E a gripe me pegou de jeito desta vez

     Ontem era dia de fazer o zometa, mas com a imunidade baixa por causa de uma forte gripe foi necessário adiar para o próximo dia 2 de janeiro. Melhor assim, pois o zometa provoca muitas dores no corpo e o meu já está todo dolorido da gripe. 
    Na ceia do Natal eu estava tão devagar que fui dormir cedo e o natal em família ficou desfalcado. Minha garganta doía tanto que era difícil engolir água, imagina então qualquer coisa sólida. Foi uma pena, pois sei o quanto minha filha e a Raissa gostam de comemorar o Natal. 
     Hoje amanheci me sentindo melhor. Ainda estou um pouco fanhosa, mas já consigo respirar melhor. A garganta continua incomodando um pouco, mas nada que uma boa pastilha não consiga resolver. Acho que até amanhã estarei em forma.

Gente sem noção

      Dia 26 de dezembro vou fazer o zometa novamente e para isto preciso de exame de sangue recente. O Laboratório Sabin fica no comércio próximo da minha casa e o prédio tem apenas uma rampa de acesso para cadeirante, e o piso do estacionamento, para variar, está cheio de buracos dificultando o uso da cadeira de rodas. Muito bem, com todas estas dificuldades consegui chegar ao laboratório mas na hora de voltar para o carro... adivinhem o que aconteceu? Um sujeito sem noção e sem o menor respeito pelo direito do outro fez o favor de estacionar uma moto enorme bem ao lado da rampa de acesso dos cadeirantes.
        Fiquei parada olhando sem conseguir acreditar no que eu estava vendo até que um rapaz se ofereceu para chamar o motoqueiro sem noção, que estava tranquilo fazendo seus exercícios na academia que funciona no mesmo prédio. Agradeci e fiquei ali parada aguardando até que vi outro cadeirante se aproximando. A esposa que o acompanhava contou-me que no dia anterior um motorista, também sem noção, havia estacionado em cima da rampa bloqueando completamente o acesso ao cadeirante.
      Ficamos os dois ali parados aguardando o sujeito folgado chegar. Passado mais algum tempo ele chegou todo faceiro, usando bermuda e tênis, pediu desculpas pelo transtorno mas teve a ousadia de dizer que a rampa estava livre, pode? A rampa realmente estava livre, mas era impossível descer com a cadeira, pois havia um carro estacionado em frente e a moto dele ao lado impedia a manobra.
      Há pessoas que realmente não se tocam. O chão estava marcado para que ninguém estacionasse atrapalhando os cadeirantes, o sujeito estaciona em cima da marca e ainda acha que ele é que está certo. Dá ou não dá vontade de xingar uma criatura folgada assim?       

Não sou surda, nem muda e muito menos retardada...

     Tenho a impressão de que as pessoas que desejam abordar um cadeirante devem pensar que além de não conseguir andar com as próprias pernas eles também devem ser mudos e surdos ou, quem sabe, até um pouco retardados. É que algumas pessoas quando querem perguntar alguma coisa ao cadeirante não se dirigem a ele, preferem fazer a pergunta ao cuidador. Se não fosse trágico seria até cômico...
     No dia em que eu fui alugar minha cadeira de rodas eu estava acompanhada pela minha irmã e pela minha filha. Elas me deixaram no carro e foram até a loja solicitar uma cadeira de rodas para que eu pudesse sair do carro e entrar na loja. Pois bem, até o atendente da loja, especializada em produtos para cadeirantes e afins, não se dirigia a mim e sim a minha filha ou a minha irmã. Eu era invisível aos olhos dele, ou uma idiota que não tinha vontade própria...
     Conversei com a Leó, uma grande amiga que também precisou usar cadeira de rodas por um longo tempo, e ela me disse que com ela acontecia a mesma coisa. As pessoas não se dirigiam a ela, mas sempre ao cuidador. Rimos muito da situação.
     Para concluir, os cadeirantes, além de seus inúmeros problemas com a acessibilidade, ainda precisam conviver com a idéia de serem considerados meio bobos, meio surdos, incapazes de articular uma frase com coerência... Alooouuu, meu problema é apenas uma fratura no pé. Minha cabeça e minha capacidade de compreensão das coisas continua intacta. Consigo ouvir com clareza e não sou muda e nem retardada então... perguntem diretamente a mim que eu mesma respondo.

