Novo oncologista, novo protocolo e o Mito de Ulisses


         Resolvi seguir minha intuição, que não costumar falhar, e procurei outro oncologista para uma consulta. Acho interessante um olhar novo para um caso velho... a ciência está avançando numa velocidade inacreditável, e sempre existe alguém surfando a onda certa... não custa nada tentar, ouvir uma outra opinião. Acho que acertei na mosca.  Saí muito animada com a conversa que tive com o Dr. Alessandro, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.
Adoro mitologia e entendo os mitos como ensinamentos para aplicação no nosso dia a dia. O mito de Ulisses, por exemplo, conta a saga do Rei de Ítaca para encontrar o caminho de volta para sua terra natal. O rei  Ulisses  levou muitos anos naquela jornada, perdeu muitos homens e barcos, passou por muitas provas até alcançar seu objetivo. Ele saiu de Ítaca com muitos homens e barcos, mas retornou sozinho.
Você deve estar se perguntando: o que uma coisa tem a ver com a outra? Tem tudo, pode ter certeza. Olha só: Ulisses usa uma barca como veículo em sua jornada. Num barco é necessário consertar as velas  quando o vento as destrói. Se as velas não estiverem perfeitas o barco não sai do lugar. Outra coisa: o comandante precisa estar alerta e sempre há um vigia no alto do mastro  perscrutando  o horizonte em busca de sinal de piratas ou de terra a vista, não é verdade? E outra coisa: para o barco navegar é necessário levantar a âncora para sair do porto. É necessário soltar as amarras.
Sou ora o Ulysses,  ora o vigia, a vela rota, sou cada um dos personagens do mito. Somos, todos nós, viajantes na vida; e já faz algum tempo que venho empreendendo uma longa viagem para dentro de mim.
Como o vigia do barco no alto do mastro perscrutando o horizonte, olhei para mim e observei atentamente meus novos sintomas. Não dá para baixar a guarda, afinal quem conhece melhor o meu corpo e como ele funciona sou eu mesma. Resolvi seguir minha intuição e ouvir uma nova opinião;  procurei saber se existe no mercado  algum remédio novo e mais eficiente para o meu caso.
Como Ulisses, é preciso estar sempre alerta e é fundamental consertar as velas rasgadas pelo vento. Tenho câncer metastático ósseo que já comprometeu duas vértebras, três costelas, quase todo o esterno, e agora parece ter avançado também no fêmur.  É necessário consertar minha estrutura óssea que está danificada, pois não tem graça nenhuma ficar quebrando do nada, sentindo dor e correndo riscos desnecessários.
           Já tive câncer espalhado por quase todo meu corpo. Já perdi a voz por causa de tumores, já estive mais prá lá do que prá cá, mas para minha sorte, meus órgãos vitais estão preservados e nunca tiveram câncer e, tirando o câncer ósseo, estou muito bem agora.
Soltar as amarras... pode até ser assustador, mas é necessário. Afinal, se quero chegar a algum lugar não posso ficar presa, amarrada no cais do porto da mesmisse. Chegou a hora de fazer uma mudança, vamos fazer. E assim eu vou,  mesmo assustada e com um pouco de medo, o que deve ser natural, superando cada uma das provas que se apresenta na minha jornada. Faz parte do jogo da vida...
O Dr. Alessandro Leal  suspendeu o anastrozol porque para o tipo de câncer que eu tenho esse remédio não tem eficácia nenhuma. Por outro lado ele sugeriu que eu volte a fazer o herceptin associado ao tykerb que já faço uso, pois este duplo ataque costuma ser bastante eficiente para casos como o meu.
Na primeira semana de novembro vou colocar novamente o catéter para facilitar a quimioterapia. O novo protocolo vai ficar assim: Lapatinibe diariamente, Trastuzumabe a cada 21 dias e denosumab a cada 28 dias. Quero ficar, no mínimo, estável e sem dor e, lógico, continuar tendo qualidade de vida.             
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Mama, qro saber detalhes desse médico q vai colocar seu catéter. Não qro nenhuma surpresa desagradável desta vez, hein! Te amo!


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou