Flor do deserto e a mutilação genital feminina
segunda-feira, novembro 28, 2011
O filme Flor do deserto é baseado na autobiografia da ex-top model Waris Dirie, e denuncia a prática da mutilação genital feminina, comum em metade dos países africanos.
Waris Dirie nasceu no deserto da Somália em 1965, numa família nômade de pastores de cabras. Aos 5 anos de idade sofreu a destrutiva mutilação genital feminina e por pouco não morreu de infecção. Aos 13 anos fugiu sozinha pelo deserto até chegar na capital Mogadishu onde vivia sua avó, para fugir de um casamento arranjado por seu pai, para ser a quarta esposa de um velho com mais de 60 anos.
Viajou de Mogadishu para Londres, onde viveu durante 6 anos como empregada doméstica de uma tia casada com o embaixador da Somália. Não aprendeu a falar inglês durante os 6 anos de trabalho como doméstica, e foi deixada para trás quando a família retornou à Somália.
Sozinha nas ruas de Londres, sem falar inglês e sem ter onde morar, acabou conhecendo uma jovem vendedora de uma loja de departamentos que se tornou sua amiga e a ajudou a arranjar emprego como faxineira numa loja do Mac Donald’s.
Sua sorte começou a mudar quando o fotógrafo Terence Donovan a viu e se encantou com sua beleza negra. Waris fez um grande sucesso como top-model nos anos 80, e causou grande comoção no mundo quando, no auge de sua carreira, resolveu denunciar a violência da mutilação genital feminina.
O filme mostra a vida de Waris Dirie desde seu nascimento no deserto da Somália até o momento em que ela alcança o sucesso e a fama internacional nas passarelas do mundo fashion, mas tem como objetivo principal denunciar a prática criminosa da mutilação genital.
Existe uma estimativa de que mais de 8000 meninas, entre os 4 e 8 anos de idade, sejam submetidas a esta prática criminosa diariamente e a prática desta violência atualmente já atinge meninas com apenas alguns dias, semanas ou meses de vida.
A mutilação genital feminina é um costume cruel que causa danos irreversíveis, tanto físicos quanto psicológicos mas, pior do que isto, é responsável pela morte de muitas meninas. Esta mutilação pode ser feita usando uma faca, caco de vidro, navalha, lâminas de barbear ou até certas plantas, sem esterelização ou anestesia.
São 3 os tipos de mutilação genital, com gravidades diferentes. O primeiro é o chamado clitoridectomia, e consiste na remoção total ou parcial do clitóris. Outro tipo é a extirpação, quando se retira o clitóris e os pequenos lábios. O último e mais grave é a infibulação, quando cortam e raspam também os grandes lábios e depois costura os dois lados da vulva deixando apenas um pequeno orifício para saída da urina e da menstruação. Para cicatrização, amarram-se as pernas da mulher. Este procedimento provoca estreitamento da abertura vaginal.
No caso da mulher que sofreu infibulação, cada vez que o marido sai em viagem ele realiza a infibulação para garantir a fidelidade da mulher, e quando do seu retorno da viagem ele rasga os pontos novamente.
A falta de antibióticos e instrumentos adequados causa a morte imediata de um terço das meninas submetidas a mutilação genital. Segundo um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde-OMS em 2009, cerca de 92,5 milhões de meninas maiores de 10 anos sofrem as sequelas da mutilação genital feminina.