Gato velho consegue caçar?


Hoje pela manhã fiquei muito indignada com o gato velho da casa. É que como todo gato velho ele aparenta decrepitude, é magro como aqueles flagelados que chocam a gente, anda vacilante, está quase completamente cego e quando começa a miar grosso ninguém aguenta ouvir seu lamento.
Sabem o que ele fez hoje bem cedinho? Duvido que alguém vá acreditar.
Pois é, o infeliz, o coitadinho que só está esperando a morte chegar, que passa o dia inteiro dormindo conseguiu caçar uma inocente rolinha que estava comendo no canteiro de meu jardim. Como ele conseguiu essa façanha ninguém consegue imaginar. Só vimos o monte de penas espalhadas pelo chão da sala e ele se deliciando com a rolinha morta na boca. E o pior é que, velho como está, não dá conta de mastigar um passarinho recém caçado pois os poucos dentes que ainda possui na boca não ajudam na mastigação.
O Nino, como o chamamos, foi salvo pela minha irmã de uma morte certa quando ainda era apenas um bebè, há mais de 16 anos. Ela, aproveitando um período que eu estava hospitalizada por causa de uma cirurgia, adotou um gatinho preto rajado e muito feio e o trouxe para dentro de casa. Eu, quando retornei do hospital, já o encontrei aboletado em cima do meu sofá como se fosse o dono do pedaço.
Vocês não podem imaginar a feiura do bichinho. Era muito magrinho, o rabinho parecia um fiapo de barbante, o pêlo preto com rajas discretamente mais claras destacava o enorme olho amarelo. Era a feiura em forma de gato, mas... Com casa e comida farta, um veterinário para cuidar das vacinas e de qualquer probleminha que aparecesse e muito carinho de todos ele se transformou no gato mais bonito das redondezas. O pelo negro lustroso e muito macio o fazia parecer uma pantera em miniatura. Ele ficou lindo e muito carinhoso. Tornou-se o xodó de toda a casa.
Um dia, há muito tempo, quando ele já podia ser considerado um adolescente, protagonizou uma cena hilária. Meio doido para encontrar uma gata no cio o bicho conseguiu driblar a vigilância da casa e fugiu tão logo alguém abriu a porta da casa. Desceu em disparada pela escada abaixo e como morávamos no primeiro andar foi fácil alcançar o jardim do prédio e sair correndo. Minha irmã corria atrás gritando e pedindo que alguém ajudasse a pegar o fujão. O Eufrásio, porteiro do prédio e também nosso amigo, saiu correndo atrás da Suzi que corria atrás do gato. Num instante havia uma fila de pessoas correndo desembestadas atrás de um gato preto que não sabia muito bem para onde ir. É claro que não demorou muito e o pobre animal ficou acuado e acabou sendo resgatado por alguém daquele enorme grupo que acabou se formando para captura do bichano. Ele retornou para casa humilhado, arfando no colo da minha irmã. Ela exausta pela corrida, ele aborrecido por não ter alcançado seu objetivo. Concluí que já estava passando da hora de castrar o coitado.
No outro dia lá estava ele no veterinário para passar pela maior humilhação na vida de um macho... Fomos pegá-lo no dia seguinte, ainda grogue por causa da anestesia e caindo como um joão bobo, o levamos de volta para casa.
Passado um tempo fiquei pensando na sacanagem que fizemos com o coitado. Tão viril, tão bonito e sequer uma vez pode aproveitar sua condição de macho e curtir com uma gatinha graciosa.
Mudamos do apartamento para uma casa. No primeiro dio o gato ficou assustado com a mudança e se escondeu dentro de um guarda-roupa. Ficou um dia inteiro escondido. No outro dia se aventurou pela casa examinando cada pedacinho desconhecido. No terceiro dia já se entusiasmou e foi explorar o quintal até que um dia teve coragem de atravessar a cerca para conhecer o quintal do vizinho e aí não deu mais sossego. Ele passava os dias explorando os terrenos baldios e os quintais alheios. Acho que teve uma existência aparentemente feliz. Só não afirmo que foi feliz porque faltava-lhe a parte mais importante na estrutura de um gato macho...
E assim o tempo foi passando. A juventude cedeu lugar a maturidade e agora o bichano já está na velhice decrépita, mas pelo jeito o instinto de caçador continua em forma.
Ele teve seus dias de glória, isso é fato, mas agora me contem: como foi que o gato velho e decrépito conseguiu caçar uma rolinha?

Construindo ou reformando o inferno é o mesmo

Você faz planos de construir ou reformar sua casa ou apartamento, contrata arquiteto, paga engenheiro, mestre de obra e peões e sonha com a obra pronta e acabada.
O que você sequer sonhou é a mão de obra e dores de cabeça que terá até ver a obra concluída. Isso sem contar com a despesa que começa com um orçamento e termina no mínimo três vezes mais.
Se for casado os problemas decorrentes da obra chegam até a abalar o casamento. Solteiro tem que absorver sozinho ou chorar com os amigos todas as raivas que te fazem passar.
Alguém garante que aquele engenheiro é o bicho. Excelente profissional. Aí você contrata, paga os tubos de honorários e ele faz os cálculos para transformar em realidade a planta genial que o arquiteto bolou.
Todo arquiteto (ou a maioria deles) é meio doido e sonhador. Cria projetos mirabolantes e quase impossíveis de ser executados. O engenheiro que se vire para calcular. Afinal ele estudou foi prá isso... Não é assim que pensam os projetistas? E você, o tolo da vez, paga para ver.
A bendita obra começa e os problemas se sucedem. Dos menores, como falta de material já no finalzinho do dia, como aqueles quase insolúveis que deixam todos de cabelo em pé.
O mestre de obra grita com os peões, esbraveja, e eles continuam agindo como se não fosse com eles. Emporcalham tudo por onde passam. Destroem tudo a sua volta. É o inferno de Dante...
O engenheiro, aquele que recebe honorários mensais, além do que recebeu para fazer os cálculos, passa na obra de vez em quando, olha tudo por cima e vai embora como se tudo estivesse correndo as mil maravilhas. Na véspera de encher a laje (isso qdo a obra já está bem adiantada) ele examina o escoramento, confere as vigas e resolve: impossível encher essa laje do jeito que está. Pode ligar para a empresa e adiar a entrega do concreto. Você quer morrer de raiva. Já foi um custo conseguir vaga para aquele dia e terá que adiar o enchimento da laje. Valha-me Deus! Então você passa a bola para o engenheiro que explica na empresa sobre a impossibilidade de entregar o concreto no dia seguinte e adia para, no mínimo, daí uma semana ou dez dias.
O mestre fica fulo da vida e garante que o trabalho dele está perfeito, dentro dos conformes, mas se rende e faz o que o engenheiro determina. Puto, mas faz do jeitinho que é ordenado e a obra continua.
Novamente, na véspera de encher a laje, o engenheiro aparece para conferir tudo e resolve que não está assim tão perfeito, mas dá para continuar com os planos de encher a bendita laje. Você respira aliviado e espera o dia seguinte.
O horário para a chegada do concreto é 8:00 horas da manhã. Dá 8, 8:30 e nada de caminhão. Lá pelas nove horas o pessoal aparece como se nada tivesse acontecido e o mestre determina: não aceito esse concreto. Já ultrapassou a hora e ele não está mais prestando. Você olha desconsolado para tudo aquilo e senta com vontade de chorar.
O motorista do caminhão argumenta, telefona para a empresa e no final das contas vai embora com o concreto... Todos os peões procuram um lugarzinho para esticar o esqueleto e descansar enquanto esperam pela chegada de outro caminhão de concreto.
Finalmente o caminhão chega e vira aquela confusão e gritaria. Arrumem aqui, a madeira cedeu. Corre, coooorrre. Faz isso, faz aquilo. Enche aqui que ainda não está bom. É um horror. Você assiste tudo aquilo estarrecido. Parece que aquela bagunça não vai acabar nunca, mas uma hora alguém grita que já está tudo pronto e você dá aquele suspiro de alívio. Por alguns dias tudo vai estar mais calmo na obra.
Aí começa o reboco. O profissional garante que é o melhor e a parede fica parecendo com a areia da praia, cheia de ondinhas... É um faz e desfaz sem fim. A quebradeira parece nunca acabar.
O acabamento é outro tormento. O material caríssimo e a mão de obra de fazer chorar qualquer santo, mas de raiva não de emoção. Quando tudo parece estar pronto você abre a torneira do banheiro do segundo piso e a água começa a pingar no piso de baixo. Ninguém merece. Você tem vontade de matar só um pouquinho todos aqueles envolvidos na obra. E de novo é preciso quebrar o gesso e descobrir onde foi que o infeliz do peão deixou de colar bem os canos.
Bom, mas um dia (antes tarde do que nunca) sua obra finalmente é dada por pronta e acabada. Você olha tudo aquilo e percebe que apesar de tantas raivas a residência dos seus sonhos está concluida e do jeitinho que você sempre quiz. Triste mesmo é quando depois de todo esse inferno você ainda conclui que não era aquilo que queria. Aí, só Deus na causa...

Escorpião ou tiranossauro?

Ontem a noite quando fui pegar minha roupa de cama para dormir encontrei um escorpião em frente meu guarda-roupa. Se fosse um tiranossauro rex eu não teria levado mais susto. Posso garantir.
Olhei para o bicho parado, estático e ainda fiquei na dúvida se deveria ou não dar uma boa pisada nele. Não por pena, mas por medo que ele reagisse e tentasse subir pela minha perna e me picar. Como eu ainda estava usando tênis com solado grosso não tive dúvidas, esmaguei o coitado.
No momento seguinte eu estava histérica procurando por todo o quarto para ver se encontrava algum amiguinho do intruso. Não achei nada, mas ainda fiquei insegura. Arrumei minha cama e coloquei meu tênis em cima da poltrona na esperança de que nenhum bichinho resolvesse dormir dentro dele...
Quando acordei hoje pela manhã meu primeiro pensamento, depois de agradecer a Deus por mais um dia, foi para o escorpião e o tiranossauro. Fiquei pensando na reação das pessoas quando dão de cara com um predador tão grande e um tão pequeno quanto o escorpião. Por incrível que pareça cheguei a conclusão que a reação é quase a mesma, afinal o instinto de preservação sempre fala mais alto.
Olhando para o tiranossauro, aquele gigante poderoso, o coração dispara, o corpo se enche de adrenalina e nossa reação é correr o mais que pudermos para nos livrar de uma morte certa. Afinal, basta uma simples patada do bicho para matar qualquer ser vivo. Por outro lado, olhando aquele diminuto escorpião nosso coração também dispara, o corpo se enche de adrenalina e nossa reação também é de correr. Como o bicho é pequeno achamos que dá para encarar e acabamos por pisar no coitado na intensão de nos proteger, pois sabemos que embora pequeno seu veneno costuma ser letal e a dor insuportável.
Agimos como o tiranossauro e com uma só patada acabamos com uma vida. Tentamos aplacar nossa consciência acreditando que estamos apenas nos defendendo de um animal peçonhento, mas o fato é que agimos como qualquer predador sem coração. Não que eu esteja arrependida de ter posto fim a vida do escorpião, mas tenho que admitir que matei, mesmo que para me defender.
Olhando para o escorpião mortinho da silva fiquei pensando na proporção. Quantas vezes sou maior do que aquele bichinho? Muitas. Ainda assim ele mete medo e apavora. Os meus, os nossos instintos implacáveis nos levam a agir sem pensar apenas para nos preservar.
Mas o fato é que não importa o tamanho, grande ou pequeno predador é sempre predador e... perna para que te quero.

A viagem foi ótima. No sábado comemoramos o aniversário de 70 anos da Isaura com uma festa surpresa. Ela ficou emocionada. O salão ficou lotado com a família e os amigos que foram prestigiar o evento.
No domingo fomos almoçar na casa da Kenia e foi lá que a Isaura, em meio a muitas brincadeiras, abriu todos os presentes. A família estava toda reunida.
Depois do almoço viajei para Uberaba para rever tia Leó e a família. Foi tão bom. Conversei muito com D. Amélia que falou sobre as dificuldades da longevidade, coisa que sempre imaginei. Ela está com 105 anos e naturalmente, apesar de gozar de boa saúde, já não escuta quase nada e sofre com isso. Ela se sente muito incomodada por não conseguir participar ativamente das conversas. Outra coisa que a incomoda é se sentir um estorvo, afinal ela sempre foi muito ativa e agora não pode fazer quase nada. E o pior: nesses 105 anos ela viu todas as pessoas da família original irem falecendo e até mesmo filhos da família que ela mesma constituiu.
As queixas de D. Amélia me fizeram pensar até que ponto vale a pena uma vida tão longa. Não deve ser fácil ver morrer tantas pessoas queridas, passar por tantas dores físicas e emocionais e chegar num ponto em que viver acaba se tornando um fardo pesado. Conviver com os achaques da velhice deve ser muito difícil: é a vista que fica fraca, o ouvido que perde sua função, a coluna doe o tempo todo como a lembrar que o tempo cobra seu tributo, as pernas vacilam... Quem viver verá.
Mas foi bom rever Leolina. Ela continua a mesma criatura alegre e bem humorada de sempre, rodeada por seus livros e discos. Tia Leó é expert em música que conhece como poucos. Já leu de tudo e continua sempre com um livro na mão. Dá gosto conversar com ela, mas não é fácil perceber as dores físicas que ela precisa suportar diariamente. E o mais incrível é que ela age como se não fosse nada e eu sei que dor é uma coisa muito difícil de ser tolerada com tranquilidade.
Depois do almoço precisei me despedir da tia Leó e família e retornei a Uberlândia onde encontrei com Diana para voltarmos juntas para Brasília. A viagem foi tranquila. Chegamos por volta das 6 horas da manhã, uma manhã envolta em neblina que deixava tudo esbranquiçado. A Suzi estava a nossa espera na rodoviária. Deixamos Diana em casa e viemos direto para o laboratório onde fiz meu exame de sangue de toda terça-feira.













Visitando tia Leó

Cheguei ontem à casa da tia Leó. Foi tão gostoso revê-la depois de tanto tempo longe. Quando o táxi estacionou ela estava caminhando na calçada. Ao vê-la corri até ela e foi aquele longo e saudoso abraço de muito carinho. Ela não esperava minha visita. Entramos em casa e o papo, claro, rolou até muito tarde. Eram muitas coisas para serem ditas e relembradas.
Acordamos cedo e voltamos a papear. Vamos aproveitar o restinho de tempo que temos até a hora de pegar o ônibus de volta. Estou aqui escrevendo enquanto tia Leó cuida da D. Amélia, mãe dela, que já está muito idosa (105 anos). Não é para qualquer um chegar nessa idade. Eu mesma não gostaria. Acho que deve ser muito difícil viver tanto tempo e ver partir tantas pessoas que amamos... Tia Leó me alertou para escrever que ela adorou os livros que eu trouxe. Ela adora ler e para quem gosta de leitura ganhar livros é tudo de bom. Bem vou parando por aqui, amanhã escreverei um pouco mais sobre a viagem.

Viajando...

Vou viajar esta noite e estou aqui aguardando a hora de sair para o embarque. Para variar estou animada, afinal, seja para onde for, viajar é sempre muito bom. Íamos quatro amigas, mas uma precisou desistir para cuidar da filha que não está passando muito bem (ser mãe é isso também).
Qualquer motivo vira uma importante desculpa para botar o pé na estrada. Dessa vez é o aniversário da Isaura, afinal não é muita gente que chega aos 70 com tanta disposição. Ela nem sonha que terá uma festa. Será surpresa, e que surpresa! Mas ela vai gostar, não tenho dúvidas.
Tia Dianinha está toda animada e fez a reserva do hotel. A Elvira ainda nem sabe que a Maura desistiu do passeio, não consegui falar com ela o dia todo. De qualquer forma vamos embarcar para mais um final de semana longe de casa. Depois conto como foi.

Amor

Todos nós já passamos pela experiência de se apaixonar. Algumas, são experiências platônicas onde só a pessoa conhece o sentimento que o arrebata. Outras, são paixões fulminantes que fazem perder a cabeça. Seja como for amar é bom demaaaaaais. Faz bem para o corpo e para a alma. Vou contar para vocês um dos meus amores...

Amor, sentimento eterno

Num quarto frio de hospital o telefone toca. Rapidamente reconheço a voz, ela vem do outro lado do oceano. Numa fração de segundos um turbilhão de lembranças rasga minha memória. Meu corpo estremece, minha boca sorri, meu coração canta... Como é bom pensar no amor.
Depois de tantos anos não acreditava que ainda tornaria a ouvir aquela voz, a mesma voz que um dia me disse palavras doces sussurradas baixinho, que gemeu e gritou palavras que só eu podia ouvir. Quantas lembrança. Memórias minhas, memórias nossas, lembranças que nem o tempo nem ninguém consegue apagar.
Aconteceu há muito tempo e parece que foi apenas ontem. Eu acabara de enfrentar dois anos de tratamento para a cura de um câncer quando decidi que queria viajar. Viajar para longe, para outro país, viver uma vida totalmente diferente da que eu vivera até então. O país escolhido, Inglaterra, a cidade, Londres.
Desembarquei naquela capital enorme e completamente desconhecida para mim, passei pela alfândega e seus oficiais arrogantes e ganhei o saguão do aeroporto de Heathrow. Mais tarde nos encontramos, pegamos o metrô e fomos juntos para o endereço onde ele vivia em Piccadilly.
Depois de 15 dias estávamos só os dois. Fazíamos tudo juntos: trabalhávamos, saíamos para passear, conversávamos, trocávamos idéias. É claro que um sentimento há muito esquecido começou a ganhar forma. Comecei a perceber que a mulher há muito adormecida, apesar de todas as cicatrizes provocadas por várias cirurgias mutiladoras, ainda pulsava em algum lugar dentro de mim.
Um belo dia, num arroubo de coragem ou sei lá o que, a fêmea venceu o medo da rejeição e atacou. O macho se encolheu assustado de início, mas se rendeu... Foi a melhor coisa que nos aconteceu. Éramos apenas um homem e uma mulher. Ele, vinte anos mais jovem do que eu.
Ele me ofereceu sua juventude e contaminou cada célula do meu corpo com seu arroubo juvenil. Eu, em contrapartida, ofereci a experiência e aos poucos fui construindo o homem. De jovem inseguro ele se transformou no homem seguro, elegante e de bom gosto. O artista começou a burilar seus conhecimentos ao se matricular nos cursos de arte, desenho e decoração. Ele começou a desabrochar, eu acabei por ficar curada.
Vivemos intensamente uma linda história de amor. Amamos sem pressa, sem cobrança, sem medo. Éramos só nos dois, longe de tudo e de todos que podemos chamar família, amigos ou passado. Éramos apenas um homem e uma mulher. A diferença de idade era apenas um detalhe sem a menor importância.
Nós ríamos de tudo, nós trabalhávamos juntos, eu o ajudava nos estudos e o incentivava a continuar aprendendo qualquer coisa que pudesse refinar o artista. O dom já existia, só precisava aprender novas técnicas e melhorar ainda mais o que já era inato.
O tempo passou, retomamos nossa vidas e nossas antigas vidas acabaram por nos separar. Doeu, machucou, mas o que vivemos juntos permaneceu intocado e guardado no melhor de nossas lembranças. Naquele dia aquela ligação trouxe de volta e em fração de segundos todas as emoções guardadas em lugar seguro. Naquele momento tive a certeza de que essas lembranças não são apenas minhas, são nossas. Em algum lugar de nossos corações o amor permanece vivo, intenso, eterno...

Quarta-feira tem quimioterapia

Toda quarta-feira faço quimioterapia no Instituto Luci Ishii. Pela manhã participo da arteterapia e depois do almoço vou para a quimio. Depois de preencher a papelada e assinar as guias do convênio médico sou pesada e vou para o box onde um dos enfermeiros mede minha pressão, em seguida a enfermeira chefe punciona meu cateter com todo o cuidado necessário. Ela limpa bem a pele, passa um monte de produtos, torna a limpar, me lembra de não respirar em cima do cateter e enfia a agulha. Sinto uma ardência na pele que cede rapidamente. Ela verifica se está tudo bem e coloca o soro que começa a pingar rápido. Daí a pouco chega uma das enfermeiras, confirma meu nome escrito no pacote da quimio e começa a sessão. Ultimamente, assim que o soro começa a pingar eu pego no sono e só acordo na hora de voltar para casa.
Os médicos do instituto são ótimos, bem como os enfermeiros. Acabei ficando amiga deles afinal, depois de mais de dois anos de tratamento, conheço todos muito bem. Gosto muito da Janucia, um amor de enfermeira sempre sorridente e prestativa.
Quando algum paciente novo chega muito assustado à clínica sempre acabo conversando para acalmar a pessoa. Afinal ainda é muito assustador iniciar um tratamento quimioterápico. Muitos se preocupam com a queda de cabelo e outros têm alguma dúvida se devem ou não colocar cateter. As conversas acabam surtindo algum efeito benéfico. Acho bom poder passar para as pessoas a experiência que já tenho no tratamento e no enfrentamento da doença.



Atividade física

Para todo lado que se olha vemos gente malhando em academias, nos parques, estacionamentos e até em casa. É o culto ao corpo sarado que inventaram por aí. Exageros à parte, exercício faz muito bem.
Eu não gosto de academia. Tenho preguiça de sair todo dia e ouvir o mesmo tititi de sempre entre os frequentadores. E ainda sou obrigada a aturar aquele sujeito metido a garotão, cheio de bíceps e tríceps fazendo caras e bocas ou aquela criatura que já não é mais jovem e ainda não se deu conta disso...
Academia tem de tudo. Quando vejo uma gordinha se dobrando toda quase morro de inveja, pois sou dura que nem um pedaço de pau. Além do mais aindo tem aquela professora que dá aula aos berros como se todos fossem surdos de nascença. Fora a música. Ah! Essa nem vou comentar.
Mudando de academia, vou assistir uma aula de dança para ver se me atrevo a dar uns passinhos. Fico babando com a destreza do professor que sai bailando com a aluna a tiracolo. Tenho certeza de que com alguma dedicação consigo fazer o mesmo.
Que ilusão. Começar do zero é um pé no saco. Muito chato mesmo e quando a aula avança para os rodopios quase caio dura de tanta zonzeira. Eta labirintite nojenta! O jeito é desistir e voltar para minhas caminhadas observando a natureza.
Adoro caminhar, de preferência longe do sol quente. Adoro o sol, mas só olhando de longe, embaixo de uma sombra generosa. Assim prefiro mesmo caminhar no finalzinho do dia, quando o sol está indo embora e o tempo está ficando mais fresco.
Subo o morro num ritmo até que bom e chego à pista de caminhada. Encontro quase sempre as mesmas pessoas. Algumas sozinhas outras acompanhadas de seus cachorros ou amigos (não que cachorro não seja amigo, costuma até ser mais fiel). Continuo minha caminhada olhando sem pressa o que se passa a minha volta. Não gosto de correr, gosto é de caminhar mesmo.
De vez em quando uma cena engraçada me faz rir sozinha. Acho muito divertido quando flagro um passarinho bem pequeno dando em cima de um grandão. Até parece que dá conta do recado, pois o grande sai voando em disparada.
Também gosto de observar a natureza. É uma árvore que estava toda peladinha e de repente está cheia de folhinhas novas bem verdinhas. É uma flor que se abriu e outra que até já caiu do galho. Volta e meia me deparo com um gatinho escondido entre as folhas ou um calando fugindo assustado.
Caminhada é um exercício excelente. Deixa as pernas firmes, o bumbum durinho e prepara a gente para longas jornadas durante uma viagem curta e cheia de lugares para se conhecer.
Falando em viagem, adoro viajar. Qualquer lugar para onde vou gosto mesmo é de caminhar para conhecer bem o local. Costumo usar uma bolsinha bem pequena onde guardo o mapa da cidade e caio no mundo. Perco-me pelas ruas largas ou estreitas, entro nos becos, descubro uma praça enorme e assim vou conhecendo a cidade onde estou.
Seja na cidade grande ou no interior o que gosto mesmo é de andar. Nos parques costumo encontrar pessoas que gostam de conversar e eu converso com qualquer um, seja jovem ou velho, homem, mulher ou criança. E assim vou me exercitando (inclusive a língua). Continuo andando até ficar cansada e aí vou voltando. Se a exaustão me pegar no meio do caminho pego ônibus ou táxi, o que estiver à mão.
Não são todas as pessoas que aguentam meu pique de caminhadas durante as viagens. Só tenho uma amiga que é páreo duro, a Maura. De vez em quando tenho que pedir para ela diminuir o ritmo. A baixinha é fogo, anda rápido pra caramba.
É muito engraçado quando eu e Maura viajamos em grupo. Ninguém aguenta nosso pique todos pedem arrego. Rimos muito e acabamos cedendo ou continuamos a pé e o restante do grupo volta para o hotel de táxi.
Exercício de caminhadas deixa ágil o corpo da gente. As pernas ficam firmes, a musculatura ganha tônus. É muito bom caminhar. Faz bem para o corpo e também para a mente. Além do mais sempre corremos o risco de conhecer alguém interessante durante o percurso. Quem sabe?

Animal de estimação


Em qualquer lugar do mundo, seja numa grande metrópole ou no meio da selva, o ser humano tem um animal de estimação. Pode ser um pássaro, um cachorro, gato ou um belo cavalo qualquer animal serve para bicho de estimação.
O animalzinho sabe ser companheiro. Ele brinca, pula, faz graça e está sempre lá quando precisamos dele. E o melhor, não guarda mágoas ou raiva. As vezes brigamos com ele, que sai com o rabinho entre as pernas para logo em seguida voltar abanando a cauda.
Escrevi esse texto pensando em todos os animais de estimação espalhados pelo mundo.

