O bocão do passarinho


Hoje pela manhã Helena esteve aqui e mostrou-me alguns textos escritos por Dª Ita, uma senhora de quase 90 anos. Como é bom encontrar alguém tão avançado em idade ainda escrevendo, ainda encontrando poesia nas pequenas coisas e sonhando...
Conversamos um pouco e logo em seguida Helena foi-se embora. Gosto de conversar com ela, de trocar idéias. Nos entendemos muito bem, somos amigas e temos um grande carinho uma pela outra.
Na parte da tarde resolvi dar uma volta pelo jardim. Assim que cheguei perto de um dos canteiros percebi que havia um pássaro voando baixo. Pensei: deve ser um filhote ou é um pássaro ferido.
O passrinho pousou na churrasqueira. Fui até lá, mas assim que ele me viu tornou a voar, dessa vez para um canteiro cheio de plantas altas.
Chamei minha mãe para ver se ela identificava o pássaro. Era um filhote já grande e estranho para mim. Nunca vi de perto um pássaro como ele. Dava para perceber que estava fraco, talvez doente ou ferido, mas não dava para ter certeza.
Ele voou para o lado onde eu estava e caiu perto de mim. Estendi meu casaco para me proteger de uma bicada quando ele resolveu abrir o bico. Recuei assustada. Nunca, em toda minha vida, pude ver de perto um pássaro com uma boca tão grande. Lembrou a boca aberta de uma grande serpente venenosa. Instintivamente recuei e não tive coragem de pegar o passarinho, não com uma abertura de bico daquele tamanho. Fiquei imaginando o estrago que um bico daqueles pode causar na mão de qualquer pessoa.
Minha mãe, mais acostumada com animais, pegou o passarinho, pois era evidente que ele estava sem forças. O bichinho, de bico fechado, é até bonitinho, mas quando abre o bico parece mais um alienígena. É assustador.
Eu, dando uma de entendida no assunto, disse que tendo um bico que se abria daquele tanto ele só podia ser um animal que se alimenta de pequenos roedores. Ela então deu-lhe um pouco de carne moida e em seguida ofereceu ao bichinho algumas pitangas maduras. Ajudado pela minha mãe ele comeu tudo, mesmo com dificuldade.
Como o passarinho não está dando conta de voar direito ela resolveu colocá-lo dentro do box do banheiro da churrasqueira para evitar que um dos gatos da casa acabe com ele na boca. Acho que ele não irá sobreviver, pois está muito fraquinho, mas vou ficar torcendo para estar enganada.
Para não deixar dúvidas quanto ao tamanho da boca aberta do pássaro fiz algumas fotos. Elas também poderão atestar a feiura de um passarinho de bico aberto quando sua boca é enoooorme. Jamais pensei dizer isso de um passarinho, um animalzinho que costuma ser tão bonito e elegante.
Minha mãe acha que é um filhote de anu. Como não conheço esse tipo de passarinho fui tirar mais algumas fotos. Estando ele solto dentro de um box fica fácil fazer alguns cliques, até porque ele está quieto, meio bobo. Continuo acreditando que ele não irá sobreviver, mas se amanhã ele estiver legal irá voar para longe deixando para mim a má impressão de sua bocaaaarra. Nunca imaginei sentir medo de um passarinho.

Esperando a dor passar...

Ontem fiz quimioterapia e nesse exato momento estou sentindo alguns efeitos dela. Um mal estar percorre meu corpo enquanto uma dor que começa no final da coluna se espalha pelo corpo. Sinto náusea, meu corpo reclama, fico inquieta. Sei que não adianta deitar porque fico sem posição quando essa dor começa. O melhor é tentar me distrair enquanto espero o efeito do remédio para dor começar entorpecer meu corpo.
Dor é um negócio muito complicado, tira qualquer um do sério. Essa, especificamente, é sinistra, pois chega sem aviso. Já vem doendo feito louca. Parece que os ossos do corpo inteiro estão sendo comprimidos.
É melhor desviar o pensamento. Fixar na dor é o pior caminho.
Vou falar de sentimentos, outra coisa difícil. A cabeça até sabe o que é melhor, mas o coração insiste em tomar outro caminho.
Emoções...
Cada um tem seu jeito próprio de sentir, de reagir a ela.
Engraçado como a experiência individual pode alterar a forma como uma pessoa reage a uma situação. Não dá mesmo para rotular.
Minha amiga está internada numa clínica psiquiátrica depois que tentou suicídio. Já estava bem e, de repente, teve uma recaída.
Fico aqui pensando nela, torcendo por ela. Uma pessoa jovem e tão bonita, inteligente, excelente profissional e que de repente perde o interesse pela vida. Porquê? Ela não sabe, eu não sei, ninguém sabe. Nem mesmo os profissionais que a acompanham sabem a resposta. De qualquer forma, apesar das recaídas, sei que ela está tentando encontrar o caminho de volta a serenidade e a alegria perdida.
Vou mudar de assunto novamente. Hoje comecei a reler a biografia de Fouché, político da época de Napoleão. Homem ardiloso, que não gostava de mostrar nem seu rosto e muito menos seu jogo político, preferindo trabalhar nos bastidores. Dissimulado, sua ação era quase invisível, mas nada passava despercebido a seu olhar atento. Parecia ter mais do que apenas dois olhos e dois ouvidos. Fouché, como político, era um jogador profissional, um diplomata. Sempre trabalhando na sombra, aproximou-se dos poderosos ganhando influência sobre os acontecimentos, mas sem ser percebido. Ficava, assim, livre de fiscalização e do ódio do povo, bem como protegido da inveja.
Política ainda hoje se faz assim: um candidato promete arranjar para os seus eleitores tudo quanto desejam. Dissimulado, o olhar de um político ardiloso nunca lhe trai a intensão. Sempre atento aos erros dos outros, sabe esperar com paciência o momento certo de atacar um ponto fraco. Sua fidelidade é apenas ao partido mais forte. O ardiloso nunca cai, pois está sempre atrás de um cúmplice para lhe servir de para-raios.
Quantos Fouchés estão agora circulando por nosso Congresso?

A vingança do gato


Luana, uma gata siamesa muito elegante e charmosa, foi adotada pela família quando era apenas uma jovem gata adolescente. Ficamos com muita pena dela que precisou ser doada para que sua dona, uma senhora que ia se tornar avó, pudesse tomar conta da neta que estava para nascer. Achei uma crueldade com a senhora e com a gata e foi isso que motivou a adoção de Lulu.
Como toda siamesa ela tinha os membros e a cauda bem longos, era magra e elegante, tinha os olhos muito azuis e estrábicos e caminhava com muita graça. Era uma lady. Em pouco tempo entrou no primeiro cio e aí começaram os problemas.
Chegava a noite e a gata miava desesperada, doida para sair a procura de um gato qualquer. Era um miado tão agoniado que dava dó, mas também irritava qualquer um que a ouvisse. O que ninguém queria entender era o chamado da natureza para perpetuação da espécie...
É claro que uma noite, driblando a vigilância da casa, Luana escapou na escuridão. Ficou um dia inteiro sumida até que retornou à casa como se nada tivesse acontecido. Algum tempo depois, com a barriga crescendo, ficou claro que ela tinha encontrado o parceiro que procurava.
Nasceram tres gatinhos. Um preto e branco e dois com o colorido do siamês e olhos azuis. A diferença era que os gatos tinham as pernas e a cauda curtas e eram peludos como um angorá. Eu os chamava de sialatas, uma mistura de siamês com vira-latas, pois era impossível deduzir a que raça pertencia o pai.
Doei todos os filhotes e assim que desmamaram comecei a entregá-los para seus novos donos. Um deles precisou ficar mais alguns dias em casa porque sua nova dona havia viajado. Nesse meio tempo decidi mandar castrar a gata para não ouvir mais seus miados sofridos em cada cio e muito menos correr o risco de uma nova ninhada indesejada.
Para meu azar a gata pegou uma infecção na clínica veterinária e acabou transmitindo a bendita para o gatinho que ainda estava aproveitando as últimas mamadas. Resultado, não pude entregar o filhote porque ele precisou fazer tratamento para a infecção e tinha que ir todos os dias com sua mãe tomar o remédio na clínica.
A cura demorou o suficiente para minha mãe cair de amores pelo gatinho e não aceitar que ele fosse doado para qualquer pessoa. Tive que ficar com o gato que acabou batizado com o ridículo nome de Bubu.
Justiça seja feita, o Bubu é um gato lindo. O pelo com a coloração quase branca tem o desenho do siamês só que num cinza bem claro. Os olhos são enormes e de um azul profundo com um risco escuro em volta; parece até que alguém passou delineador. A pontinha do nariz é preta, como se tivesse sido pintada a mão. Suas pernas são curtas e a cauda também e ele é bom fofinho e peludo como um persa ou angorá.
Beleza à parte, o Bubu é um gato muito cínico e vingativo. Se for contrariado ele desconta a raiva fazendo xixi. Pode ser na coleção de CDs, nas portas ou na cortina da sala de jantar. Qualquer lugar serve de alvo para aplacar sua ira. Se eu esquecer a porta do meu quarto aberta pode procurar que encontra uma marca mal cheirosa de sua famosa mijada. Preferencialmente na saia de renda da minha cama que já precisou ser lavada não sei quantas vezes. Até parece que ele sabe que não gosto muito dele.
Quando ouve o barulho da tampa do requeijão sendo aberta o gato começa a miar sem pausa até conseguir um pouco do requeijão para lamber. Ele adora a iguaria. Se quer comer carne moída ou aquelas comidas de gato que vem nas latinhas ele pára em frente da geladeira e dispara a miar até que alguém, já bastante irritado com seus miados, dê o que ele quer para calar sua boca.
Os gatos dormem dentro de casa, mas de vez em quando o Bubu resolve querer sair para o jardim no meio da noite. Ele pára em frente a porta da cozinha, e o que acontece? Começa a miar feito um doido. Se não abrimos a porta para que ele satisfaça sua vontade de sair pode contar, você vai encontrá-lo com a cauda em pé, o bumbum erguido e, com cara de cínico, dando a maior mijada, de preferência na cortina branca da sala de jantar. Já nem fecho mais a cortina, deixo apenas o forro fechado para ficar mais fácil tirar para lavar.
Quando alguém elogia a beleza do Bubu sempre costumo dizer: fique a vontade para adotá-lo. É claro que ninguém se habilitou e ele continua em casa até porque já está velho e seria crueldade mandá-lo embora. Ele é um gato arredio e que não gosta de colo ou carinho. Prefere ficar na dele, deitado numa almofada macia. Sempre que o vejo deitado, com os olhos semicerrados, acho que bolando onde será o alvo de sua próxima mijada certeira.
Lou Montes
26/nov/09

Qualquer lugar serve para se fazer uma oração


Confesso ser uma criatura um tanto cética. Nunca consegui me entregar inteiramente a nenhuma crença religiosa, mas nunca duvidei da existência de Deus. Não sei explicar o porquê, mas sempre acreditei Nele.
Outro dia estava lendo o artigo do Mauro Santayana no Jornal do Brasil que dizia, entre outras coisas, que "... cada um faz de Deus o escudo que lhe convém." Dizia também que "A teologia, tanto nas confissões cristãs, como nas demais manifestações de fé, é uma construção histórica sob influência dos poderes terrenos."
Tenho que concordar com o Mauro. A religião é uma criação humana, por isso as falhas. Em nome de Deus já se cometeu, e ainda se comete, muitas atrocidades, muitas guerras insanas, perseguições e abusos. Isso tudo me deixa confusa, perplexa...
Minha família era católica praticante, frequentei um colégio de freiras, fiz primeira comunhão e durante muito tempo assistir as missas dos domingos era uma obrigação. Lembro bem que durante todo meu curso primário tive aulas de religião. Conheci um Deus bravo, que punia a menor falha. Nunca gostei disso e aos poucos fui me afastando da igreja e parando de rezar aquelas orações decoradas que aprendi na infância.
Realmente deixei de rezar como um autômato, mas nunca deixei de fazê-lo a meu modo. Sempre conversei com Deus de igual para igual agradecendo a bêncão da vida, o sol que brilhava, o verde das matas, a natureza, a família, os amigos e as oportunidades que a vida me oferecia. Sempre O encontrei nas coisas simples que eu gostava e não nas enormes e suntuosas igrejas erigidas em Seu nome; mas depois que conheci o Padre Pedro Bach voltei a frequentar a igreja católica, assistir missas e enxerguei no Pai Nosso e em outras orações uma força que eu nunca havia prestado atenção quando menina.
Hoje pela manhã me convidaram para ir ao encontro de um senhor que costuma rezar pelas pessoas. Fui sem preconceito, afinal acredito que oração, seja lá como for, só pode fazer bem. Era um senhor muito simples que fazia suas orações embaixo de uma árvore com uma sombra generosa. Havia apenas um banco tosco de madeira em cima de um chão de terra batida onde pude ver alguns calangos correndo entre algumas madeiras empilhadas num canto e um cachorro de pelo branco imundo de barro.
Ele me disse que não teve a oportunidade de estudar muito tempo, apenas o suficiente para aprender a ler, mas que, por inspiração de Deus, consegue ler e interpretar as palavras da escritura sagrada.
Usando uma calça escura arregaçada até o joelho, uma camisa branca que ficava pela metade fora da calça, uma sandália surrada e sempre sorrindo ele inicialmente falou um pouco sobre a época conturbada que o mundo está atravessando. Falou de como os homens estão perdidos e distanciados de Deus e de como precisamos rezar para nos reaproximar Dele. Somente assim iremos recuperar a paz no mundo. Em seguida abriu a bíblia ao acaso, leu um pequeno trecho e fez sua interpretação. Com a mão sobre minha cabeça ele fez uma oração.
Um pouco antes de sairmos ele me disse que sendo ele um homem aposentado não precisa mais se preocupar com o trabalho formal. Hoje pode dedicar seus dias ao serviço de Deus levando conforto às pessoas. É o que ele faz, diariamente.
Não pude deixar de pensar: Não há necessidade de trajes especiais ou templos suntuosos. Seja numa pequena capela perdida na meio do mato, numa igreja em frente a uma praça, numa enorme catedral ou embaixo de uma árvore frondosa, qualquer lugar é espaço para se conectar com Deus.

Chiquinha, uma galinha de estimação

Minha mãe, como diz tia Leó, é uma idosa de 82 anos e não uma velhiiiinha.

Quem a conhece realmente não acredita que ela já passou por 82 primaveras e todas as demais estações. Ela é baixinha (sem dúvida encolheu uns bons centímetros com a idade), magra, muito ágil, lúcida e um pouco calada. Observa mais do que fala e prefere lidar com suas plantas e animais do que com qualquer outra coisa. Sempre teve animais de estimação e nunca fez distinção se o objeto de seu amor é um gato, cachorro, pássaro ou qualquer outro espécime do reino animal.
Um dia, já faz muito tempo, fui conhecer a chácara de uma amiga. Era um lugar muito agradável, cheio de árvores frutíferas e animais. Eram tantos pés de jabuticaba carregados de frutos negros brilhantes que enchiam o ar com seu aroma adocicado. Além dos cachorros barulhentos havia também muitos patos, gansos e galinhas. Uma galinha estava cheia de pintinhos e observei que um deles tinha as peninhas arrepiadas. Comentei com minha amiga que minha mãe já criara uma galinha arrepiada que era o seu xodó. Na hora ela pegou o pintinho e entregou-me para trazer de presente para minha mãe.
Fiquei tão surpresa com o gesto espontâneo que sequer consegui reagir e acabei trazendo o pintinho para casa, dentro de uma caixinha.
Tão logo cheguei em casa chamei minha mãe e entreguei-lhe o presente. Ela, para variar, adorou o pintinho. Seus olhinhos negros e cansados brilharam de alegria. O pintinho recebeu o nome de Chiquinha, mesmo sem saber se era menino ou menina, e foi adotado como animal de estimação na mesma hora.
Ela arrumou uma caixa cheia de panos limpinhos (que eram trocados diariamente) e colocou o pintinho lá dentro para dormir. Detalhe, a caixa com o pintinho ficava dentro do quarto dela.
Todos os dias pela manhã ela levantava, pegava a Chiquinha e a levava para o quintal. Lá ela levantava todas as pedras que delimitavam os canteiros para que ela pudesse comer os bichinhos que ficavam escondidos embaixo da pedra. Se fosse um gato eu diria que a Chiquinha ronronava de satisfação. Como era um galináceo posso afirmar que cacarejava de alegria enquanto se banqueteava com tantas lagartas e caramujos.
Podia estar onde estivesse que se minha mãe chamasse: Chiquiiiiinha, ela respondia cacarejando. As duas se entendiam perfeitamente.
Um belo dia estava eu no tribunal trabalhando quando encontrei uma amiga muito aflita sem saber o que fazer com o cachorro da família que não poderia ser levado para o apartamento para onde ela estava se mudando. Como moro em casa e tinha um canil espaçoso na hora me prontifiquei a receber a cadela até que ela arranjasse alguém que pudesse adotá-la. Nem me passou pela cabeça que naquele momento eu estava resolvendo o problema da minha amiga e arranjando um enorme para mim.
Pois bem, a tal cadela era um problema proporcional ao tamanho dela, enorme. De cara ela não ficou satisfeita em se ver trancada no canil e passava o tempo todo tentando arranjar um jeito de escapar.
Não demorou muitos dias e estava a pobre Chiquinha comendo despreocupada seus bichinhos no quintal quando a infeliz da cadela gigante arrombou a porta do canil e atacou a pobre galinha. Foi uma gritaria só: da galinha que estava sendo atacada, do cachorro latindo eufórico com a façanha de ter conseguido não só escapar como também caçar uma galinha desprevenida e os gritos desesperados de minha mãe para acudir a Chiquinha.
Confesso que não sei como consegui tirar a galinha da boca da cadela, mas quando me dei conta já estava com ela nas mãos e pude constatar o estrago que havia sido feito em seu corpo. Ela estava toda rasgada, mas ainda viva.
Minha mãe chorava convulsivamente por causa da Chiquinha. Conseguimos prender a fera e eu pedi que minha amiga Leó, que estava com o carro estacionado na rua, me levasse urgente até a clínica veterinária que ficava mais perto.
Lá chegando fui correndo pedir que socorressem a Chiquinha. A veterinária olhou para mim com cara de incrédula e argumentou que ficaria mais barato comprar um galinheiro inteiro do que costurar aquela galinha. Eu argumentei que se ela não salvasse a galinha eu teria que fazer dois enterros: o da galinha e o da dona da galinha que não parava de chorar em casa.
Acho que a veterinária ficou tão indignada por ter de costurar uma galinha que me cobrou os tubos. Uma inseminação artificial de uma égua premiada não teria saído mais caro.
A coitada da Chiquinha recebeu mais de 80 pontos por todo o corpo e teve que ficar em observação. A noite minha mãe fez questão de visitá-la para se certificar de que ela estava mesmo viva.
Chiquinha ficou internada um dia inteiro e teve "alta hospitalar". Enquanto ela esteve internada dei um jeito de encontrar alguém para adotar a cadela matadora de galinhas. Chiquinha voltou para casa ainda mancando, mas em alguns dias já estava bem. Precisou retornar ao veterinário apenas para retirar aquele monte de pontos. A veterinária continuava indignada por atender uma simples galinha, mas como ela tinha feito um arraso em minha conta bancária eu não me importei em vê-la retirando cada um dos 80 pontos da Chiquinha.
Alguns meses depois Chiquinha, já uma galinha adulta, teve uma ninhada de lindos pintinhos. Dentre eles havia um com as peninhas arrepiadas. Logo pensei: será que vai começar tudo de novo?
Lou Montes

