Uma Música Despertando Lembranças...

Acabei de chegar da igreja aqui perto de casa, onde fui assistir a missa. O Padre perguntou várias vezes se as pessoas presentes estavam realmente dentro da igreja ou se o pensamento estava em outro lugar. Até sorri quando ele fez a pergunta da primeira vez porque confesso que eu tinha acabado de tentar me concentrar na missa, pois tinha me dado conta de que estava longe, muito longe dali.
Durante a missa muitas músicas foram cantadas e eu adoro cantar. Tentei acompanhar baixinho porque minha voz está falhando, mas cantei com o coração. Quase no final da missa cantaram uma música antiga, que eu costumava cantar na capela do colégio de freiras onde estudei durante toda minha infância e adolescência. Num instante me senti transportada no tempo. Não consegui resistir...
Fechei os olhos e me vi menina e depois jovem assistindo missa. Consegui sentir até o cheiro característico da capela do colégio da minha infância tão distante. Vi os bancos de madeira muito polidos, o chão claro imaculadamente limpo, o altar em mármore e os detalhes em azul e branco no fundo do altar feito em madeira. As lindas e enormes imagens da Virgem Maria e de São José ocupavam um lugar de destaque na capela. Senti saudades.
Não resisti e continuei um pouco mais na minha infância. Revi mentalmente algumas colegas daquela época que eu nunca mais encontrei. Onde andarão? Pensei em algumas amigas queridas e especialmente na Tati, na Lourdes e na Rita. Faz tanto tempo que não as vejo. Com a Tati ainda falo às vezes ao telefone. Sinto um carinho especial por elas.
O título da música que me transportou no tempo é Belo e se canta assim:
.
Belo pra mim é criança a brincar
É ouvir mil canções numa concha do mar
É a chuva caindo, é o campo em flor
E acima de tudo é o amor ô ô ô ô ô ô...
.
Belo pra mim quando estou a sofrer
E as trevas na alma começam a crescer
Lembrar com alegria que além muito além
A espera de mim existe alguém
.
A música parou e como num passe de mágica eu estava de volta à missa do domingo. Algumas crianças fizeram uma apresentação e em seguida a missa chegou ao seu final. Ficou um gostinho de saudade daquele tempo que não volta mais...

Porque estou engasgando e tossindo tanto?

Continuo fazendo fono e buscando a causa da tosse, dos engasgos e da rouquidão. Porque será que somente agora, depois de mais de dois anos com a prega vocal paralisada esses sintomas apareceram? O pior é que estão piorando visivelmente. Cada uma que me aparece...
Na próxima semana vou fazer alguns exames com uma otorrino da confiança de minha fono. Vamos ver o que descobrimos. Quero voltar a comer em paz e a falar sem tossir tanto. É complicado engasgar enquanto se come. Todos à sua volta ficam aflitos. Além do mais todas as comemorações acabam sendo em torno da comida e não tem graça nenhuma ficar só olhando. Não sou gulosa, mas gosto de uma comidinha bem feita.
Hoje meu corpo doeu muito por causa dos efeitos do zometa. Cada pedacinho doia sem dó nem piedade. Tomei remédio para dor e acabei dormindo mais de três horas direto. Dormi sem almoçar, pois o sono era maior do que a fome, mas acordei muito melhor, apenas um pouco pesada.
Só não me revolto com esse remédio porque sei que é eficaz e está reconstruindo o osso destruído pelo câncer, mas que ele é cruel isso ele é. Parece que moi cada pedacinho do meu esqueleto e a dor fica generalisada. O pior é que os ossos atingidos pela doença são inoperáveis. Não é possível simplesmente cortar e substituir por metal, pois o esterno, vértebra e costelas são insubstituíveis; preciso cuidar bem dos que tenho.
A Bárbara conseguiu retornar ainda ontem do Piauí. Disse que foi uma correria, mas resolveu tudo muito bem, pois os servidores do tribunal são atenciosos, eficientes e gentis. Voltou carregando um enorme calhamaço de papéis, resultado positivo do que foi fazer em Teresina.
Sua passagem pela capital foi rápida, além do trabalho no tribunal só teve tempo de ver o encontro das águas escuras do rio Parnaiba, que segue até o Delta do Parnaíba e do rio Poti com suas águas esverdeadas, no Parque Ambiental do Encontro dos Rios. Lá ficou conhecendo a lenda do Cabeça de Cuia.
Diz a lenda que um jovem pescador chamado Crispim um dia chegou em casa e, encontrando apenas um caldo de ossos para comer, bateu descontroladamente em sua mãe, revoltado. Antes de morrer, a senhora amaldiçoou o filho, rogando-lhe uma praga – ele se transformaria em um monstro medonho. Sentindo um terrível remorso, Crispim se jogou nas águas do rio Poti. Os moradores mais antigos afirmam que nas noites de lua cheia, ele fica zanzando pelas margens do rio, tentando se livrar do encanto. Para poder descansar em paz, o Cabeça de Cuia – nome pelo qual ficou conhecido devido à sua enorme cabeça deformada - deveria devorar sete moças virgens de nome Maria, mas nunca conseguiu pegar nenhuma. Até porque nenhuma moça anda sozinha por aquelas bandas.
Na hora do almoço a Bárbara perguntou se o prato era para uma pessoa. O garçon afirmou categoricamente que apenas uma pessoa comia a porção servida. Ela pediu peixe, seu prato predileto. Quando chegou a comida levou um susto, pois a quantidade servida dava para alimentar, no mínimo, três pessoas. Pelo jeito os piauienses são bem gulosos...

Bonsai em Flor

Ontem foi mais um dia de quimio. Não pude usar o cateter por causa da suposta bactéria, mas a Janúcia foi perita em pegar uma boa veia periférica. Dormi durante todo o tempo, pois estava me sentindo muito cansada.
Dependendo do resultado dos exames será necessário retirar o cateter. Vou precisar correr contra o tempo, pois se isso for mesmo acontecer quero fazer tudo antes do natal. Final de ano é época de festas, de confraternização, nada a ver ficar pensando em cirurgia.
Mudando de assunto, a Bárbara continua em estado de bobagem com o carro novo. Ela está encantada. Ontem precisou viajar a trabalho para o Piauí. Foi uma correria danada para chegar ao aeroporto, mas deu tudo certo no final das contas. Ela deverá retornar ainda hoje, pois parece que conseguiu resolver tudo que precisava em Teresina.
Uma das vantagens de estar livre e desimpedida é poder viajar assim de uma hora para outra, sem precisar se estressar com o que quer que seja. Basta aparecer uma emergência para se fazer as malas e embarcar seja lá para onde for. Quando se tem filhos, marido ou até mesmo um namorado ciumento não é tão simples assim.
Acabei de ver que meu bonsai de romã, que estava todo feinho e tristonho, está cheio de botões. Ele ganhou força depois da poda que recebeu e está lindo. Tomara que o mesmo aconteça com o pé de limão.
Caiu uma chuva forte durante a noite e outra agora pela manhã. O jardim está todo verdinho. A natureza está em festa. Gosto da chuva, do barulho da água caindo e molhando a terra. Ela renova a vida.

Realizar Sonhos é muito bom


Depois do sufoco da última quarta-feira andei a pensar mais do que o de costume. Realmente a vida é um fio muito tênue, mas vale a pena ser vivida. Todos temos altos e baixos. Todos sentimos dor, raiva, alegria, frustração, tristeza ou qualquer outro sentimento inerente a esse complexo SER. Seja lá como for vale a pena viver. A vida pode até ser breve, mas há que ser intensa.
Quanto mais difíceis as situações inesperadas no transcorrer de meu tratamento mais valor consigo dar a esse caminhar incerto, mais intensos são meus sonhos, mais forte minha determinação. Não sou mesmo de entregar os pontos. Prefiro vergar até encostar a cabeça no chão como faz o bambu a me quebrar como um carvalho forte que resiste ao vento.
Estou aguardando o resultado dos exames para ver o tipo e onde está a bactéria que provocou o piripaque. Ela até pensou ter ganho uma batalha, mas eu vou ganhar a guerra.
O final de semana se arrastou com preguiça, a segunda-feira parecia nunca chegar. É que eu estava doida para ver a carinha da minha filha quando recebesse o carro novo que resolvi comprar. O Fox 1000 que ela tinha estava cada dia pior; além de não desenvolver o carro andava morrendo sem motivo aparente. Levamos para a concessionária resolver o problema mas, para variar, os machistas e indelicados funcionários sempre insinuavam que o verdadeiro problema do carro estava entre o volante e o banco. A Bárbara só faltava morrer de raiva e não vale a pena. Achei que o melhor é evitar o confronto, evitar a raiva e arranjar um motivo para ser feliz. Foi aí que decidi comprar um carro novo e, de preferência um carrão.
Dei uma de metida e comprei logo um Peugeot 307 novinho. É um carro confortável e com todos os ítens de segurança que eu queria. O motor silencioso lembra o ronronar de um gatinho manhoso e ele desenvolve que é uma beleza.
A segunda demorou mas acabou chegando e lá fomos nós para a concessionária. Ela ia toda inocente pensando que apenas me fazia um favor e quando se deu conta do que estava de fato acontecendo quase não se conteve de alegria. Custou a acreditar que estava saindo de um Fox fraquinho para um carrão daqueles. Ela olhou fixamente para o carro, passou a mão na lataria, abriu todas as portas, acendeu as luzes e por fim girou a chave. Parecia uma criança com seu brinquedo novo. Seu rosto irradiava alegria, seu sorriso era puro contentamento.
Fiquei feliz com a compra, mas posso garantir que a Bárbara ficou ainda mais feliz com o presente. Foi inevitável concluir que são essas coisas que fazem a vida valer a pena. Realizar sonhos, sejam os nossos ou dos outros, é bom demais.

Minha Velha Árvore Morreu

Doeu em meu coração ver minha velha árvore do cerrado sendo cortada porque simplesmente morreu de uma hora para outra. Pedi para o jardineiro não cortar o tronco onde estão algumas orquídeas. Ficou um enorme vazio em frente a janela do meu quarto.
Também pedi ao jardineiro para fazer uma poda radical no limoeiro para ver se ele se recupera, pois também está morrendo. O limoeiro sempre foi uma árvore abençoada, pois vivia carregado de muitos limões enormes e suculentos. Todos adoravam o suco de seus frutos. O que estará acontecendo com minhas árvores? Gosto tanto delas. Árvore dá vida e embeleza qualquer ambiente e é muito triste vê-las morrendo.
Saí cedo pela manhã para começar a fazer os exames que a Drª Fabiana pediu para ver onde está alojada a bactéria que me atacou na quimio de quarta-feira. Fui até o Sabin do Deck Brasil, onde trabalha a Maria Luiza, mas lá não foi possível fazer aquele tipo de exame. Precisei tirar o sangue no Sabin do Hospital Brasilia. Ainda bem que o Silvio trabalha lá, pois ele também é ótimo para achar uma veia difícil.
Fui também até a Clinica da Drª Luci para que a Marilene pudesse retirar o sangue do catéter para análise. A clínica estava muito movimentada hoje pela manhã.
Chegando em casa a primeira coisa que vi na calçada foi minha velha árvore toda partida em pedaços. No jardim o Baiano podava o limoeiro e uma sabiá voava de um lado para o outro como se também ela estivesse indignada com o corte das velhas árvores.
Cheguei perto do tronco do limoeiro e falei para ele que não era maldade o que estávamos fazendo, era uma tentativa de salvá-lo da morte certa. Tomara que a medida dê certo.
Assim que o Baiano terminou de colocar os galhos do limoeiro na calçada para que a caçamba os recolhesse uma forte chuva caiu. Era o céu chorando a morte das árvores do meu jardim...

Uma tremedeira sem controle

A bruxa anda solta mesmo. Hoje tive um piripaque durante a quimioterapia.
Começou do nada. Eu já estava recebendo a quimio quando comecei a sentir muito frio. Peguei um edredon e me agasalhei, mas não adiantou nada. O frio piorou e o corpo todo começou a doer. De repente comecei a tremer sem controle e não sei se chorava ou apenas lacrimejava, mas eu sentia as lágrimas quentes descerem pelo meu rosto. Os dentes chacoalhavam freneticamente uns contra os outros. Os braços e pernas batiam contra a cadeira reclinada sem que eu conseguisse contê-los.
Num instante o meu box estava cheio. A enfermeira chefe correu para fechar o cateter e foi aferir minha pressão que nessa altura já estava com a máxima em 19. Colocaram aquele aparelho que mede a frequência cardíaca, ele bipava sem parar e eu tremia feito vara verde. Não dava para controlar o tremor. Eu me sentia como se estivesse presa num barril fechado que havia sido jogado numa corredeira... Meu corpo não me obedecia. Eu não conseguia concatenar os pensamentos.
Naquela correria frenética dos médicos e enfermeiros tentando me estabilizar eu só distinguia a voz suave da Drª Camila me pedindo para ter calma e que estava tudo sob controle. Mediram minha temperatura e injetaram alguma coisa para controlar os tremores e a dor. Os tremores não cessavam. Eu estava exausta e sentia a energia fugindo do meu corpo a cada minuto.
Não sei quanto tempo demorou para que eu fosse estabilizada, creio que não foi mais do que uns 15 minutos, mas para mim parecia uma eternidade. Disseram que os sintomas eram de uma bacteremia e que devia vir do catéter. Alguma bactéria pode ter se alojado ali, se multiplicou, e quando começou a quimio ela invadiu a corrente sanguínea provocando o colapso.
Ainda fiquei algum tempo sentindo frio, mas as dores foram cedendo bem como os tremores. De vez em quando eu sentia os braços e as pernas tremerem sem controle, mas nada comparado ao corpo inteiro tremendo loucamente.
Minha irmã e minhas amigas da arteterapia foram chegando assustadas. Num primeiro momento nem tinham percebido que era comigo e tão logo se deram conta disso ficaram mais assustadas ainda. Olhavam para mim como que para se certificarem de que eu estava bem e que tudo não passara de um susto. Eu estava tão exausta que mal conseguia falar para acalmá-las.
Numa hora dessas você percebe claramente a fragilidade da vida. Num minuto você está bem e no minuto seguinte pode simplesmente entrar em colapso... É assustador.
Depois que tudo passou a Drª Fabiana veio falar comigo. Ela brincou, mas acabou afirmando que realmente os sintomas que tive levam a crer que o problema foi uma bacteremia. Vou precisar fazer alguns exames para avaliar se é isso mesmo. É provável que seja algo assim porque ando tendo umas infecções de repetição de uns tempos para cá. Meu braço direito, que não tem gânglios linfáticos, continua inchado por causa disso.
A Marilene precisou puncionar uma veia para contiuar a quimio. A Janúcia, como sempre, foi atenciosa e muito carinhosa comigo. Por causa do problema que tive precisei tomar mais soro do que o usual, mas agora estou bem e é como se nada tivesse acontecido. Ainda bem.

Viagem de Trem Curitiba-Morretes


Lili, Suzi e eu estávamos visitando Curitiba e resolvemos fazer o passeio de trem até Morretes. Era uma sexta-feira, acordamos cedo, tomamos nosso café da manhã e em seguida a van chegou para nos pegar. O grupo era pequeno: apenas nós e um casal de Salvador, todos hospedados no mesmo hotel.
Seguimos para a estação ferroviária e enquanto aguardávamos a chegada do trem nosso guia ia contando a história da ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá. O engenheiro responsável pelo projeto foi Antonio Pereira Rebouças Filho, especialista em construção de estradas de ferro e portos marítimos.
A estrada de ferro foi criada em 1880, possui 110 km de extensão que descem 900 metros da serra do mar até o Porto de Paranaguá. O trem passa inicialmente por Pinhais e Piraquara para logo em seguida chegar ao túnel Roça Nova, o primeiro dos 14 túneis do percurso.
Assim que deixou a estação o trem apitou várias vezes como se estivesse feliz com o início de uma nova viagem. Ele descia a serra bem devagar, o que nos permitia apreciar a paisagem verde e exuberante da Serra do Mar.
Depois que passamos pelo primeiro túnel a enorme cachoeira Véu da Noiva apareceu com toda sua beleza. Ela cai de tão alto que mesmo com o barulho do trem conseguimos ouvir o som da queda d’água.
São 3 horas de viagem e nem nos damos conta disto tamanha beleza natural que se descortina além das janelas do trem. Passamos pelo Parque Nacional do Marumbi, criado em 1990, com mais de 2.300 hectares. Vemos o Morro do Leão e o Pico Marumbi, freqüentado por alpinistas. Atravessamos 30 pontes e vários enormes viadutos.
Uma guia dentro do vagão, além de distribuir lanches para todos os turistas, também vai relatando a história da ferrovia bem como alertando para esta ou aquela beleza que aparecerá logo adiante. Todos ficam a postos com suas potentes máquinas fotográficas.
De vez em quando o trem precisa parar para que outro trem, que vem subindo a ferrovia desde Paranaguá, tenha lugar para passar. O trem de cargas desce até o porto com menos de 50 vagões carregados de produtos para exportação. Na subida ele pode carregar quase o dobro de vagões.
Ao longo do percurso uma infinidade de plantas se exibe em toda sua beleza. A samambaiaçu, ameaçada de extinção pela extração em larga escala para se fazer o xaxim, cresce livre pela encosta e nos grotões. Hoje é proibida sua extração. Vemos uma profusão de hortências, de origem asiática e que se adaptou perfeitamente por aqui. Outra flor que também não é originária do Brasil e que se adaptou na serra virando uma verdadeira praga é a chamada lírio do brejo, que dá uma flor branca. Ela acaba sufocando e matando outras espécies de plantas de pequeno porte.
E o trem continua seu percurso lento por trilhos tão antigos. Num trecho coberto por espessa neblina e onde os trilhos ficam suspensos por enormes pilares de concreto o trem parece flutuar solto no ar. Eu e meu medo de altura não combinamos muito com essa parte do trajeto...
As três horas de viagem passam céleres, ninguém percebe e quando menos esperamos já estamos parados na estação de Morretes prontos para o desembarque.

