Dor neuropática e uma gripe que se anuncia

         Quando o médico é bom o correto é divulgar.
     Depois que fiz quimioterapia na última quinta-feira fiquei muito debilitada e cheguei toda estragada no consultório da Dra. Alexandra. Ela me recebeu com carinho e atenção e foi muito cautelosa com o diagnóstico e a escolha da medicação que poderia resolver os problemas causados pelos efeitos colaterais dos quimioterápicos que uso há tantos anos. 
        Depois que recomecei a fazer quimioterapia há mais de oito anos, por causa das metástases de um câncer primário de mama, já usei muitas medicações, cada uma com diferentes efeitos colaterais. Um dos efeitos colaterais que me acometeu logo no início do tratamento foi neuropatia. Fiquei com as mãos e pés bem estragados por causa desse efeito colateral, mas agora só a ponta dos dedos das mãos continuam incomodando. No geral recuperei todas as funções da minha mão e não sinto mais dor nem incômodo algum. Nos pés o que ainda incomoda é a sensação de que tenho um toco preso na planta dos pés, mas pelo menos não sinto dor, o que já é um grande negócio.
      De algum tempo para cá tenho sentido uma coceira que evolui para uma ardência nas costas e depois vira uma dor infame que me impede caminhar, por menor que seja o percurso. Não tenho nenhuma lesão no local, mas a coceira incomoda bastante e deixa o local dolorido. Eu já tinha procurado uma dermatologista que não viu nada errado com minhas costas e a coceira, a ardência e a dor continuaram no mesmo lugar.
     Semana passada fui consultar a Dra. Alexandra Gervazoni exatamente por causa desta dor nas costas, pois vou passar uma curta semaninha em Curitiba e meu prazer que é caminhar pode ficar prejudicado por causa da dor. Conversamos sobre como a dor se comporta e ela concluiu que esta dor pode estar relacionada com a neuropatia que me acometeu lá atrás, no início do tratamento.
     A Dra. Alexandra até sugeriu que eu fizesse um exame para confirmar a neuropatia, mas com as festas de final de ano achei melhor adiar o exame para o início do próximo ano. De qualquer forma ela prescreveu gabapentina 300mg e com apenas uma semana de uso da medicação percebi que a coceira infame que eu sentia na palma das mãos e dos pés diminuíram e a dor nas costas cedeu um pouco. Só não posso garantir que a dor está realmente melhor porque fiz o zometa junto com a quimio e esta medicação provoca dor no corpo inteiro. Aí, uma dor mistura com a outra e dói tudo, dói cada pedacinho do corpo.
     Ontem voltei ao consultório e reclamei de coriza e tosse. Não posso gripar porque minha imunidade está muito baixa e uma simples gripe pode até ser fatal para mim. Viajar então... nesta situação é um luxo que não posso ter.
     Novamente a Dra. Alexandra avaliou a situação e prescreveu nimesulid por três dias e xarope de loratadina por cinco dias. A tosse cedeu como por encanto e consegui dormir muito bem. Um luxo. Acordei me sentindo muito melhor e agradecida a Deus por ter colocado uma médica tão comprometida com seus pacientes em meu caminho. Tenho certeza de que estarei em forma até sexta-feira, prazo que ela prometeu que eu ficaria bem, caso contrário eu terei que fazer alguns exames e procurar um hospital. 

Imunidade baixa e quimioterapia

     Depois de uma semana de folga por causa da baixa imunidade hoje fiz mais uma aplicação de quimioterapia, apesar da imunidade continuar um pouco baixa. Os segmentados subiram um pouco nesta última semana mas ainda estavam abaixo de 1.500, que é o valor ideal, e também abaixo dos 3.000 que também é o ideal para a taxa de leucócitos.
     Minhas taxas estão em 1.080 para os segmentados e 2.700 para leucócitos então, apesar de não ser o ideal, pude fazer a quimioterapia que durou quase seis horas. Volto na clínica amanhã para tomar o neulastim, uma vacina para fazer subir a imunidade. Dizem que é o último grito para um remédio que promete resolver o problema da imunidade, mas mesmo assim continuo com leucopenia. A medicação, pelo jeito, não está dando conta de resolver o meu problema. Para completar o quadro, o resultado do hemograma ainda relata poiquilocitose, isto é, as hemácias adquirem uma forma anormal e ainda estão abaixo do valor de referência que é de 4.000.
     Apesar de tudo tenho que me dar por satisfeita pois não apresento nenhum sintoma preocupante apesar destas taxas. Depois que ficou resolvido o problema do hipertitoidismo estou me sentindo bem, e isto já é muito bom para quem está fazendo quimioterapia há tanto tempo.
     Na última sexta-feira passei por uma consulta com o Dr. Fernando e ele disse que meu exame clínico está ótimo. Com tantos altos e baixos e depois de ter me sentido quase morrendo, me sinto renascida como uma fênix. Quando pensam que vou partir consigo renascer das cinzas... Sou uma Fênix.  

O resgate do gatinho

     Anoitecia e uma chuva insistente e fria caia sem parar. De vez em quando, no aconchego da sala de estar, dava para ouvir um miado de filhote de gato vindo do jardim que fica na frente da casa. Estava escuro e da janela não dava para enxergar o bichano, mas seu miado não deixava dúvidas: havia um filhote de gato chorando no meio das plantas altas do jardim.


     Quando minha filha chegou ouvimos um miado mais forte e insistente e, como a chuva havia dado uma trégua, resolvemos investigar. O Henrique acendeu a lanterna do celular mas assim que avistamos o gatinho ele saiu correndo em disparada para a rua e entrou no jardim da casa vizinha.
     A Bárbara tocou a campainha da casa e assim que foi atendida tentou pegar o filhote que se esquivava e fugia. Depois de algumas tentativas frustradas ela desistiu, voltou para casa e  me pediu para tentar capturar o gatinho fujão. Fui até o jardim e consegui pegar o filhote. Ele estava todo molhado e muito assustado, mas ficou bem quietinho em meu colo assim que o aconcheguei nos braços.


     Voltamos para casa correndo para secar o gatinho. Era um filhote preto rajado, bem pequeno e com enormes olhos amarelos. Demos ração e o colocamos numa caixa de gatos na varanda do quintal enquanto tentávamos capturar seu irmão que já tinha dado um olé em todos que tentaram pegá-lo no jardim. O pobrezinho estava tão assustado que rosnava e tentava atacar qualquer um que ameaçasse apanhá-lo. Depois de várias tentativas frustradas o outro gatinho simplesmente desapareceu entre as plantas como por encanto. Desistimos de encontrá-lo, mas deixamos comida e água perto da casinha do irmão para que ele pudesse se alimentar, caso resolvesse aparecer no meio da noite.


     No dia seguinte vimos que a comida e a água haviam desaparecido mas não havia o menor sinal do gatinho bravo e assustado. Ele havia desaparecido. Levamos o filhote resgatado para dentro de casa e em poucos minutos ele já se sentia o dono do pedaço. Corria para todos os lados conferindo os móveis e procurando um lugar onde pudesse brincar e se esconder. A árvore de natal passou a ser seu parque de diversões. Ele subia até o topo, jogava as bolinhas no chão e saia correndo e brincando com as bolinhas caídas no chão. Brincava até se cansar e depois dormia um soninho gostoso, enrolado em qualquer cantinho escondido, longe do alcance da cachorra da casa que morria de ciúmes do gato.



     Fico me perguntando: como é que uma pessoa consegue ter coragem de abandonar um filhote de gato à própria sorte, na rua, a noite e debaixo de chuva? Tem que ser uma alma muito ruim. Ainda bem que o Thor teve a sorte de encontrar minha casa. Aqui todos gostam de animais.
     

Alergia a antialérgico?

     Quando fiz o quinto ciclo da nova quimioterapia, antes de cair no sono profundo por causa do antialérgico, percebi que minha mão e parte do antebraço estavam cheios de manchas vermelhas. Chamei minha irmã e pedi que ela chamasse alguém da enfermagem. Aos enfermeiros solicitei que chamassem um médico porque eu, sem sombra de dúvida, estava tendo um processo alérgico.
     Os enfermeiros além de não chamarem o médico de plantão ainda duvidaram que eu estivesse tendo alergia e um deles ainda falou: Você só está tomando soro com antialérgico.  Não é possível que você tenha alergia ao antialérgico. Você já usou esta medicação antes e nunca aconteceu nada. Retruquei: está na cara ou melhor, nas mãos e no antebraço, que hoje estou tendo um processo alérgico. Não é possível que vocês queiram esperar eu ter um choque anafilático para tomar alguma providência. Chamem um médico ou fechem logo o acesso do soro com o antialérgico antes que eu tenha um piripaque.
     O enfermeiro chefe foi até o box onde eu estava e decidiu fechar o acesso por dez minutos para ver o que iria acontecer, mas assim que eles abriram novamente o acesso do soro as manchas vermelhas espalharam pelo antebraço. Percebendo que a coisa era séria eles decidiram retirar o soro com o antialérgico difenidrin e colocaram outro soro com outro tipo de antialérgico para correr na veia. As manchas diminuíram, mas só desapareceram por completo depois que fui para casa.
      Foi um susto e tanto e fiquei imaginando o desastre que teria sido se eu estivesse fazendo a quimioterapia no cateter, pois neste caso a quimioterapia cai direto no coração e até aparecer alguma reação no corpo eu já teria tomado uma grande quantidade do remédio. Eu poderia ter morrido? Talvez, não sei, mas teria sido um problema. Mas, como eu sempre falo, nascemos com prazo de validade e ninguém morre antes da hora. Ou morre?
     No dia seguinte à quimioterapia, às 7 horas da manhã, tive consulta com o Dr. Fernando. Relatei sobre a alergia ao antialérgico durante a quimioterapia e fiz algumas considerações sobre o resultado do exame de sangue que demonstrou que todo o quadro horroroso que eu apresentava como perda de peso, irritabilidade, fraqueza muscular, tonteira e outras coisas ruins eram na realidade consequências do hipertiroidismo, exarcebadas, talvez, pela quimioterapia. A absorção do syntroid deve ter ficado alterada, talvez por causa da nova químio ou sei lá o porque, provocando o problema. Meu TSH chegou a 0,08 quando o ideal é dois.
    O Dr. Fernando decidiu  manter o novo protocolo até o final deste ano e em janeiro farei um novo PET para ver se o câncer regrediu ou não. Vou torcer para que todo o mal estar que senti até agora tenha servido ao menos para diminuir as lesões, mas o que eu queria mesmo era ficar livre do câncer e das sessões de quimioterapia.