Um giro pela Bretanha - Rennes

     Ontem fomos conhecer Rennes com o David. Ele nos levou direto ao centro histórico da cidade e foi nos mostrando e explicando o significado de cada uma daquelas antigas construções.



     Rennes é a capital da Bretanha e, diferentes das pequenas cidades por onde andamos até agora, ela é mais populosa até porque é um importante polo universitário. As ruas estavam apinhadas de gente, principalmente jovens, como em qualquer grande cidade, e até pedintes vimos por lá.


     O centro histórico é uma vitrine espetacular de arquitetura medieval e renascentista e do período de dominação romana. O turista tem a sensação de estar fazendo uma viagem ao passado distante, principalmente quando avista as casinhas coloridas com fachadas de padrões geométricos intrincados, as espetaculares casas de arquitetura enxaimel, cuja origem ainda é discutida, mas parece ter seu início na Alemanha. Algumas casinhas, como em Dinan, davam a impressão de que só não desabaram até agora porque uma segura a outra.




     Os portões de Mordelles, construídos em 1440, são a porta de entrada da cidade antiga. Na Place des Lices fica a catedral do século 13 e 19 que combina os estilos gótico e o neoclássico. Esta catedral foi construída e restaurada muitas vezes. O prédio da Ópera de Rennes foi erguido em 1836 e o prédio do Parlamento da Bretanha é outro tesouro arquitetônico.





Opera de Rennes

     Passamos uma tarde em Rennes, mas a cidade merece uma visita mais demorada. Nos arrependemos de não termos programado nossos últimos 3 dias na Bretanha por lá.

Um giro pela Bretanha - destino de férias dos franceses

     Continuamos nosso passeio por Carnac conhecendo a pequena e pitoresca cidade que atrai tantos turistas curiosos e também estudiosos que querem ver de perto os alinhamentos de seus menires e também conhecer suas praias de areia fina,  e aproveitar a pesca, a vela, o mergulho submarino etc. O campo oferece aos turistas passeios pelas florestas, pelas lendas, passeios a pé, a cavalo ou de bicicleta. Existem passeios para todos os gostos.


       No centro da cidade fica o Museu, mas como estava fechado não conseguimos visitar. No outono e também nas segundas-feiras tudo fecha nas cidades da Bretanha.



         A Igreja de Saint Cornely estava aberta, então fomos conhecer seu interior. O teto, todo pintado a mão é lindo.

     Numa das extremidades da nave central fica o antigo órgão. 


Na outra, o altar.




     Esta estrada margeada por árvores nos levou a uma propriedade particular, onde fica um túmulo datado de 4.600 anos a.C. É um verdadeiro mergulho no passado... muito interessante o túmulo de Kercado, do qual já falei em outro post.
     O bosque que margeia a bem conservada estrada revela segredos antigos. O David parou para nos mostrar esta pequena fonte de pedras com águas cristalinas. Olhem só o ano que foi construída.



    Os bretões parecem gostar de preservar suas matas, seus sítios arqueológicos, sua história. O Lionel contou que há uns trinta anos a Bretanha era um pedaço de terra absolutamente esquecido na França, mas agora está se tornando, cada vez mais, o destino de férias preferido dos franceses que estão descobrindo este maravilhoso pedaço da frança. A Riviera Francesa é destino de férias para turista.


     O litoral bretão representa um terço da costa francesa e apresenta uma variedade incrível de paisagens litorâneas: são escarpas rochosas que mergulham nas águas verdes e azuis do Canal da Mancha e do Oceano Atlântico, praias de areia fina e também praias de areia grossa que mais parecem pedra triturada em pedaços bem pequenos; são ilhas, muitas ilhas; pântanos salinos e rios de águas cristalinas.



      Sendo a Bretanha banhada por águas de todos os lados a vocação marítima dos bretões é quase natural. O pier, em qualquer praia, está sempre cheio de barcos de todos os tamanhos, de todas as cores. É até bonito de se ver. No mar sempre vemos um barquinho a vela navegando sem pressa, ao sabor do capricho do vento que por aqui pode ser muito forte às vezes.

Um giro pela Bretanha - Carnac

     Saímos cedo para Carnac, uma cidade balneária de areia fina que fica no sul da Bretanha, há duas horas de carro a partir de Dinard. A viagem foi tranquila apesar de alguns desvios que o David precisou fazer, ora por causa de algum acidente (coisa rara por aqui), ora por causa de reparos na pista que já é muito bem cuidada. O dia estava ensolarado e com temperatura agradável, perfeito para o passeio.


     Carnac é banhada pelo Oceano Atlântico e não pelo Canal da Mancha como Dinard. A cidade estava quase vazia e a maioria dos seus imóveis estavam fechados, mas não chegava a ser uma cidade fantasma como Saint-Cast le Guildo, afinal o maior atrativo de lá são os menires, o mais famoso alinhamento megalítico do mundo, que atrai muitos turistas curiosos como nós. São mais de 3000 blocos de pedras de granito pesando em média de 50 a 100 toneladas. Algumas, com mais de 20 metros de altura, chegam a pesar até 350 toneladas.


     As fileiras de alinhamento dos menires de Carnac datam do período neolítico, entre o quinto e o segundo milênio a.C. e chegam  a ter mais de 3 km de comprimento. Os estudiosos afirmam que as pedras foram alinhadas com precisão e formam um gigantesco padrão geométrico. A distância entre as linhas é sempre a mesma e seus ângulos formam triângulos de pitágoras. O curioso é que essa formação em Carnac antecede ao nascimento de Pitágoras e do seu famoso teorema em pelo menos 2000 anos.


     O alinhamento das pedras de Carnac são visíveis do espaço e olhando de cima parecem um marco para veículos aéreos. Será que os Deuses astronautas existiram? A cultura celta é tão cheia de marcos e lendas... Acho que a era regida pelos druídas e pela magia, de alguma forma, ainda sobrevive na Bretanha. Conta uma lenda medieval que os menires são vestígios de uma armada romana, cujos soldados foram petrificados em batalha por São Cornely, padroeiro da cidade.


     O David estacionou o carro próximo de um dos nove sítios arqueológicos para vermos de perto o alinhamentos dos menires, em seguida nos dirigimos para alguns outros, e por fim fomos conhecer o túmulo pré-histórico que aparece na foto abaixo.



      Fizemos uma pausa para almoçar e em seguida fomos conhecer outro túmulo, o de Kercado, datado de 4.500 anos a.C. e que está localizado numa propriedade particular, mas mesmo assim está muito bem preservado.

     Primeiro entramos numa mata fechada escura e úmida tão soturna que eu tinha a impressão de que algum personagem fantástico da cultura celta viria me assombrar a qualquer momento. Fui caminhando devagar pela estradinha de terra batida coberta por folhas secas que estavam muito úmidas por causa da chuva que caíra no dia anterior. Eu pisava com cuidado para não correr o risco de escorregar.









 No canto do muro de pedras uma escada também de pedras gastas pelo tempo e coberta de musgo parecia deslocada do ambiente, e não levava a lugar algum. Passei pela abertura do muro e logo em frente já consegui ver o túmulo de pedras, que formava uma pequena elevação no terreno plano.

     A entrada do túmulo era pequena e baixa, obrigando os curiosos a se curvarem para entrar na câmara mortuária. O David foi o primeiro a entrar seguido pelo Lionel que retornou logo em seguida nos chamando para entrar também porque valia a pena ver aquilo de perto.


     O David veio nos aguardar na entrada e ficou iluminando o caminho escuro como breu com sua potente lanterna do celular. O interior do túmulo era circular e media uns 2m ou um pouco mais. Havia uma poça d'água no centro porque a água da chuva consegue infiltrar pelas pedras. Observamos a nossa volta os enormes blocos de pedras polida, sendo que a pedra que sustentava a abóboda do teto era um bloco único enorme e já estava ali há mais de 6.000 anos intacta. Fantástico não?


      Estávamos dentro da tumba, e com os pés literalmente na cova, quando chegou um senhor acompanhado de três crianças. Ele explicava para elas o significado do lugar quando a Maura resolveu brincar e fez o barulho que os fantasmas dos filmes costumam fazer para assustar. O garoto, que era o menor do grupo, arregalou os olhinhos negros e saiu correndo feito um corisco para a segurança da claridade lá fora. Rimos todos e seguimos o garotinho pelo caminho escuro, de volta a claridade que iluminava o local do túmulo.



Um giro pela Bretanha - sopa de urtiga

     Em um dos nossos passeios pelos caminhos da Bretanha o David apontou a moita de uma planta bem verdinha que crescia junto a um muro de pedras perto da praia e comentou com a Helena que aquela planta era o ingrediente de uma sopa muito gostosa e bastante apreciada por aqui. A Helena então me chamou para ver e exclamei: cuidado! isto é urtiga, não toque nesta planta. O David insistiu que aquela planta dava uma sopa excelente e eu fiquei curiosa, pois desde criança sempre ouvi os adultos falarem muito mal da urtiga e de seu caráter urticante.
     Chegando em casa fui pesquisar na internet sobre a urtiga e fiquei muito surpresa com o que li. E não é que o David tinha razão! A tão temida urtiga é mesmo o ingrediente de uma sopa muito gostosa e nutritiva. Nunca imaginei tal coisa. Curiosa continuei minhas pesquisas e descobri que a urtiga é usada como remédio fitoterápico para tratamento de muitos problemas de pele e é um excelente adstringente. Sua fibra também foi utilizada no passado pela indústria têxtil.
     As indicações para o uso da urtiga são inúmeras: é antioxidante, depurativa, tonificante capilar e das unhas, e muitas outras coisas. É indicada para o tratamento da anemia, da asma e infecções da boca e da faringe. Serve até para tratar caspa, a pele com eczemas, os cravos, espinhas, feridas e manchas. Olha só quantos usos para uma plantinha que sempre aprendi a temer. Fiquei pasma!

