Um giro pela Bretanha - Floresta de Brocéliande ou Floresta de Poimpont?

     Desde que planejei a viagem para a Bretanha, Paimpont já estava incluída no meu roteiro. Era um lugar que eu realmente fazia questão de visitar para ver de perto a Floresta de Brocéliande, lar do Mago Merlin, de Morgana e Viviane, do Rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. Lenda, mito ou realidade não me importa, o que sei é que eu queria muito ir até a floresta e hoje realizei meu desejo e estou muito feliz.


     O David, motorista que contratamos para fazer alguns passeios, e que recomendo para qualquer pessoa que resolva vir a Dinard e daqui sair para conhecer a Bretanha, veio nos pegar no hotel às 10:30h e seguimos em direção a Poimpont, uma cidade próxima a Rennes que é a capital da Bretanha. A viagem durou mais ou menos uma hora e foi muito tranquila.


     Chegamos em Poimpont e começamos nosso passeio visitando a Abadia de Paimpont, um edifício de pedras construído inicialmente no século VII e reconstruído no século IX depois de ter sido destruído pelos Normandos. A atual abadia, em estilo gótico, é do século XIII. A nave tem a forma de um casco de barco virado para baixo, e a Nossa Senhora de Paimpont, uma imagem do século XIV, tem lugar de destaque na nave.




     Saímos da abadia e resolvemos parar no restaurante Le Relais de Brocéliande para almoçar, antes de iniciarmos nossa aventura no mundo mágico de Merlin. Pedimos um salmão com alho poró que estava uma delícia e experimentamos a cidra, bebida típica da Bretanha.

   
     Depois do almoço nossa primeira parada na Floresta de Brocéliande ou Floresta de Poimpont (a escolha do nome fica ao critério de cada um), centro de muitas lendas e magias, foi no velho carvalho de Guilhotin (Chêne à Guillotin) uma árvore com mais de 1000 anos de existência, que está resistindo bravamente a passagem do tempo. Ela foi podada recentemente e perdeu uns bons metros dos seus 20 metros de altura. Deve ter sido uma medida profilática para garantir muitos anos mais pela frente.


     A árvore é oca e diz a lenda que serviu de abrigo ao sacerdote Guillotin que se escondeu nela durante os terríveis anos da Revolução Francesa. Lendas à parte, acho bem difícil caber uma pessoa na fenda da árvore (foto abaixo).

     Uma árvore tão antiga, que já presenciou tantas histórias e ainda continua servindo de sombra a abrigo até hoje, merecia um abraço e foi o que eu fiz. Abracei o carvalho e deixei a energia da longevidade e da força dele se misturarem ao meu corpo. Uma energia daquelas deve recarregar a minha, reequilibrando a vibração de minhas células e revitalizando meu corpo.


   

         Em seguida fomos em direção ao Vale sem retorno e ao Hôtié de Viviane, uma sepultura coletiva dos druídas datada de 3.500 a 2.500 a.C. O Vale sem retorno era a Terra Encantada, o local onde Morgana aprisionava seus amantes infiéis, antes de ser vencida por Lancelot.
     A floresta não é muito bem sinalizada e mesmo com o GPS nosso motorista encontrou uma certa dificuldade em localizar alguns lugares de interesse na floresta, que é muito grande. São 7.000 hectares, e mesmo de carro são necessários pelo menos dois dias para se ver tudo. A pé ou de bicicleta são cinco dias e a cidade parece ter a estrutura necessária para atender os turistas.
     Eu disse ao David que era melhor irmos direto para a Tumba de Merlin, já que visitar todos os pontos de interesse era inviável. Tivemos que fazer opções, mas eu fazia questão absoluta de ver de perto o local onde acredita-se que o Mago Merlin está enterrado. Fomos então para o outro lado do parque e paramos no estacionamento próximo da tumba. No caminho até o túmulo existem alguns pequenos sinais que marcam a direção onde fica a tumba. É preciso ficar atento porque os sinais são pequenos e muito discretos.


     Fui caminhando na frente do nosso pequeno grupo, eu estava ansiosa para chegar ao túmulo e seguia as indicações pelo caminho com o coração palpitando.



      O silêncio da mata que cercava a trilha só era quebrado pelo ruído dos nossos passos nas folhas e galhos secos do caminho. Quando cheguei ao túmulo, marcado apenas com duas grandes pedras, senti uma emoção enorme. Eu estava em frente ao túmulo do maior mago de todos os tempos (será verdade? será fantasia? Não me importa a resposta, eu apenas vivi intensamente aquele momento de pura magia e encantamento).


      Um pequeno arbusto cheio de bolinhas vermelhas está crescendo por trás das pedras que marcam o túmulo de Merlin. É a vida brotando da terra escura.


     De lá seguimos em silêncio até a Fonte da Juventude, que fica bem perto da Tumba de Merlin. A Helena pensou ouvir o murmurar das águas quando nos aproximamos, mas o David afirmou que não era o sussurro das águas e sim o ruído do vento entre as folhas e galhos da mata densa. Ele estava certo. A Fonte da Juventude não é exatamente uma fonte como nós esperávamos. Parece mais um poço, pois a água nasce no fundo do tanque, brota da terra e fica lá, inerte.


     Acho que a visão de um poço com água parada ao invés de uma fonte jorrando água cristalina pegou todos de surpresa. A água do poço não parecia potável, estava escura e cheia de folhas mortas boiando na superfície. Ficamos parados a uma pequena distância por algum tempo, acho que assimilando o que estávamos de fato vendo... Tenho a impressão de que a realidade quebrou um pouco do encantamento do imaginário de cada um de nós. Havíamos esquecido que a fonte da juventude é de fato restos de um dos sítios neolíticos existente na floresta, e não podia ser diferente. De qualquer forma estávamos felizes por termos encontrado a Fonte da Juventude. Ela pode até não tirar as marcas do tempo instantaneamente como a tecnologia do fotoshop o faz, mas quem sabe seu encantamento e sua energia consigam remoçar nossos sentimentos e nossa crença na mágica da vida...


     O Lionel segurou minha mão para que eu pudesse pisar nas pedras em segurança para alcançar a água dentro da fonte. Minha mão tocou a água fria que escorreu entre meus dedos. Molhei meu rosto, meu braço, toquei meu peito onde o osso esterno está comprometido pelo câncer... quem sabe a magia de Merlin possa reconstruir meu osso danificado pela doença... não custa nada sonhar e eu gosto dos sonhos.


     O mito da fonte da juventude começou há muito anos, quando no solstício de verão as crianças eram apresentadas aos druídas para serem lavadas na fonte e inscritas no registro da vida. Aquelas crianças que não eram levadas no ano de nascimento iam no ano seguinte e eram registradas como se tivessem nascido no ano em curso. Foi assim que nasceu o mito da fonte da juventude.


     Da fonte fomos até um local onde os turistas costumam fazer seus pedidos a Merlin (em francês a pronúncia é Merlán). É uma clareira na floresta que fica bem perto da fonte da juventude. Naquele espaço vimos várias pedras pequenas empilhadas, muitas delas com um recadinho escrito num pedaço de papel. O Lionel, muito curioso, leu alguns em voz alta. Eram pedidos para passar no vestibular, tirar uma nota alta nas provas, curar o irmão doente e por aí vai. O mais curioso deles era de uma jovem que dizia estar cansada de ter pouco dinheiro no bolso. Ela pedia ajuda a Merlin para conseguir um emprego fixo para ganhar um bom dinheiro e viver menos apertada. Também fiz meu pedido é claro, mas não deixei nada por escrito para que nenhum curioso como o Lionel viesse a ler meus desejos algum dia e ainda fizesse troça do meu pedido. Fiz minha pequena pilha de pedras e coloquei algumas folhas que colhi nas árvores que cercam a clareira. Deixei junto um pequeno galho que já estava no chão.


     Nossa aventura na floresta terminou lá, na clareira dos desejos. Parece que o pobre do Merlin, mesmo morto como acreditam alguns, mesmo inexistente como juram outros, ainda continua tendo muito trabalho. São muitos pedidos para atender, e espero que o meu também seja atendido.


  Voltamos para Dinard e combinamos com o David nossos próximos passeios pelas terras encantadas da Bretanha, com todas as suas lendas e magias.
     E hoje parece que o frio começou para valer em Dinard. Estava gelado quando voltamos da floresta, o vento soprava inclemente e entrava pela fibra de nossas roupas fazendo nosso corpo tremer. Precisamos até ligar o aquecedor no apartamento. É a vida real, como ela é!

Contato do David, motorista que está nos atendendo em Dinard - Bretanha
ALLO-EASY-TAXI
www.dinard-taxi.fr
port: 06.03.478.466
allo.easy.taxi@free.fr
20 rue levavasseur 35800 Dinard




1 Response
  1. Anônimo Says:

    mama, acho que tive algum problema com meus comentários. Tenho certeza que já tinha lido esse texto e o de baixo, mas meus comentários não apareceram...

    Estou amando ler seus relatos. Por vezes me imagino caminhando a seu lado.

    Te amo!


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou