O amanhecer em minha sala



                    Amanheceu.
                Os primeiros raios do sol incidem na sala de visitas, nas flores que enfeitam o antigo cachepô de prata, que fica sobre o aparador de madeira. As imagens da tela de proteção da janela e as flores estão projetadas em negro sobre a pintura branca da parede. Os grandes potes de vidro, cheios de rolhas de garrafas de vinho, produzem raios prateados que se misturam nas outras imagens. Parece até uma pintura abstrata, em preto e branco.
                A imagem é breve, as figuram se alongam na parede e desaparecem devagar, na mesma medida em que o sol continua a se levantar no dia que fica mais claro a cada momento. Outras projeções breves, fugazes... Os retratos sobre o aparador estão iluminados, algumas rolhas se destacam no fundo da taça de vidro. As raízes da planta que está no pote de vidro formam curiosos desenhos e uma das flores em alto relevo no cachepô brilha e se destaca das outras.
                Tudo sobre o aparador fica novamente na penumbra, na medida em que o sol vai mudando de posição e se projetando mais embaixo. Agora ele ilumina a flor de maio que fica sobre um pequeno pedestal de cimento, na forma de uma coluna romana, embaixo do aparador.
                Os barulhos da rua chegam mais fortes. A cidade está acordada e muita gente já está nas ruas indo para o trabalho, para a escola, ou apenas fazendo uma caminhada matinal.  O barulho estridente de uma freada se destaca sobre o ruído incessante que entra pelas janelas. Os periquitos fazem sua costumeira algazarra e o canto de um ou outro pássaro faz coro com eles.
                O sol agora está na sala de jantar acrescentando a imagem de uma garrafa no quadro de flores de hortências que enfeita a parede. A figura da garrafa se alonga até desaparecer na sombra. O chão de parquet está iluminado e reflete a perna de uma cadeira numa forma bastante alongada. Um raio de sol no formato de uma ponta de seta ilumina duas hortências azuis no quadro. O raio de sol sobe devagar e agora ilumina apenas uma flor, até desaparecer por completo. O quadro voltou a ficar na penumbra, bem como o piso de madeira.
                Os ruídos lá fora ficam cada vez mais fortes. O ronco dos motores dos carros e das motocicletas que trafegam no eixinho ficam mais estridentes e vão desaparecendo até se perderem em meio a outros sons que se aproximam do prédio. O barulho de uma buzina e de uma freada forte se sobressaem na cacofonia de ruídos que marcam o começo de um novo dia, e antes das oito horas da manhã os raios de sol que brincaram de fazer desenhos abstratos nas paredes e objetos da minha sala sumiram por completo.
4 Responses
  1. Anônimo Says:

    Olá,
    Bonita expressão, Lou. Mostrando que o lirismo que habita do cotidiano da vida...
    Gostei.


  2. Lou Says:

    Obrigada Moacir.


  3. Anônimo Says:

    Oi Lou
    O amanhecer é sempre um espetáculo lindo e que na maioria das vezes deixamos de assistir. No inicio do meu tratamento eu acordava super cedo e via o dia clareando, as luzes da rua se apagando,as pessoas saindo quietas enquanto ainda não tinha luz e aí.....o sol brilhava e a vida seguia brilhando ou chovia e o dia ficava mais triste. Eu adorava. Agora, por causa de remédios, qdo acordo a vida ja começou. Uma pena! Super beijos Bia


  4. Lou Says:

    Olá Bia,
    O amanhecer é realmente um espetáculo da natureza. Adoro.
    Qto aos remédios... Sei como é isto. Ultimamente tenho perdido o sono, como esta noite por exemplo.
    Beijo carinhoso


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou