado, que não fecha lugar nenhum.
Minha primeira reação foi rir da inutilidade do portão que parece se equilibrar sozinho sobre a calçada. Ele interrompe o acesso livre da calçada, mas não impede a passagem de ninguém. Só atrapalha. Pode até ser que algum dia uma cerca viva cresça dos lados para completar o obstáculo, mas até que isso aconteça o portão fica no mínimo inútil, e engraçado...
Quantos obstáculos encontramos em nosso caminho pela vida afora? Muitos. Alguns, como o caso do portão, nos obriga apenas a dar uma pequena volta. Outros, complicam um pouco mais mas não impedem nossa caminhada. Só depende de nossa determinação.

O Espírito do Natal


Acordei nesta manhã de natal envolvida por um silêncio quase opressor. Todos na casa continuavam dormindo e até os pássaros permaneciam calados, quietos.

Tomei o primeiro remédio da manhã e fui até a cozinha. Na pia uma pilha de pratos e talheres, copos e travessas sujas lembravam a ceia da noite anterior. Deixei tudo em ordem, tomei outro remédio e fui fazer uma caminhada pelas ruas do condomínio até dar a hora de tomar meu café da manhã.

Estava tudo em silêncio, nenhuma criança ou adulto na rua ou nas varandas de suas casas. Os jardins também estavam vazios mostrando sinais da chuva que caíra na noite anterior. Uma brisa fresca enchia o ar.

Continuei minha caminhada solitária até encontrar uma senhora que subia a rua apressada. Desejei-lhe um feliz natal, no que fui correspondida com um bate papo até a casa onde ela trabalha. Os patrões viajaram, mas deixaram o cachorro sob seus cuidados e ela chegou bem cedinho para alimentar o animal.

Nos separamos e continuei meu passeio, solitária e em silêncio. Minha impressão era de caminhar por uma cidade fantasma. Tudo quieto, nem os cachorros latiam. Que diferença das manhãs de natal da minha infância quando as crianças acordavam cedo e saiam correndo para a rua exibindo seus presentes. Algumas estreavam suas bicicletas novinhas, usando as rodinhas auxiliares até aprenderem equilibrar a magrela. Os meninos testavam suas metralhadoras de brinquedo e enchiam a rua com um barulho ensurdecedor enquanto as meninas se juntavam em grupinhos para brincar com suas bonecas novinhas em folha trazidas pelo papai noel.

Continuei andando nas ruas silenciosas. Vez ou outra um pássaro enchia o ar com seu canto. Um casal de maritacas, pousados na ponta de uma longa folha de palmeira, fazia sua barulheira habitual. Era só o que se ouvia. Não havia carros na rua e muito menos pessoas. Fiquei pensando por onde andaria o espírito do natal. Será que ele morreu?

Voltei para casa caminhando devagar enquanto relembrava a noite de ontem. Estávamos receosas de que a festa não fosse ficar animada como gostamos porque era o primeiro natal, em muitos anos, que apenas a família estaria reunida para a ceia. Éramos eu e minha filha, minhas duas irmãs, uma sobrinha e minha mãe, mas foi uma noite imensamente feliz. O espírito do natal esteve presente o tempo todo. Havia uma energia de amor e amizade rondando o ambiente. Éramos uma família reunida, na mesma sintonia, para comemorar o nascimento de Jesus, Aquele que nasceu e morreu para nos ensinar a amar incondicionalmente e respeitar o próximo.

Natal

Antevéspera de Natal. Época triste para alguns e festiva para outros. Não tenho certeza em qual das categorias me incluo, fico oscilando entre as duas...
Por um lado vejo o Natal como uma data apenas comercial, época em que somos induzidos a mergulhar nas compras enfrentando lojas lotadas, preços altos e filas quilométricas. Todos querem um presente. Todos esperam por um presente. Tá na mídia, a TV fala disso o tempo todo, os jornais estão cheios de propaganda, as revistas, nem se fala...
Na minha memória, desde que eu era apenas uma garotinha magrela e tímida, de longos cabelos negros cheios de cachinhos, o natal parecia mágico: cheio de lindas árvores enfeitadas para encher os olhos das crianças e adultos, alguns presépios bem montados e muito música natalina.
Na cidade de interior, onde vivi grande parte de minha infância, todos os anos era montado um enorme presépio na rua em que eu morava, num terreno sem edificação. Para meus olhos de criança não havia nada mais bonito e de mais apelo religioso. Eu ficava maravilhada com os personagens, as luzes e toda a história de Jesus. Todos os dias, numa espécie de adoração, eu fazia minha visita ao presépio e ficava por ali algum tempo olhando para aquele menininho que nasceu numa mangedoura e rezava baixinho.
O tempo passou, eu cresci, mudei de cidade e tive a oportunidade de passar o natal em diversos lugares. Vi árvores e presépios enormes, muito mais bonitos e enfeitados mas, sinceramente, nenhum teve ou tem para mim o apelo daquele presépio simples da minha infância.
Ainda ecoa em minha memória a algazarra das crianças nas manhãs de natal correndo e gritando pela rua para exibir seus presentes. Era uma festa. Todos queriam mostrar seus brinquedos e a criançada parecia embriagada de prazer e alegria. Eram brinquedos na maioria modestos: bolas coloridas, bonecas, jogos e carrinhos. Algumas crianças mais abastadas ganhavam bonecas que falavam, bicicletas ou carrinhos de pedal, mas a maioria ganhava mesmo eram bonecas mudas, bolas, carrinhos de plástico e jogos de tabuleiro. Mesmo assim todos se sentiam felizes. Alguns, talvez, um pouco frustrados mas não infelizes.
Passei minha infância inteira sonhando com uma bicicleta que nunca chegou nem no natal ou outra data qualquer, mas isso nunca foi motivo para eu me sentir infeliz. Acho que aprendi ainda muito pequena a ser feliz com o que eu tinha na mão, mas nunca deixei de perseguir meus sonhos. Sempre acreditei que as coisas acontecem na hora certa. E acontecem.

O primeiro vôo da garrincha

Pendurei embaixo do telhado da varanda uma pequena casinha de madeira pintada de verde, com telhado vermelho e ornamentada com uma cerquinha marrom que fica na frente da entrada em forma de círculo. Não demorou muito tempo para que um casal de garrinchas resolvesse usá-la como ninho.
Foi um intenso vai e vem do casal para forrar o ninho com pedaços de folhas e capim que colhiam no jardim. Depois tudo se aquietou.
Passados alguns dias começou o entra e sai dos pais carregando pequenos insetos e larvas para alimentar os filhotes famintos. Eles piavam muito reclamando pela comida que parecia nunca saciá-los e o trabalho dos pais durava o dia inteiro.
Ninguém podia chegar perto da casinha que as garrinchas irritadas piavam alto tentando espantar os curiosos.
Hoje pela manhã eu estava na varanda quando percebi que um dos filhotes estava caído no chão e os pais voavam em volta tentando guiá-lo de volta ao ninho. Como o telhado é alto, mesmo subindo pelo arbusto florido que fica no canteiro embaixo da casinha, o filhote não conseguia voltar para a segurança do ninho.
Preocupada com os gatos que andam soltos pelo quintal, e adoram comer um passarinho distraído, fiquei sentada numa cadeira próxima observando os passarinhos. Um deles cuidava dos filhotes e parecia incentivá-los voar enquanto o outro entrava e saía da casinha levando um bichinho no bico.
Instantes depois os outros dois passarinhos se aventuraram no desajeitado primeiro vôo e caíram pesados no canteiro coberto de folhas secas. A mãe piava em volta e os três pequenos filhotes tentavam subir pelos galhos do arbusto. Volta e meia despencavam no chão para começarem a escalada novamente.
Dois filhotes conseguiram alcançar a escada que fica pendurada junto a parede e de lá voaram até a madeira onde está pendurada a casinha. Como a porta é pequenina e eles ainda não têm controle do vôo despencaram pesadamente no chão do canteiro.
Como todo bebê eles são persistentes e num instante recomeçaram a escalada. Na medida que o tempo passava eles ganhavam mais confiança e arriscavam um vôo mais longo. Um dos pais ficava em volta incentivando o vôo enquanto o outro continuava indo e voltando com um pouco de comida no bico para alimentar os filhotes.
A penugem dos passarinhos é da mesma cor do barro e das folhas secas. Uma boa camuflagem para despistar os predadores. No primeiro vôo, ainda muito desajeitado, eles também começam a aprender encontrar comida para conseguirem sobreviver sozinhos.
Os pássaros, animais ditos irracionais, parecem mais espertos que o homem. Ensinam seus filhotes voarem assim que a plumagem se completa, mesmo a cauda estando ainda bem curtinha. Ensinam também como procurar sua própria comida e, mais importante, os estimulam na busca da independência e da liberdade.

A força das águas

Todos os anos vemos nos noticiários imagens de pessoas e automóveis sendo arrastados por enchentes em São Paulo. É sempre a mesma coisa, basta a chegada das chuvas para que essas cenas aterradoras entrem em nossas casas causando tristeza e indignação.
Semana passada eu e alguns amigos voltávamos do litoral para São Paulo quando fomos surpreendidos por uma forte enxurrada na entrada da cidade.
Aconteceu muito rápido. A chuva piorou por volta da meia noite quando chegávamos em São Paulo e o trânsito ficou lento. Faltava mais ou menos quarenta minutos de viagem mas, uma hora depois, estávamos completamente parados e ainda distantes de casa.
A chuva ficou mais forte, alguns motoqueiros voltavam na contramão da pista para avisar que não dava para prosseguir, pois a água estava subindo muito rápido. Os motoristas tentavam dar marcha ré para escapar da enchente. Sacos de lixo boiavam sob as águas escuras de lama e sujeira. Gritos aflitos enchiam a noite escura. O caos começou a se instalar e crescer.
Tentei manter a calma porque sabia que nosso carro, uma caminhonete alta e com tração nas quatro rodas, era potente o bastante para sair, com um mínimo de segurança, daquela armadilha de água suja e detritos. Naquela confusão de carros tentando fugir na contramão e gritaria geral dos motoristas que dirigiam carros pequenos conseguimos furar o cerco, dar marcha ré e escapar pela primeira rua íngreme que surgiu a nossa direita. Sequer sabíamos onde estávamos, nossa única preocupação era afastar daquele ponto de alagamento o mais rápido possível.
Alguns minutos depois e já distante do problema tentamos nos orientar para encontrar uma saída que nos levasse para casa. Quando o carro parou em frente ao portão respiramos aliviados. Estávamos ilesos em casa e em segurança. A chuva tinha diminuído de intensidade, mas continuou caindo a noite inteira.
Imóvel na cama quentinha e confortável fiquei pensando na aventura que vivemos. Fora assustador.
Quando vemos no noticiário um carro sendo arrastado pela correnteza não conseguimos avaliar a força das águas e a rapidez com que ela sobe e alaga tudo. É impressionante! Não dá tempo de fazer muita coisa.
A imagem dos sacos pretos cheios de lixo e da sujeira das ruas boiando sob as águas insiste em voltar à minha memória. É o resultado da falta de educação da população que não se preocupa com o meio ambiente e joga todo tipo de lixo nas calçadas e nas ruas. Esse lixo cai nos bueiros que ficam entupidos e transbordam acabando por invadir as ruas, calçadas e residências destruindo tudo e disseminando doenças.
É triste concluir que as pessoas atingidas pelas enchentes, de alguma forma, são também responsáveis pelas tragédias que as atingem na medida que não se preocupam com o meio ambiente, com o desmatamento e principalmente com o lixo que produzem e que descartam fora dos locais para isso destinados. Jogam nas ruas e nas enconstas todo tipo de lixo e entulho.
Vamos aprender a jogar na lixeira um simples palitinho de picolé, um papelzinho de bala ou qualquer outro material descartável. Lugar de lixo é na lixeira.