Animal de estimação

Você possui ou já possuiu animal de estimação? Se não, vai me achar ridícula, pois só quem gosta de bicho sabe o quanto é divertido ter um.
Em casa somos eu, minha filha, minha mãe, minha irmã, uma sobrinha, três gatos, uma cadela poodle bem pretinha e até passarinhos (detesto pássaro preso, mas o que temos foi presente e o coitado já nasceu em gaiola e nunca teve o prazer de voar livre pelo mundo).
A Haseena, a poodle preta comprada como toy, mas que de toy só tem uma vaga lembrança é encrenqueira como todo cão pequeno. Late feito louca para qualquer um que se aventure a passar perto do portão ou mesmo no meio da rua. Corre de um portão até o outro latindo sem parar até perder de vista a pessoa ou o animal, aí volta tranquila para a sala de TV como se nada tivesse acontecido.
Adora brincar de pegar bolinha. Basta falar Haseena que ela já vai caçar uma bola sempre jogada pela casa e vem com ela na boca, pára em frente da gente e olha com aquele olhar pidão... Nestas ocasiões vemos uma parte do branco dos olhos e ela fica muito engraçada olhando meio torto com um bolinha na boca.
O Bubu é todo na dele como os gatos em geral. Tem olhos muito azuis e redondos com um risco preto em volta. Parece até que usou delineador. Quando me perguntam qual a raça digo que é sialata (mistura de siamês com viralata) pois a mãe, uma siamesa cheia de charme e elegância, fugiu quando estava no cio e voltou prenhe sabe-se lá de que gato. Ele é lindo e voluntarioso. Quando está aborrecido e quer irritar todo mundo faz o favor de fazer xixi nos lugares mais inusitados (como nos meus CDs por exemplo).
O Nino é também um viralata. Quando jovem era um gato negro lindo, agora está magrelo e alquebrado, coisas da velhice.
A outra gata também é viralata e foi abandonada ainda jovem no quintal da casa. É muito feia, mas carinhosa que dá gosto. Depois de castrada engordou muito e ficou com a cabeça pequena em relação ao corpo então fica muito engraçada, parece que foi mal feita. Tem horror a estranhos (acho que foi muito maltratada antes de ser adotada por nós) e se esconde sempre que ouve a campainha tocar.
O passarinho, um melro metálico azul e dos olhos bem amarelos é lindo e elegante como todo pássaro. Toda vez que ouve o barulho do liquidificador começa a dar gritos estridentes. Adora quando jogo minhocas, grilos e lagartas na gaiola e os come de uma só vez. Seu cardápio predileto, além dos já mencionados, é maça, banana e mamão. Ele adora maça e come uma metade da fruta todos os dias.
Após a descrição de meus animais de estimação, volu relatar um acontecimento interessante envolvendo todos eles e especificamente uma gatinha especial.
Você que também possui seu bichinho de estimação já reparou como ele fica à sua volta quando você está sentindo alguma coisa? Não precisa ser doença física, pode ser apenas uma angústia ou uma saudade sabe-se lá do que, que seu bichinho não sai de perto.
Pois é, isso também acontece com meus animais. Em 2007 recomecei um tratamento quimioterápico para tratar uma metástase óssea e pulmonar. O procedimento, que envolve várias terapêuticas, traz algumas consequências muitas vezes difíceis e dolorosas.
A Luana, uma gata siamesa que adorava minha mãe e não saia de perto dela, resolveu adotar-me durante um período de dores muito intensas. Ela ficava o tempo todo comigo (o que despertou um pouco dos ciúmes da minha mãe). Resolveu até dormir na minha cama algumas vezes, para horror de algumas pessoas que achavam aquilo extremamente perigoso por causa do problema da baixa imunidade.
Lulu, como eu de fato a chamava, era uma gata elegante mas estrábica como a maioria dos siameses; tinha um caminhar muito feminino e um miado delicado. Era muito frágil e qualquer coisa a deixava doente.
Pois bem, quando comecei a passar muito mal com o tratamento ela também começou a adoecer como se estivesse dividindo comigo o que eu estava sentindo. Minhas pernas doiam muito e eu tinha dificuldade em caminhar. Uma noite acordei ouvindo seus miados angustiados e a encontrei caída na escada sem conseguir se levantar ou caminhar.
Pela manhã bem cedo minha irmã a levou numa clínica veterinária e a deixou internada para exames. Ela acabou sedada e tomando soro para suportar melhor as dores que sentia. Eu também piorava em casa. As dores me desestabilizavam.
Dois ou três dias depois a Lulu voltou para casa. Parecia melhor, mas foi só eu piorar para que ela novamente começasse a sentir dores. O veterinário chegou a dizer para minha irmã que os animais, principalmente os gatos, costumam captar os males de seus donos e acabam doentes. O fato é que a Lulu acabou não resistindo e morreu com os mesmos sintomas de dores que me afligiam àquela época.
Será que o veterinário estava certo? Não sei, mas quando sinto alguma coisa, por menor que seja, sempre tenho a companhia de um de meus animais de estimação. Eles deitam bem perto de mim e de vez em quando me olham com aquele olhar sereno como a dizer: fique tranquila, estou aqui ao seu lado.
Será que os animais captam nossas mazelas físicas ou psíquicas?

Cuidador

Todos nós, de alguma forma, temos um cuidador e também somos um cuidador vez ou outra e sequer nos damos conta disso.
Tenho uma irmã que cuida de todos a sua volta e principalmente de mim e de minha filha. Fiz esse texto pensando nela e em todos os cuidadores espalhados pelo mundo afora. Foi a forma que encontrei para homenageá-los e dizer que são importantes. Espero que vocês gostem.

Cuidador, criaturas especiais....

Quem sabe o que é um cuidador?
Para os que nunca ouviram falar no assunto, cuidador é aquela pessoa capaz de usar seu tempo, sua paciência e seu amor para se dedicar a alguém que está precisando de ajuda. Em resumo, cuidador é alguém muito, mas muito especial mesmo. Ele ou ela está sempre ao seu lado, com toda a paciência que um ser humano é capaz de possuir e sempre pronto a atender qualquer necessidade imediata.
O cuidador pode ser qualquer pessoa: uma mãe (o mais comum dos cuidadores), um pai (caso raro, mas existente), tios, irmãos, parentes, amigos ou alguém que você precisa pagar para fazer esse trabalho dedicado e difícil.
Você está doente e o cuidador não sai do seu lado. Ele controla o horário dos remédios, cuida para que a comida fique pronta na hora certa, não se descuida da limpeza do local onde você está. Enfim, o cuidador parece ter mais do que apenas dois olhos e duas mãos. Ele se multiplica num montão de pessoas.
A doença piorou e você vai para o hospital. Lá vai o cuidador junto. Ele fica ali ao lado da sua cama só observando e sofrendo por não poder fazer muita coisa. Ele olha aflito para sua cara transfigurada de dor e reza baixinho para que Deus amenize aquele sofrimento. Ele controla o soro para não entrar ar e perder a veia. Ele sai desesperado atrás do médico quando você não está muito bem... Assim é o cuidador.
Ele nem se dá conta dos dias de hospitalização; apenas se preocupa em diminuir seu desconforto e o coitado acaba sofrendo mais do que o paciente. Ele se faz de forte e vai chorar escondido. Ele diz pra todo mundo que está tudo bem quando o coração está apertadinho e cheio de dúvidas... Assim é o cuidador.
Você tem alta e retorna para o aconchego de sua casa e lá vem o cuidador. Ele se antecipa a sua chegada, arruma sua cama com um lençol limpinho e cheiroso, enche a casa de flores e vem lhe receber com o melhor de todos os sorrisos. Assim é o cuidador.
Ele vê um montão de pessoas vindo visitá-lo, trazendo um regalo, dando força e coragem e ele só sorri e procura tratar a todos com a melhor cortesia. Alguém, seja lá quem for, tem um gesto de generosidade e o cuidador olha e diz: Nossa! Como existem pessoas que gostam de você. Todo mundo está fazendo alguma coisa e eu aqui não consigo pensar em nada. Assim é o cuidador. Ele faz tudo e ainda acredita que não está fazendo nada...
Eu tenho um cuidadora especial. Ele é cuidadora em tempo integral, mesmo quando estou saudável. Ela me transporta para cima e para baixo e me leva para qualquer lugar onde eu precise estar. Ela me aguarda com a paciência de um Jó, mesmo sabendo que muitas vezes vai ter que aguardar por um longo tempo. Ela sabe do que eu gosto e do que eu preciso. Ela cuida de mim com o zelo de uma mãe que cuida de seu bebê. Aliás, ela cuida de todo mundo que precisa dela. Ela é incansável.
O tempo todo ela escuta pela casa ou em qualquer lugar onde ela esteja: tia Suuuuuuuuuzi onde está isto? Tia Suzi onde está aquilo? Tia Suzi preciso disto, preciso daquilo. Tia Suzi, Suzi, Suzi. É Suzi ecoando por todo lado o tempo todo. Todo mundo grita pela tia Suzi. Todo mundo quer uma Suzi.
Haja paciência. E a tia Suzi faz compras no supermercado (e adora), faz um rocambole para um visitante amigo só para agradá-lo. Prepara o lanche da Bárbara, minha filha, do jeitinho que ela gosta. Pinta os cabelas da Raïssa, minha sobrinha, faz depilação, acode o outro, corre para lá e para cá. Às vezes ela perde a paciência, dá um grito e pergunta: Vocês não sabem viver sem mim??? Acho que não tia Suzi, você é a alma da casa. Você é o esteio no qual todos se apoiam. Você é a tia Suzi querida e minha irmã. Todos nós amamos você.