Passeando em Curitiba


Viajei na quinta e ao retornar encontro uma surpresa desagradável: uma das árvores do meu jardim, exatamente aquela do cerrado que eu fiz questão de preservar para continuar alimentando os passarinhos com seu frutinho amargo, morreu de uma hora para outra. Simplesmente morreu. O que será que aconteceu???
Acho que alguma coisa anda muito errada com o solo do meu jardim. O pé de limão também está morrendo. Já me disseram para podá-lo e assim ver se ele toma forças para desabrochar novamente. Tomara que dê certo.
A viagem para Curitiba foi boa, apesar do tempo quente e abafado.
Aproveitamos nossa estada por lá e na sexta-feira fizemos um passeio de trem. São 3 horas de viagem pela Serra do Mar de Curitiba até Morretes. A volta foi de carro pela Estrada da Graciosa.
No sábado pegamos o ônibus de turismo que passa em frente ao hotel e saímos pela cidade. Nossa primeira parada foi no Jardim Botânico, considerado a marca registrada da cidade. O local é agradável, mas eu esperava ver mais espécimes botânicas. A estrutura metálica no final de um jardim muito bem cuidado chama a atenção mas decepciona um pouco quando a conhecemos por dentro. É relativamente pequena e abriga poucas plantas.
A segunda parada foi no Museu Oscar Niemeyer, o museu do olho. Projetado por Oscar Niemeyer, é considerado o maior e mais moderno museu do Brasil. É realmente interessante quando visto de fora, mas as obras que ele abriga não tocam minha sensibilidade. Não gosto muito de arte moderna e contemporânea. Não consigo entender, por exemplo, uma tela grande toda pintada com uma tinta escura. Isso é arte? O nome da obra é: Sem título. Claro. Que título pode ter uma obra assim??? Algumas obras, aos meus olhos leigos, mais parecem um deboche do artista com os apreciadores de arte. Não entendo, não gosto e por mais que digam ser arte continuo não gostando.
Saímos do museu e fomos para a Ópera de Arame. Antes da visita paramos para almoçar porque ninguém é de ferro e já estávamos mortas de fome. Resolvi experimentar um prato típico polonês chamado pierogue, uma espécie de pastelzinho feito de batatas com recheio de queijo. Não gostei. A apresentação do prato não era das melhores e o molho de calabresa não passava de pedacinhos minúsculos da iguaria jogados por cima dos pastéis. A apresentação da comida, pelo menos para mim, é fundamental. Encaro comida feia com a maior má vontade.
A Ópera de Arame é um palco feito de uma estrutura tubular. É lá que acontece grandes apresentações artísticas e culturais da cidade. O bonito do local é a integração com a natureza. A pedreira ao lado da ópera, o lago que circunda o espaço, as árvores e flores, tudo combinado faz da Ópera de Arame um lugar agradável.
Saindo de lá resolvi retornar direto para o hotel porque já estava muito cansada. Lili e Suzi ainda fizeram mais uma parada na Torre Panorâmica, uma torre de telefonia com mirante aberto para visitação. São 109 metros de altura. O mirante é fechado com vidro e oferece uma vista de 360° da cidade.
A noite o Cid veio nos visitar no hotel e acabamos saindo para jantar. Ele estava sem poder mastigar por causa de uma cirurgia na boca para implantes dentários e acabou comendo apenas uma omelete. Coitado do Cid, guloso como ele é ficar sem poder comer direito é um castigo.
E o domingo amanheceu estranho. A temperatura caiu um pouco, mas a atmosfera estava pesada. Parecia anunciar uma forte tempestade para mais tarde. Fui assirtir a missa das 8:30h quando comecei a sentir dores pelo corpo. Saí da igreja, encontrei com a Lili e fomos passear pela feira de artesanato que funciona aos domingos, bem atrás da igreja. Já tinha andado um bom pedaço quando percebi que não tinha mais condições de continuar. Deixei a Lili com a Suzi andando pela feira e voltei para o hotel. Lá chegando tomei um analgésico e me deitei. Eu tremia de frio e dores pelo corpo. Sequer consegui sair para almoçar. Fiquei deitada esperando que o remédio fizesse efeito. Demorou, mas as dores foram cedendo e comecei a me sentir melhor. Ainda bem porque nosso vôo de volta para Brasília era às 17 horas.
Assim que cheguei em casa liguei para o Cid e ele contou que tão logo saímos de Curitiba uma tempestade, com muito vento e trovoada, assutou a cidade. Em alguns lugares do sul do país a chuva causou muitos estragos.

Preparando para viajar

Ontem fui a consulta com Drª Luci e saí muito animada, afinal ela confirmou que os últimos exames aos quais fui submetida mostraram uma melhora excelente em meu estado geral. Devagar estou alcançando o objetivo de ficar curada.
Só fiquei um pouco frustrada porque apesar da melhora, ou por causa da melhora, ela resolveu não alterar o protocolo do tratamento que estou fazendo. Ainda será necessário continuar fazendo quimios semanais. É melhor não mexer em time que está ganhando.
Os últimos dias foram bastante movimentados. Minha amiga que está internada teve algumas crises e precisou ser medicada. Já era esperado que acontecesse dessa forma, mas mesmo assim essas crises acabam afetando a todos que gostam dela. Ficamos apreensivos e sem saber o rumo certo a tomar.
Acabei de voltar da quimioterapia. Novamente não participei da arteterapia pela manhã porque minha mão ainda está muito inchada. Estou fazendo drenagem linfática mas o edema está insistente. Preciso usar uma luva para ajudar na circulação, mas como não gosto de nada me apertando está sendo difícil usá-la por muitas horas.
Quero parar de pensar em problemas de saúde e me concentrar na viagem que farei amanhã cedo para Curitiba. Vamos eu, a Lili e a Suzi. Estou animada, pois só de sair um pouco já me sinto outra. Adoro viajar.
Tomara que o tempo esteja favorável e sem chuva, pois viajar com chuva não é a melhor coisa do mundo. Queremos pegar o trem até Morretes e com tempo bom fica muito mais agradável. O passeio vale a pena e a paisagem da Mata Atlântica é imperdível. A única coisa que não pretendo repetir é comer o barreado, comida típica do litoral paranaense.
Para quem não conhece, o barreado é uma comida feita a base de carne cozida servida com arroz e farinha de mandioca. O segredo está no cozimento em panela de barro por cerca de 20 horas, ou o suficiente para desfiar toda a carne. A panela é vedada com uma massa de farinha e água para manter o vapor dentro da panela.
Morretes é uma cidade história que fica encravada aos pés da Serra do Mar. A estrada de ferro que sai de Curitiba até Paranaguá, passando por Morretes, é considerada uma obra prima da engenharia. Foi construída durante o império e urbanizada em 1950.
Agora vou arrumar minha mala. Depois conto como foi o passeio.