Adeus xeloda

Hoje tive uma boa notícia, ou melhor, uma excelente notícia: o PET que fiz no AC Camargo no dia 7 de dezembro revelou que o câncer está em atividade apenas no esterno e costelas e suuuumiu nos outros órgãos. As ziquiziras que eu venho sentindo nos últimos tempos são apenas efeitos colaterais do xeloda combinado com o tykerb.
Quando tomei os comprimidos do xeloda depois do café da manhã, olhei bem para eles e disse em voz alta: vocês serão os últimos. Os anjos disseram amém e eu realmente me livrei deles. Vou ficar usando apenas o tykerb e um hormônio para controle e daqui a 3 meses volto ao hospital para repetir os exames e ver como o organismo está reagindo.
A chuva está caindo lá fora, mas sinto que dentro de mim tudo está iluminado como se eu estivesse sob o sol do meio dia. É bom ter certeza de que o meu corpo está reagindo e vencendo a doença.

Fazendo exames e passeando

Cheguei em São Paulo na tarde de quinta-feira e no dia seguinte fiz as tomografias. Aproveitei o sábado e domingo para passear pela cidade. No domingo eu e Maria fomos ao MASP, que é sempre uma boa opção de passeio, e encontramos uma feira de antiguidades fantástica embaixo do prédio. Ficamos por ali apreciando as belas peças antigas. Paramos para almoçar no restaurante do museu que tem uma comida muuuito boa. Amei as saladas e nem dei bola para o prato principal que também parecia muito bom.
Saímos do museu e fomos papear no parque em frente, pois o calor estava insuportável. Ficamos um pouco por lá e quando o tempo mudou a cara resolvemos voltar para o hotel. Foi a nossa sorte, pois assim que pisamos no hotel não demorou cinco minutos e caiu o maior temporal.
Hoje amanheci o dia no hospital para fazer o exame de sangue. Estou quieta no hotel, seguindo a orientação para o PET que farei amanhã. Na quarta-feira vamos para a praia com minha amiga Eliete e a Márcia e só voltamos para São Paulo na outra quarta, pois na quinta tenho consulta médica para saber o resultados dos exames e como seguirá o tratamento daqui para frente. Tomara que eu possa finalmente encerrar com a quimioterapia. Quem sabe?

Uma minhoca, dois passarinhos




O quintal da minha casa é um verdadeiro jardim do édem para os passarinhos que voam livre na natureza. Lá eles encontram tudo o que gostam: frutas frescas nos pratos pendurados nas árvores, sementes, alpiste e outras comidas próprias para passarinho que minha mãe espalha pelo jardim (para meu desespero) deixando tudo com aparência de bagunça.
Num cantinho, mais ou menos discreto, separei um espaço para preparar a compostagem feita com as sobras orgânicas da casa. Naquele pedaço de terra minha mãe joga as cascas das frutas e legumes, as sobras das comidas, enfim, tudo o que é orgânico. Uma verdadeira festa para as duas galinhas de estimação que ela cria no quintal, para os passarinhos e também para os calangos que estão cada dia mais gordinhos e robustos.
As galinhas e os passarinhos ciscam o dia inteiro aquele pequeno pedaço de terra em busca de larvas e insetos. As galinhas gordas também ciscam o restante dos canteiros que elas conseguiram destruir desde que chegaram em minha casa ainda pintinhos. Os calangos ficam atentos em cima das pedras e atacam numa rapidez impressionante qualquer inseto que se aventure pousar na compostagem. O pouco de matéria orgânica que sobra acaba se decompondo e por fim a terra fica negra, rica em nutrientes e cheia de minhocas suculentas.
Essa terra adubada é depois espalhada pelos canteiros do jardim de frente da casa que ficam protegidos dos pés (e das cacas) das galinhas. Aliás, as cacas das penosas é outro rico adubo natural que completa a compostagem, mas confesso que é bem nojento (e fedido). Detesto tropeçar nessas cacas quando ando pelo quintal ou caminho pelo gramado verdinho. Não sei onde minha irmã e minha sobrinha estavam com a cabeça quando resolveram comprar os pintinhos para presentear minha mãe??? O pior é que a velhinha adora galináceos e para ela não existe bicho de estimação melhor do que uma galinha gorda (e as dela estão até quadradas) e cheias de manias.
É isso mesmo, cheia de manias. Minha mãe bota qualquer bicho de estimação mal acostumado. Suas galinhas ficam esperando por ela todo final de tarde para irem dormir protegidas no cantinho delas. Elas não vão sozinhas para o galinheiro e também não se acostumaram com o poleiro e só dormem em cima de um banco alto e largo. Elas ficam absolutamente perdidas e inquietas até minha mãe chegar e levá-las para dormir. Pode? Até onde sei, qualquer galinha que se preze encontra seu próprio canto para dormir, sozinha.
Além dos passarinhos soltos na natureza minha casa abriga dois passarinhos na gaiola (coisa que detesto), mas os coitados já nasceram em cativeiro e são presentes que minha mãe ganhou. O Neto, um melro metálico lindo, de penas azuis brilhantes e olhos bem amarelos, é o xodó da minha mãe (e meu também, tenho que admitir). Ele adora comer bichinhos e frutas. É louco por maça e alucinado por minhocas, caramujos ou qualquer outro inseto comestível.
Hoje pela manhã o quintal ainda mostrava restos da chuva torrencial que caiu ontem a noite. Encontrei uma minhoca se contorcendo sobre a cerâmica clara do corredor e lógico, peguei a coitada e no momento seguinte a levei até a gaiola que o Neto divide com outro pássaro. Coloquei a bichinha na vasilha de comida e a Bibi caiu de bico em cima dela, mas como o Neto é mais esperto conseguiu roubar o petisco. A pobre Bibi ficou com cara de boba, sem entender como havia perdido a minhoca suculenta.
Olhei dentro da piscina, onde sempre encontro minhocas suicidas no fundo (quando chove muito elas se desesperam, saem da terra e acabam caindo dentro d'água). Resgatei uma com a peneira para jogá-la dentro da gaiola para a Bibi saborear, mas novamente o Neto roubou o petisco. A Bibi, furiosa, voou atrás dele mas novamente se viu frustrada na corrida pela minhoca que já havia sido engolida pelo esperto melro.

Adeus

Ontem o câncer levou embora mais uma de minhas amigas. Ela foi apagando devagar e, como uma vela que se consome para encher de luz um ambiente, também ela encheu de luz, carinho, amizade, conforto e muito amor todos aqueles que tiveram a sorte de conviver com ela. Fica uma enorme saudade da Mororó. Como ela gostava de dizer: "adeus amiga", dessa vez, para sempre.
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Alguns acreditam que a vida não se acaba com a morte. Para ser franca, não tenho certeza de nada, pois não tenho nenhuma teoria formada a respeito desse assunto, mas acredito que a energia da qual somos criados apenas se transforma então, de alguma forma, minha amiga continuará por aí ...
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Depois de amãnhã irei a São Paulo fazer vários exames e passar por consultas médicas no Hospital do Câncer. Uma amiga costuma dizer que nascemos com prazo de validade. Até concordo, mas prefiro fazer uma boa manutenção para garantir uma extensão desse prazo com boa aliás, excelente qualidade de vida porque para mim a vida só vale realmente a pena quando podemos curti-la da maneira que gostamos.

Curto circuito ou confusão?


A vida é uma sucessão de pequenos morreres?
Pergunta estranha,
Idéia nefasta, mas...
Pensando bem,
Dormir e acordar
É uma forma discreta, e inexorável,
De morrer um pouco a cada dia.
Loucura?
Não vejo assim. Ou será?
Sou estranha.
Estrangeira de lugar nenhum
Ou alienígena?
Sou assim
Paradoxal, às vezes confusa
Cheia de pensares...
Quero ficar, mas também desejo partir
Prá onde ir?
Para muitos lugares e lugar nenhum.

Amizade quase Perigosa

Parecia um sábado como outro qualquer no Rio de Janeiro. A diferença era a ausência do sol e as nuvens baixas e escuras que deixavam o dia triste e a atmosfera pesada. Uma chuva forte se fazia anunciar.
Acordei com preguiça de levantar e fiquei morgando mais um pouco na cama até que a fome me levou para a cozinha onde o café da manhã já estava servido desde muito cedo. O cheiro agradável de tempero enchia o ar aumentando a fome e a vontade de comer. O almoço já estava sendo preparado e a conversa da cozinheira com suas ajudantes enchia o ambiente com um burburinho alegre e cheio de risadas contagiantes.
Assim que terminei meu café com leite acompanhado de um pão quentinho com queijo derretido escorrendo dos lados saí da cozinha correndo e atravessei o jardim que ligava minha casa à clínica que atendia mais de 200 crianças excepcionais (hoje chamadas especiais). Fui direto até a rouparia onde eu sabia que iria encontrar tia Ivete.
Ela estava lá todos os dias separando as roupas recém lavadas e cheirando a desinfetante para colocá-las nas prateleiras enfileiradas ao longo das paredes pintadas de branco. Tia Ivete era uma senhora avançada em idade, muito alta e magra, com uma voz baixa e bem fraquinha. Eu gostava muito de conversar com ela que sempre tinha uma história interessante para contar.
Atenta ao barulho da chuva caindo sem parar observei uma atendente preparando uma criança para entregá-la à mãe. Algumas daquelas crianças tinham a sorte de poder sair nos finais de semana, mas a maioria ficava na clínica todos os dias do ano, durante toda a vida. Suas deficiências eram graves, o que dificultava muito a vida fora dos limites de uma clínica especializada.
Percebi com certa preocupação que o Juarez, um dos internos permanentes, estava muito agitado naquele dia. Gesticulava muito, falava alto consigo mesmo e andava para lá e para cá entre a sala e a rouparia. O médico plantonista estava no consultório que ficava ali perto conferindo alguns prontuários de pacientes que sairiam para o final de semana, enquanto os enfermeiros circulavam despreocupadamente.
Saí da rouparia para a sala de espera e dei de cara com o Juarez que me abordou dizendo com uma voz muito irritada: "você está parecendo minha vó Olga!". No momento seguinte me derrubou em cima do sofá, agarrou meu pescoço com suas mãos fortes tentando me estrangular numa crise de esquisofrenia. Ele gritava muito. Eu já estava quase desmaiando quando o médico e alguns enfermeiros correram em meu socorro. Eram uns quatro homens fortes tentando retirar o Juarez de cima de mim. No momento da crise sua força parecia triplicar.
Os enfermeiros me ofereceram um copo d'água assim que me soltaram das mãos do Juarez. Todo meu corpo tremia. Andei cambeleando até a porta de entrada da sala e senti as gotas geladas da água da chuva molharem meu rosto. Quando me dei conta estava correndo em direção a minha casa e a segurança do meu quarto.
Trancada, ouvi a voz do Juarez chamando meu nome e pedindo que eu abrisse a porta para se desculpar pelo ataque. Ele chorava alto e implorava que eu o perdoasse. Continuei trancada em meu quarto assustada como um coelho fugindo ao ataque de uma ave de rapina.
Juarezinho, como eu o chamava, era uma pessoa querida que vivia na clínica desde muito pequeno. Era esquisofrênico, de vez em quando surtava e ficava muito agressivo. Era impossível viver com a família, pois sua mãe, doente e fraquinha, era alvo constante de suas agressões, o que provocou sua internação desde criança. Na época em que o conheci já contava mais de vinte anos.
Tia Ivete veio até o quarto tentar acalmar-me e insistiu em dizer que o Juarez não iria mais me machucar. Tentou me convencer de que aquele tipo de ataque só acontecia uma vez e apenas com alguém de quem ele gostasse muito, como era meu caso, mas eu estava assustada demais para acreditar naquela explicação que não parecia nada verossímel.
Percebendo que eu estava irredutível e muito assustada ela telefonou para a diretora da clínica explicando o acontecido. Ela foi me pegar para passar o final de semana longe da clínica e do Juarez.
Na segunda-feira seguinte voltei para a clínica "escoltada" pela diretora e pela chefe da equipe médica. Quando o carro parou vi o Juarez junto ao grande portão azul que foi aberto pelo vigia. Meu coração disparou e todos os meus sistemas de alarme ficaram em alerta máximo, mas elas insistiam que eu poderia descer sem medo. Obedeci com as pernas bambas e o coração aos pulos e assim que desci do carro o Juarez veio ao meu encontro, abraçou-me aos prantos, fungando e com o nariz escorrendo de tanto chorar. Aos poucos ele foi se acalmando e eu também.
O carro continuou seu caminho pela alameda que separava o portão da grande casa que ficava ao lado da clínica. Eu subi devagar a pé abraçada com o Juarezinho que falava sem parar e não se cansava de jurar que nunca mais me machucaria.

A melhor parte ficou comigo

Acorda todos os dias com preguiça de levantar
Vira para o lado e diz sonolenta que
Dormirá só mais cinco minutinhos
E volta a adormecer.
O despertador toca novamente
Ela levanta sonolenta e vai tomar uma ducha quentinha
Em segundos está desperta com a melhor cara do mundo.
Toma banho sem pressa,
Chacoalha os cabelos molhados sem pentear,
Espalha creme pelo corpo, borrifa um pouco de perfume
E entra no quarto de vestir.
Escolhe paciente uma roupa elegante
Calça um sapato de salto altíssimo
E em seguida desce para o café da manhã,
Linda, sorridente, segura de si.
Está pronta para mais um dia de trabalho.
Sai com o carro lentamente pelo portão da garagem
E desaparece na curva da esquina.
Entro em casa devagar
E meu pensamento voa longe...
Uma saudade serena invade meu coração.
Você partiu, voltou ao pó,
Mas deixou comigo
A melhor parte da nossa história.

Partida sem chegada

A qualquer hora do dia ou da noite
Ligava falando de saudades
Da falta que sentia de um abraço,
Um carinho, um aconchego.
Fazia muitos planos.
Sonhava e fazia sonhar...
Um dia ligou animado
Estava de passagem marcada e
Chegaria no dia seguinte.
Amanheceu,
Anoiteceu,
Outras manhãs se sucederam
Sem notícias ou
Um telefonema.
Nada. Apenas um silêncio opressor.
Desapareceu no ar
Como fumaça ao vento.

Consulta e exames no Hospital do Câncer em SP

Irei para São Paulo fazer os exames e consultas no AC Camargo no dia 2 de dezembro. É que para fazer os exames será necessário suspender a quimioterapia por 15 dias. Quem sabe os exames revelam bons resultados para que eu possa me livrar de vez dos quimioterápicos? Esperança é a última que morre... Assim diz o velho ditado.
Está hoje na internet o video da agressão sofrida pelos jovens atacados na Av. Paulista. As imagens mostram, sem sombra de dúvida, uma agressão covarde e sem motivo. Quero ver agora o que os pais irão dizer sobre seus filhinhos terem se envolvido numa briga porque foram provocados e também porque levaram uma cantada gay. Os coitadinhos dos delinquentes estavam "chorando" assustados na cadeia que é o lugar onde eles deveriam estar desde que foram presos. A gravação, que é incontestável, mostra que não houve nenhuma provocação por parte dos agredidos, mas apenas um ataque de surpresa dos filhinhos de papai, sem noção de limites.

Agressões

Não tenho dúvidas de que a omissão dos pais e a falta de limites na educação de crianças e jovens são responsáveis pelos inúmeros ataques que vêm acontecendo nos últimos tempos seja na rua, nas escolas, em qualquer outro lugar.
Quando ocorre uma agressão gratuita, como a desses jovens atacados em São Paulo, em plena Av. Paulista por um grupo de cinco outros jovens de classe média, fico chocada com a atitude violenta dos agressores e indignada com a reação dos pais que tentam jusitificar o injustificável e passam a mão na cabeça de filhos mimados e covardes, que atacam em bando.
Não adianta fingir que não aconteceu ou justificar dizendo que os filhos foram provocados e apenas reagiram. Reagiram em bando e naquela proporção? Havia outras pessoas por perto que testemunharam o ataque cruel e covarde. Pensem um pouco: por que será que seus filhos carregavam lâmpadas flourescentes grandes nas mãos? Com certeza não estavam a procura de uma lixeira para descartar corretamente o lixo que carregavam, às 6 horas da manhã.
Infelizmente, educação, limite, respeito, cortesia parecem fazer parte de um passado remoto. Hoje o jovem, acobertado até mesmo por seus pais, acredita poder tudo. Agride professores nas escolas, mendigos na rua, colegas dentro das salas de aula. Onde será que vamos parar?
Semana passada um estudante de enfermagem agrediu e quebrou os dois braços e seis dentes da Coordenadora da escola em que estudava simplesmente por ter sido reprovado em uma matéria. Não podemos aceitar um absurdo desses sob nenhuma hipótese. No tempo em que estudei, nota baixa se resolvia com uma bela bronca dos pais, às vezes um castigo e maior empenho nos estudos. Simples assim. Ah, e existia reprovação. E cá entre nós, o que se pode esperar de um profissional da área de saúde, que ainda estudante, agride alguém assim? Ele vai acabar matando um paciente difícil. Ou estou errada?
O fato é que precisamos resgatar valores que ajudem a construir uma sociedade mais equlibrada e justa. Precisamos orientar melhor nossos filhos incutindo neles valores morais e éticos. Precisamos de uma educação de qualidade que leve o jovem a ter um pensamento crítico e também para colocar nos trilhos uma sociedade embriagada pelo ópio que sustenta o poder e a corrupção.
Falando em educação, alguém já ouviu falar que estão predentendo abolir Monteito Lobato das escolas sob a alegação de que ele usa termos racistas? Hipocrisia das piores. A literatura de Lobato precisa ser colocada no tempo em que foi escrita e não no contexto atual. Pensamento racista está é na cabeça de uma pessoa que propõe um absurdo desse tamanho.
A mudança precisa acontecer urgente, pois infelizmente o que temos visto são exemplos nefastos vindos de pessoas que deveriam servir de modelo ao jovem. A começar pelo Presidente da nação violando regras para alcançar seus objetivos a qualquer custo e insinuando que estudar não é importante, ou membros da mais alta corte de justiça chamando seus pares para uma briga de braço, ou parlamentares saindo no tapa em Plenário como se fosse um ringue de luta livre e não um local de trabalho que deveria ser usado apenas para se discutir leis objetivando o desenvolvimento de uma nação complexa e de dimensões continentais como o Brasil.
Em resumo, penso que uma profunda mudança estrutural precisa ser colocada em prática para erradicar esse cancro que corrói nossa sociedade em seus valores éticos e morais. Penso também que a intolerância e o preconceito precisam ser erradicados, pois qualquer pessoa branca ou negra, rica ou pobre, culta ou ignorante, nacional ou estrangeira, religiosa ou atéia não tem o direito de atacar outra alegando não concordar com sua escolha sexual, sua origem, seu modo de vida, suas preferências ou seja lá o que for.

Ontem tive um dia difícil, cheio de efeitos colaterais do tykerb combinado com o xeloda. Tentei fazer um programa com uma amiga, mas foi impossível, coisas do tratamento. Paciência.
Fiquei feliz com o recadinho da Jornalisa. Quero agradecer a todos que se dão ao trabalho de ler meus textos. Gosto de escrever e saber que alguém aprecia meus escritos é um grande prazer. Obrigada.