Ciclos da natureza

Hoje amanheceu ventando muito. O chão em frente a janela do meu quarto estava coberto de folhas e pequeninas pétalas brancas das flores da pitangueira que o vento insiste em despir. Os canteiros de flores coloridas estavam também cheios de folhas secas varridas pelo vento. Vários pássaros passeavam pelos canteiros em busca de alimento. Uma sabiá bicava uma pitanga temporona que cresceu e amadureceu antes da hora. Um pombo enorme caminhava no piso de pedra. Fiquei perdida naquela contemplação... Gosto tanto de observar a natureza. Gosto de ver os ciclos se alternarem. Primeiro as árvores se despem de quase todas as folhas para em seguida se encherem de flores que preparam os frutos maduros. Pela manhã um enxame de abelhas bailam entre os galhos carregados de flores fazendo um zumbido característico. Quando o sol começa a esquentar o enxame vai embora. Fico olhando pela janela...
Saio do quarto e vou até a cozinha para em seguida sair pelo portão que dá acesso a rua. Minha calçada, cheia de árvores frutíferas em flor, está linda. A chuva em plena seca renovou a natureza. A grama está verdinha, as flores exalam um perfume suave. São duas pitangueiras, duas amoreiras, um pé de acerola e outro de laranja. Tudo bem verdinho, mas uma das pitangueiras está vestida de branco como uma noiva. É a primeira vez que ela se enche tanto de flores. Serão muitas pitangas para delícia das crianças que moram na mesma rua. Elas adoram catar fruta no pé, como eu também fazia quando era criança. Quando a amoreira se enche de frutos é uma festa para a criançada, seus cuidadores e também para os pássaros. Todos aproveitam a abundância de frutos que a natureza nos dá.
Vou para meu quintal e ando pelo caminho de pedras debaixo das árvores, apreciando as orquídeas em flor. Cada qual mais bonita que a outra. Paro para apreciar as nuances de cores e a delicadeza de cada flor... O pé de limão está cheio de passarinhos comendo as frutas que minha mãe coloca nos pratos. Eles adoram banana, laranja, mamão, aliás eles adoram frutas como eu também gosto. Cada pássaro mais colorido do que o outro. São sanhaços, sabiás, joão de barro, bem te vi, beija flores e muitos outros que nem sei os nomes.
Gosto de ficar deitada na rede observando a passarada e ouvindo música. De vez em quando passo por um cochilo e acordo com o canto de algum pássaro. É tão repousante...
Brasília tem isso de bom. A cidade parece mais um jardim. Enormes gramados se estendem a perder de vista. São árvores frutíferas de várias qualidades. Existem muitas jaqueiras, amoreiras, mangueiras, pés de jamelão, ingá, frutas que não acabam mais e muitas, mas muitas flores. A primavera enche as árvores de flores. Cada uma mais bonita do que a outra. Os flamboyans ficam indescritíveis com suas flores vermelhas ou laranja. As primaveras dos canteiros centrais são multicoloridas. Os ipês nos deixam de queixo caido. Só vendo de perto para entender quão linda fica nossa cidade toda enfeitada. Aliás, o ano inteiro diferentes flores desabrocham por toda parte, mas na primavera... (10/set/09)

Suportes

Quando estamos fragilizados existem alguns baluartes que nos amparam, auxiliando-nos a romper barreiras e a superar os momentos de crise, delineando alternativas que nos fazem compreender melhor os momentos de sofrimento e dor.
Na medida em que a doença ou o próprio tempo realizam mudanças em nossas vidas, esses suportes operam verdadeiros milagres.
Podem ser pessoas, animais de estimação ou até mesmo anjos celestiais. Será que eles realmente existem?

Anjos

Eu afirmo que anjos da guarda existem. Eles estão espalhados por todos os cantos do planeta, travestidos de diferentes formas. Podem ser pessoas e até mesmo animais.
Em várias situações já tive certeza de estar sendo amparada por um. Ora é um médico que se dedica de corpo e alma à sua profissão fazendo da medicina seu sacerdócio, ora alguém do corpo de enfermagem, uma mãe que se desdobra para atender seu filho doente, os jovens cheios de vida e surpreendentes atitudes. Há também aquele transeunte que cruza nosso caminho e presta uma informação importante, aquele cabeludo que ajuda uma senhora idosa atravessar a rua ou aquela mendiga esfarrapada que passa os dias recolhendo cacos de vidro na areia da praia para que nenhuma criança se machuque.
Há muitas pessoas que se assemelham a anjos da guarda e elas estão bem aí, basta ter olhos de ver. Elas não possuem asas, apenas um coração amoroso.
Experiência singular, que merece ser destacada foi o que aconteceu com Douglas, meu vizinho, um jovem muito especial.
Outro dia ele me viu andando devagar pela rua e percebeu que eu já estava careca em consequência do tratamento para cura do câncer. Ele sorriu e voltou para sua casa. Sabe o que foi fazer? Duvido que alguém vá adivinhar...
A mãe o encontrou em frente a uma imagem de Nossa Senhora e perguntou o que estava fazendo ali. - Batendo um papo com Ela. Ele disse. - Combinei que ficarei sem beber até o dia 30 de dezembro. Ofereci esse sacrifício para a cura da tia Lourdinha. - Porque, até o dia 30 de dezembro? Perguntou a mãe. - Porque no dia 31 vou brindar com meus amigos a cura da tia Lourdinha.
Sabem quando começou o acordo? Em abril. Dá para imaginar um jovem de 19 anos, cheio de amigos, que adora uma balada, ficar sem beber nenhum tipo de bebida alcoólica por tanto tempo apenas para ver uma tia ficar curada de uma doença grave? Isso é AMOR, é solidariedade, é generosidade. Isso é atitude de um jovem com potencial enorme para crescer, para ser gente com G maiúsculo.
Em outra ocasião, numa cidade distante e em noite fria e de muita neve, minha filha, duas amigas e eu pedimos informação a um jovem no metrô. Ele, vendo que estávamos perdidas e percebendo que não iríamos encontrar o caminho apenas com uma indicação acabou se despedindo das amigas que o acompanhavam e se prontificou a nos levar até o local onde poderíamos pegar o trem que nos levaria de volta ao hotel onde estávamos hospedadas no centro da cidade. Esse jovem nunca havia nos visto antes e não hesitou em enfrentar a noite gelada apenas para ser gentil conosco. Foi nosso anjo da guarda naquela noite distante.
Outro dia uma amiga ao perceber que estava passando mal conseguiu estacionar o carro e pedir ajuda a dois garotos que passavam por perto. Eles pararam com toda paciência e atenção, deram-lhe a assistência necessária a tempo e a hora. Eles foram os anjos da guarda naquela situação delicada.
Há também animais que assumem papel de anjos. Eles costumam até sacrificar suas vidas para salvar do perigo as pessoas que lhe são caras. Quantas histórias de cachorros que salvaram seus donos vocês já ouviram falar? Muitas, eu tenho certeza. Alguns animais sobreviveram, outros acabaram morrendo nesses salvamentos.
Essas atitudes solidárias, quer partam de pessoas ou animais demonstram que Deus, em sua bondade infinita, nos cercou de seres vivos que atuam como verdadeiros anjos da guarda.

Reflexões de uma PaCiente

Hoje foi um dia cheio: passei a manhã na clínica, na arteterapia, customizando camisetas para uma creche que recebe crianças que sofreram algum tipo de abuso. São muitas crianças, infelizmente. Peguei as blusas para crianças bem pequenas, de 3 a 8 anos e fiz colagens, desenhos, bordados, tudo com muito carinho, pois elas merecem tudo de bom afinal são apenas crianças que sequer entendem o porquê de tudo que já passaram. Vamos entregar os presentes no dia das crianças com uma grande festa. Todo o grupo da arteterapia está empenhado na confecção das camisetas.
Passei a tarde fazendo quimio e como estava me sentindo um pouco cansada, com a pressão baixa, dormi como bebê todo o tempo. Só me acordaram na hora de retirar o soro. Saí da clínica e ainda passei pela casa do Padre Pedro para receber uma benção. Adoro o Pe. Pedro. Ele é tudo de bom.
Agora estou aqui e vou postar uma crônica que escrevi em 24/3/2008. É uma reflexão sobre como ser feliz com o que se tem na mão. Espero que gostem.

Considero-me uma paCiente e vou explicar o porquê.
Gramaticalmente o dicionário explica que o adjetivo paciente se refere àquela pessoa resignada; conformada; que espera serenamente um resultado; é alguém tranquilo, manso, pacífico e que persevera na continuação de uma tarefa difícil, como um relojoeiro. Paciente é também a pessoa que está doente ou sob cuidados médicos. Aliás, a palavra paciente possui outros significados como, por exemplo: réu que vai cumprir a pena.
Paciência é qualidade de paciente. É uma virtude que consiste em suportar as dores, incômodos etc., sem queixas e com resignação. Paciência também pode ser um jogo, um passatempo de uma só pessoa e até pode ser uma planta.
Ciente por sua vez é ter ciência ou conhecimento de alguma coisa: sabedor, informado. Ciente também é o nome que se dá à assinatura que se opõe a documentos para comprovar que se tomou conhecimento de seu conteúdo.
Sou paCiente, com C maiúsculo, porque padeço de uma enfermidade e estou sob cuidados médicos. Estou doente, mas não sou doente. A colocação verbal faz toda diferença: estar doente é algo provisório ser, é permanente.
Estou ciente do problema de saúde que me acometeu e me mantenho informada de tudo a respeito. Enfrento com calma e tranquilidade o tratamento para ficar curada e poder retomar minha vida sem as interrupções que a enfermidade me obriga.
Algumas pessoas podem estar se perguntando: você não sente os incômodos do tratamento? Sinto vários deles: fico fraca, cansada, enjoada, irritada também, mas não faço desses desagradáveis sintomas o meu inferno e tampouco importuno a vida das pessoas que estão a minha volta. Procuro encarar essas dificuldades como parte do jogo de ficar curada.
Por outro lado, submeter-me a um tratamento não significa estar apenas fazendo quimioterapia, tomando uma porção de remédios ou me sentindo permanentemente mal. Procuro encontrar outras maneiras de me sentir ativa, de realizar coisas que me dão prazer. Se não consigo fazer o que fazia antes da enfermidade descubro novas atividades, procuro vencer minhas limitações atuais e assim vou aprendendo novas formas de ser feliz.
Quando a neuropatia atingiu meus pés, braços e mãos, fui aprender a cozinhar para trabalhar com as mãos e fortalecer os braços. É claro que os utensílios caíam no chão, mas eu os pegava de volta até dar conta de fazer o que eu queria. E valeu a pena, pois descobri que levo jeito para "chef" e aprendi a fazer pratos bem saborosos (e um pouco picantes para aqueles que não apreciam pimenta).
Quando as dores no peito me incomodavam muito fui fazer um curso de fotografia e photoshop para distrair. Agora estou aprendendo fazer trabalhos manuais (tapeçaria, crochê etc). Percebi que fazendo o que gosto desligo de todas as outras coisas, inclusive das dores.
Assim vou levando minha vida. Uma hora estou bem, na outra nem tão bem assim, mas não deixo a peteca cair. Prefiro agir como o bambu que se verga ao sabor do vento e não quebra. Eu me vergo inteira, toco o chão com a cabeça, mas também não quebro. Além do mais, tenho preguiça de ser infeliz.
Por estas e outras é que me considero uma paCiente com C maiúsculo: estou em tratamento para ficar curada das metástases provocadas por um câncer de mama portanto, estou sob cuidados médicos. Estou serena e continuo vivendo a vida como gosto, continuo produzindo alguma coisa, viajando, procurando meu bem estar e estou Ciente de tudo o que se passa comigo.
Houve momentos em que até senti o cheiro da morte, mas prefiro conhecê-la bem a ignorá-la ou fingir que não existe. Minha hora de partir ainda não é agora. Quando tiver que ser, será. Pode até ser amanhã, mas até lá prefiro viver cada momento e ser feliz agora.

Descoberta das metástases

Esse texto escrevi em 21/3/2008. Escrever foi a forma que encontrei para exorcisar tudo o que parecia ruim em minha vida.

Em 2006 fui curtir um pouco da Europa. Durante os dias em que passei na Itália, na companhia de duas amigas de infância, peguei um resfriado e uma noite acordei com fortes dores no peito. Consultado, o médico prescreveu antiinflamatório acreditando tratar-se apenas de consequências da gripe forte. Melhorei.
Passado alguns dias, já em Madri e em companhia de outra amiga, as dores voltaram ainda mais fortes. Procurei um hospital onde fui submetida a vários exames, mas os médicos não encontraram nada. Prescreveram apenas remédios à base de paracetamol que não foram eficientes. Pensam que fiquei presa à cama esperando a dor passar? Que nada! Como gosto de caminhar andava horas pela cidade conhecendo cada pedaço da bela Madri. Afinal, eu sempre soube que endorfina ameniza dores e estar feliz provoca a produção de endorfina no organismo.
Naquela algura do campeonato, ainda com dores, resolvi ligar para minha mastologista em Brasília. Como faltavam apenas alguns dias para meu retorno ela sugeriu repetir o antiinflamatório e aguardar minha volta para fazer novos exames.
Já em Brasilia meu tórax estava muito vermelho e inchado, evidenciando que alguma coisa poderia estar muito errada. Fiz uma ressonância que mostrou uma possível metástase óssea no esterno. Ainda em dúvida se era mesmo metástase ficou decidido que eu iria a São Paulo, para o Hospital do Câncer, onde seria submetida a uma biópsia de peito aberto.
Os oncologistas do hospital também ficaram na dúvida se era metástase ou sequela da radioterapia a que fui submetida oito anos antes. Resolveram fazer a cirurgia que evidenciou a metástase óssea que já comprometera dois terços do esterno, daí a causa das dores.
Depois desse diagnóstico fizeram uma varredura em meu corpo para ver se havia mais algum sinal de metástase em outros órgãos, e para meu desgosto descobriram que o pulmão e o baço também haviam sido comprometidos. Essa história trágica me abalou, mas não me derrotou e eu continuei fazendo longas caminhadas pela cidade de São Paulo, dando sonoras gargalhadas, indo ao teatro, visitando parques e museus, fazendo o que sempre gostei de fazer.
Muitas amigas foram me fazer companhia enquanto eu estava em tratamento no Hospital do Câncer. Fiquei hospedada num hotel próximo ao hospital e elas ficavam lá comigo. Estiveram por lá a Lili, Helena, Neli, Maura e Maria do Carmo. Minha irmã ficou do meu lado o tempo todo. A Maria foi para ficar uns três dias e acabou ficando mais de uma semana. Foi certa de que não sairia para nada do hotel ou do hospital e o que ela menos fez foi ficar parada. Passávamos o dia andando pela cidade, conhecendo bairros próximos ou distantes, fazendo compras e rindo de tudo. Aliás, ela adorou conhecer São Paulo comigo. Andou muito a pé, de metrô e de ônibus. Fez coisas que ela nunca imaginou fazer com alguém "tão doente"... Outro dia ela disse-me que não vê a hora de voltarmos para nossos passeios por São Paulo.
A Maura até tirou alguns dias de férias para ficar comigo. Uma vez lá, logo depois da cirurgia, resolvemos passar uns dias em Guarujá para descansar e relaxar um pouco. Porém, mal chegamos à cidade, não demorou uma hora, fomos assaltadas por dois pivetes com um facão enorme. Foi tão rápida a ação dos bandidos que custamos a nos dar conta de que se tratava de um assalto. Depois de tudo acabado e resolvido conseguimos dar boas risadas da situação inusitada: havíamos saído para comprar meu remédio para aliviar as dores (que só era vendido com receita médica) e o bandido levou inclusive a receita. Precisamos ir a outro médico, explicar o ocorrido para conseguir outra receita e assim comprar o remédio. E relaxar que era bom...
De volta a São Paulo e ao hospital fui convidada a fazer parte de um protocolo de pesquisa para uso de um medicamento experimental, o avastim. Pensei bastante e decidi não fazer parte da pesquisa. Voltei a Brasília para ser tratada pela Dra. Luci Ishii, médica que eu já conhecia e em quem confiava. Tenho certeza de que tomei a decisão mais acertada. Afinal, em Brasília, tenho minha família, minha filha, meus amigos e minhas referências.
A Dra. Luci Ishii é uma médica especial, não é uma oncologista comum. Ela encara o paciente como um ser integral preocupando não só com o corpo, mas também com a mente e o espírito; não tem pressa nas consultas e nos dá a certeza, segurança e conforto que precisamos. Ela e sua equipe estão sempre prontas a atender todos os pacientes e seus cuidadores.
Em maio de 2007 dei início ao tratamento quimioterápico no Instituto Luci Ishii. Comecei sessões semanais com a droga taxotere. Fiz sete ciclos e como as respostas estavam muito aquém do esperado resolveram mudar o protocolo para taxol, caboplatina e herceptim. Dois ciclos depois esse coquetel quase acabou comigo. Foi necessário outra abordagem, agora com genzar e herceptim.
Houve muitos momentos difíceis em que desistir parecia o caminho mais fácil. Em outros momentos cheguei a pensar que minha hora de partir estava chegando, mas consegui superar cada percalço do tratamento e estou muito bem agora.
Algumas pessoas falam que sou forte, mas não concordo com isso. Não sou o que dizem, apenas tenho coragem para superar as dificuldades sem me colocar no papel de vítima.

Já estamos em setembro de 2009 e continuo fazendo quimioterapia toda quarta-feira. Já se passaram mais de dois anos... Um dia vou deixar de ser refém desse tratamento e até lá vou aprendendo a viver um dia de cada vez. De vez em quando tiro umas férias e viajo um pouco, é a forma que encontrei de recarregar minhas baterias. Nesses dois anos aprendi fazer uma porção de coisas e cozinhar é uma delas. Descobri que até levo jeito para "chef". 8/set/2009

Almoço no feriado

Hoje o almoço foi preparado por mim especialmente para meus amigos e a família. Ia ser apenas um macarrão ao molho de gorgonzola, mas minha filha pediu que eu preparasse também o nhoque ao molho de gorgonzola que ela adora. Meio estranho, já que os dois pratos receberam o mesmo molho, mas gosto não se discute... No final das contas saiu também uma salada especial e um peixe. Todos aprovaram o cardápio (assim eu acredito) e comeram com gosto.
Convidei a tia Diana para se juntar ao Cid, Claudio, Elvira e família. O papo rolou solto até quase 15 horas quando saímos para fechar a visita pela cidade, antes do embarque do Cid e Claudio. Passeamos pelo Lago Sul, entramos nas quadras e paramos na Peninsula dos Ministros de onde se tem uma bela vista do lago. Por fim paramos também no Gilberto Salomão. Hoje, como havia feira, estava lotado. Seguimos para o aeroporto, deixamos nossos amigos, a Elvira precisou voltar para casa e eu fui para a Igreja do Perpétuo Socorro assistir a missa com o Padre Pedro Bach.
Foi linda! Havia poucas pessoas, mas a participação foi intensa. Ele consegue fazer com que todos se sintam realmente fazendo parte da celebraçao. No final da missa ele colocou a hóstia consagrada dentro de um pequeno pote redondo (não sei o nome certo) e disse que quem sentisse vontade de tocar em Jesus Cristo que subisse até o altar e o tocasse naquele pote. Toda a comunidade se aproximou do altar. Fui a primeira a tocar Jesus e senti uma enorme emoção. Não consegui segurar uma lágrima teimosa e senti um nó na garganta. É muito bom tocar Jesus... Naquele momento pensei naquela passagem da bíblia que diz que uma mulher que sofria de hemorragia há muitos anos ficou curada apenas tocando em Cristo.
O Padre Pedro com sua imensa fé e bondade consegue operar maravilhas nos corações das pessoas que o procuram. Todo mês ele vem a Brasília e eu vou até ele. Nossas conversas conseguem serenar meu coração. Quando fui falar com ele da primeira vez eu estava muito angustiada e frustrada com a recaída do câncer. Eram tantas metástases que eu estava desanimada e sem energia para reagir. Conversamos longamente, chorei bastante, ele me ouviu atentamente e fez uma proposta: que eu assistisse 90 dias de missa com comunhão. Seria esse o caminho para alcançar a cura. Inicialmente pensei que seria fácil, mas foi bem difícil. Houve muitos momentos em que eu estava tão debilitada que mal conseguia me manter de pé, mas consegui ir até o fim. Foi e continua sendo tão bom, tão reconfortante.
Não vou mais a missa todos os dias, mas vou sempre que é possível e todos os domingos sem falta. Estou fazendo o caminho de volta para minha espiritualidade. Essa conexão com o divino é poderosa e faz bem. (7/set/09)

Turismo em Brasilia

Cid e Claudio estão encantados com os espaços verdes, as avenidas largas, os canteiros coloridos de flores de todas as espécies, as inúmeras árvores frutíferas e outros mimos que fazem de nossa Brasília uma cidade ímpar. Ela é linda!
Eles deram muita sorte, pois o normal nessa época do ano é uma seca infernal, mas o tempo está chuvoso e o clima agradável. Uma dádiva dos Deuses.
Passeamos pelo Parque Sarah Kubtschek e seguimos para o Templo da Boa Vontade, um templo ecumênico na forma de pirâmide com 7 faces. Ela mede 21m de altura por 28m de diâmetro. No topo da pirâmide está o maior cristal puro que se tem notícia. Ele pesa 21 kg e mede 40 cm de altura. É um local agradável, bonito e bem cuidado que abriga uma galeria de arte, a sala egipsia, o memorial Alziro Zarur e outros espaços além de jardins.
O Parque da Cidade, como também é conhecido o parque Sarah, tem uma área de 4,2 milhões de metros quadrados, está localizado no Asa Sul e foi construído para preservar a área verde local. O paisagismo é obra de Burle Max e o projeto assinado por Oscar Niemeyer. É um lugar lindo e agradável onde é possível encontrar quadras de esportes, lagos artificiais, parques infantis, hípica, pistas de caminhada, patinação e ciclismo. Adoro passear por lá.
A Elvira dirigiu pela cidade mostrando com cuidado as asas sul e norte e o Lago sul e norte. Paramos para conhecer a Igreja Dom Bosco com seus belos vitrais em 12 tonalidades de azul. O projetista da igreja foi o arquiteto Carlos Alberto Naves. Ela é composta de 80 colunas com 16m de altura que se fecham em estilo gótico. O azul dos vitrais simbolizam um céu estrelado, o que dá um efeito lindo e repousante no interior da igreja. O ponto focal é um enorme lustre com 7.400 copos de vidro Murano e 180 lâmpadas, pesando quase 3 toneladas.
Fomos almoçar no Oliver do Clube de Golf e como não podia deixar de ser quase todos pediram o delicioso bacalhau do Pipo (acho esse prato uma delícia, mas minha filha prefere a paelha que é servida nos finais de semana). Nossos amigos aprovaram a escolha do restaurante.
Depois de muitos passeios pela cidade terminamos o dia em minha casa apreciando um delicioso chá preparado pela Suzi e acompanhado daquele monte de tentações que só fazem engordar. Para fechar cantamos parabéns para a Elvira e o Claudio e ainda comemos um pedaço de bolo de chocolate com morangos. (6/set/09)


