Super sapo

Minha mãe é uma velhinha de 82 anos e como a maioria dos idosos é cheia de manias. Ela adora bicho, seja lá qual for. Se depender dela minha casa vira um mini zoológico. Ela já criou galinhas, coelhos, pássaros e até um enorme sapo vive no jardim. Vou contar um pouco da história dele.
Estive em obras para reforma durante todo o ano de 2008. Uma das obras foi transferir a antiga fossa da casa (é, é isso mesmo, em plena Brasília ainda temos fossa. Um nojo) para a parte da frente (minha esperança é que o esgoto chegue algum dia e a fossa na frente vai facilitar o trabalho).
Bom, com a transferência da fossa era necessário aterrar a antiga que media quase 5 metros de profundidade. Recomendei que aterrassem bem para não apresentar nenhum afundamento no futuro, mas como todo bom peão de obra o trabalho foi feito de uma maneira bem porca e vou contar o porquê.
O corredor entre minha casa e a do vizinho era coberto com pedras. Os pedreiros quebraram as pedras pirenópolis, que são grandes, e acharam por bem jogá-las dentro da fossa. De pura maldade eles jogaram no buraco dessa fossa o sapão que vivia no jardim. Ficamos uma fera com a maldade, mas não tivemos o que fazer, afinal eles já tinham jogado terra por cima.
Passados alguns meses resolvi parar um pouco a obra porque já não aguentava mais ver aquele monte de peões porcões sujando tudo, emporcalhando toda a casa. Além do mais a casa já estava adiantada o bastante para ser usada sem problemas. Pois bem, não passou muito tempo e os problemas começaram a aparecer.
Lembram da história da fossa antiga ser aterrada e bem aterrada para não começar a afundar? Pois é, como eu previra o piso começou a afundar e um enorme buraco apareceu. Chamei o mestre de obras e ele se fez de desentendido. Como eu não estava a fim de me aborrecer resolvi contratar um pedreiro que havia sido recomendado pelo próprio mestre de obras e combinei o serviço. Mandei que ele quebrasse tudo para descobrir o que estava provocando o aparecimento daquele buraco que havia sido aterrado há mais de 7 meses. Ele quebrou o cimento (ainda bem que eu ainda não havia mandado fazer o piso definitivo). Quando começou a cavar logo encontrou as famosas pedras de pirenópolis que os antigos pedreiros haviam jogado no buraco e para nossa surpresa, assim que ele começou a retirar as pedras eis que salta lá de dentro o sapo que eles haviam enterrado. Eta servicinho mal feito! Só assim para o sapo ter ficado vivo tanto tempo enterrado.
Acredite quem quiser, mas o sapo estava lá vivinho da silva. Ele e um montão de baratas. Levamos o sapo para o jardim, o pedreiro jogou veneno para matar as baratas e continuou o trabalho. Retirou todas as pedras e fez o aterro como deveria ter sido feito da primeira vez.
Concluimos que o sapo esteve todo esse tempo confinado entre algumas pedras que fizeram um abrigo e que se alimentou das baratas que se acumularam no local. Como os peões não fecharam a passagem do antigo cano que levava as águas dos banheiros para a fossa essa água foi entrando aos poucos e fazendo afundar a terra. Bom para o sapo que tinha água e comida para permanecer vivo.
Hoje o sapo voltou a viver no jardim. Uma noite dessas ouvi um barulho no quintal mas não dei importância. Pela manhã encontrei o sapo mergulhado na piscina, só com a cara de fora, sem dar conta de sair. Resgatei o coitado com a rede e o recoloquei num dos canteiros. Ele ficou sumido por alguns dias. De vez em quando ele resolve dar as caras. Nunca durante o dia, apenas a noite ele se aventura a dar suas voltinhas. Continua robusto e com cara de poucos amigos. Minha mãe, com medo que ele escape pelo portão e acabe morto embaixo das rodas de algum carro, toda noite faz uma barricada no corredor com um pedaço de madeira para que ele não consiga passar e alcançar o jardim da frente da casa.
Não adianta argumentar com ela que aquela bagunça enfeia a casa. Toda noite é a mesma coisa, ela dá um jeito de construir uma barricada. Fica horrível.
Para não deixá-la aborrecida ou ficar brigando toda hora resolvi chamar um serralheiro e encomendei um portão para o corredor. Quando expliquei que o portão precisava ficar bem rente ao chão para não deixar um sapo de estimação passar o serralheiro me olhou como quem não estivesse entendendo o que eu estava falando. Ele apenas questionou meio sem jeito: Portão a prova de sapo???
3 Responses
  1. Anônimo Says:

    Complementando, já tivemos codorna, pato e peru tb. Uma perua era até cega, coitada.
    Acho que não existe ninguém mais no mundo que leva galinha ao veterinário para dar ponto e faça portão à prova de fuga de sapo. Só aqui em casa mesmo... vovó é sensacional!
    trauma de infância: acordei um belo dia na cama da mamãe e a primeira imagem q eu vi foram os fundilhos da Chiquinha (galinha de estimação que ficava dentro de casa). aff
    Mama, sensacional a história!!!!! Bem nossa mesmo. Esses pedreiros não prestam!!!
    amo vc!!! Amo a sua falta de paciência com obra!!! Hilário!
    bjos


  2. Lara Amaral Says:

    hahahahaha... Adorei a história, tia! Acho que esse sapo merece ser beijado, quem sabe não seja o príncipe que anda procurando, hehehe... Fantástico sobrevivente. e maravilhosa crônica!
    Beijos.


  3. pirua Says:

    oi querida! acabei de dar boas gargalhadas com sua história, apesar de já conhecê-la pessoalmente, ficou bem mais pitoresca narrada com seu talento. beijos. pirua.


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou