Levanta-te e anda


           Desde que iniciei o tratamento para ficar curada do câncer metastático que tentava matar meu corpo, a religião, que nunca foi meu ponto forte, ficou ainda mais fragilizada.
            Um dia em que eu estava me sentindo muito cansada, desanimada mesmo, e achando que não havia mais horizonte em minha vida que parecia escorrer lentamente por entre meus dedos, que sequer conseguiam segurar um copo,  senti um impulso inexplicável para ir conversar com o Padre Pedro Bach. Uma amiga havia me falado muito dele, resolvi conhecê-lo e ouvir o que ele tinha para me dizer.
            Cheguei desconfiada, sem saber bem o que eu estava fazendo ali, mas bastou vê-lo de perto para ficar desarmada. O Padre Pedro era uma pessoa de estatura pequena, aparência frágil, que andava com dificuldade, mas a energia que o envolvia era poderosa, era de um gigante. Conversamos muito naquele primeiro encontro e uma das coisas que ele me sugeriu, depois de me perguntar se eu estava disposta a fazer um sacrifício para ficar curada,  foi assistir missa e comungar durante 90 dias ininterruptos.
            Num primeiro momento nem achei que fosse tanto sacrifício assim ter que assistir missa e comungar todos os dias, mas a medida que o tempo passava ficava cada vez mais difícil ir todos os dias na igreja. Eu estava muito debilitada. Comentei com ele o tanto que estava sendo difícil manter o propósito de assistir missa todos os dias e ele até sugeriu diminuir o tempo, mas eu disse que preferia insistir e continuar tentando cumprir os 90 dias de comunhão.
            Durante as homilias eu ficava prestando atenção nos relatos dos inúmeros milagres atribuídos a Jesus Cristo e pedia em silêncio que Ele operasse um milagre em mim também. Eu me sentia tão fraca que havia dias em que eu só levantava do banco da igreja na hora de receber a comunhão, porque era difícil ficar em pé por muito tempo, mas consegui cumprir o propósito das noventa comunhões.
            O tempo foi passando e eu continuei encontrando com o Padre Pedro todas as vezes que ele vinha a Brasília até o dia que ele nos deixou definitivamente para voltar à casa do Pai. Ele faleceu no dia 29 de Julho de 2010.
            Quantas coisas aconteceram em minha vida desde que conheci o Padre Pedro. Eu gostava muito dele e para mim ele continua sendo uma referência. Todas as vezes que faço qualquer exame, quando estou dentro de um tomógrafo, ou nas vezes em que precisei me submeter a alguma cirurgia, é nele que penso. Para mim ele continua sendo meu canal direto com Deus.
            Nas minhas reflexões, e numa conversa com minha psicóloga, acabei por compreender que a graça de um milagre já aconteceu algumas vezes em minha vida e eu nem havia me dado conta disto. O mais recente aconteceu no  início deste ano.
Em dezembro de 2011 meu pé quebrou do nada, sem que eu tivesse escorregado ou torcido o pé, fazendo uma fratura grave que me deixou na cadeira de rodas por dois longos meses. Eu poderia ter me conformado em não fazer a viagem que eu havia programado para o mês de abril deste ano e ter apenas lamentado a fratura, ficado irritada, lamentando o azar, mas não foi o que fiz. No mês de março, assim que eu soube que não havia nenhum problema mais grave com minha saúde fui atrás de uma preparadora física e comecei a fazer musculação e alongamento, tão logo me vi livre do gesso. Foram apenas dois meses de preparo físico para uma viagem que me obrigou a caminhar muito, subir e descer ladeiras e escadas e eu dei conta de tudo sem a menor dificuldade. Como disse a Dani, se isto não é um “levanta-te e anda” o que será?
            Compreendi finalmente que para um milagre acontecer em nossas vidas não é necessário que Deus se faça homem e coloque as mãos sobre nossas cabeças. Se a centelha divina está dentro de cada um de nós, cabe também a nós a iniciativa de usar os recursos que estão ao nosso alcance para fazer com que os milagres aconteçam.
No meu caso, que  tenho câncer ósseo, uma fratura pode acontecer, mas se eu fortalecer corretamente a musculatura do meu corpo posso evitar outro episódio como a  fratura do pé. Foi por isto que procurei a ajuda da Janaína que é minha preparadora física até hoje.  Ela me orienta no exercício de musculação e depois me ajuda no alongamento. É meu jeito de ajudar o milagre acontecer.
            Houve um tempo em que eu não conseguia usar minhas mãos, também era difícil engolir, perdi o paladar, eu engasgava muito facilmente até com minha própria saliva, fiquei sem voz, era penoso andar, as unhas do pés encravaram por causa da quimioterapia... Superei todas estas dificuldades, ficou tudo no passado. São os pequenas grandes milagres com que Ele agraciou minha vida. É o meu “levanta-te e anda”.
2 Responses
  1. Issia Montes Says:

    =]

    Sem contar que Deus está presente mesmo qdo o milagre não acontecer!
    (Pe. Fábio de Melo)


  2. Anônimo Says:

    Mama,

    Por um segundo achei que o Pe. Fábio de Melo tinha comentado no seu blog...

    Deus realmente já operou vários milagres em nossas vidas! Te amo!

    Bjos,


Postar um comentário

Obrigada pelo comentário. bjs Lou