Correndo na praia de calcinha rendada

Ela é sex
Sexagenária.
Baixinha,
Pernas curtas e roliças,
Mas ágil como uma gazela.
Fala rápido
E caminha mais rápido ainda
Deixando para traz qualquer um fora de forma.
Um dia desses, com um grupo de amigos também sex
Desembarcou em praia paradisíaca,
Bem distante da cidade.
Tão logo colocou seus pés na areia
Apressada, despejou sua bagagem num banco tosco de madeira
Arrancou toda a roupa num piscar de olhos
E saiu correndo em direção ao mar.
Um grito a fez parar de sobressalto
Era sua irmã alertando que na pressa
Ela se esquecera de trocar a calcinha rendada (e transparente)
Pelo maiô comportado.
Retornou rápido como um corisco
E sentou-se no primeiro banco que viu
Puxando uma amiga para sentar sobre suas pernas
Bronzeadas pelo sol forte da Paraíba.
Vestiu novamente a bermuda
E foi correndo se trocar no banheiro rústico
Enquanto o grupo explodia numa sonora gargalhada
Pela cena inusitada:
Uma baixinha sex correndo na praia de calcinha rendada.

Reforçando o sistema imunológico




Interrompi o uso do xeloda por duas semanas (o certo é apenas uma) para poder viajar com amigas. Posso garantir que o efeito terapeutico da viagem é infinitamente melhor do que o quimioterápico, pois adoro viajar e sentir a vida em sua plenitude, adoro caminhar sem destino, dar risada, ouvir piada idiota, tomar suco quando todo mundo está tomando cerveja e achar que mesmo assim a vida vale a pena. Nesses momentos sinto a vida fluir leve e nunca penso em doença ou tratamento. Câncer? O que é isso mesmo???

Pois é, confesso que viajar para sair da rotina é para mim o melhor elixir de boa saúde. Dessa vez fui conhecer João Pessoa e confesso que me surpreendi com a cidade e a beleza de suas praias de águas mornas e limpas. Num dia meio nublado foi impossível resistir a um bom mergulho. Deixei meu corpo ser levado ao sabor das ondas e só saí da água para fugir do sol que resolveu dar as caras com todo seu calor. Aliás, o sol nasce em João Pessoa a partir das 5:00 h da manhã e se esconde bem cedo, lá pelas 17:30h.

Sempre fujo do calor, primeiro porque não gosto de ficar lagarteando ao sol e também porque a medicação que estou tomando escurece a pele e tomar sol provoca manchas escuras principalmente no rosto. Mesmo tomando cuidado e usando muito protetor solar estou com o rosto todo cheio de pintas escuras. Ninguém merece um rosto manchado.

O saldo da viagem foi ótimo e valeu muito mais do que qualquer quimioterapia. Aliás, estar entre amigos é sempre bom demais e reforça qualquer sistema imunológico. Também adoro viajar com minha filhota. Formamos uma dupla perfeita, pois gostamos das mesmas coisas e viajar é nossa melhor diversão.

Um cachorro linguarudo

O adestrador chegou cedo para mais um dia de trabalho. Enquanto explicava para a família como deveriam conduzir o animal percebeu que havia uma empregada nova na casa e a chamou para participar do treinamento. Era importante a participação de todos os membros da família para evitar que seu trabalho de adestramento fosse por água abaixo.
Laura veio correndo, toda esbaforida. Chegou ofegante e foi logo dizendo que havia trabalhado na casa de um pessoal que veio do Equador e que eles tinham um cachorro que falava. Como a risada foi geral ela argumentou, entre ofendida e impaciente, que estava dizendo a verdade e que aquele não era um cachorro comum. Aquele cachorro que veio do Equador falava e era um grande linguarudo, pois contava tudo o que se passava na casa para a patroa.
A dona da casa, sua nova patroa, tentou explicar que cachorro, fosse do Brasil ou de qualquer outro lugar no mundo não falava, apenas latia, mas Laura não se deu por vencida e afirmou novamente que aquele cachorro falava sim e para justificar explicou: um dia quebrei um prato acidentalmente. Assim que minha patroa chegou em casa o cachorro a acompanhou até o quarto e contou tudo o que aconteceu, tintim por tintim.
Em sua pura ingenuidade Laura continuava afirmando que o cachorro falava. Para reforçar sua tese explicou que sua patroa voltou para a cozinha e perguntou-lhe o que havia acontecido de diferente naquele dia. Ela, percebendo que havia sido descoberta, contou que havia quebrado um prato. Com os olhos arregalados Laura, relembrando aquele incidente bizarro, contou que a patroa falou que já sabia do acontecido, pois o cachorro havia lhe contado.
Por mais que se tentasse explicar que tudo aquilo era brincadeira Laura continuava afirmando que o cachorro falava, pois era um cachorro diferente, era um cachorro que só existia no Equador,
Depois de várias tentativas infrutíferas para convencer Laura de que cachorro não falava a nova patroa perguntou: Alguma vez o cachorro falou com você? Não. Respondeu Laura na maior inocência. Falar comigo ele nunca falou, mas chamava meu nome Lauuuuuuuuuura, Lauuuuuuuuura...

Sem Título


Os dias se tornaram semanas e mais de um mês se passou sem que eu escrevesse uma linha sequer. Primeiro foi a falta de vontade de escrever, uma indolência provocada por uma tristeza e uma saudade sei lá do quê... Depois, foi por causa de uma fratura na cabeça do rádio do braço direito. Logo o braço direito que não tem gânglios linfáticos. Minha mão e o antebraço ainda estão bem inchados, mas agora já consigo escrever, escovar os cabelos e até escovar os dentes com a mão direita. Parece bobagem, mas não poder usar a mão direita para quem é destra é um deus nos acuda.


Nesse período de silêncio, ou melhor, de falta de textos, muitas coisas aconteceram. Viajei para Fortaleza com o braço na tipóia e fui assaltada enquanto caminhava em plena dez horas da manhã pelo calçadão da praia, num belo domingo de sol e praia cheia, lotada de gente e pivetes disfarçados de cidadãos de bem. Eu estava bem em frente ao quiosque de apoio ao turista e bem próxima da residência do secretário de segurança pública do ceará, que ironia...


O delinquente, um pivete ainda muito jovem, mas já acostumado a prática de assaltos, avançou para cima de mim, toda amarrada numa tipóia quente e fechada, e agarrou meu lindo pescocinho. A ação do bandido foi muito rápida. Num primeiro momento pensei que o pivete estivesse me esfaquiando, pois apenas senti suas mãos agarrando meu pescoço com força para em seguida sair correndo em direção ao mar.


Acredita que a polícia veio ao meu encontro por causa do assalto? Pois é, fiquei impressionada! O policial, muito atencioso, parou a viatura e perguntou se era eu quem havia sido assaltada. Acho que a tipóia e os cabelos brancos ajudaram na identificação... kkkk


Fiz questão de registrar a ocorrência para fins de estatística, pois sabia que recuperar a jóia seria quase impossível. Mesmo assim os policiais foram até o hotel onde eu estava hospedada para informar que haviam prendido vários bandidos na praia e recuperado algumas jóias. Fui com eles até o local da apreensão mas não localizei meu colar que tinha um valor estimativo muito maior do que seu valor comercial.


No final das contas os policiais acabaram me dando uma carona até o restaurante Côco Bambu. Foi muito engraçado desembarcar do camburão da polícia num restaurante arrumadinho e lotado. Imaginem a cara das pessoas na fila aguardando para entrar e tentando imaginar o que estava acontecendo. Acabei me divertindo com a situação.


De volta a Brasília comecei a fazer os exames para conferir a eficiência da quimio. Até agora os exames revelaram que não houve nenhum avanço da doença, está tudo estacionado. Menos mal, mas o que eu esperava mesmo era uma melhora, mesmo que discreta, afinal os efeitos colaterais da medicação fizeram questão de ser bem eficientes.

Voltando...


Fiquei alguns dias sem internet e também sem inspiração. Não escrevi nada, li muito pouco e andei meio amuada e indisposta com os efeitos colaterais da quimio. Acho que já está passando da hora de ficar boa e livre de tantos remédios
Parece brincadeira, mas outra unha do pé começou a encravar. Agora, como já sei o que é não deixei passar e liguei para a Inês assim que percebi o problema. Ela acabou com a unha encravada rapidinho e já estou com o pé em ordem novamente. A Inês é uma excelente podóloga, trabalha super bem, bendita Inês.
Ninguém merece usar uma medicação que detona com as mãos e os pés e ainda encrava as unhas. Para compensar vou dar uma viajada com alguns amigos. Vamos passar uma semana em Fortaleza só curtindo a vida...

Hoje bem cedinho acordei ouvindo um estranho zumbido que vinha do jardim. Levantei, abri a janela e dei de cara com a pitangueira toda vestida de florzinhas brancas e um enxame de abelhas laboriosas fazendo seu trabalho de polinização e recolhimento de polem. Elas voavam de flor em flor num trabalho frenético e eu fiquei ali admirando e pensando em como a natureza é perfeita e como cada ser, por menor que seja, desempenha um papel importante no ciclo da vida. O sol estava começando a nascer e tão logo os primeiros raios cobriram a pitangueira de luz as abelhinhas foram embora. Agora, por alguns dias, enquanto as flores estiverem abertas, as abelhas irão voltar todas as manhãs para visitar minha pitangueira e recolher o polem que irá alimentar sua colméia.

Barquinho a deslizar





O sol tinge de prata
As águas calmas do Lago Paranoa.
Barquinhos deslizam suavemente
Embalados pela calma brisa
Que sopra sem cessar
Na tentativa de espantar para bem longe
A seca inclemente que assola o cerrado.

Qual é o seu nome?

