Nascemos com prazo de validade

     Desapareci por algum tempo, mas depois de tantos problemas com os efeitos colaterais do tratamento combinei com meu médico uma pausa para viajar, meu elixir de boa saúde. Viajei por três semanas e foi ótimo. Não senti nada, nem sequer uma dor de cabeça e não me privei de nada que pudesse me fazer feliz: comi bem, tomei vinhos deliciosos, passeei muito, vi paisagens lindas, curti a natureza e fui feliz. Simples assim.
        De volta a minha vida real, no dia 6 de outubro fiz o PET. O resultado não foi o que eu gostaria afinal, depois de tantos problemas com os efeitos colaterais da quimioterapia eu esperava, no mínimo, um resultado mais animador. De qualquer forma não foi tão ruim assim. Houve um aumento da lesão no esterno, mas sem alterações metabólicas significativas. As demais lesões ficaram inalteradas ou tiveram um piora discreta. Nada assustador, mas também nada que pudesse me deixar animada, pulando de alegria, e ainda por cima surgiu a suspeita de um trombo no cateter. Ah! O cateter... 
     Pois é, eu nem dei confiança para o parágrafo que tratava do catéter e era lá que estava o maior problema no resultado do PET. Foi minha filha quem leu "... Surgiu acentuada retenção focal do traçador na sua ponta, podendo indicar a presença de um trombo." Ela me questionou sobre a importância deste item então tirei uma foto do resultado e enviei para Dra. Carol que mandou que eu fosse imediatamente para o Pronto Socorro do Hospital Brasília fazer exames de urgência para confirmar ou não a presença do trombo.
     Lá fui eu para o Pronto Socorro. Tentaram pegar minha veia e fiquei mais furada do que uma peneira. Um horror! Machucaram todo o meu braço esquerdo e veia de bom calibre para fazer o contraste do exame de imagem não conseguiram pegar. Depois de muita insistência conseguiram puncionar uma veia no dedão, mas quando cheguei na sala de exame a enfermeira disse: "lamento, mas terei que pegar outra veia porque esta vai estourar quando for ministrado o contraste". Tive vontade de sair correndo e chorando. Já tinham me machucado tanto... Eu estava, e ainda estou, com o braço todo roxo. Sem opção tive que aceitar ser picada novamente, mas a enfermeira conseguiu pegar a veia na primeira tentativa. Um alívio!
     Fiz uma angiotomografia computadorizada do tórax que para meu alívio descartou a presença do trombo. Acho que mais uma vez eu consegui enganar Átropos, a fiandeira do destino que corta o fio da vida. É que por causa da viagem fiz uso do xarelto, um remédio para prevenir trombose. Se realmente o trombo existiu ele acabou dissolvido antes de fazer qualquer tipo de estrago. Além do xarelto eu tive que heparinizar o catéter e isto pode ter ajudado. 
     Minha teoria é que nascemos com prazo de validade e não saímos desta vida por acaso. Não foi só o acaso que me fez usar o anticoagulante. Sabe aquele velho ditado: Atirou no que viu e acertou o que não viu. Pois é, fiz o que mais gosto: viajei. E quando viajo procuro esquecer tudo o que me aborrece e me concentro em ser apenas feliz. Sempre que viajo sou obrigada a tomar o anticoagulante para evitar trombose por causa dos vôos de longa distância. Coincidência? Acho que não.
     Agora estou aguardando minha consulta com o Dr. Fernando para definir o protocolo daqui para frente. Enquanto isto Láquesis continua tecendo o fio da minha vida...