Mais um dia de quimio e bons resultados

Saí cedo para o Instituto Luci Ishii, mas antes passei em duas outras clínicas para pegar o resultado de alguns exames que a Drª Luci havia pedido para investigar a causa de uma tosse persistente que anda tirando meu fôlego e também minha paciência.
Por falar em exames, as tomografias estão cada vez mais perfeitas. Agora me conheço também por dentro, sem a pele. Tecnologia é um negócio realmente fantástico. Fiquei impressionada com a qualidade dos exames.
A Drª Camila conferiu as impressões e laudos e disse que está tudo bem. Acho que o problema da tosse é realmente provocado pela paralisia da prega vocal direita. Agora não tenho escapatória, vou precisar procurar uma fono. Ainda bem. Dos males, o menor. Não tenho nada grave.
Não fiquei para a aula de arteterapia o que foi uma pena, pois todos gostaram dos trabalhos manuais que aprenderam hoje. Ainda bem que na próxima quarta-feira tem mais.
Precisei fazer a quimio pela manhã. Hoje foi bem tranquilo na hora de puncionar o catéter e quase nem senti a picada da agulha. Só não foi melhor porque tive um pouco de náusea, mas nada insuportável, apenas um desconforto.
Almocei na casa de minha prima Helena. Ficamos papeando durante o almoço e em seguida fui dormir porque os remédios que tomo antes da quimio dão muito sono. Acordei com os olhos muito vermelhos e fui direto para o oftalmologista. Estou com conjuntivite no olho esquerdo e uma irritação no direito. Coisinha chata essa tal de conjuntivite, mas não adianta reclamar, o negócio é fazer o tratamento certo para curar a chatice.
O melhor de tudo foi saber que está tudo bem comigo. As metástases que apareceram nos exames eu já conhecia todas e elas estão bem controladas, sinal que o tratamento está no caminho certo. Basta um pouquinho mais de paciência...

Problemas e respostas emocionais

O Horário de verão teve início no domingo mas até hoje, terça-feira, dia 20, ainda não ajustei meu relógio biológico. Levantei às 8 horas quando o normal é me levantar por volta das 7. Preparei correndo uma salada de frutas e o lanche da minha filha que já estava quase saindo para o trabalho.
O dia amanheceu movimentado: primeiro recebi uma ligação de uma amiga muito angustiada porque sua filha foi hospitalizada e está na UTI. Saí de casa para fazer exame de sangue e encontrei outra amiga chorando preocupada com sua filha pré-adolescente que é fechada como uma ostra. Quando me encaminhava para o carro recebi um telefonema de outra amiga aflita com os problemas do marido.
Parece que por todos os lados para onde olho vejo alguém enfrentando momentos, no mínimo, delicados. Não encontro palavras para consolar quem me procura, mas ouço a todos com atenção, carinho, respeito e solidariedade. Às vezes é somente isso que o outro precisa: alguém que o escute.
Enquanto o carro avança me vejo mergulhada num mar de pensamentos. Penso em todas as amigas que falaram comigo nas primeiras horas da manhã. Penso em outras pessoas que conheço e que estão enfrentando algum tipo de problema de saúde, de ordem financeira, emocional ou moral e que estão sofrendo. São problemas diversos, alguns de mais fácil solução outros, bastante complicados. Acabo concluindo que meu problema de saúde é quase mais fácil de carregar do que muitos que tenho conhecimento.
Para atacar um problema de saúde física existem muitos profissionais capacitados. Aliás, a cada dia que passa os médicos estão mais especializados e os exames mais sofisticados e precisos. Mas, lidar com emoções é difícil e delicado. É preciso, além do conhecimento científico, ter muita sensibilidade. O ser humano é muito complexo. Diante de um mesmo problema cada um terá uma reação individualizada, uma percepção diferente... Vai depender da bagagem emocional que cada indivíduo carrega consigo.
O que leva uma pessoa querer desistir da vida? Dor, desespero, desânimo, desesperança? Acho que depende do momento que a pessoa está vivenciando. Pode ser uma angústia que parece tão sem solução que a vida perde o sentido. Pode também ser uma dor sem fim que não dá para suportar. Ou quem sabe é porque a injustiça sofrida é tão cruel e incompreensível que a morte parece o caminho mais curto para sufocar a perplexidade?
Não sei. Não consigo atinar com uma resposta objetiva para um problema dessa natureza. A única coisa que sei é que enquanto algumas pessoas resolvem por um fim a sua existência e assim abreviar sua dor outras lutam desesperadamente para ganhar um tempo a mais, mesmo com muitas dores e sacrifícios.
Qual a diferença entre esses dois grupos de indivíduos? Muitas, tenho certeza. E não se trata apenas de diferença de personalidade, temperamento ou coisas dessa natureza. O funcionamento do cérebro ainda não está totalmente decodificado. As reações bioquímicas dependem de vários fatores internos e externos. As respostas emocionais são muito distintas e variam de indivíduo para indivíduo.
Nesse emaranhado de perguntas sem respostas, de emoções algumas vezes exacerbadas prefiro olhar o outro sem julgamento. O mais acertado é apenas tentar compreender o gesto, seja ele qual for, sem censura. Se for necessário, estender a mão para amparar ou abrir os braços para abraçar.