Nome você carrega para toda vida, é sua identidade. Uma escolha errada por parte dos pais e quem paga o pato é o dono da identidade. Você.
Uma mulher, seja ela quem for, começa a pensar na escolha do nome do seu bebê tão logo suspeite da visita da cegonha. Muitas vezes a escolha recai sobre um nome que está na moda ou de um personagem da novela que está dando o que falar. Até aí tudo bem, mas o problema fica complicado quando resolvem fazer aquela mistura de nomes do pai e da mãe ou até dos avós e aí a coisa pode ficar bem estranha...
A escolha do nome pode até causar briga em família. O pai quer Onofre a mãe Pedro e aí começa o impasse. É discussão prá lá, argumento para cá e no final acabam juntando os dois e vira um nome enorme e sem sentido. E falando em nomes estranhos e sem sentido, alguém já leu uma lista desses nomes registrados em cartório? Custamos a acreditar ser verdade nomes como Letsgo (os pais devem ter gostado do som de let’s go) ou Francisoreia Dorida, e por aí a fora. Pode?
Nomes estranhos já criaram tantos problemas que precisou ser criada uma lei para censurar escolhas de nomes bizarros ou vexatórios. Veja a que ponto chegamos. Precisamos criar uma lei para coibir o uso de nomes esquisitos.
O fato é que nome nós carregamos pelo resto da vida e carregar um nome estranho ou que causa constrangimento é de doer... Pense bem num bebê com cara de anjinho carregando um nome como Adolph Hitler ou qualquer outro personagem genocida da história. O inverso também assusta, pois agora imaginem um sujeito cruel e sanguinário com o nome de Ghandi por exemplo. Fica muito estranho.
Um dia desses assisti pela TV a entrevista de um casal contando que precisaram entrar na justiça para conseguir registrar a filha com o nome de Amora porque o cartório se recusara fazer o registro e sem o registro a criança não poderia, por exemplo, ser incluída em plano de saúde.
Olha só a complicação. E o pior era que o bebê havia nascido prematuro e precisava de acompanhamento médico frequente, o que estava onerando muito o orçamento do casal. Não teria sido mais fácil e racional escolher um nome “normal” ao invés do nome de uma fruta para um bebezinho e resolver o problema? Não. Eles preferiram gastar com advogado e com médico, mas fazer valer sua escolha estranha.
Para dar um exemplo dos pequenos aborrecimentos que certamente esse nome trará para essa criança, principalmente durante a infância e juventude, vou relatar uma conversa que tive com minha filha enquanto ela me dava uma carona. Nem bem havia acabado de falar no assunto ela retrucou: Amoooora? Que nome é esse? Isso é nome de fruta e não de gente. Argumentei: os pais pensaram em amor e resolveram chamar a filha de Amora, qual o problema? De novo ela argumentou num impulso que me fez dar boas gargalhadas. Mãe, pense bem, Amora. Isso lá é nome de gente? Sabe o que acontecerá em várias oportunidades quando alguém perguntar: Qual seu nome? A criatura responde: Amora. Amora? Ah! Vou contar pro seu pai que você namora. Kkkkk
É o mínimo que acontecerá várias e várias vezes principalmente durante a infância e adolescência dessa criança e isso certamente irá tirá-la do sério. Criança pode ser cruel principalmente se perceber que a outra se aborrece com esse tipo de brincadeira. Vira bulling e arrasa com qualquer auto estima.

Um corpo dolorido

Sexta-feira fiz o zometa e ontem a dor em meu corpo que já estava incomodando desde que voltei a tomar o xeloda piorou. Agora está doendo do couro cabeludo ao dedão do pé e toda estrutura óssea. É muito desconfortável e irritante, pois a dor é constante e para piorar ainda dei uma forte batida na quina de uma mesa e minha coxa está com um vergão roxo e inchado e é lógico, doído pra caramba.
Deve ser para compensar que os dois últimos meses não senti muita dor com o zometa e até brinquei que o remédio que andei tomando deveria ser daqueles fabricados na China. Isso é para morder a língua e não falar demais.
Na sexta-feira pela manhã fiz acupuntura para bloquear a dor, mas desta vez parece que não fez muito efeito. O remédio resolveu mostrar que ainda continua provocando as dores de sempre. Haja paciência...
Passei quatro semanas sem tomar o xeloda para tratar o problema da inflamação nas unhas do pé e agora que voltei a usá-lo meu corpo precisa se readaptar com a bomba. Só espero que ele faça sua parte e acabe de vez com os novos focos de metástases que apareceram .

Casal abraçado

pintura de Lourenço Gonçalves

O caboclo de mãos enormes segura com delicada leveza o corpo da jovem de pernas longas, esguias e bem torneadas. Seus seios volumosos se insinuam na transparência sutil da camisola curta. Abraço protetor, abraço apaixonado. Tem coisa melhor do que abraço?

Vista de uma janela







A janela do meu quarto é aberta para o quintal da casa com suas árvores sempre verdinhas e canteiros floridos. Da cama pode-se avistar o céu sempre azul, azul de brigadeiro e sem nuvens nessa época de seca.
Na imensidão azul do céu de Brasilia é frequente vermos um gavião ou um carcará planando para aproveitar uma corrente de ar, e bem cedinho vemos bandos de periquitos barulhentos que sairam de suas árvores dormitório em direção aos parques e jardins da cidade.
Gosto de acordar e ficar morgando na cama enquanto escuto a algazarra dos passarinhos nas árvores do quintal e quando levanto sempre vou até a janela olhar o jardim e observar o vai e vem da bicharada.
Os filhotes de calango, com o pescoço esticado, gostam de tomar sol na calçada de pedra. O joão-de-barro, com o peitinho estufado, caminha dando três passinhos e uma corridinha pelos canteiros em busca de comida; num instante encontra a bacia onde minha mãe prepara adubo com sobras de frutas e legumes e se farta com as pequenas lagartinhas que se desenvolvem naquele ambiente de matéria orgânica em decomposição.
No manacá da serra que fica próximo ao muro os pardais fazem o seu playground. Eles se divertem saltando entre os galhos e piando o tempo todo. De vez em quando a Haseena, uma poodle encrenqueira, fica embaixo da árvore latindo feito louca para ver a revoada dos pássaros e, quem sabe, conseguir abocanhar algum...
É no pé de pitanga e no de acerola que os pássaros soltos na natureza vão se banquetear com os frutas que são colocadas nos pratos pendurados nos galhos. Todos os dias os sanhaços azuis e o amarelo e preto pousam no prato para comer. Eles são lindos, mas muito desconfiados e passam o tempo todo beliscando e observando tudo ao redor; já os bem-te-vis são bem abusados e se sentem os donos do pedaço. Os sabiás passam o tempo todo revirando os canteiros e ciscando as folhas secas. Adoram comer as pitangas maduras e de vez em quando conseguem encontrar uma minhoca gorda e suculenta. São bem tranquilos e parecem não ter medo de gente. O joão de barro também é tranquilo e adora ficar por perto quando alguém está mexendo na terra, quando percebe uma minhoca distraida cai de bico na coitada. Outro pássaro tranquilo é o sebinho, mas a garrincha é desconfiada e as rolinhas também.
Hoje percebi que os periquitinhos verdes encontraram uma pequena fresta entre a parede e o telhado da casa e sumiram lá dentro. Vou ter que mandar fechar o espaço para que não façam ninho e encham a casa de sujeira e piolhos. Gosto muito de passarinhos, mas não os quero dentro do meu telhado. Prefiro que fiquem nas árvores do meu jardim.
Embaixo da minha janela o sol está brilhando e deixa tudo quentinho. O Nino, o gato velho, está deitado se aquecendo e o Bubu está de tocaia tentando caçar algum pássaro distraído. Os calangos correm dele como o diabo corre da cruz e se escondem em qualquer fresta que encontram. De vez em quando um deles tem o azar de cair nas garras do gato e aí eles fingem de morto para ver se escapam de seus dentes afiados. Volta e meia salvo um deles das garras do Bubu que naquela altura já arrancou a cauda do coitado.
É assim todo santo dia. De vez em quando um pássaro diferente encontra meu jardim como aconteceu numa ocasião em que um bando de tucanos pousou numa das árvores. Foi um espetáculo lindo!

Bandeira Brasileira e Civismo


Enquanto esperava minha carona chegar fiquei lendo sentada no degrau da escada do Brasil XXI, um prédio comercial no centro de Brasilia. Um barulho chamou minha atenção, parei de ler para ver o que era e dei de cara com a bandeira brasileira tremulando no alto do seu mastro.
Olhei para nossa bandeira, observei-lhe as cores, a inscrição no centro e as estrelas e quando me dei conta estava viajando naquele símbolo e acabei atentando para o fato de não saber identificar cada uma daquelas vinte e sete estrelas.
Estudei em colégio de freiras e tenho em minha memória os hasteamentos da bandeira brasileira que aconteciam uma vez por semana, numa cerimônia cheia de formalidades. Naquela época eu não compreendia a importância do ritual, mas lembro que cantávamos o hino nacional enquanto a bandeira era hasteada e todos os estudantes queriam ter a honra de participar do hasteamento. A cerimônia acontecia antes do começo das aulas das turmas da manhã.
A Madre Prefeita subia numa espécie de púlpito que ficava no pátio coberto e disparava uma campainha irritante e barulhenta para que os alunos fizessem fila por turma e por ordem de tamanho. Todos os alunos e professores, sem exceção, participavam do evento. A bandeira era hasteada no mastro que ficava no pátio descoberto. Os alto falantes espalhados em vários pontos do pátio coberto tocavam o hino nacional e os estudantes, os professores e as freiras do colégio, com as mãos no peito, cantavam em coro. Ao final os alunos se dispersavam e saiam correndo para suas salas de aula.
Nas aulas aprendíamos a letra do hino e a importância dos símbolos da Pátria e hoje, quando não consigo identificar o estado que cada estrela representa, fico muito surpresa. O pouco que ainda me lembro é que a estrela solitária chamada Spica representa o Estado do Pará e que o Cruzeiro do Sul, representando os Estados da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro fica no centro do círculo azul. As demais não consigo fazer a menor idéia.
Não sei hoje como funciona, mas tenho a impressão de que as escolas não devem mais cantar o hino, pois muita gente sequer sabe sua letra. Infelizmente os brasileiros não aprendem como devem o valor do civismo, e só se lembram da bandeira na época da copa. Aliás, civismo maior é na hora do voto com responsabilidade e é isso que precisamos também aprender.
Mas voltando a bandeira, como eu estava com a máquina fotográfica na bolsa resolvi tirar uma foto. Fiquei um tempão esperando o melhor momento para o clique porque o vento embolava a bandeira no mastro, mas quando ela se mostrou por inteiro, linda em suas cores, consegui eternizar o momento na fotografia.
Observando nossa bandeira mais atentamente vi que o verde que representa nossas matas está cheio de falhas, meio desbotado. É consequência das derrubadas das florestas por pessoas estúpidas e inescrupulosas; é consequência das queimadas criminosas e da destruição de nossas matas ciliares. A destruição de nossas matas, do verde de nossa bandeira, provoca o encolhimentos dos nossos recursos hídricos, sejam eles rios outrora caudalosos, riachos ou fontes. Nosso verde está encolhendo...
O azul do nosso céu está obscurecido pela espiral negra de fumaça e poluição lançadas continuamente no ar.
O Amarelo de nossas riquezas está sumindo desde a época do descobrimento até os dias de hoje quando vemos pela TV imagens do dinheiro dos nossos impostos escondidos nas cuecas, nas meias e nas malas clandestinas. Alguns de nossos homens públicos, indignos da pátria que representam, se apropriam descaradamente dos recursos que deveriam promover o desenvolvimento e o bem comum.
Finalmente o branco, que deveria representar a paz, está mais encardido, mais amarelado. Alguns representantes do poder público, preocupados em engordar suas contas bancárias em paraísos fiscais, preferem fazer vista grossa a violência crescente em todo país e deixam a população cada dia mais refem da bandidagem que começa na periferia e se alastra até o Congresso Nacional.
É, as cores de nossa bandeira estão cada dia mais apagadas e o lema “ordem e progresso” uma orientação ética da vida social, sugerindo que o interesse coletivo deve prevalecer acima do individual está há muito esquecido.
Está passando da hora de reavivarmos as cores da nossa bandeira, de transformar o Brasil, gigante pela própria natureza, na verdadeira pátria dos brasileiros.

Manjar para passarinhos e calangos

Olha só que flagrante. Um calanguinho filhote que mais se assemelha a um jacarezinho em miniatura e uma garrincha, um passarinho pequeno e delicado pousado na velha bacia plástica que serve para minha mãe preparar adubo com sobras das frutas e legumes consumidos em casa. Os bichinhos que se desenvolvem nas frutas que primeiro apodrecem para depois secarem servem de alimento para os passarinhos e calangos. Eles adoram a iguaria e passam o dia entrando e saindo da bacia. O adubo que fica pronto depois de uns vinte dias é cheiroso e muito nutritivo. As flores, frutas e temperos do meu jardim adoram.

Explosão de beleza na seca em Brasília

O período de seca em Brasília não é só poeira, nariz sangrando ou desconforto; essa é a época da explosão de flores nos ipês espalhados pela cidade. Roxos, amarelos ou brancos todos são lindos e enchem nossos olhos com sua cores vibrantes. Não resisti e parei para fotografar esse da foto, que enfeita um jardim na QI 15 do Lago Sul.
Depois de quatro semanas dando um tempo no uso do xeloda para poder tratar a inflamação nas unhas dos pés eles finalmente ficaram curados. Estão bem descascados, mas sem dor. Oh alívio!!! Hoje voltei a tomar o xeloda, mas agora estou esperta e ele não me pega mais desprevenida.
Esse quimioterápico precisa ser muito eficiente para destruir e acabar de vez com o câncer, pois o estrago dos efeitos colaterais é um horror. Meu TSH continua alto e o colesterol também. Só espero que os nódulos das metástases estejam bem murchiiiinhos... Eles precisam desaparecer logo, pois já deram o que tinham que dar.

O Retrato da Mamãe

Memória é uma coisa curiosa. Um acontecimento qualquer muitas vezes nos remete a lembranças longinquas, coisas que ficaram sepultadas há muitos anos e que aparentemente não tiveram importância. Um fio de memória pode puxar várias outras e, de repente, voltamos no tempo.
Nessas viagens ocasionais vez por outra deparo com situações hilárias que fazem-me rir como se estivesse acontecendo agora, no momento da lembrança.
Hoje mesmo aconteceu algo assim. Acordei bem cedo e acabei ficando sozinha em casa porque todos saíram para assistir a missa do domingo. Depois do café da manhã resolvi ir para o jardim e fiquei lá um tempão mexendo nas plantas. Cortei as folhas secas dos antúrios, amarrei alguns galhos das orquídeas que ficam presas nas árvores, cortei as folhas amareladas das samambaias e, por fim, molhei os vasos que ficam nos tripés altos.
Concentrada naquelas tarefas de repente me veio a memória um trabalho de escola que minha filha fez quando ainda era bem pequena. A professora pediu que as crianças fizessem um desenho de suas mães e posso até imaginar a festa da garotada ao colocar no papel branco a imagem que tinham de suas mães.
No dia da festa na escola as mães foram convidadas a encontrar seu retrato feito pelos filhos, que estavam fixados num grande mural. As crianças estavam excitadíssimas com o acontecimento e soltavam gritinhos de satisfação.
Toda animada minha filha foi comigo até o mural conferir minha cara quando eu me encontrasse entre as várias figuras de mães. Naquela ocasião eu trabalhava como advogada e imaginei que meu retrato seria o de uma mãe séria, envergando um terninho bem comportado. Procurei durante vários minutos e nada. Acabei me dando por vencida e falei com minha filha que ela precisava ajudar-me porque sozinha eu não conseguia encontrar meu retrato, afinal eram muitos desenhos.
Toda animadinha ela esticou o bracinho rechonchudo e pegou uma figura muito diferente do que eu havia imaginado. Ela havia me retratado com uma pazinha de jardim nas mãos e o corpo cheio de bolinhas. Curiosa perguntei: porque você retratou a mamãe assim? Ela me respondeu com a melhor carinha do mundo: é você, nos finais de semana, cuidando do jardim lá de casa. Ainda sem entender os pontinhos pretos na pintura perguntei novamente: e o que são esses pontinhos pretos que você fez na mamãe? E a resposta me fez dar boas gargalhadas. Ela respondeu candidamente: são as perebinhas que você tem na pele.
Tenho um problema de pele que sempre incomodou bastante, psoríase. Essa doença é benigna, não contagiosa, mas é crônica e provoca descamação na pele. No meu caso, que tive a psoríase do tipo gutata, minha pele ficava cheia de marquinhas em forma de pequenas bolinhas brancas por todo o corpo. Felizmente estou em remissão da doença há mais de dez anos, mas isso me atormentou durante toda adolescência e juventude, pois além do aspecto feio a psoríase provocava uma coceira infernal.
Aquele desenho me fez rir, mas também me fez refletir... Nunca me ocorrera antes pensar que uma criança fosse se ligar num detalhe como aquele problema na pele. Eu não havia percebido até então que meu desconforto com a psoríase era visível também para uma criança tão pequena. Passei a prestar mais atenção em minhas queixas.
Por fim me dei conta de que aquele desenho era muito revelador e que nosso compromisso com a educação de nossos filhos é coisa muito séria. Eles, por mais jovens que sejam, nos observam nos mínimos detalhes, somos seus espelhos, seus exemplos e nem sempre passamos a imagem que queremos que eles tenham de nós. Aquele desenho me fez perceber o quanto somos responsáveis por nossos filhos.

Pés

Olhem só o caboclo esparramado na rede, tirando aquele cochilo gostoso, e com os pezões bem a mostra. Os pés são rudes, gordinhos, acostumados a pisar descalço na terra seca ou molhada. Benditos pés. (tela do Valdonês)
Se eu já gostava de meus pés agora gosto ainda mais, pois só eu sei o quanto eles fizeram falta nos últimos tempos.
Pode ser um pé gordinho ou magrelo, grande ou pequeno, negro ou branquelo o importante é estar inteiro, sem unha encravada e pronto para longas caminhadas, para chutar a bola, o balde ou até o pau da barraca.

Ciclo da Vida


A cova escura e fria nem sempre é sepultura.
Para a semente é o útero protetor que permite sua germinação. Rompida a casca pequenas raízes
fixam seus tentáculos na terra que a nutrirá e um broto verdinho e delicado desabrocha em busca do sol. Em poucos dias uma nova flor se abrirá exalando perfume, explodindo em cores. Um novo ciclo de vida tem início. Longo ou breve, ele sempre cumpre seu papel.

Um Anjo no Metrô

Era uma tarde fria de fevereiro em Budapeste, saímos para almoçar. Fomos a um restaurante grego e em seguida decidimos conhecer o Museu de Belas Artes que estava exibindo uma mostra de Monet.
Várias pessoas aguardavam numa longa fila a hora de abertura das portas do museu, indiferentes ao frio e ao vento que soprava sem cessar. No ar gelado, espessos flocos de neve branquinha bailavam suavemente enquanto caiam para se dissolver ao tocar o chão.
Estávamos eu, uma amiga e nossas jovens filhas aguardando pacientemente nossa vez e finalmente entramos no grande hall. O acervo do museu era muito bom e a mostra de Monet era tão fantástica que nem nos demos conta do passar das horas, perdidas na contemplação daqueles belos quadros famosos.
É curioso pensar que uma palheta de cores básicas e um simples pincel em mãos hábeis e talentosas possam transformar telas brancas de linho em obras de arte que ficam imortalizadas no tempo causando admiração nas pessoas.
Quando saímos do museu a noite escura já tinha envolvido tudo lá fora. A praça e as ruas próximas estavam desertas cobertas pela neblina invernal, e a iluminação suave dava um colorido meio fantasmagórico as esculturas da Praça dos Heróis. Aproveitamos para fotografar e saímos caminhando devagar em direção ao metrô. Somente nessa hora nos demos conta de que havíamos esquecido o mapa e o cartão com o nome e o endereço do hotel. Por sorte eu havia guardado na bolsa o cartão de acesso aos quartos o que serviu para pedirmos uma indicação para sabermos o metrô certo que deveríamos pegar.
As casas de câmbio estavam fechadas e só tínhamos dinheiro local para comprar apenas uma passagem de metrô para cada uma e aquela estação iria nos obrigar a fazer uma baldeação e isso significava ter que comprar outra passagem. Não sabíamos como fazer para chegar a outra estação que nos levasse até o hotel com apenas uma passagem.
Já era muito tarde, estávamos numa cidade estranha, o povo falava uma língua mais estranha ainda e não sabíamos o que fazer. Olhamos uma para a cara da outra e começamos a rir da situação inusitada. O que iríamos fazer?
Vimos um jovem aguardando o trem junto com algumas moças e resolvemos pedir informação. Quem sabe ele falava inglês? Deu certo. Ele não só nos orientou como também resolveu nos acompanhar até a estação onde poderíamos pegar o trem que nos deixaria próximas de nosso hotel. No caminho foi contando a história da cidade e nos mostrando alguns prédios que guardavam qualquer tipo de história. Foi muito gentil e atencioso.
Caminhamos na noite fria e escura em direção a outra estação do metrô. O vento soprava forte fazendo ruído e a neve não parava de cair em flocos grossos. O casaco pesado não era páreo para a friagem e o corpo tremia embaixo das várias camadas de roupas. Finalmente chegamos.
Nosso anjo da guarda se despediu, mas antes de sair tiramos uma foto juntos para o guardarmos na lembrança. Ele era um jovem médico residente e até arriscou algumas palavras em português que havia aprendido com alguns colegas da faculdade. Nosso anjo sem asas sorriu, acenou e entrou novamente na noite escura e fria. Foi embora.
A máquina para venda automática de passagens estava quebrada. Tivemos que solicitar a compra dos bilhetes aos policiais de plantão que estavam conversando numa salinha. Eles nos atenderam com toda má vontade que puderam demonstrar e quando fomos pagar uma moeda ainda fez o favor de cair embaixo da mesa onde estavam e eles não nos deixaram pegá-la de volta. Ainda bem que o restante das moedas foi suficiente para pagar as quatro passagens.
Saímos da sala rindo. Minha filha reclamou de sede mas não pudemos comprar uma garrafa d’água, pois faltava exatamente o valor da moeda que havia caído embaixo da mesa. Demos guargalhada da situação e eu brinquei que ela deveria abrir a boca para deixar a neve cair na lingua para aliviar a sede até chegarmos em nosso hotel.
Entramos no trem ainda rindo do mal humor dos guardas e da falta do dinheiro para comprar água. Ficamos tagarelando durante o trajeto e rapidamente nossa estação chegou. Saímos apressadas e não notamos que alguns guardas nos chamaram para conferir nossos bilhetes do trem. Como não os atendemos eles vieram correndo atrás de nós certos de que estávamos sem as passagens. Nos abordaram antegozando nossas caras assutadas e devem ter pensado: pegamos essas turistas no flagrante... Abri calmamente minha bolsa, peguei os bilhetes e entreguei aos guardas que os examinaram ávidos. Estavam loucos para nos aplicar uma multa. Saíram desapontados. Não foi dessa vez o flagrante. Caímos as quatro na gargalhada e saímos rapidamente da estação.

Sebinho, um passarinho do cerrado

Estava sentada na varanda
Aproveitando a brisa fresca da tarde
Que soprava calma,
Sem a fúria descontrolada da ventania do dia anterior
Que espalhava pela rua e pelos jardins
Um monte de folhas secas caídas no chão.
Olhei para o vaso florido em frente a janela do quarto
E vi um pequeno passarinho entrando e saindo
Do meio das flores penduradas em cachos.
Fiquei parada observando e
Num instante percebi que o esperto passarinho
Aproveitava a água acumulada no prato
Para se refrescar na seca implacável do cerrado
Nessa época do ano.
Ele entrava no prato, mergulhava o corpinho delgado
E saia para chacoalhar suas peninhas delicadas.
Seu dorso é escuro,
A garganta cinza, a barriga amarela, e
Tem também uma faixa branca em cima dos olhos.
Habitante do cerrado, frequenta jardins e pomares
Adora beber água doce na garrafinha dos beija-flores
E tomar banho em qualquer tiquinho de água.
Com seus bicos longos e finos
Se alimentam do néctar das flores e pequenos insetos.
Voam aos pares
Fazem seus ninhos em meio aos galhos verdinhos
E até nas varandas das casas
E em poucos dias pequenos filhotes mostram a cabecinha e
Piam reclamando o alimento que os fortalece
São novos sebinhos que
Logo logo estarão voando pelo jardim.

Pena Alternativa

Não querendo reinventar a roda
Nem descobrir novo tipo de pólvora
Acho que encontrei a fórmula
De aniquilar um ladrão
Não será preciso matar o coitado
Nem tampouco cortar no facão
Basta encravar-lhe uma unha
Para colocá-lo no chão
Se o crime for hediondo
Encrava-lhe todas
E discretamente dê-lhe um forte pisão
O coitado vai pedir clemência
E rogar morte mais branda e súbita
Quem sabe uma letal injeção
Mas por Deus não dê outro pisão.

Identidade Revelada

Começou a se desenvolver devagar, bem devagarinho.
Alterou discretamente a cor da pele para um leve rosado
E iniciou a lenta mudança.
Engordou um pouco e se fez notar...
Ninguém sabia exatamente o que era, muito menos eu.
Percebi logo que não era chegada a abraços frouxos
Muito menos aos apertados.
Odiava ficar trancada e começava a pulsar
Batendo forte como um bumbo em plena avenida
Deixando-me apreensiva.
Eu olhava, examinava cuidadosamente
E não chegava a nenhuma conclusão,
Mas meu instinto dizia que não podia ser bom.
Aprendi que quem não mostra a cara
Pode até ser tímido, mas em geral
É bandido ou ladrão.
Usei todo tipo de unguentos, de rezas
E ela nem se abalou, acho até que se fortaleceu
E se apresentou disfarçada em couve-flor.
Não admitia nenhum toque
Nenhuma carícia.
Era pequena, mas se fazia sentir como um gigante
Desordenando meu corpo, obrigando-me mancar.
Foi aniquilada pelo corte certeiro do bisturi
E arrancada sem dó pelo alicate salvador.
Acabou descartada numa lixeira
Pedacinho infame de unha encravada.

Morte do alienígena

Ontem as unhas dos pés voltaram a doer muito. A inflamação parecia ter melhorado, mas a dor voltou com toda força e um pouco antes de dormir, já muito irritada, apelei com Deus. Falei muito brava que eu queria acordar bem e de preferência curada de todas as ziquiziras que estão me atormentado nos últimos tempos.
Acordei hoje cedo e a primeira coisa que fiz foi tirar os curativos dos dedos. Percebi desapontada que tudo parecia como antes e a dor continuava no mesmo lugar mas, uma intuição dizia que eu procurasse a podóloga que atende na clínica Pé por Pé. Bendita intuição.
Embora a dra. Luci tivesse dito que eu teria que fazer uma pequena cirurgia na unha com um cirurgião, minha intuição dizia que eu procurasse um podólogo. Fiquei pensando: a dra. Luci é oncologista e entende é de tratamento para câncer, unha é assunto de podólogo sério. Além do mais foi ela mesmo quem me indicou a clínica de podologia.
Procurei o telefone na internet e liguei para a clínica explicando meu problema. A pessoa que me atendeu, muito solícita, conseguiu um encaixe ainda pela manhã. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Fui atendida por uma profissional séria e competente. Ela avisou que iria doer um pouco mas que assim que extraísse o pedaço da unha que estava encravada a dor passaria. Não deu outra, a extração doeu que cheguei a chorar mas a dor passou como que por encanto. Ficou apenas um leve dolorido, mas agora consigo andar sem mancar.
Olha, essa medicação que estou usando tem que acabar com o câncer definitivamente, pois os efeitos colaterais que ela provoca são muito complicados. Meus pés estão parecendo os pés daqueles caboclos que trabalham descalço nas roças. Estão ressecados, rachados e descascando. As unhas além de inflamadas também encravaram. O alienígena que estava saindo debaixo da minha unha nada mais era do que uma reação da unha que enterrou fundo na pele. Por causa dessa brincadeira precisei tomar uma injeção de benzetacil e há duas semanas estou fazendo uso de antibiótico. A pele das mãos e pés ficam hiper sensíveis, a neuropatia faz tudo doer, a pele escurece e se enche de manchas (mesmo usando muito filtro solar) e uma náusea atormenta o tempo todo. Além disso tudo uma canseira infame insiste em deixar a pessoa prostrada. Ninguém merece uma coisa dessas. Só mesmo ficando curada de vez.

De olho nas eleições

Fui até a clínica para os médicos examinarem meus pés. Concluiram que a inflamação ainda não cedeu e que vou precisar continuar com a medicação por mais 10 dias. Haja paciência e bom estômago para aguentar tanto remédio... No sábado a dor no dedão inflamado subia pela perna até a virilha. Não havia posição que desse conforto. Foi um horror. Ainda bem que hoje a coisa, se não sarou, pelo menos melhorou. Esse alienígena que resolveu sair debaixo da minha unha precisa morrer logo!!!

As notícias desse final de semana foram devastadoras. Minha amiga Socorrito precisou baixar na UTI depois de um desmaio, e lá ficou sabendo que a doença avançou para o cérebro. Câncer parece uma praga, quando você pensa que está tudo sob controle o infeliz resolve avançar para onde não deve. Ninguém merece ter câncer no cérebro. Ainda bem que minha amiga é animada, e apesar da má notícia ela está bem hoje e talvez até consiga sair da UTI para um apartamento. Força Socorrito. Fique melhor logo. E você também Mororozinha.

Minha filha também ficou muito abalada quando soube que um estuprador anda atacando na Asa Norte e em plena luz do dia. Quando é que as autoridades dessa nossa querida Brasília vão tomar providência efetiva para trazer mais segurança para a população. Nossa cidade merece ser melhor tratada. Não faz sentido em pleno Plano Piloto ficarmos a mercê de bandidos e estupradores. Cadê o policiamento??? Cadê a segurança??? Para onde está indo todo o dinheiro que pagamos de impostos???

As eleições estão chegando, vamos votar com mais responsabilidade para escolhermos melhor nossos representantes. Brasília merece tudo de bom e nós, cidadãos de bem, merecemos muito mais do que representantes corruptos e sem compromisso no Congresso. Lugar de ladrões e delinquentes é, no mínimo, na cadeia. Vamos fazer valer a lei do ficha limpa!!!

Olha as eleições geeente! A hora da mudança é agora. Somos responsáveis por nossas escolhas e, por isso, precisamos votar bem. Vamos cobrar ações efetivas dos nossos parlamentares. Nossa cidade precisa melhorar os serviços de saúde, transporte, segurança, educação. Aliás, educação é fundamental. Um povo bem educado não aceita ser conduzido placidamente como gado para o matadouro. Um povo educado pensa, cobra, faz valer seu voto.
















Aí está a aparência do alienígena que resolveu sair debaixo da unha do meu tão bem tratado pezinho. Se na foto ele é feio vocês nem podem imaginar o quanto ele é ainda mais feio visto ao vivo e em cores. Horrível! E pior, doído que só, mas não tem como fotografar a dor...
Já tomei a bendita benzetacil, mas até agora nada de bom está visível. A dor ainda não cedeu, mas tenho esperança que comece a melhorar. Estou tomando o antibiótico há três dias, acho que só agora vai começar a aparecer algum resultado.
Os médicos que examinaram meu pé não gostaram do que viram. Todos acreditam em alguma bactéria sinistra resolveu dar cria debaixo da unha. Ninguém merece ser berçário de bactéria, muito menos eu e meu pé. Vou combater essa cretina e dar cabo nela, pois quero voltar a fazer minhas caminhadas calçando um tênis confortável. Agora só dá para ficar de chinelinho em casa (e ainda fazer propaganda das havaianas nas fotos). Quando saio fica pior. É que coloco meias para proteger o pé e uso sandálias. Fica uma marmota. kkkkk

Seguindo minha intuição

Cada dia fico mais convencida de que devo seguir minha intuição.
Outro dia ouvi, num curto espaço de tempo, várias opiniões diferentes sobre minha saúde e o resultado de meus exames. Uma coisa não está batendo com a outra, mas se os sintomas também não batem porque devo me preocupar acreditando no pior?
Não faço o tipo alarmista, que adora arranjar motivos para se sentir um trapo. Às vezes até me sinto assim, mas posso garantir que detesto essas ocasiões. Fico assim quando estou realmente cheia de dores e incapaz de coordenar um pensamento lógico, mas no geral estou quase sempre de bem com a vida, mesmo que os pés não ajudem muito na caminhada ou que uma dor mais forte me obrigue claudicar.
Meu TSH está lá nas alturas, então tentaram convercer-me aumentar a dose do hormônio. Como vi que não adiantava argumentar, peguei a receita mas a deixei esquecida no meio de um monte de papéis. Achei mais seguro, ao invés de simplesmente tomar um remédio mais forte, consultar minha endocrinologista, uma médica de quem eu gosto e em quem confio, e mostrei os resultados do último exame de sangue. Ela nem se abalou com o que viu. Olhou tranquilamente para mim e disse que não vai aumentar a dose do hormônio por enquanto porque certamente a alteração no TSH é resultado desse monte de remédios quimioterápicos e outros que ando tomando.
Adorei essa parte, porque odeio ficar tomando remédios e mais remédios. Vou repetir o exame de sangue em quinze dias e vamos ver o resultado. Minha intuição é fd! Cada dia acredito mais nela. Se eu fosse acreditar em tudo que me dizem e se eu tomasse todos os remédios prescritos acho que já teria cumprimentado São Pedro há muito tempo...
Medicina é uma ciência complicada, e nosso corpo reage de uma forma muito particular. Cada caso é um caso, e cada pessoa é um universo único. Um sintoma pode significar diversos problemas e uma medicação errada pode mascarar uma doença. Não gosto de ficar me entupindo de remédios e só os tomo se realmente fico convencida da necessidade dos mesmos. Além do mais, se minha intuição me deixa em alerta, prefiro acreditar nela.

Falso Alarme de uma Dor Anunciada




Em qualquer clínica, hospital ou posto de saúde
O que se vê, além de expressões abatidas e caras de dor,
É um monte de jalecos brancos
Esvoaçando para lá e para cá
Dentro deles médicos, enfermeiros e auxiliares
Rostos anônimos puncionando veias,
Drenando tumores, aplicando injeções,
Tomando decisões que podem implicar em vida ou morte.
Hoje me vi cercada por alguns jalecos brancos com
Rostos conhecidos tentando me convencer sobre um procedimento.
Depois de muita conversa e explicações
Conclui que não restava outra saída e
Acabei me colocando em mãos desconhecidas
Dentro de outros jalecos brancos.
A atenciosa médica do plantão
Examinou as unhas inflamadas nos meus pés
E preveniu que a injeção seria muito dolorida.
Desolada, fiquei aguardando minha vez enquanto observava
Outros pacientes serem atendidos.
Uma enfermeira puncionava a veia saliente
Que descia sinuosa pelo braço de pele muito branca do jovem rapaz.
Outra enfermeira chamou meu nome e
Nem me atentei para seu rosto
Tudo que vi foi uma seringa com uma agulha enorme
Apontada sinistramente em minha direção.
Um líquido branco opaco ocupava mais da metade do tubo
A enfermeira informou que o procedimento precisava ser rápido
Para não obstruir a agulha e
Com um ar divertido no rosto
(talvez apenas fruto da minha imaginação fértil)
Avisou que sendo uma injeção muito doída
Precisava ser aplicada nos glúteos.
Insegura e preocupada com o tamanho da dor
Perguntei como deveria proceder
A resposta veio seca e objetiva: basta ficar de pé
E abaixar um pouco a calça comprida.
Obedeci a ordem sem entusiasmo e fiquei esperando a dor chegar
A agulha penetrou meu músculo e a temida benzetacil aplicada.
Nem percebi quando tudo terminou
Pois a dor anunciada simplesmente não aconteceu.
Acho que estou anestesiada com tantas dores
Que esta nem abalou.
Ainda bem, tudo não passou de um falso alarme.

Vovó Dolores em Atividade
















Acorda bem cedo e varre o jardim
Recolhe as folhas jogadas pelo vento
E as sobras das queimadas caídas no chão.
Sem pressa rega os canteiros e
O beija-flor, acostumado com a ducha fina
Baila sem medo na chuvinha fresca
Feita sob medida para ele.
Pássaros reclamam pelas frutas frescas
Que ela ainda não colocou nos pratos pendurados na pitangueira.
Em seguida vai cuidar dos passarinhos que estão nas gaiolas
Eles nunca conheceram a liberdade, e mesmo com as portas
Abertas não se aventuram soltos no ar.
As gaiolas são grandes e espaçosas,
Mas ainda assim são feitas de grades
Coitados, não fizeram nada errado para viverem uma vida presos
Mesmo que sejam em gaiolas douradas.
Mais tarde vai para o quarto de costura
Escolher os tecidos para montar outra colcha
Decide as cores e padrões, corta paciente cada pedacinho do patchwork
Devagar vai montando o desenho
E uma nova colcha de retalhos vai sendo costurada com carinho
É mais um presente para alguém especial
Que mora no coração da Dolorinha,
Uma idosa com mais de oitenta anos.

Prescrições Médicas

Ontem comecei um tratamento com acupuntura para ver se consigo harmonizar meu corpo com toda essa quimioterapia que promete curar algumas coisas, mas também estraga tantas outras. Em seguida fui até a clínica fazer o zometa e acabei conversando, no curto espaço de uma meia hora mais ou menos, com três médicos e cada um falou algo totalmente diferente do outro sobre o problema da inflamação na unha dos meus pés, um efeito colateral da quimioterapia que estou fazendo.
No final das contas uma das médicas prescreveu uma injeção de benzetacil para debelar o problema que segundo ela pode até evoluir para uma septicemia por causa da baixa imunidade. Achei um exagero, pois a inflamação já esteve muito pior do que está agora. Olhei para meus pés e fiquei imaginando um tiro de canhão numa mosquinha... Já pensou enfrentar uma benzetacil por causa de uma unha? Hummm, não sei não... Ela ainda disse que a benzetacil seria para evitar uma internação para ficar tomando antibiótico pela veia, já que por via oral me faz muito mal por causa do excesso de remédios que venho tomando.
Fiquei pensando, esse não é um efeito colateral da medicação??? O que vai adiantar tudo isso se vou continuar fazendo uso do remédio? Se é um efeito colateral esperado a inflamação certamente irá voltar e aí? Vou tomar benzetacil de novo??? Sem chance. Melhor pensar em outra solução, pois afinal falei com três médicos e cada um pensou numa solução diferente. Já vi que medicina não é uma ciência exata, então não vou dizer amém para tudo que decidem fazer comigo. Fiquei me imaginando uma paciente da série House que passa por todo tipo de problemas e perrengues até a doença ser finalmente diagnoticada e o remédio correto administrado.
Para completar meu TSH está lá nas alturas. Uma das médicas acha melhor deixar como está, já a outra quer aumentar a dose do remédio que faço uso. Para não ficar no meio dessa discussão decidi que vou mesmo é fazer uma consulta com minha endocrimologista, pois ela é especialista nesse assunto e confio nela.
Os médicos não entram num acordo e o paciente é que fica perdido como cego em tiroteio... Prefiro acreditar na medicina chinesa. É mais natural e com menos remédios. Como diz a Tiê em sua música, ... me dá pena do meu chinês. Por ele eu passava o dia inteiro a meditar, bebendo chá verde... É melhor do que quimioterapia ou benzetacil.


Ocupação Urbana

Há alguns anos vim morar no condomínio onde vivo até hoje. Naquela época eram poucos os moradores e a maioria dos terrenos eram abertos, inclusive o da minha casa.
Era uma paz morar por aqui. A noite ouvia-se o coaxar dos sapos e o cricilar característico dos grilos, e pela manhã era bastante comum acordar e ver vacas ou cavalos pastando no quintal porque a portaria era rudimentar e não havia nenhum tipo de cerca fechando o condomínio.
A impressão que eu tinha era o de morar numa cidadezinha de interior ou até mesmo num sítio, tão vasta e abundante a natureza que cercava minha casa. As crianças que por aqui viviam se esbaldavam em suas brincadeiras pelos terrenos vazios.
Lembro-me bem que naquela ocasião para se fazer um canteiro bem adubado era só recolher um pouco do esterco dos animais que pastavam pelos arredores. Tudo o que se plantava crescia forte e vistoso. No meu quintal havia muitas bananeiras, uma horta cheia de verduras sempre fresquinhas e um jardim repleto de flores coloridas.
As crianças que cresceram no condomínio tiveram a oportunidade de brincar como toda criança deve fazer. Elas corriam soltas, subiam nas árvores, brincavam de pique e todo tipo de brincadeiras que hoje quase não se vê mais.
O tempo foi passando e as pessoas foram chegando devagar, ocupando os terrenos, construindo casas e muros. O condomínio está todo murado, parecendo um grande presídio. Hoje dá para contar nos dedos os poucos terrenos vazios que ainda restam. Todos os lotes foram cercados, inclusive o meu, e o local perdeu aquele ar interiorano e os vizinhos se distanciaram. Cada um vive trancado em seu próprio mundo, e pouco se comunicam. Uma tristeza.
O silêncio gostoso que envolvia a noite e alcançava as manhãs já não existe mais. O cricrilar dos grilos cessou e não se ouve mais o coaxar dos sapos e muito menos o balé das pequenas lanternas dos vagalumes que enchiam as noites frescas. Cavalos ou vacas pastando já faz um tempão que não vejo de perto.
Agora o que se ouve são os motores dos carros que circulam pelas ruas e o insuportável barulho que vem da academia vizinha. Os instrutores devem pensar que seus alunos são surdos, pois berram feito loucos enquanto orientam os exercícios. Vez ou outra um dos aparelhos da musculação cai no chão fazendo tremer tudo enquanto o barulho ecoa pela minha casa.
As manhãs, outrora cheia dos cânticos dos pássaros, agora é invadida pelas vozes dos frequentadores da academia que chegam para malhar e pela música ensurdecedora que esses tarados por malhação gostam de ouvir. Um horror.
A ocupação urbana é inevitável e o preço que pagamos é alto. Perdemos em qualidade de vida na medida que vamos nos distanciando da natureza e nos aproximando cada vez mais urbanização. Acostumamos ouvir o ronco dos motores, o barulho ensurdecedor de muitas vozes, enquanto devagar vamos esquecendo como era agradável ouvir a brisa soprando de leve as folhas das árvores, ou o barulho dos pequenos seres da noite.