O silêncio dos domingos

Gosto do silêncio que amanhece em minha casa no domingo. É que não abre a academia que funciona ao lado da minha casa e não acordo com as vozes altas de seus frequentadores que começam a chegar a partir das 6:30 da manhã, já cheios de adrenalina e falando alto como se estivessem num mercado persa.
Fico impressionada com a falta de educação generalisada. As pessoas estão, a cada dia que passa, mais egoistas, mais voltadas para seu próprio umbigo. Já reclamei várias vezes do barulho da academia e todos os dias é a mesma coisa: o pessoal chega falando alto e as vozes, no silêncio da manhã, rasgam o ar e entram direto em minha casa. Parece que estão conversando dentro do meu quarto. Odeio isso.
A academia é uma vizinha incômoda. Alguns professores dão aulas aos berros como se todos os alunos fossem surdos de nascença. A música é outro tormento. Se ainda fosse uma música boa, mas não, é aquela batida irritante que deixa qualquer um louco.
Acho que a academia e seu barulho irritante me incomodam tanto que deixei de frequentá-la. Simplesmente não consigo mais ir a academia. Passei a detestar.
Meu exercício predileto é caminhar. Adoro caminhar sem pressa de chegar. Caminho no finalzinho do dia, quando o sol está se pondo. Acho muito bom ir observando a natureza a minha volta, as pessoas indo e vindo e até o movimento ininterruptos dos carros passando. É muito diferente de uma academia com seus frequentadores tarados por corpos malhados, sarados... É sempre o mesmo assunto, as mesmas piadas. Frequentador de academia parece ter sido criado em série: é tudo igual. Os assuntos que rolam na academia são tão profundos quanto um pires... Além do mais não consigo entender a incoerência: falam tanto em saúde, mas exageram nos exercícios, nas noitadas, nas bebidas e nos remédios...
Mas gosto mesmo é do silêncio dos domingos. Quando o dia começa a acontecer só se ouve o canto dos pássaros. É uma verdadeira sinfonia. Depois, quando o sol esquenta fica apenas o silêncio...

Suposto filhote é na verdade um bacurau adulto



Os soldados da polícia ambiental acabaram de recolher o pássaro estranho. Quase morri de vergonha quando eles disseram que o animal não voava durante o dia porque possui hábitos noturnos. Sua atividade é restrita do entardecer até o clarear do dia seguinte. E mais, ele não é um filhote, já é uma ave adulta. Santa ignorância!
O passarinho é um tipo de bacurau. Fui pesquisar na internet e ri de mim mesma. O vôo baixo, que eu pensei ser porque o bichinho estivesse ferido, é uma característica do animal que fica escondido no chão em meio a vegetação fechada. Quando ele precisa se deslocar o faz voando baixo entre os arbustos, para se esconder.
O bacurau, como a coruja, é responsável pelo controle de insetos. Sua presença na natureza é importante.
Coitado do passarinho. Ficou preso alguns dias sem necessidade.
Ficou mais do que comprovado que não podemos nos meter a criar animais que não conhecemos. Se eu não tivesse acionado a polícia ambiental o coitado do passarinho ia acabar morrendo.
Ainda bem que os soldados são pessoas treinadas e muito educadas. Eles não se abalaram e recolheram o pássaro com todo cuidado para devolvê-lo a mata. Eu me desculpei por tê-los ocupado desnecessariamente, mas eles apenas disseram que é parte do trabalho deles. Que atenderão sempre todos os pedidos de resgate que se fizerem necessários.
Eles aproveitaram para mostrar um filhote de carcará que recolheram no Guará e outro filhote, bem pequenino, de gavião. Eu não poderia perder a oportunidade para tirar algumas fotos do carcará que é um pássaro lindo. Nunca tinha visto um tão de perto.
Hoje foi um dia muito movimentado para a polícia ambiental. Eles resgataram uma capivara no espelho d'água do Congresso Nacional, outra que havia sido atacada por cachorro e tentaram, sem sucesso, resgatar um jacaré na cabeça da pista do aeroporto. Já tinham capturado o carcará e outros animais como uma jibóia. E olha que eles só possuem uma única viatura para fazer todo o serviço. Ainda bem que são muito eficientes.
É muito bom conhecer profissionais como os soldados da polícia ambiental. A corporação está de parabéns.
06/11/2009

Sexo e Mastectomia

Há algum tempo escrevi um texto onde eu falava de sexo. Não um sexo casual ou apaixonado, com o parceiro certo ou uma pessoa qualquer. Eu me referia a sexo com uma mulher mastectomizada e todos os tabus e complexos que envolvem o ato. Vou dividir meu texto com vocês
.
Quem descobre ter câncer fica sempre apavorado, mas câncer de mama deixa muitas mulheres mais apavoradas ainda por causa da mutilação. A retirada da mama, para a maioria delas, é um problema quase sem solução.
Não foi o meu caso. Precisei fazer mastectomia radical, mas no mesmo procedimento cirúrgico fiz a reconstrução da mama com o músculo da barriga. Ficou perfeito, só faltando o mamilo que até hoje não tive ânimo para fazer. Só de pensar em enfrentar um centro cirúrgico me dá arrepios. Só entro naquela sala se não houver outra alternativa.
O grande problema enfrentado pelas mulheres mastectomizadas é o medo de expor seus corpos. Elas imaginam a rejeição estampada no rosto do parceiro ou acabam vendo mesmo essa rejeição. Isso gera outro problema, o sexo vira um terror. Só o simples pensamento de se despir e mostrar um corpo sem mama manda a libido pra muito longe. Elas ficam apavoradas e seus parceiros muitas vezes não sabem como lidar com a situação.
Muito desse medo está associado a essa apologia aos corpos perfeitos, malhados, sarados... As academias estão dando cria pelo mundo. Por todos os lugares aonde vamos encontramos academias prometendo corpos perfeitos. Os centros especializados em cirurgias estéticas e plásticas fazem até pacotes que podem ser quitados em suaves prestações para permitir que mulheres sem muitos recursos tenham a chance de fazer uma lipoaspiração ou outro procedimento qualquer (muitas vezes, ou na maioria das vezes, absolutamente desnecessário).
Uma mulher que precisou retirar uma das mamas e algumas vezes as duas enfrenta um grande problema com sua auto estima.
No meu caso precisei retirar apenas uma das mamas. O problema maior para mim eram as inúmeras cicatrizes espalhadas pelo corpo e também a retirada precoce do útero. Eu achava que não conseguiria mais ser uma mulher por inteiro depois de tantas cirurgias, radioterapia e quimioterapia. A minha libido parecia ter adormecido em berço esplêndido...
Um dia conheci um homem aparentemente rude até o momento que você o conhecia melhor. Era um homem negro, grande e forte. Seu olhar era meigo, o que contrastava com sua aparência rude, suas mãos enormes sabiam ser delicadas. Não chegamos a ter nenhum envolvimento mais íntimo, mas com seu carinho e cuidados percebi que ainda pulsava uma mulher dentro de mim.
Passado um tempo acabei me envolvendo com um rapaz mais jovem do que eu. Foi muito bom enquanto durou. Ele era muito ciumento e o que eu menos precisava depois de enfrentar um tratamento tão longo e doloroso para me curar de um câncer era me preocupar com ciúmes do parceiro. Isso, aliado a imaturidade, foi o que nos afastou.
O que ficou de bom nesse relacionamento foi compreender que cicatrizes ou uma falsa mama não fazem a menor diferença. O sexo não fica melhor ou pior porque temos um corpo sarado ou com excesso de gordurinhas localizadas. O sexo é bom quando estamos em sintonia com nosso parceiro. Para eles não faz a menor diferença um corpão violão, magrelo ou gordinho. Nós é que fazemos um drama desnecessário com os corpos que temos.
Além do mais, pode ter certeza, mulher gostosona serve apenas para ser exibida para os amigos. Na hora do vamos ver o que conta mesmo é a química entre os dois. Portanto, pode desencucar e exibir o corpinho do jeito que ele está, mesmo faltando pedaço ou cheio de cicatrizes. Quando rola um clima isso não faz a menor diferença.
Hoje, se alguém se interessa por mim não fico preocupada com o que ele vai pensar do meu corpo. Se me quiser terá que ser com o corpo que tenho, no mais, eu me garanto...
Lou Montes
6/12/2009

Uma Visita Inesperada


Como não estou podendo participar da arteterapia por causa da mão inchada resolvi fazer a quimio na parte da manhã. Em seguida fui de carona com a Elvira até a casa da Helena onde passei a tarde.

Depois do almoço resolvemos ir até a Casa Cor, que está terminando hoje, para conferir as novidades em decoração. Eles conseguiram dar uma boa guaribada no Clube do Servidor que estava totalmente detonado. O jardim ficou agradável e vários ambientes estavam muito bem bolados. Exageros à parte, sempre vale a pena conferir a Casa Cor.

Voltamos para casa, mas antes demos uma passadinha na casa da D. Luci para falar um oi. Comentei com ela sobre o filhote de passarinho que caiu no meu jardim e ela contou que na semana passada recebera uma visita inesperada. Um gambá entrou no apartamento dela. Detalhe: ela mora no 5° andar. Ninguém conseguiu entender como um gambá conseguiu chegar no 5° andar de um bloco de apartamentos em plena Asa Sul.

O resgate de um filhote de, quem sabe um gavião é bem menos pitoresco do que ter um gambá na sala de um apartamento. Dª Luci contou que foi um verdadeiro auê o resgate do bicho feito pela polícia ambiental. O gambá mostrava os dentes, tentava morder, fugia para debaixo dos móveis driblando os policiais. Ela não sabia quem corria mais, se eram os homens ou o gambá.

Uma hora e meia depois da primeira tentativa de captura do bicho o gambá resolveu subir na grade da janela e lá acabou acuado. Um dos soldados o agarrou pelo rabo ao mesmo tempo em que segurou seu pescoço. Não foi fácil desprender o bicho da grade, mas finalmente o gambá acabou subjugado e preso na jaula, não sem antes dar uma boa mijada na janela e outra na porta de entrada. E lá se foi o gambá com os policiais, deixando sua marca registrada na sala do apartamento. Dª Luci disse que foi uma trabalheira danada conseguir eliminar o cheiro do xixi do gambá, mas finalmente a sala ficou cheirosa. E assim terminou a aventura de um gambá perdido num dos blocos de apartamentos de uma superquadra de Brasilia.

O bom de toda essa conversa com Dª Luci e sua filha foi saber que o pessoal do IBAMA nunca atende os pedidos de resgate de animais silvestres. Quem resolve o assunto, e de uma forma muito profissional e eficiente é a Polícia Ambiental. Basta ligar para o n° 190 e registrar a ocorrência que eles entram em contato com a polícia ambiental que vem resgatar o animal silvestre.

Aproveitei e lá da casa de Dª Luci liguei para o 190 explicando que caiu em meu jardim um filhote que parece ser de gavião. Eles pegaram todos os meus dados e ficaram de vir até minha casa resgatar o passarinho. Vamos aguardar.

Enquanto a polícia florestal não chega minha mãe se diverte cuidando do passarinho. Segundo ela o filhote já está achando que ela é mãe dele, pois é só vê-la que começa a piar pedindo comida. Ele já está conseguindo voar melhor e fica empoleirado em cima do box do banheiro. Quando ela entra no banheiro ele voa para perto dela piando. Ela o alimenta com carne moida que ele devora em pouco tempo.

Para variar minha mãe já está se afeiçoando ao filhote de gavião. Se dependesse dela e não fosse crime criar pássaro silvestre sem autorização ele seria seu mais novo animal de estimação.


Lou Montes

05/11/2009





Hoje é finados, mas a vida pulsa em meu jardim


Ontem, na missa dominical, durante a homilia, o padre criticou a comemoração do dia das bruxas por ser uma festa pagã. Sinceramente não vejo nenhum problema nesse tipo de festa, por mais pagã que seja. Cada comunidade tem suas tradições e estas devem ser respeitadas sejam elas pagas ou católicas.
Deixando a festa das bruxas de lado, hoje é finados. Dia dos mortos.
Minha mãe acabou de me comunicar que o pássaro estranho que caiu no jardim ainda está vivo e parece que recuperando as forças devagar. Hoje já deu conta de engolir a carne moída sem dificuldade. Ela acredita que em dois ou três dias ele já terá condições de voar. Ela também mudou de opinião quanto a raça do pássaro, agora está acreditando tratar-se de um filhote de gavião o que acho mais provável. Ele continua morando provisoriamente no banheiro e já consegue levantar vôo de um lado para outro, mas na maior parte do tempo fico quietinho escondido atrás de uma das boias coloridas.
Quando acordei hoje cedo dei de cara com um bando de periquitos empoleirados na árvore que fica em frente da minha janela. Eles faziam uma grande algazarra enquanto pulavam de um galho para outro. Daí a pouco levantaram vôo, mas dois permaneceram pousados. Ficaram por ali fazendo barulho e acariciando um ao outro até que também resolveram voar para pousar no limoeiro que fica mais distante da janela.
Sairam os periquitos e pousou uma linda sabiá. Meu quintal parece ser o playgraund da passarada. É que minha mãe colaca frutas em pratos que ela pendura nas árvores. Eles adoram. Em pouco tempo devoram uma banana. Também não deixam sobrar nenhum pedaço de mamão, laranja ou maça. Qualquer fruta é bem vinda para eles. Além das frutas ela sempre joga sobras de ração dos pássaros que estão em gaiola. É a diversão da minha mãe. Ela faz uma verdadeira limpa na fruteira da casa que precisa ser constantemente reabastecida.
Todas as manhãs um pombo enorme vem comer no jardim. Ele já sabe que em volta da mixiriqueira encontra sobras de arroz ou ração. Os pardais fazem a festa. É um enorme bando, mas o que enche nossos olhos são os pássaros coloridos que se fartam nos pratos de frutas frescas. Também acho um charme o simpático joão-de-barro que de peito estufado dá três passinhos e uma corridinha pelo chão. O bem-te-vi se julga dono do pedaço e quando está atacado resolve colocar todos os outros passarinhos para correr, ou melhor, voar.