Quero conhecer tudo o que li em suas cartas.

          Eu estava na clínica aguardando ser chamada para fazer o faslodex quando um senhor que também aguardava na sala de espera com sua esposa abriu seu caderno de palavras cruzadas e exclamou rindo: “Mas sou muito rápido mesmo. Despachei o envelope pelo correio, mas esqueci de colocar a carta que escrevi. Ela está aqui dentro da palavra cruzada.”
          Tive que rir, pois ele falou alto e em bom som e nem se abalou, apenas riu da situação e comentou que o destinatário da carta não iria entender nada quando recebesse um envelope vazio.
           Fiquei imaginando a cara de surpresa de uma pessoa que recebe um envelope e não encontra nada lá dentro.  Até me lembrei de uma correspondência que recebi quando morei fora e fiquei indignada com minha filha e minha irmã que não me escreveram nem um simples bilhetinho para acompanhar os documentos que estavam me enviando. Onde já se viu enviar uma correspondência para alguém e não escrever uma simples frase! Não consigo entender uma coisa destas.
        É uma pena que as pessoas tenham perdido o hábito de escrever cartas. Escrever cartas é tão prazeroso quanto recebê-las. O ritual de abrir o envelope e ler uma carta escrita especialmente para você é muito bom. Quando morei fora eu escrevia cartas para minha filha, que na época estava com 13 anos, todos os dias e enviava uma vez por semana aquele monte de cartas. Ela adorava recebê-las, pois eu relatava tudo o que eu fazia de interessante e isto incluía minhas longas visitas aos museus, meus passeios pelos parques e jardins, minhas idas ao teatro, minhas escapadas de final de semana.
          Quando minha filha foi me visitar em Londres nas férias ela queria ver tudo o que eu havia descrito nas cartas e foi uma experiência fascinante mostrar tudo aquilo para ela. Lembro-me de sua expressão de alegria e prazer quando a levei para assistir Cats. Nós estávamos sentadas na primeira fila e ela ficou encantada com os atores fantasiados de gatos, que saiam de buracos na lateral do palco que era alto, e se misturavam com os espectadores das primeiras filas. No intervalo da peça ela subiu no palco e ganhou uma livreto da peça autografado e ainda tirou fotos.
         Na peça do Fantasma da Ópera pude vê-la debulhada em lágrimas, emocionada. Era sua primeira vez em um teatro, assistindo a uma grande produção. Ela gostou tanto da peça que, além de ter decorado todas as falas, já assistiu a peça em outras três oportunidades pelo menos, e chora todas as vezes como se fosse a primeira vez.
          Visitar os museus era uma verdadeira festa. Ela queria ver tudo, queria saber detalhes de tudo. Seus olhos brilhavam de alegria e entusiasmo. Ela estava vendo de perto, ao vivo e em cores, tudo o que eu havia relatado em minhas cartas.
      A Bárbara ficou encantada com o passeio no tempo, visitando o Museu de Cera de Madame Tousseaud.  Acho que ela tirou foto com todos os bonecos de cera de pessoas que ela conhecia e se divertiu com cada um deles.
        Os passeios nos parques eram momentos de encanto e descoberta porque era inverno e a paisagem era muito diferente daquela que ela estava acostumada a ver por aqui. Ela ria quebrando a água congelada de um espelho d’água e corria pelos jardins ora espantando um bando de patos e gansos, ora tentando alcançar um esquilo esperto. Tudo era novidade.
       Quando ela voltou para casa começou a escrever cartas para mim também. Numa de suas últimas correspondência lembro-me dela escrever que as paredes da casa sentiam falta das minhas gargalhadas. Compreendi que era seu jeito de dizer que estava com saudades e que eu precisava voltar para casa.
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Mama, amava receber suas cartas. Vc sempre detalhava tudo e as vezes ainda mandava postais para eu ter uma ideia do que vc estava falando. Encantador! Vc realmente me fez apaixonar por tudo em Londres. Uma cidade incrível, mas vista pelos seus olhos ela é ainda mais fascinante! Amei tudo!!!!!

    Não acredito que te mandei alguma coisa sem um recadinho... Q absurdo! rs (minha cara)

    Te amo!


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou