Aliança com a garotada

Estava me  lembrando do tempo em que eu morava em apartamento e de quando fui síndica, coisa que não recomendo para ninguém, pois é o maior dos abacaxis. Tudo de ruim que acontece no prédio, sobra sempre para o síndico. Já as coisas boas, certamente não serão atribuídas a ele...
O vizinho ouve música com som muito alto, incomodando todo o prédio. Quem ouve a reclamação? O sindico, e não o surdo que escuta a música nas alturas. A água acabou. Culpa da Caesb? Claro que não, deve ter sido o síndico que se esqueceu de pagar a conta em dia. Faltou energia na quadra. Para quê ligar para a CEB? O síndico deve saber o que está acontecendo, e vão atrás dele. O zelador faltou ao trabalho? O síndico que se vire.
Depois de muito pensar, para tentar  minimizar os problemas,  resolvi envolver tanto os moradores quanto seus filhos na administração do prédio, mas precisei ser bastante criativa.
Uma das medidas que tomei  foi convocar todas as crianças do prédio para uma reunião em minha casa, com direito a suco, refrigerante e salgadinhos. Conversei com elas e pedi  sugestões sobre a melhor maneira de cuidarmos juntos do nosso prédio. Falamos da conservação do jardim, da segurança das portarias, da limpeza do prédio  e outras coisas. Elas se sentiram prestigiadas e conversaram bastante, dando vários palpites. Percebi que elas queriam participar mais ativamente e então sugeri a eleição de um síndico mirim. Foi uma festa. Elas adoraram a idéia.
Fizemos a votação e elegemos um síndico, um sub-síndico e assessores. Todos ganharam alguma atribuição e eu ganhei um monte de aliados. Nunca mais tivemos problemas com vandalismo no prédio, as portarias nunca mais ficaram abertas ou quebradas e a grama do jardim estava sempre verde e limpa. Tudo passou a funcionar como a engrenagem de um bom relógio.
As reuniões mirins  aconteciam na minha casa e eles me falavam do que acontecia no prédio, na escola e em suas vidas. Falavam de seus sonhos e  de seus pequenos problemas.  Éramos amigos e eu era a confidente daquelas crianças barulhentas e criativas.
Numa daquelas reuniões mirins as crianças pediram que eu as ajudasse a  montar uma gibiteca. Eles queriam  um espaço onde pudessem colecionar livros, gibis, jogos, e onde pudessem ficar a vontade. Como nosso prédio tinha pilotis que foram fechados com paredes, aproveitamos um daqueles espaços para montar a gibiteca que acabou sendo um sucesso.
Depois que me mudei  para outro bairro,  nunca mais tive contato com aquelas crianças. Hoje, quando me lembrei delas, senti saudades daqueles encontros. Criamos laços de confiança e amizade. Foi uma experiência muito interessante. Naquela época pensei: se não posso com elas, é melhor transformá-las em aliadas. A tática deu certo.
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Obrigada pelo comentário. bjs Lou