Visão turística de Brasília

Hoje fizemos um passeio com a visão de turista. Encontramos o Cid e o Claudio no hotel e dividimos o grupo em dois para mostrar a cidade de acordo com o gosto de cada um. A Elvira, o Claudio e eu fomos para o Vale do Amanhecer. Suzi, Eliete e Cid foram para a Esplanada dos Ministérios para ver de perto o Palácio do Itamarati, o Congresso Nacional, o STF e o Palácio da Justiça e em seguida visitaram o Memorial JK, o Setor de Embaixadas, os prédios dos tribunais superiores, da procuradoria e outros.
Apesar de morar em Brasília há tanto tempo eu nunca tinha visitado o famoso Vale do Amanhecer, comunidade espiritualista cristã. A Elvira, por sua vez, frequenta o local há mais de trinta anos e conhece muito bem tudo por lá.
O Vale é um movimento doutrinário e religioso, fundado por Tia Neiva em 1959. Objetiva dar assistência espiritual a quantos dela necessitarem.
Está localizado na zona rural da cidade de Planaltina desde 1969. Lá residem algumas famílias de médiuns e os que participam da manutenção e do atendimento de emergências no Templo.
O ponto central do Vale é o Templo do Amanhecer, construído de pedra no formato de elipse, com uma área coberta de 2.400 metros quadrados. Existe também um conjunto chamado Solar dos Médiuns ou Estrela Candente. Nele existem cachoeiras artificiais, um espelho d'água em forma de estrela, lagos e escadarias de pedras. Não posso esquecer de mencionar a Pirâmide, na beira do lago, primeiro local que visitamos no Vale.
Depois do almoço no restaurante Quitinete fomos todos conhecer o Catetinho, primeira residência oficial de Juscelino Kubtschek, construída em 1956. É um prédio simples, feito de madeira, e conhecido como Palácio das Tábuas.
Terminamos nossa tarde entre as estantes abarrotadas da Livraria Cultura. O Cláudio fez a festa, pois encontrou vários títulos que procurava.
Já estávamos quase retornando para o hotel quando a Bárbara ligou informando da exposição de carros antigos no Pontão. O Cid ficou tão animado que até esqueceu a canseira para conhecer a exposição. Valeu a pena, pois eram carros para todos os gostos. Tinha Jaguar, Puma, Mustang, fusquinha, rural e outros que eu nunca tinha ouvido falar, até porque não entendo nada de carros. (5/set/09)

Recebendo amigos

Há uns cinco anos ou mais eu e algumas amigas fizemos uma viagem de navio . Foram sete noites navegando entre o Rio de Janeiro, Santos, Salvador, Buzios; em resumo, por esse nosso lindo litoral. Navegávamos durante a noite e pela manhã o navio aportava para que pudessemos aproveitar o dia pela cidade.
Viajar de navio tem suas vantagens: todas as noite temos oportunidade de assistir a um show ou participar de festas temáticas e durante o dia são várias brincadeiras. No jantar, sempre mais elaborado, os passageiros são colocados em mesas numeradas e assim acabamos conhecendo mais de perto outras pessoas além de nosso próprio grupo.
Foi assim que ficamos conhecendo o Cid um senhor viúvo e aposentado que vive em Curitiba. Ele ficou em nossa mesa de jantar e acabamos por nos tornar amigos. Já o visitamos algumas vezes em Curitiba e até viajamos juntos para Foz do Iguaçu.
Ele é um homem sistemático, mas bem humorado e que gosta de fazer piada. Adora ler, é apreciador de arte e cultura geral e dá notícia de tudo. Até hoje, depois de mais de dez anos de viuvez, ainda fala da mulher com muito carinho e saudade. É um amigo leal e atencioso. Faz questão de ligar frequentemente para saber e dar notícias.
Sempre o convidamos para conhecer Brasília e hoje, finalmente, ele chegou para passar alguns dias. Fomos aguardá-lo no aeroporto, mas o tempo ruim em Londrina fez o vôo atrasar quase três horas. Foi uma confusão tão grande que apesar de termos ido duas vezes ao aeroporto acabamos por nos desencontrar e ele acabou indo com o filho de taxi para o hotel.
Fomos para o hotel também e foi uma festa quando finalmente nos encontramos e conhecemos o Cláudio, filho dele. Conversamos um pouco para em seguida sairmos, debaixo de chuva, para mostrar a cidade. Passamos devagar pela Esplanada dos Ministérios e seguimos adiante até o Palácio da Alvorada onde demos nossa primeira parada para fotografias. A chuva já havia diminuído e não estragou nossas fotos e é claro que fizemos aquelas fotos típicas de todo e qualquer turista que se preze: uma ao lado do coitado do soldado que fica parado estático e todo engalanado e outra jogando uma moedinha no espelho d'água em frente ao palácio.
De lá fomos para a Ermida Dom Bosco. O sol já havia voltado e a vista estava linda. Aproveitamos para saborear uma deliciosa água de côco enquanto conversávamos animadamente. De repente o celular tocou, era a Suzi dizendo que o carro da Lili havia quebrado na subida da QI 27. Fomos até lá e em seguida a Elvira veio me deixar em casa e retornou para pegar a Lili e a Suzi que ficaram aguardando o socorro mecânico.
Preferi voltar mais cedo para casa porque hoje ainda estou sob efeito do zometa e meu corpo está todo doído. Já tomei um remédio e daqui a pouco sei que estarei sonolenta, mas amanhã vou estar novinha em folha para passear com meus amigos mostrando minha linda Brasília. 4/set/09

Viagem para Londres

Ontem estava cansada e sonolenta por causa da quimio, hoje estou com o corpo todo dolorido por causa do zometa, uma medicação que uso a cada 28 dias para recuperação do osso danificado pela metástase. Mas deixa prá lá. Enquanto me concentro escrevendo desvio o pensamento da dor.
Tentei postar antes de dormir mas não consegui. Quero escrever sobre o período que morei em Londres.
Conclui, depois de dois anos de tratamento, que a melhor maneira de ficar curada de vez era mudando de ares, vivendo uma experiência diferente. Decidi morar um ano no exterior.
Minha filha não quiz ir comigo, mas como o sonho era meu resolvi ir sozinha mesmo. Morar fora era um desejo que eu tinha desde adolescente e a oportunidade era naquele momento. Foi a melhor coisa que fiz por mim mesma. Aquele ano foi muito bom...

Londres

Depois de dois anos de tratamento e várias cirurgias resolvi mudar de ares e viajar um pouco. Decidi morar em Londres e fui sozinha já que minha filha decidiu ficar em Brasília (hoje ela se arrepende da decisão).
Fomos eu e uma amiga com a desculpa de estudar inglês. Ela acabou ficando apenas duas semanas e retornou a Brasília, eu fiquei um ano. Foi uma decisão acertada.
Tendo um amigo por lá, acabei morando no mesmo prédio que ele em Piccadilly Circus, no coração de Londres. Era um local estratégico, pois a partir dali eu fazia tudo o que queria caminhando.
Nossa chegada na cidade não foi tranquila, pois a casa da família onde iríamos ficar hospedadas havia cancelado nossa reserva e a escola onde iríamos estudar não nos avisou. Chegamos naquela cidade enorme sem ter lugar para hospedar. Acabamos indo para o hotel onde nosso amigo morava e trabalhava o que acabou sendo muito melhor do que morar em casa de família, num bairro distante do centro.
Meu curso era no período da tarde, o que me dava o direito de trabalhar 20 horas por semana, assim arrumei emprego no café da manhã do hotel. Era muito prático, pois eu morava no prédio ao lado e sequer precisava pegar ônibus ou metro. Meu trabalho consistia em arrumar as mesas para o café e retirar as bandejas quando os hóspedes terminava suas refeições.
O trabalho encerrava às 11 horas, eu voltava para meu quarto e em seguida almoçava para sair para a escola que era perto dali. Dava para fazer tudo com bastante calma.
Terminada as aulas eu voltava devagar para casa e no caminho sempre passava no mercado para comprar alguma coisa para comer a noite. De vez em quando eu aproveitava para assistir alguma peça teatral que estivesse com preço promocional. Sempre havia alguma coisa interessante em cartaz por preços acessíveis.
Outra coisa que eu fazia com frequência era ir ao cinema. Uma colega que trabalhava comigo no café da manhã também trabalhava no cinema e sempre me presenteava com um ingresso.
Minhas horas de folga eram aproveitadas nos museus ou galerias, ou batendo perna pela cidade aproveitando seus belos parques e jardins. Eu passava horas nos museus e não gastava nada, pois como estudante a entrada era gratuita.
Aproveitei meus finais de semana viajando pelo interior da Inglaterra. Conheci várias cidades que tinham alguma história para contar. Também viajei para a Escócia e fiz turismo pela Europa indo primeiro de trem até Paris e a partir dali de ônibus por várias cidades. Os pacotes para estudantes eram econômicos.
Assim o tempo que morei em Londres passou rápido e quando me dei conta já estava na hora de retornar. Eu estava com saudades da minha filha, minha família, meus amigos, minha casa, mas também estava adorando minha estada por lá. Aprendi a gostar daquela cidade enorme e cheia de gente de todas as partes do mundo. Aprendi a ouvir diferentes sotaques e idiomas enquanto caminhava por suas ruas largas. Conheci seus museus, suas galerias de arte. Entrei nas igrejas, assisti a muitos concertos de música erudita. Fiz muitas coisas que normalmente não tenho a oportunidade de fazer por aqui e até arranjei um namorado com a metade da minha idade. As lembranças que tenho daquele período são as melhores. Foi muito bom principalmente porque foi um ano que não passei sequer perto de um hospital. Não precisei ingerir sequer uma aspirina. Nem por um momento parei para pensar nos dois anos que estive em tratamento. Aquele ano cheio de novidades me deixou curada. Eu estava feliz.