Gesto de amor e solidariedade

O dia amanheceu ensolarado para logo em seguida fechar e iniciar uma chuva fininha. Aquele tipo de chuva que dura o dia inteiro e vai molhando tudo devagar mas intensamente. Um friozinho também tomou conta do tempo e até precisei colocar uma meia porque meus pés estavam gelados.
Na verdade o dia se transformou naquele tipo de dia que dá vontade apenas de ficar embaixo das cobertas assistindo a um bom filme, comendo pipoca ou tomando chocolate quente.
O telefone tocou. Minha irmã atendeu. Era Dª Coraci. Nossa! Já faz quanto tempo não falo com ela. Quanta saudade. De repente fui transportada no tempo...
Nossa história é recheada de muito amor e solidariedade. Já se passaram mais de vinte anos, eu morava num pensionato de freiras na Asa Norte, estava grávida e precisava me mudar antes que a barriga começasse a aparecer. A bem da verdade eu não sabia o que fazer, pois não tinha para onde ir e o dinheiro curto não dava para pagar aluguel de casa ou apartamento.
Um dia eu estava ensaiando para um desfile, mas minha cabeça estava concentrada de fato no problema que eu estava vivendo: minha gravidez e o que eu iria fazer dali em diante. Para ser bem realista a situação era bastante ruim. Eu estava vivendo um grande dilema, pois estava grávida, sozinha, morando em pensionato de freiras e sem ter para onde ir.
Uma colega que desfilava comigo me chamou em particular quando viu minha aflição e sugeriu que fossemos conversar com um amigo dela que era uma pessoa muito boa e espiritualizada. Como eu não tinha nada a perder fui e confesso que foi a melhor coisa que fiz naqueles dias.
Conversamos muito, contei-lhe da gravidez, minhas preocupações e angústias. Ele tentou me acalmar e disse que iria ajudar-me. Não passou muitos dias ele telefonou para dizer que havia encontrado um lugar onde eu poderia morar.
Fui então conversar com Dª Coraci. Ela morava no Cruzeiro Novo e estava de mudança para uma outra cidade com o marido. A filha, uma jovem de uns 16 anos iria ficar morando sozinha no apartamento e ela me disse que eu poderia ficar morando com ela o tempo que fosse necessário para que eu não precisasse me separar de meu bebê.
Foi emocionante encontrar uma pessoa que nunca havia me visto e que sem questionar o fato de eu estar grávida e solteira não se incomodou em me abrigar em sua casa com sua filha caçula. Combinamos que eu faria a mudança tão logo ela saisse do apartamento, o que aconteceu daí a alguns dias.
Eu e Karine nos demos bem de cara. Moramos juntas por alguns meses até que ela também se mudou para outra cidade onde decidiu continuar os estudos e eu permaneci no apartamento com minha irmã e minha filha que era apenas um bebê. De vez em quando Dª Coraci e o Sr Jaime vinham passar alguns dias em Brasília e ficávamos todos no apartamento. Eles me tratavam como filha e a Bárbara como uma netinha querida.
Morei lá até o dia que consegui comprar o ágio de meu próprio apartamento em Taguatinga. A Bárbara era ainda um bebê quando mudamos para Taguatinga onde moramos por um ano. Nessa ocasião pude vender o ágio do apartamento e comprar outro no Cruzeiro onde moramos por uns seis ou sete anos até mudarmos para a casa onde estamos até hoje, nos condomínios do Jardim Botânico.
Dª Coraci ainda continua sendo uma referência para mim. Ela, sem nunca ter me visto, sem conhecer minha história não hesitou em me acolher dentro de casa para que eu pudesse ter minha filha em segurança. Ela foi meu anjo da guarda no momento que eu mais precisava de ajuda. Sempre penso nela com muito amor e carinho. Foi bom falar com ela hoje.

Relembrando Madri

Não sei o porquê, mas hoje pela manhã estava me sentindo mal humorada e muito descrente com a humanidade. Ouvi, por exemplo, uma propaganda informando os maltratos que os animais silvestres sofrem com o tráfico ilegal e fiquei revoltada, achando mesmo que o mundo não tem mais jeito.
Onde já se viu quebrar os ossos do peito de uma arara para que o animal pareça dócil? Isso é uma crueldade, pois fratura dói demais. E furar os olhos de um pássaro ou injetar álcool na veia dos macacos para que os mesmos fiquem quietos? Ouvir essas coisas me deixou horrorizada só de pensar como o homem consegue, a cada dia, se superar em crueldade com outros seres vivos.
Ainda pela manhã assisti o final de uma reportagem na TV mostrando os cuidados com araras bebês que foram recolhidas das mãos de traficantes. Os pássaros não tinham nem penas direito e precisavam ser alimentados com seringas e jamais poderão ser soltos na natureza. Vi também um sagui que sofreu lesão na coluna quando foi capturado. Que coisa horrível. É muito cruel. Não dou conta de ver esse tipo de coisa e ficar indiferente, mas como cidadã a única coisa que posso fazer é repudiar tal comportamento e não compactuar.
Mas vamos parar de pensar em coisas tristes, é melhor olhar o que existe de bom por aí.
Ontem, por exemplo, foi um dia especial, pois revi uma amiga querida que está de férias em Brasília. Nos encontramos na Esplanada dos Ministérios, passamos pelo tribunal e de lá fomos almoçar no Mangai. Ela se encantou com a vista que se tem do restaurante. Conversamos muito e relembramos coisas boas enquanto apreciávamos os saborosos pratos lá servidos. Passamos juntas algumas horas muito agradáveis.
Rever a Nêga me trouxe de volta muitas lembranças agradáveis dos meses que passei em Madri com minha amiga Alba. Como andei naquela cidade. Caminhava horas desbravando suas ruas, conhecendo seus parques e jardins, visitando seus museus, conhecendo sua história.
Madri fica na região central da Espanha. Foi fundada pelos árabes como uma fortaleza e permaneceu como tal até 1083 quando foi ocupada por Afonso VI. Em 1561 Felipe II a transformou em capital da corte.
A cidade cresceu e floresceu. Ela é linda. Seu céu está sempre muito azul e quase sem nuvens. Passeando por suas ruas chegamos na Porta do Sol, onde fica o marco zero. Ali perto encontramos a Praça Maior, construída por Felipe II, e que foi cenário dos autos-de-fé ou queimação pública (crueldade com seres humanos). Também era ali que aconteciam os casamentos reais, as danças e touradas. Hoje é local de encontro, com vários bares e lojinhas.
O Palácio Real é a residência oficial do Rei da Espanha, mas é utilizado somente em ocasiões de gala, almoços, recepções oficiais, entrega de prêmios e audiências, já que a família real optou por residir no Palácio de Zarzuela. Ali perto fica a Catedral de Almudena, sede episcopal da diocese de Madri. Foi construída em estilo neoclássico no exterior, neogótico em seu interior e neorromânico em sua cripta.
Na Praça de Cibeles vemos o lindo prédio do Palácio das Comunicações que é a estação central de correios. É um prédio lindo e que chama a atenção.
Madri abriga um dos maiores museus do mundo, o Museu do Prado. Além dele tem o Centro de Arte Reina Sofia, o Museu Thyssen e outros menores. Cada um deles merece um comentário com mais vagar e cuidado. Próximo dos museus fica o lindo Parque do Retiro. Qualquer hora escrevo um pouco sobre ele.
Em resumo, a cidade merece uma visita. Para quem gosta da noite Madri é uma cidade que não dorme, pois os madrilenhos adoram a vida noturna que começa a partir das 23 horas e vai até o amanhecer, regada a muito vinho, cerveja e tapas, sua comida típica.

Quais mistérios se escondem nas profundezas de um lago?

Acabei de chegar da quimioterapia. Estava com sono, mas agora parece que o sono foi embora então resolvi escrever um pouco.
Quando estava indo para a clínica, ao passar pelo Lago Paranoá, sua superfície estava tão serena e sem ondulações que não pude deixar de notar em suas águas calmas o reflexo da natureza que o circundava.
As árvores refletidas num primeiro plano e as nuvens em outro davam a impressão de uma profundidade abissal. Tudo estava calmo ao redor, mas as águas serenas e aparentemente tão profundas despertaram em mim uma sensação de mistério... O que estará debaixo de toda aquela calmaria?
Fiquei contemplando aquela vista enquanto o carro avançava silencioso pelas pistas tranquilas àquela hora. Num instante o lago ficou para trás, mas a impressão que ele deixara ainda me acompanhou por algum tempo.
Continuei cismando...
Daí a pouco, ao atravessar a Ponte das Garças, mais uma vez tive a visão do lago, mas nesse trecho as águas estavam encapeladas. Não foi a mesma coisa, mas de qualquer modo continuei a pensar nos mistérios encondidos embaixo de sua superfície serena.
Que outros animais estarão nadando naquelas águas além dos peixes que de vez em quando vejo sendo fisgados por alguns pescadores solitários. Haverá algum Tritão ou alguma sereia ou quem sabe uma Iara habitando também os lagos? Que nome poderíamos dar ao Poseidon dos lagos?

Qual o jeito certo de falar?

Usei a expressão "mal e porcamente" e uma amiga enviou uma mensagem me alertando sobre a origem do dito popular que usei numa postagem antiga.
Adoro essas coisas, pois atraem minha curiosidade e então saí em busca da origem da expressão e acabei lendo muitas coisas interessantes.
As palavras mais eruditas são pouco conhecidas na linguagem coloquial e por causa disso são incompreendidas e acabam sendo alteradas com o passar dos anos. Os ditos populares sofrem alterações, às vezes, muito curiosas.
Mal e porcamente (coitado do porco, ficou com má fama) tem origem na mitologia grega. A expressão original é MAL E PARCAMENTE porque tinha a ver com as deusas Parcas.
As Moiras, na mitologia, são deusas que determinam o destino, também chamadas Parcas. Elas geralmente são retratadas dentro de uma gruta sombria que simboliza tanto o útero que gera a vida como a tumba para a qual se retorna. É o início e o fim.
O substantivo MAL da expressão original significava o sofrimento físico e moral. PARCA eram as deusas que presidiam a vida humana e MENTE era o modo, a intensão e o fim das coisas.
Assim, a expressão "mal e parcamente" servia para dizer que se as coisas não iam bem a responsabilidade por isso deveria ser atribuída à ação das deusas que cuidavam da sorte dos homens.
Com o passar do tempo as pessoas menos eruditas e que não conheciam a palavra parcamente passaram a utilizar a palavra mais parecida com o original e que ela conheciam "porcamente". Assim ficou conhecida a expressão "mal e PORCAMENTE". Coitado do porco, que não tem nada com isso leva uma fama que não merece.
Antes que me esqueça, as irmãs fiandeiras são:
Cloto, que em grego significa fiar, tece o fio da vida dos deuses e mortais;
Láquesis, significa ver a sorte, sortear. Ela puxa e enrola o fio no fuso e,
Átropos, a inflexível, aquela que não pode ser evitada, corta o fio da vida.
É isso. Está explicada a origem do dito popular que começou com MAL E PARCAMENTE e agora é vulgarmente conhecido como MAL E PORCAMENTE.

12 de outubro

O feriado do dia 12 acabou sendo cheio de acontecimentos. Primeiro foi a comemoração do dia da Padroeira do Brasil que juntou milhares de pessoas no santuário de Aparecida do Norte e por várias outras localidades no país. O Padre Pedro Bach, em sua homilia, relembrou como foi que os pescadores encontraram a santa nas águas do rio. Ele fez questão de ressaltar o milagre ao dizer que primeiro a rede dos pescadores resgatou o corpo da imagem da santa para depois pescar a cabeça. É interessante pensar em como os dois pedaços foram parar dentro de uma rede que havia sido lançada no rio para pegar peixes, pois pela leis da física a rede deveria ter ficado acima da imagem.
Além da padroeira houve também a comemoração do dia das crianças. Havia brincadeiras por todos os lugares encantando a garotada.
Enquanto várias festividades aconteciam pelo país havia um lugar onde a tristeza estava estampada nos rostos dos presentes: o cemitério. Pois é, acabei indo ao cemitério para me despedir de um amigo querido que partiu para sua nova vida. Não quis olhar o corpo. Prefiro guardar a imagem do amigo do jeito que o conheci: ora ensinando a fé Bahai, ora participando de uma festa cheia de risos ou apenas brincando com a cachorrinha Shadi. Prefiro lembrá-lo assim.
A morte é um momento difícil para mim. Não consegui, ainda, encará-la da forma natural como deve ser encarada. Sei que é a única certeza que aguarda a todos, mas ela ainda me parece antinatural.
Já ouvi muitas teorias sobre a vida depois da vida, mas nenhuma ainda me convenceu completamente. Confesso que não tenho uma opinião formada. A única certeza que tenho é que seja a pessoa querida, conhecida ou desconhecida e até mesmo detestada a morte nos priva dessa presença.
Essa energia de que é feito o ser vivo se transforma em outra forma de energia que não somos capazes de perceber ou sentir. Fica a saudade.

MST e sua sanha de destruição

Há dias sinto vontade de manifestar meu repúdio ao MST, esse bando de vândalos que circula pelo país promovendo desordens de toda natureza.
Reconheço que não entendo de política, e nessa altura da minha vida confesso que nem estou interessada em entender, mas de qualquer modo não sou burra e tenho olhos de ver.
É claro que esse movimento dos "Sem Terra" é financiado com dinheiro público, por meio de ONGs. Se assim não fosse eles não estariam aí até hoje, sem punição e cometendo todo tipo de crimes.
Fiquei estarrecida, como acredito que muita gente também ficou, com o vandalismo que eles cometeram na fazenda que invadiram.
Se um pobre coitado qualquer resolve cortar um galho de uma árvore, sem autorização, corre o risco de ir preso. Eles derrubaram milhares de pés de laranja, destruiram tudo que puderam e em nota alegaram que o MST derrubou as árvores na fazenda como uma forma de denunciar a grilagem de terras da união.
Ora, me poupe. Como pode alguém ou um grupo, em sã consciência, destruir tudo o que foi destruído e justificar dessa forma. O que eles queriam mesmo era promover a desordem, instalar o medo.
Com o dinheiro que foi repassado para o movimento, se eles pretendessem realmente fixar o trabalhador rural no campo, já teriam comprado terras improdutivas e transformado tudo em lavouras. O que fizeram com o dinheiro recebido? Apenas circularam pelo país promovendo todo tipo de destruição. Quantos trabalhadores rurais estão entre eles? Aposto que muito poucos. A maioria nunca pegou no cabo de uma enxada.
Os Sem Terra já deram no que tinha que dar. Eles merecem, no mínimo, cadeia. As autoridades já deveriam ter tomado providências para acabar de vez com esse movimento, pois não é a primeira vez que eles destroem tudo por onde passam.
A Cutrale está ocupando terras da Uñião? Não sei. A única coisa que sei é que os vândalos destruiram mais de 10 mil pés de laranja produzindo. Só isso já é um absurdo. Fora os tratores destruidos, os fertilizantes e tudo o mais.
Até quando esse bando de marginais vai continuar sendo sustentado e financiado para promover a desordem?

Exames médicos, dores e reflexões

Hoje passei o dia fazendo exames médicos. Eu que já não gosto disso, gosto menos ainda quando esses exames são com contraste. É que minhas veias são difíceis por causa da quimioterapia e cada vez que é necessário puncionar uma delas para colocar um cateter é um verdadeiro inferno. Começam estrangulando meu braço com aquele maldito garrote e esburacando o coitado em busca de uma veia de bom calibre. Se a esburacação terminasse no braço eu até me daria por satisfeita, mas isso nunca acontece. Eles vão descendo, chegam até a mão e quando aí também não dá certo apelam para o pé.
Hoje pela manhã passei pelo suplício para fazer uma cintilografia e saí da clínica com um monte de buracos no braço. No final da tarde fui a outra clínica para fazer duas ressonâncias e dá-lhe mais buracos com agulhas grossas. Como se não bastasse, quando a máquina injetou o contraste pela segunda vez conseguiu estourar a veia e um enorme calombo se formou em minha delicada mãozinha. Só não chorei de dor porque ficava feio, mas tive vontade de soltar um palavrão. Ah !como tive.
Voltei para casa amuada e me perguntando até quando vou ter que aguentar esse suplício.
Em meio a tantos pensamentos lembrei da palestra que assisti hoje no HUB, programada pelo Dr Castellar para as pacientes com câncer de mama. Hoje o tema foi nutrição e a palestra muito elucidativa.
A nutricionista falou de alimentação e de suplementos. Em meio a tantas explicações acabamos por compreender que a chave para uma vida saudável está na alimentação equilibrada. Suplementos vitamínicos e outros que prometem milagres podem ser desastrosos se usados de forma errada.
De qualquer forma, depois de tudo que ouvi acabei por concluir que não é muito fácil manter uma alimentação perfeita. Tudo que é gostoso não costuma ser saudável. Que coisa mais chata.
Adoro queijo, mas como derivado de leite não é aconselhável, pois leite costuma provocar inflamações. Tá vendo, queijo é gostoso.
Quem sofre de dores nas articulações deve investigar a ingestão de glutem. Quase tudo que é gostoso possui glutem em sua fórmula. Durma com essa...
Como eu já estava muito invocada por causa das dores fiquei me perguntando se valia a pena fazer o sacrifício de deixar de apreciar o que é saboroso para comer apenas o que é saudável.
Com essa dúvida na cabeça cheguei em casa e abri meu correio eletrônico e eis que uma amiga havia enviado uma mensagem bem de acordo para a situação e que dizia mais ou menos assim:
"Possa Deus nos ajudar a ver as oportunidades que sempre estão em torno de nós para fazer o bem. Cada um e todos nós estamos atravessando épocas difíceis agora, mas Deus está pronto para abençoar-nos de uma maneira que somente Ele pode fazer. Mantenha a fé."
Fiquei até com vergonha de ter me sentido tão mal apenas por causa de umas agulhadas doloridas. Afinal por mais dolorido que seja tenho que agradecer a Deus a oportunidade de acesso aos melhores exames e médicos.
Quanto a escolha entre o saudável e o gostoso? Hummm... pensando bem: de vez em quando um queijinho com vinho é ótimo e isso não mata ninguém.

Acordar tarde assusta uma veinha...

Ontem fui a uma consulta com a dra. Luci. Ela ficou preocupada com meu braço inchado e disse que eu não poderia ter deixado de informá-la assim que aconteceu, pois isso pode ser bem mais sério do que parece. Pode ser até o sintoma de uma embolia. Nunca me passou tal coisa pela cabeça. Para mim braço e mão inchados era apenas um edema provocado pela falta dos glânglios linfáticos.
Reclamei da tosse seca e persistente que já dura mais de um mês e ela também resolveu investigar para descartar qualquer problema mais sério. Agora vou precisar fazer alguns exames médicos.
Ainda bem que a enorme afta que apareceu na minha bochecha começou a diminuir. Tudo aconteceu comigo na semana passada. Até uma conjuntivite eu tive. E tudo ficou concentrado do lado direito. Vai ver que foi isso que acabou fazendo meu braço direito inchar...
Cheguei tarde em casa após a consulta (era quase meia noite) e ainda fiquei um tempão no quarto conversando com a Bárbara. Acabei indo dormir mais tarde do que o costume e veja só no que deu.
Todos os dias sou a primeira a acordar na casa. Normalmente desperto por volta das 6 horas e fico na cama ouvindo o cântico dos pássaros. Fico tentando identificar os trinados, mas já conclui que não tenho vocação para ornitólogo, pois mal e porcamente sou capaz de identificar o canto inconfundível de um bem-te-vi por exemplo.
Como acho ruim ficar acordada na cama acabo levantando e vou até a janela observar o jardim. Aspiro o ar puro e olho as flores multicoloridas que enfeitam o verde dos canteiros. Adoro plantas, seja lá qual for. Gosto do manacá que fica em frente minha janela e que sempre ostenta uma flor ou outra. Quando floresce por inteiro fica simplesmente lindo. A outra árvore de manacá, que fica perto da piscina, é diferente, mas também fica maravilhosa quando está florida.
Saio do quarto todos os dias por volta das 7 horas e vou abrindo todas as janelas e portas para arejar a casa. Em seguida vou para a cozinha preparar o café da manhã. Daí a pouco minha mãe também levanta e vai para o jardim recolher as folhas que caíram durante a noite e levar frutas e água para os passarinhos que já se acostumaram com a mordomia e aparecem logo cedo para apreciar as iguarias.
Pois bem, hoje acabei perdendo a hora. Já passava das 8, minha mãe tinha varrido o jardim, tratado dos passarinhos e eu não havia aparecido. Assustada, ela abriu a porta do meu quarto para conferir se estava tudo bem comigo. A coitada da veinha parecia um bichinho assustado quando esticou a cabeça para dentro do quarto e olhou para mim na cama. Ainda bem que me mexi na hora e ela apenas disse: vim conferir se você está bem. Você até agora na cama não é normal. Repliquei: - não se preocupe, estou vivinha da silva, apenas perdi a hora. Ela estava quase chorando tadinha. Olhou para mim e disse embargada: você sempre acorda cedo e nem na janela você apareceu. Fiquei preocupada.
Mãe é mãe seja qual for a idade dos filhos. Já estou na casa dos 50 e ela ainda fica preocupada comigo. Tadinha da veinha... Que susto! 7/10/2009

Aposentadoria por invalidez

Hoje é dia 6 de outubro de 2009. Semana passada, mais de 10 anos depois de ter feito mastectomia com esvaziamento axilar, minha mão e meu braço direito amanheceram exageradamente inchados e doendo muito. Minha mão ficou tão estufada que parecia uma luva de box. Eu tinha dificuldade até de dobrar os dedos. A dor me atormentou muito no sábado e domingo, hoje está um pouco melhor.
Lembrei, então, de um texto que escrevi sobre as dificuldades que as mulheres mastectomizadas encontram para obtenção da aposentadoria por invalidez.
.
Na clínica da Dra. Luci Ishii, onde faço tratamento quimioterápico, existe uma equipe multidisciplinar que ajuda no enfrentamento da doença. Além dos médicos temos atendimento com psicólogos, nutricionistas, acupunturista e também temos arteterapia uma vez por semana.
O grupo que participa da arteterapia é muito animado. A Bené, nossa instrutora, é uma verdadeira artista. Ela ensina tudo que sabe de tapeçaria, bordados, enfeites de natal e outras mil coisas. As manhãs de quarta-feira passam voando, pois enquanto trabalhamos com as mãos a língua não para quieta. Conversamos de tudo e damos gostosas gargalhadas entre um ponto e outro, um bordado, uma pintura ou qualquer outra coisa. É papo que não acaba mais.
Das conversas com o grupo a que mais causa indignação é quando o assunto versa sobre as dificuldades na obtenção da aposentadoria por invalidez após uma mastectomia radical com esvaziamento dos gânglios linfáticos.
Ora, todo médico sabe que o esvaziamento axilar causa diminuição da força muscular e que o movimento repetitivo pode provocar um sério edema em todo membro. Porque o médico do INSS insiste em afirmar que uma paciente neste estado está apta a retornar para um trabalho muitas vezes braçal? Qual é o problema com a equipe de peritos do INSS?
Uma paciente mastectomizada não está pedindo nenhum favor ao perito. Ela tem um direito garantido por lei. Ela precisa ser aposentada para conseguir ter qualidade de vida. Se ela teve que fazer o esvaziamento axilar não há como exigir que essa paciente volte a executar um trabalho braçal e muitas vezes repetitivo. Seria condená-la a ganhar um linfedema irreversível e ter dores violentas nos membros afetados pelo problema.
Eu precisei fazer o esvaziamento axilar em 1998. Já estamos em 2009 e ainda tenho o braço e a mão direita inchados porque, sem saber das consequências, insisti em fazer um simples bordado que aprendi. É um trabalho aparentemente leve e sem consequências, mas sinto dores no braço até hoje. Agora sei que posso trabalhar com as mãos e até usar o computador para escrever, coisa que gosto de fazer, mas não posso me exceder. Fico no máximo uma hora teclando. Será que poderia me dar a esse luxo estando trabalhando formalmente? Todo mundo sabe muito bem que não.
Um dia desses conheci uma paciente que está angustiada com a proximidade de uma nova perícia. Ela está afastada do trabalho desde que fez a mastectomia e teme que os médicos a obriguem retornar ao trabalho. Uma porque o caso dela é sério, pois precisou retirar as duas mamas com esvaziamento axilar. Outra porque a empresa onde ela trabalhava já não existe mais. O que fazer num caso como este? A médica perita do INSS, contrariando o parecer de outro perito, negou-lhe a aposentadoria na última perícia a que foi submetida. E agora?
Outra paciente, que trabalhava fazendo doces, também está aflita. Ela já está afastada há quase cinco anos e será submetida a nova perícia. Ela não consegue mais mexer grandes quantidades de doce, pois seus braços ficam inchados e doem. Será que os peritos vão entender as necessidades dela? Os patrões, com certeza, não entenderão. Ela sabe que se precisar retornar ao trabalho será colocada na rua na primeira oportunidade.
Casos assim somam aos montes por aí. Os peritos do INSS não estão nem um pouco preocupados com o estado real dos pacientes que chegam até eles. Não é a mãe deles, nem a irmã ou tampouco a filha que está ali para ser submetida ao descaso deles.
Aliás, não precisa ser perito do INSS para ser insensível e até grosseiro. Eu encontrei um desses no DETRAN. O sujeito era muito grosseiro. Até me disse que só daria o parecer favorável se eu estivesse para morrer. E aí eu pergunto: o que vou fazer com um carro com direção hidráulica e câmbio automático se já estiver com o pé na cova? No máximo o carrinho que vou precisar é aquele que carrega caixão para a cova, concordam???
O direito que um paciente mastectomizado tem para adquirir um carro com direção hidráulica e câmbio automático, pagando menos por ele, é para facilitar-lhe a vida, para dar-lhe qualidade de vida. Se esse direito for dado somente na hora da morte quem irá usufruir das benesses será qualquer outra pessoa, menos o paciente.
Sabemos que o INSS tem suas mazelas, mas também sabemos que o problema não está no pagamento das aposentadoria. Qual será???
Então senhores peritos que porventura venham a ler esse texto, na próxima vez que atenderem uma paciente nessas condições sejam mais delicados e cuidadosos. Tentem se humanizar como profissionais da medicina. Aprendam a escutar suas pacientes, suas histórias podem se repetir muito próximos de vocês...

Domingo é dia de lanche com os amigos

Tratamento quimioterápico sempre tem seus altos e baixos. Confesso que nessa última semana estive mergulhada no período baixo onde parece que todos os problemas resolveram aflorar. Primeiro foram as dores pelo corpo em consequência do zometa, mas nada que um bom remédio não fosse capaz de resolver. Depois veio uma enorme afta na bochecha que de tão grande atrapalhava não só comer como também falar (um grande problema para mim). A maldita cresceu tanto que deixou todo meu pescoço doido. Era difícil até cumprimentar as pessoas, pois doia só de esbarrar no rosto. Para completar, meu braço direito resolveu inchar tanto que a mão ficou parecendo uma luva de box. Eu tinha dificuldade até de dobrar os dedos, fora a dor que ficava 24 horas no ar.
Ainda bem que estive envolvida com os planos de receber os amigos para um lanche no domingo, o que ocupou meu tempo e me obrigou a distrair o pensamento das dores e desconfortos. Para cada um que eu ligava era um longo papo pelo telefone. É tão bom conversar com pessoas queridas.
A Suzi acabou tendo que preparar tudo sozinha, pois eu não conseguia segurar um copo de tão inchada que estava minha mão. Fiquei inquieta com isso, pois eu queria muito ter experimentado algumas receitas que prometiam ser muito boas de fazer. De qualquer forma, como a Suzi tem uma mão perfeita para a cozinha, tudo que ela fez ficou muito gostoso. A Inês também preparou um deliciosa mousse de gorgonzola que mandou pela Helena. Todos adoraram.
Além dos comes e bebes a Suzi se preocupou com a decoração da casa. Comprou flores que espalhou para todos os lados e deixou a casa um brinco. Tudo brilhava e cheirava a limpeza. O máximo que consegui fazer foi um arranjo de flores com a ajuda da Bárbara. Fomos juntas para o jardim e ela cortou algumas folhas, folhagens e flores para o arranjo. Ela olhou tudo com certa incredulidade e falou: não consigo imaginar como você consegue fazer um arranjo bonito apenas com esse monte de folhas. Repliquei: - é apenas uma questão de bom gosto e imaginação. E não é que o arranjo ficou lindo!
Quase na hora que estava marcado o encontro a chuva resolveu cair. Logo pensei: ihhhhh, o pessoal vai hibernar... Não deu outra, várias pessoas que haviam confirmado acabaram não aparecendo, mas quem veio foi bem recebido e passamos algumas horas muito agradáveis. O Lionel, designer de jóias, expôs várias peças de prata que fizeram a alegria das mulheres presentes. Algumas acabaram fazendo suas comprinhas.
O papo rolou solto até bem tarde. A chuva que caiu refrescou a temperatura que estava muito quente e abafada. Todos se deliciaram e elogiaram a comidinha da tia Suzi. No final da noite lembramos do rocambole ao creme que estava esquecido na geladeira. Quase todo mundo já havia ido embora, mas quem ainda estava em casa se deliciou com a iguaria. Estava muuuuuito gostoso...

Super sapo

Minha mãe é uma velhinha de 82 anos e como a maioria dos idosos é cheia de manias. Ela adora bicho, seja lá qual for. Se depender dela minha casa vira um mini zoológico. Ela já criou galinhas, coelhos, pássaros e até um enorme sapo vive no jardim. Vou contar um pouco da história dele.
Estive em obras para reforma durante todo o ano de 2008. Uma das obras foi transferir a antiga fossa da casa (é, é isso mesmo, em plena Brasília ainda temos fossa. Um nojo) para a parte da frente (minha esperança é que o esgoto chegue algum dia e a fossa na frente vai facilitar o trabalho).
Bom, com a transferência da fossa era necessário aterrar a antiga que media quase 5 metros de profundidade. Recomendei que aterrassem bem para não apresentar nenhum afundamento no futuro, mas como todo bom peão de obra o trabalho foi feito de uma maneira bem porca e vou contar o porquê.
O corredor entre minha casa e a do vizinho era coberto com pedras. Os pedreiros quebraram as pedras pirenópolis, que são grandes, e acharam por bem jogá-las dentro da fossa. De pura maldade eles jogaram no buraco dessa fossa o sapão que vivia no jardim. Ficamos uma fera com a maldade, mas não tivemos o que fazer, afinal eles já tinham jogado terra por cima.
Passados alguns meses resolvi parar um pouco a obra porque já não aguentava mais ver aquele monte de peões porcões sujando tudo, emporcalhando toda a casa. Além do mais a casa já estava adiantada o bastante para ser usada sem problemas. Pois bem, não passou muito tempo e os problemas começaram a aparecer.
Lembram da história da fossa antiga ser aterrada e bem aterrada para não começar a afundar? Pois é, como eu previra o piso começou a afundar e um enorme buraco apareceu. Chamei o mestre de obras e ele se fez de desentendido. Como eu não estava a fim de me aborrecer resolvi contratar um pedreiro que havia sido recomendado pelo próprio mestre de obras e combinei o serviço. Mandei que ele quebrasse tudo para descobrir o que estava provocando o aparecimento daquele buraco que havia sido aterrado há mais de 7 meses. Ele quebrou o cimento (ainda bem que eu ainda não havia mandado fazer o piso definitivo). Quando começou a cavar logo encontrou as famosas pedras de pirenópolis que os antigos pedreiros haviam jogado no buraco e para nossa surpresa, assim que ele começou a retirar as pedras eis que salta lá de dentro o sapo que eles haviam enterrado. Eta servicinho mal feito! Só assim para o sapo ter ficado vivo tanto tempo enterrado.
Acredite quem quiser, mas o sapo estava lá vivinho da silva. Ele e um montão de baratas. Levamos o sapo para o jardim, o pedreiro jogou veneno para matar as baratas e continuou o trabalho. Retirou todas as pedras e fez o aterro como deveria ter sido feito da primeira vez.
Concluimos que o sapo esteve todo esse tempo confinado entre algumas pedras que fizeram um abrigo e que se alimentou das baratas que se acumularam no local. Como os peões não fecharam a passagem do antigo cano que levava as águas dos banheiros para a fossa essa água foi entrando aos poucos e fazendo afundar a terra. Bom para o sapo que tinha água e comida para permanecer vivo.
Hoje o sapo voltou a viver no jardim. Uma noite dessas ouvi um barulho no quintal mas não dei importância. Pela manhã encontrei o sapo mergulhado na piscina, só com a cara de fora, sem dar conta de sair. Resgatei o coitado com a rede e o recoloquei num dos canteiros. Ele ficou sumido por alguns dias. De vez em quando ele resolve dar as caras. Nunca durante o dia, apenas a noite ele se aventura a dar suas voltinhas. Continua robusto e com cara de poucos amigos. Minha mãe, com medo que ele escape pelo portão e acabe morto embaixo das rodas de algum carro, toda noite faz uma barricada no corredor com um pedaço de madeira para que ele não consiga passar e alcançar o jardim da frente da casa.
Não adianta argumentar com ela que aquela bagunça enfeia a casa. Toda noite é a mesma coisa, ela dá um jeito de construir uma barricada. Fica horrível.
Para não deixá-la aborrecida ou ficar brigando toda hora resolvi chamar um serralheiro e encomendei um portão para o corredor. Quando expliquei que o portão precisava ficar bem rente ao chão para não deixar um sapo de estimação passar o serralheiro me olhou como quem não estivesse entendendo o que eu estava falando. Ele apenas questionou meio sem jeito: Portão a prova de sapo???

Relacionamentos amorosos

Estou em frente a tela branca do computador pensando sobre o que posso escrever sobre relacionamentos amorosos.
Depois de muito pensar cheguei a conclusão de que meus relacionamentos amorosos não tiveram nada de especial ou passagens picantes, mas certamente tiveram um pouco de coisas proibidas...
Eu, como muitas mulheres de minha geração, tive uma criação muito reprimida sobre esse assunto. Para começo de conversa não fui muito namoradeira. Quando mais jovem (e nem faz tanto tempo assim kkkk) o papo era casar virgem. Não acredito que muitas mulheres chegassem virgens à tão sonhada lua de mel, mas que o papo era esse ah! Posso garantir.
Tendo sido criada em um meio muito adulto, pouco consegui me relacionar com pessoas na minha faixa etária. Quando criança, ainda bebê, vivi muito no meio das freiras do colégio onde minha mãe passou boa parte da juventude. Na adolescência sempre me senti meio deslocada entre os jovens da mesma idade. Acabei por me relacionar com pessoas mais velhas. Aliás, para ser franca acho que nem tive essa fase de adolescência. Tenho a impressão de que isso nem existia naquela época. Agora, de uns tempos para cá, é que inventaram essa tal de adolescência (ou aborrescência como preferem alguns) para justificar a rebeldia sem causa, os desajustes emocionais...
Voltando ao tema relacionamento lembro-me que, ainda jovem, me apaixonei por um garoto da mesma escola. Ele era um pouco mais velho (nem sei quantos anos), cabelos louros e encaracolados, olhos bem azuis e, para mim, o sorriso mais encantador que poderia existir. Ele tinha uma mobilete e era só ouvir o barulho do motor que eu disparava até a janela para vê-lo passar. Era um amor bem platônico, pois acho que ele nunca ficou sabendo da minha paixão. Ah! Ia me esquecendo de contar que tínhamos uma coisa em comum: uma criação de pombos. Ele vivia lá em casa pegando ou levando um pombinho diferente. Uma vez, ao saber que eu gostava de ler me levou, emprestadas, um monte de revistas em quadrinhos. Pensem num coração disparado, parecendo uma bateria fora do compasso, era o meu cada vez que ele entrava em minha casa. Um belo dia ele mudou de cidade e eu nunca mais soube de seu paradeiro.
O tempo foi passando e nem namorado eu arranjava. Uma vez conheci um garoto que estava passando férias na cidade onde eu morava, mas não durou muito, pois eu o achava meio bocó. Acho até que o problema era esse: eu gostava de ler, me achava muito sabidinha e todo mundo era meio devagar na minha não pouco modesta opinião.
Houve algumas declarações, pedidos de namoro e até proposta de casamento, mas nenhuma me interessou em particular. Eu queria mesmo era ganhar o mundo. Não conseguia me imaginar pilotando um fogão, cuidando de marido ou de crianças.
Quando terminei a 8ª série resolvi mudar de colégio e fui fazer o primeiro ano em outra cidade. Lá conheci o Tarcísio, um motoqueiro cabeludo e de bem com a vida. Foi um horror. Todo mundo deu o contra. A pressão foi tanta que por fim obrigaram-me a voltar para casa. Voltei contrariada e muito "revoltada" (será que era crise da adolescência?).
Terminei o 2° grau e voltei para o Rio de Janeiro, cidade onde nasci. Não fiquei muito tempo por lá e resolvi mudar para Brasília. Não conhecia nada nem ninguém. Aqui chegando comprei um jornal, arrumei onde morar dividindo um apartamento com mais duas pessoas (desconhecidas para mim) e três dias depois já estava trabalhando com carteira assinada e tudo o que tinha direito. Fiquei naquele escritório de advocacia por mais de doze anos até que passei num concurso do antigo Tribunal Federal de Recursos, e me tornei funcionária pública como a maioria dos moradores de Brasília.
Já perceberam que mudei de assunto novamente. Acho que falar de relacionamentos é meio complicado para minha cabeça, mas vamos lá. Tive um namoro mais longo com um rapaz mais velho (acho que pelos menos uns 10 anos, nem me lembro). Era um homem inteligente, bem humorado e com um tom meio sarcástico. Gostei muito dele. Apaixonei-me até, mas no dias em que admiti que o amava ele simplesmente acabou o namoro que já durava mais de ano e sumiu. Chorei bastante mas um dia passou e não doeu mais.
Tive outros namorados, entre eles um japonês muito divertido e bem humorado. Ele tinha um defeito que atrapalhava muito, fumava feito uma caipora e exalava um forte cheiro de nicotina, motivo do nosso rompimento. Houve ainda uma paixão que durou quase uns cinco anos. Era um homem inteligente, um advogado brilhante e muito mais velho do que eu (22 anos para ser exata). Acabei tendo uma filha com ele. Era casado e é lógico que deu no pé assim que soube da gravidez. Mais ou menos sete anos depois, faleceu sem conhecer a linda filha que teve comigo (ele não sabe o que perdeu).
Essa ruptura traumática me deixou ainda mais ressabiada com os relacionamentos. Passei um bom tempo sozinha, tive alguns flertes, mas nada sério. Por outro lado eu não quis colocar um homem dentro de casa com uma filha pequena. Alguns podem ver isso como preconceito ou qualquer coisa que o valha, mas o fato é que eu não gostava da idéia e não me arrependo de não ter me casado.
Anos depois, quando minha filha já estava com treze anos (e eu viúva sem nunca ter sido - lembram da viúva Porcina?) resolvi passar um ano morando em outro país. Minha filha não quis me acompanhar, então fui sozinha mesmo. Foi a melhor coisa que fiz.
Lá, longe de toda minha história, pude ser eu mesma sem reservas. Acabei me envolvendo com um jovem vinte anos mais novo do que eu e foi bom demais. Rejuvenesci. Até fiquei curada do câncer que me roubara uma das mamas e me deixara algumas sequelas.
Algumas pessoas devem estar curiosas e pensando: que criatura mais doida. Passa a vida toda se envolvendo com pessoas mais velhas e de repente se enrola com um jovem.
Sou assim mesmo, e de vez em quando dou uma guinada de 180° em minha vida. Saí de casa aos 18 anos numa época em que era difícil uma jovem sair sozinha do interior para uma cidade grande. Envolvi-me com um homem mais velho, casado, e ainda solteira, aos 28 anos tive uma filha. Muitos ficaram chocados com minha ousadia.
Agora eu pergunto: Qual o problema inverter os papéis e se envolver com um homem muito mais jovem do que eu? Foi outra guinada em minha vida e garanto que a experiência valeu a pena.
É claro que o romance não durou. Assim que retornei para minha vida em Brasília, tudo acabou e restou apenas uma doce lembrança. Ah! Essa eu garanto: ninguém vai me tirar...
O tempo continua a passar e hoje, assim que sentei em frente à tela branca do computador, acabei por me dar conta de que continuo sozinha. Quem sabe quando terminar meu tratamento eu decida viajar novamente e me aventurar com um novo e grande amor?...

Sentimentos

O tempo passa de forma acelerada enquanto amores acontecem, empregos vão e vêm, pessoas nascem e morrem.
Os sentimentos, em todas as suas manifestações, são forças poderosas que dão sentido real a todas as fases de nossas vidas.
Se há momentos que nos fazem sentir dor, raiva ou algum outro sentimento negativo, existem muito mais coisas que nos trazem felicidade e que nos ensinam que vale a pena viver.
A forma positiva de como enfrentar os desafios é a solução para fechar as nossas feridas e amenizar nossas cicatrizes...
Hoje senti muita dor em consequência dos efeitos do tratamento médico ao qual venho me submetendo. Dor é um negócio meio chato, difícil de conviver. Ela consegue tirar qualquer um do sério enfraquecendo nossos sentidos... Um dia, depois de passar por uma experiência de muita dor escrevi esse texto:
Você sabe avaliar a dor do outro?
Qual a dor mais doida? Cada um, na sua experiência individual, dará uma resposta diferente. Alguns dirão que é a dor de dente, a dor do parto, a dor que se sente ao tentar expelir uma minúscula pedrinha pela uretra. São várias as dores, e diferentes suas intensidades.
O que vale de fato é a dor atual, seja ela física, emocional ou moral. Vocês já pararam para observar como dói um coração partido? É quase uma dor física. Dói na alma ver partindo a pessoa que amamos, ver os filhos alçando vôos e saindo debaixo de nossas asas protetoras para ganhar o mundo; dói ver o namorado, o marido, o amante saindo de nossas vidas; qualquer um que nos é caro faz doer o coração na hora da partida...
Alguém se lembra daquela topada no dedão do pé? Ai, como dóis. Arrancou a tampa do dedão, sangrou pra caramba e até impediu o uso de sapato fechado por um tempão. Qual da criança ou adulto já não passou por uma experiência dessas?
Uma tentativa desastrada fez um corte profundo no dedo. Ai que horror, parece que todo o sangue do corpo vai escapar por aquele corte. As lágrimas rolam sem cessar. O choro faz o corpo sacudir por inteiro. E aquele cortinho ridículo com folha de papel? Quer alguma coisa mais minúscula e que arde mais? Às vezes nem enxergamos direito o corte, mas sentimos à beça o seu ardido.
Pois é, dor é uma experiência individual. Não dá para dizer que sua dor é maior ou menor que a do outro. E o pior é que a dor é invisível. Ninguém vê a dor. Só quem está sofrendo é que a sente. Fraca ou forte, súbita ou ameaçadora, ela é absolutamente invisível.
Sempre tive medo da dor física e ela tem sido, nos últimos tempos, uma desagradável e constante companheira. Às vezes ela dá um sinal e escapa como um ladrão furtivo deixando-me apreensiva. Outras vezes ela se instala sorrateira e acha que é dona do pedaço. Quando ela surta vem louca como uma locomotiva desgovernada e aí, sai de baixo, ela me joga no chão como um trapo velho... Ela grita alto que é ela quem está no comando. Será verdade? Tenho certeza que não, mas é necessário um tremento autocontrole para não perder a sanidade, porque a dor desoriente...
Há pouco tempo, quando uma dor desembestada tomou conta do meu corpo e me levou para a UTI pude refletir um pouco. Enquanto meus gritos de ais cortavam o espaço, vários médicos, enfermeiros e atendentes tentavam ajudar-me ministrando potentes drogas que aos poucos fizeram meu corpo entorpecer e a dor foi cedendo. Depois de um sono reparador, já desperta, pude observar outras pessoas à minha volta e outros gemidos de ais. Agradeci silenciosamente a Deus pelo convênio médico que me ampara com um atendimento tão eficiente. Agradeci a toda equipe médica que não poupou esforços para tentar resolver meu problema e me senti afortunada. Agradeci todos aqueles cientistas que no isolamento de um laboratório conseguiram desenvolver drogas tão eficientes. Que Deus os abençoe.
Tenho que reconhecer que embora esteja atravessando um pântano escorregadio e escuro consigo vislumbrar raios de luz que me orientam para a saída. Sei que essas luzes vêm das orações dos amigos, do amor de cada um deles. Só posso ser uma criatura abençoada e muito amada. Eles me dá a prova, mas permite o auxílio de tantas pessoas especiais ao longo do percurso. Sei que depois da curva escura existe uma saída repleta de sol e estou caminhando naquela direção. Sei que poderei tropeças algumas vezes e até mesmo cair, mas tenho certeza de que serei capaz de levantar tantas vezes quantos forem necessárias. O amor e a amizade são remédios eficazes, que curam toda e qualquer enfermidade, toda e qualquer dor.
Quero expressar aqui o meu muito obrigada a cada um de meus amigos, minha família, minha filha. Todos eles são a bênção de Deus em minha vida.