Sopa de abóbora

     Certos costumes ficam impregnados no inconsciente coletivo de forma indelével.
     Na cidade mineira onde cresci, era comum alimentar porcos com abóboras que eram abundantes no campo, nas chácaras, nos sítios e nas fazendas então, abóbora passou a ser visto como alimento de porcos e animais rústicos.
     Meu sobrinho, um gigante magrelo com mais de 1,80m e alma de criança, tendo em vista ser portador de um problema genético que o faz ter idade mental de menino, muito embora já tenha 30 anos, vive na mesma cidade onde passei boa parte da minha infância. Como era de esperar ele rejeita abóbora sem nunca ter sequer provado a iguaria.
     Todos os anos ele e seus pais vem passar as festas de final de ano em Brasília e ano passado não foi diferente. Uma noite, quando fui olhar o que tinha para o jantar, dei de cara com uma panela cheia de abóbora refogada com a cara mais sem graça do mundo. Logo pensei: isso não vai dar certo. Nem eu, que não tenho nenhum preconceito com a iguaria, fiquei animada com a cara da abóbora refogada.
     Pensei, pensei e decidi transformar aquela abóbora sem graça numa deliciosa sopa de abóbora, mas eu não podia simplesmente dizer que era sopa de abóbora. Enquanto eu preparava a sopa fiquei matutando e tentando descobrir um jeito de tornar aquela simples abóbora num prato atraente, mas como?
     De repente me veio uma ideia: vou inventar um nome diferente para essa abóbora. Como não tenho o hábito de inventar mentiras, continuei pensando e decidi não mentir mas tornar mais palatável o nome da sopa de abóbora. Eureka! Dei-lhe o nome de sopa de pumpkin. Não menti, apenas dei o nome inglês para minha sopa de abóbora.
     Assim que a sopa ficou pronta servi duas tigelas e chamei meu sobrinho para provar uma deliciosa sopa que eu tinha aprendido a fazer na última viagem que eu havia feito na França. Ele ficou empolgado. Olhou para a sopa e perguntou: que sopa é essa tia? - Pumpkin, respondi. Ele tornou a me perguntar: pumpe o quê? - Pumpkin, respondi novamente. E expliquei: é um legume muito usado na França. Vi campos enormes de cultivo de pumpkin para todos os lados por onde andei. Falei sério e comecei a comer.
     Ele sentou ao meu lado e começou a tomar a sopa de abóbora. Parou segurando a colher no ar e me disse sorrindo: essa sopa de pumpkin está uma delícia. E comeu tudo até a última colherada e ainda pediu para repetir. Pensei: nada como uma história atraente e um nome diferente para nossa simples abóbora...

Dores lombares, nos ombros e na barriga e suas causas

     Já faz um tempão que não escrevo nada no blog. É que tenho padecido com dores que não tem nada a ver com o câncer, mas que conseguiram me nocautear e me tirar do sério.
     Reclamei com meu oncologista que as dores na lombar quase estragaram minhas últimas férias, ele então pediu uma ressonância magnética da coluna vertebral que evidenciou, além das metástases em algumas vértebras, uma hérnia de disco na C4-C5, C5-C6 e também em nível L5-S1 com edema do ligamento da L4-L5.
     Inicialmente as dores apareciam quando eu caminhava, mas em repouso elas ficavam sob controle. Depois de algum tempo comecei a sentir dor o tempo todo e deitar era ainda mais complicado porque as dores que apareceram no ombro irradiavam também para os braços e eu só conseguia dormir depois de tomar remédios para dores, coisa que detesto fazer com frequência.
    Já faz algum tempo que tenho reclamado de uma dificuldade para engolir. Não acontece o tempo todo, mas acontece com mais frequência do que eu gostaria. A impressão é que o alimento para no meio do caminho e não chega ao estômago. Fiz alguns exames e os médicos diziam que não havia nada de errado no trajeto da boca até o estômago e não davam muita importância ao assunto.
     Os sintomas pioraram e além de "entalar" eu sentia dor no peito, dores abdominais e náuseas. Na altura do estômago a barriga ficava inchada, cheia de gases e dura, como se tivesse um nódulo no local. O refluxo era constante. O PET não havia mostrado nada relacionado a câncer na região, mas as dores estavam me deixando maluca.
     Procurei outro gastro que acabou diagnosticando uma esofagite, o que justifica todas as minhas queixas. Ele me tranquilizou dizendo que demora um pouco mas o problema tem solução. Estou fazendo uma dieta rígida para evitar qualquer alimento que possa irritar o estômago e piorar os dores, e também estou usando medicação. Agora estou usando nexium 40mg e digesan.
     Com pouco mais uma semana de dieta e medicação certa o problema não está resolvido, mas as dores já diminuíram consideravelmente. Acredito que dentro de mais umas duas ou três semanas a esofagite esteja sob controle. Assim espero.
     Quanto as dores nas costas e nos ombros a coisa ainda está complicada. Procurei um ortopedista que prescreveu codaten 50mg e dolamin flex de 12 em 12 horas, por uma semana, para acabar com o edema e diminuir as dores. Assim que me senti melhor das dores, tanto no ombro quanto na lombar, comecei a fazer fisioterapia, por orientação médica. Ainda não resolveu, claro, mas pelo menos estou me sentindo um pouco mais confortável.
     Faço fisioterapia duas vezes por semana e pude perceber que minha flexibilidade está muito ruim, quase nula. Deve demorar um pouco até que meu corpo comece realmente a responder aos exercícios. Sinto falta das minhas caminhadas e ficar muito tempo em pé ainda é um exercício quase impossível. 
     Vou dando um passo de cada vez mas tenho que admitir que dor me tira do sério, provoca em mim um desânimo enorme. Quando a dor aperta desistir parece ser o caminho mais fácil, mas tento resistir...