A pescaria dos pássaros



          Nosso voo sairia somente no final da tarde, então aproveitamos a parte da manhã para nossa última caminhada pelo calçadão da praia. O dia amanhecera claro, céu azul sem nuvens e um gostoso sol aquecendo tudo. Saímos sem pressa iniciando nossa caminhada em frente ao mar quando observei alguns bem-te-vis pousados nas pedras que separam o calçadão do mar, no centro de Florianópolis.
Como bandidos que não querem ser reconhecidos, os bem-te-vis parecem também usar uma máscara negra em volta dos olhos. Eles também não são bonzinhos como esperamos dos passarinhos, pois já vi um deles devorando um pequeno beija-flor na primeira tentativa de voo. Quase morri de dó do beija-flor e passei a olhar os bem-te-vis como comedores de passarinhos frágeis.
Mas voltemos àqueles bem-te-vis que vi pousados à beira mar, atentos no balanço das ondas que chegavam aos borbotões, cobrindo as pedras e deixando pequenas poças nas depressões, antes de recuar. É que eles sabem que aquelas ondas trazem também pequenos peixinhos e crustáceos que acabam aprisionados, esperando a próxima onda para tentarem escapar.
Não eram apenas os bem-te-vis que observavam atentos, havia também pequenas garças brancas de penacho e muitos biguás boiando ou mergulhando. De repente um dos bem-te-vis deu um voo rasante sobre as águas e voltou a pousar nas pedras com um pequeno peixinho preso no bico. Ele comeu o petisco e voltou a ficar imóvel, atento ao movimento das águas. Esta operação se repetiu várias vezes.
A garça, elegante e graciosa, preferia caminhar devagar sobre as pedras observando atenta as pequenas poças d’água. Quando notava alguma coisa se mexendo parava, esticava seu longo e fino pescoço e dava uma bicada certeira trazendo de volta na ponta do bico um molusco ou peixe aprisionado. Ela não tinha pressa e repetia a operação com sucesso cada vez que esticava o pescoço.
O bem-te-vi pescava nas ondas que chegavam até as pedras, já as garças, se especializaram em caçar entre as pedras, nas pequenas poças que as ondas deixavam para trás. Os biguás ou mergulhões passavam a maior parte do tempo nadando e mergulhando. Cada um encontrou seu jeito peculiar de conseguir o almoço.
Continuamos nossa caminhada, agora de volta ao hotel. O motorista iria nos pegar para o almoço antes de irmos para o aeroporto. Depois de assistirmos tantos pássaros pescando seu almoço resolvemos também comer frutos do mar no Restaurante Ostradamus. Acertamos em cheio, a comida, acompanhada de um bom vinho, estava perfeita.