   
 As urtigas são utilizadas na culinária para fazer sopa, como nos disse o David. Secas e trituradas são usadas para fazer chá; e a água das urtigas fervidas serve para combater pulgões que atacam as plantas. Legal né? Nunca pensei que a urtiga tivesse tantos usos e muito menos que servisse de alimento, pois desde criança sempre ouvi os adultos falarem muito mal dela. Será porquê?

     Ela também tem algumas contra-indicações: gestantes e portadores de edema causado por problemas cardíacos ou renais não devem fazer uso da urtiga porque podem ocorrer reações alérgicas.
     Viajar, além de ser muito bom, é sempre uma oportunidade de aprender coisas novas. Desta vez aprendi que a urtiga não é apenas urticante como sempre pensei, ela é uma planta de mil e uma utilidades.
     Quem estiver disposto a experimentar é só colocar luvas de jardinagem, pegar um punhado de urtigas e seguir a receita abaixo que tirei de um site português. Um detalhe: a única parte da urtiga usada na cozinha é a folha, uma vez que os caules são fibrosos. O seu sabor está entre o espinafre, a couve e o brócolis, com um ligeiro efeito de formigar na boca.

Sopa de Urtigas
Lave as folhas das urtigas de modo a retirar os "picos".
Passe por água a ferver com um pouco de sal
Corte as folhas em pequenos pedaços.
Numa panela coloque 2 colheres de sopa de azeite e um dente de alho picado
Junte as urtigas mexendo com regularidade
Adicione 2 colheres de sopa de farinha de trigo com um pouco da água do cozimento
Deixe "engrossar" e adicione umas gotas de limão.

Obs: a farinha de trigo pode ser substituída por batatas.

Obs2: imagens da internet 

Um giro pela Bretanha - Cancale (texto da Helena)

          Cancale é um pequeno vilarejo próximo a Mont Saint Michel. Conta com cerca de 5000 habitantes e vive da colheita de ostras e do turismo.




        Segundo a história local, tudo começou quando, nos primórdios do mundo, uma floresta foi submersa pelo mar, formando na baía um ambiente propício à proliferação das ostras. Elas se tornaram tão abundantes, que foram consideradas como um recurso inesgotàvel, mas a colheita indiscriminadas e predatória fez com que o inesgotável começasse a se esgotar.

fazenda de criação de ostras em Cancale 

       No século XVIII esta situação chegou a um estado crítico. A redução do estoque estava tão alarmante,  que houve uma determinação real proibindo a colheita e venda de ostras na França entre os meses de abril e outubro. Esta medida veio na hora certa e garantiu a sobrevivência das ostras em Cancale. Posteriormente, a colheita passou a ser regulamentada, sendo permitida somente nos dias e horários indicados. Um tiro de canhão sinalizava  o momento em que os barcos deveriam partir para a colheita das ostras. Este dia era uma festa, onde  todos da redondeza participavam.


        O século XX viu surgir as primeiras fazendas e parques de criação. Hoje, graças ao controle sanitário dos criadouros e ao "savoir faire" dos ostreicultores, a fama  das ostras de Cancale ganhou o mundo, mas o bom mesmo é vir aqui, pegar o seu pratinho de ostras, pão de centeio, manteiga salgada, limão, um copo de vinho branco... encontrar um cantinho na orla, um banco, um degrau, o parapeito de uma mureta... qualquer lugar serve... Pode até escolher sentar-se num barzinho à beira mar ou num restaurante chic, que sirva os famosos "Plateaux de fruits de mer"  onde as ostras vêm num prato grande sobre gelo picado. Não importa onde, nem como, o importante é degustar esta iguaria em Cancale. Ela é o carro chef da culinária local.


       Nem eu, nem Maura, nem Lourdinha nos animamos a come-las, para nós é um bichinho muito esquisito, pouco atrativo, mas há quem goste. Lionel adora. Disse que quando aqui chegou comeu três dúzias de uma vez, mas hoje não quis fazê-lo, tínhamos acabado de almoçar em Mont Saint Michel.


                   Partimos de Cancale em direção a Pointe de Grouin viajando pela costa. 
                   Descobrimos lugares e aprendemos muito em nossas andanças.                

Perdidas na chuva

     Fomos finalmente conhecer a feirinha de Dinard que funciona aos sábados, na praça da cidade. Para começar não é bem uma feirinha porque ela é bem grande, tem muitas barracas vendendo flores, frutas, queijos, embutidos, roupas, sapatos enfim um monte de coisas úteis e outras nem tão úteis assim.  Na mesma praça fica o grande mercado permanente que é uma perdição para os gulosos de plantão, pois só vende coisas gostosas. 
      Paramos na barraca dos queijos e compramos um queijinho de cabra que já provamos e aprovamos. Comemos também um pouco de geléia de mirabelle, uma fruta da região, com uma fatia de pão que também compramos na feira. Os pães na frança são divinos, cada um melhor do que o outro.
     O dono da barraca onde comprei damascos, tâmaras e a geléia de mirabelle era muito simpático. Ele encarnou em mim quando soube que eu falava português e fez questão de mostrar tudo, tentando me convencer levar outras guloseimas. Ele até saiu de dentro do box para explicar-me a procedência da geléia de mirabelle, a melhor da região, feita em Nancy. Verdade ou não, o que posso afirmar é que ele tinha razão, a geléia é uma verdadeira delícia.
     Quando resolvemos voltar para o hotel a chuva também resolveu voltar a cair. Retornamos rápido para dentro do mercado e ficamos lá até a chuva dar uma estiada, o que não demorou muito. Na hora de sairmos cometemos a tolice de sair por uma porta lateral e não deu outra, perdemos o rumo da rua do nosso hotel. Lógico que a chuva voltou a cair forte e nos pegou no meio do caminho completamente perdidas, sem a menor noção de onde estávamos. As casas aqui são todas iguais... eu que já sou sem rumo por natureza aí é que fico perdida mesmo. Ninguém merece ficar perdido no meio da chuva fria...
     A Helena, que fala bem o francês pediu informações sobre o rumo que deveríamos tomar e finalmente conseguimos chegar no hotel. Ainda bem que nossas capas nos protegeram porque senão estaríamos molhadas até a alma.

Um giro pela Bretanha - Saint Jacut de la mère - Créhen - Saint-Cast le Guildo - Cap Fréhel

     O David veio nos pegar no hotel para mais um dia de passeios pelas praias da incrível Bretanha. Iniciamos nosso tour pela praia de Saint Jacut de la mère com suas águas azuis e pequenas ilhotas. O vento lá em cima na falésia era cortante e gelado, tão gelado que precisei voltar ao carro para pegar meu gorro e proteger as orelhas que pareciam estar congelando.


     Voltei caminhando devagar, absorvendo aquela paisagem para gravá-la em minha memória. Um banco de madeira na beira do precipício, mas distante da beirada o bastante para não me deixar apavorada (tenho horror a altura), convidava para sentar e apreciar a vista. Foi o que fiz. Fiquei ali algum tempo e aproveitei para agradecer a Deus a oportunidade de poder viajar e ver de perto tão lindas paisagens.


     Continuamos o passeio e fomos a Créhen, outro vilarejo pequeno da Côte d'Armor. Fizemos uma pequena caminhada pela promenade margeada por blocos de pedras amontoadas, que segundo o David são uma característica da região, e vimos ao longe as ruínas do Château fort du Guildo.


     Aquele castelo foi construído sobre uma rocha bem alta para controlar os barcos que entravam no estuário do Rio Arguenon. Era uma posição estratégica.



       Fomos conhecer de perto o sítio arqueológico e o David chamou nossa atenção para a argamassa que foi usada para assentar as pedras das paredes do castelo: areia misturada com conchinhas trituradas.




     Continuando nosso passeio chegamos a Cap Fréhel, localizado numa península na Costa de Esmeralda, no norte da Bretanha. Vimos dois faróis: um construído no século 17 e que está desativado, e outro construído em 1950 que funciona até hoje.





     Para finalizar fomos conhecer uma famosa estação balneária da Bretanha, Saint-Cast le Guildo. Ficamos impressionadas com a cidade fantasma que nos recebeu, não havia uma viv'alma nas ruas e muito menos na praia. O David nos explicou que aquela cidade tem uma população de aproximadamente 1.500 pessoas morando permanente e que nos meses de verão esse número aumenta para uma 15.000 pessoas.
     Tivemos sorte em encontrar um restaurante aberto na cidade, pois a fome já estava me deixando fraquinha. A comida estava ótima. Eu e a Maura comemos um peixe, o Lionel comeu carne e o David e a Helena comeram coquille de Saint-Jacques. O melhor de tudo foi o preço: menos de 90 euros para cinco pessoas.  

Bistro du Pot
6, rue Jacques Cartier
Saint-Cast Plage
02 96 41 81 13