Ressonância normal, cérebro perfeito e uma cabeça cheia de sonhos

     O resultado da ressonância magnética ficou pronto e revelou que estou livre de câncer ou qualquer outro problema em meu precioso cérebro. Ufffa, que alívio! As dores de cabeça são tencionais mesmo. Voltei para casa até mais leve... estes últimos dias foram muito estressantes, pois conviver com a hipótese de ter o cérebro invadido por um alienígena deixa qualquer um em pânico. Um cérebro perfeito e uma boa cabeça são o que temos de mais importante em nosso corpo e quero que o meu continue intacto.
     O cérebro está em perfeita ordem, mas o osso do pé continua quebrado e eu, em consequência, mantenho o repouso forçado, mesmo não gostando disto.  Sinceramente, prefiro ficar quieta para ter certeza de que o meu pé vai colar de novo e desta vez para sempre, mesmo sem cirurgia. Aproveito meu tempo para ler e sonhar com minha próxima viagem. Os amigos que viajaram comigo para a Toscana irão para a Provence no próximo ano, quem sabe eu consigo ir também... só preciso ficar boa. A Provence é tão linda! Pelo sim e pelo não já comecei a ler e buscar na internet todas as informações sobre aquele pedaço especial da França, cujas paisagens serviram de fonte de inspiração para Cezànne, Van Gogh, Picasso, Gauguin e outros artistas geniais.

As caçadas da Mingau

     A viralata que adotamos recentemente já se sente dona do pedaço e está cada vez mais a vontade em casa. Ela vigia a porta do meu quarto o tempo todo, tentando entrar para medir força com a Tutuca, uma outra viralata  adotada há muito tempo.


     A Tutuca já está velha e é uma gata arisca e assustada, que passa o dia escondida de tudo e de todo o mundo. Ela fez seu refúgio na parte oca de uma cadeira reclinável que fica em meu quarto e só sai a noite para comer e fazer suas necessidades. Ninguém a vê  ou ouve seu miado, ela é quase invisível e só aparece mesmo quando entro no quarto. Quando o dia está amanhecendo ela sempre vem me pedir um carinho e gosta de sentir minha mão em seu pelo macio; nesses momentos ela ronrona de prazer.
     A Mingau é uma gata mais jovem, mas não sabemos a idade certa dela. Ela estava perdida na rua, imunda, faminta e doente quando a encontramos. Na veterinária a primeira providência foi dar um banho para saber exatamente o que existia embaixo de toda aquela sujeira, e foi aí que descobrimos que ela era branca com os olhos amarelos. Depois do banho foi preciso mais de um mês de tratamento para curar uma sarna horrorosa nos dois ouvidos. A coitada deve ter sofrido muito na rua, pois além da sarna ela também tinha dois dentes quebrados e estava que era apenas pele e ossos. Ela teve um dono antes de ir parar nas ruas, pois quando a encontramos ela usava uma coleira vermelha no pescoço.
     A Mingau é o oposto da Tutuca, a começar pela cor:  ela é branca, a outra é preta. A Tutuca não mia enquanto a Mingau mia parecendo uma doida. Quando quer comer alguma coisa ela abre uma boca enorme e dispara a miar sem parar até ver a comida na vasilha. Nunca vi uma boca se abrir tanto. Tenho a impressão de que se eu olhar  o fundo daquela bocarra com atenção consigo enxergar até o estômago da gata...
    A Tutuca é séria e nunca brinca, já a Mingau gosta muito de brincar. Até um pedacinho de papel que ela encontra no chão vira brinquedo entre suas patinhas. Uma coisa que acho muito engraçado é seu jeito de espreguiçar pela manhã: ela estica para trás as patinhas traseiras e alonga e depois sai correndo e miando atrás da gente porque quer mesmo é sair para o quintal. Ela sempre sobe na varanda que dá acesso ao meu quarto para ver se encontra a porta está aberta. Quando dá esta sorte ela entra no quarto e fica em cima do criado vigiando a cadeira da Tutuca, esperando pacientemente para ver se a outra resolve dar as caras para começar uma briga.
    A Mingau é mau... ela adora brigar e quando encontra uma oportunidade vira aquela confusão de gatos. Outro dia um gato da vizinhança entrou em nosso quintal e foi aquela bagunça: era pelo voando para todo lado e miados horríveis. Foi difícil separar a briga, pois os dois gatos eram metidos a valentes.
     A Tutuca é delicada para andar e se deita com graça, já a Mingau... ela não se deita, ela se joga no chão. Chega a ser engraçado observar a cena. Aliás, aqui em casa tudo é muito engraçado e diferente do usual. Os bichos daqui são hilários. A cachorra tem medo da gata branca, a gata branca tem medo da galinha enquanto esta tem medo da cachorra que adora lhe dar umas corridas. Os passarinhos andam assustados com a Mingau que de vez em quando consegue matar algum, principalmente as rolinhas que estão muito gordinhas e são meio bobas. Os calangos também estão em pânico, pois vários deles já morreram nas garras da gata. Ela fica de tocaia embaixo dos arbustos do jardim e quando vê um presa distraída ela dá uma reboladinha, balança e cauda e dá um salto certeiro.

Adotando a cadeira de rodas

     Para ter um pouco mais de mobilidade e não depender tanto de ajuda quando quero me deslocar dentro de casa ou na rua resolvi alugar uma cadeira de rodas mais leve e confortável. A Suzi e a Bárbara foram comigo até a rua das farmácias para escolhermos uma que atendesse minhas necessidades. Meu novo meio de transporte me permite dirigir sozinha, então saí da loja e fui experimentar a cadeira passeando no Conjunto Nacional onde resolvemos almoçar.
     A experiência é um pouco estranha, e não me senti de todo confortável, mas pelo menos saí um pouco da rotina de estar o tempo todo dentro de casa lendo, escrevendo ou assistindo algum filme. Nestes últimos dias só saí de casa para ir ao médico e isto não dá para ser considerado um passeio.


     Usar cadeira de rodas, no momento, é uma necessidade então é melhor eu me acostumar com a ideia e aproveitar para sair e fazer o que posso, já que fazer o que quero não é possível. Além do mais precisar de uma cadeira de rodas não é nenhuma tragédia, é apenas um incômodo. Pensando bem, tenho é que me dar por satisfeita por poder ter uma cadeira a minha disposição.
     Sinceramente,  prefiro olhar as dificuldades com olhos de Poliana mesmo... é menos complicado. Ficar lamentando, além de não resolver o problema, vai me deixar mais infeliz e eu detesto sofrer além do absolutamente necessário.   

Serviço Médico - quimioterapia - autorização

     Meu plano de saúde é excelente, não tenho do que reclamar, mas os médicos que atendem no Serviço médico do tribunal não se entendem e estão sempre dificultando a liberação dos tratamentos oncológicos. Agora ficou decidido que todas as vezes em que houver mudança no protocolo do tratamento será necessário passar este novo protocolo pela Junta Médica.
     Acho a medida normal e até mesmo sensata, mas no meu caso, que já faço o mesmo protocolo há pelo menos três anos... não faz nenhum sentido um médico se recusar a autorizar a liberação do tratamento para que o mesmo seja submetido à Junta Médica. Onde está a lógica disto depois de três anos do uso do mesmo remédio?
     Mês passado uma das médicas que atende na Junta falou sobre o assunto comigo e deixou claro que se houver alguma mudança no meu protocolo daqui para frente eu terei que passar pela Junta, mas o tratamento antigo é autorizado na hora. É o lógico. Além do mais, em outubro deste ano, entreguei no Serviço Médico, a pedido da chefia, um relatório atualizado sobre o meu tratamento. O relatório deixa muito claro que faço uso do Tykerb e do Zometa há no mínimo três anos. Qual é o problema para autorizar o serviço agora? Só pode ser falta de critério e organização do Serviço Médico, não tenho outra explicação.
     Quarta-feira minha irmã foi ao Serviço Médico do tribunal e a médica do plantão se recusou autorizar meus remédios. Falei com a diretora e ontem, depois que eu já havia passado horas na Clínica Villas Boas para fazer uma ressonância magnética, fui para o tribunal e foi outra novela para liberar meu pedido, mesmo a diretora tendo autorizado. Eles queriam que eu deixasse o pedido lá para ser autorizado hoje pela mesma médica que autorizou no mês passado e que faz parte da Junta Médica. Será que alguém consegue me explicar a lógica disto? Os médicos que atendem no tribunal não receberam a mesma orientação que os médicos que atendem na Junta? Mas, como diz aquele velho ditado: Se pode atrapalhar... para quê facilitar?  

Diagnóstico da fratura = pseudoartrose - Qual será o diagnóstico da ressonância de crânio?

     O dr. José França, ortopedista especializado em pés, que está acompanhando minha refratura, acabou de me atender e confirmou que o problema no quinto metatarso do meu pé direito é realmente uma pseudoartrose, isto é, a fratura no meu pé nunca consolidou de verdade, só fez de conta... Ele explicou que em casos como o meu a indicação é cirúrgica, com enxerto ósseo e colocação de pinos.
     Como faço tratamento oncológico para metástase óssea com o uso do zometa, o melhor é não precisar fazer nenhuma intervenção no osso. Ele optou por manter o robofoot por mais algum tempo e acompanhar a evolução da fratura que não está doendo mais. Vou fazer outra radiografia no dia 9 de janeiro para que ele possa avaliar e dizer como será daqui para frente. Quem sabe acontece alguma intervenção divina e o osso resolva colar direito desta vez... A esperança é a última que morre.
     Amanhã vou fazer uma ressonância magnética para ver o que pode estar provocando as dores de cabeça sinistras que venho sentindo. Nunca tive dor de cabeça e confesso que não estou achando nenhuma graça nesta experiência. A dor começa no olho direito e é tão forte que tenho a impressão que o olho vai saltar da órbita, depois ela desce pela narina direita e sobe até o topo da cabeça e pulsa o tempo todo. É horrível! Há ocasiões em que deito para dormir sem dor e acordo no meio da noite com a cabeça doendo tanto que tenho a impressão de que alguma coisa vai explodir do lado direito do meu cérebro. Só me faltava uma coisa destas... espero que o câncer não tenha chegado lá... o doença maldita, ao invés de acabar de vez fica dando cria... 
     Vamos torcer para que seja apenas uma enxaqueca, mas não custa nada pensar no pior pois, como diz o velho ditado: é melhor prevenir do que remediar. A dra. Juliana achou melhor investigar direito estas dores de cabeça e começar pelo pior prognóstico para não perder tempo. Os médicos já erraram muito comigo e ela não quer correr mais riscos. Agora é esperar e torcer por um diagnóstico favorável para mim. Ainda quero ficar por aqui mais algum tempo, mas quero ficar com qualidade de vida.

A solidariedade dos pets quando estamos doentes

     Meu repouso forçado é acompanhado bem de perto pela Haseena, a poodle que temos em casa. Ela fica deitadinha em sua cama vigiando cada movimento meu e todas as vezes que sento na cadeira de rodas ela me segue, colada na cadeira. Fico até preocupada que a roda acabe machucando a bichinha e tento espantá-la, mas não adianta ela me segue mesmo assim. Ela me olha com aqueles olhos negros cheios de compaixão, como se entendesse muito bem o que está acontecendo comigo.


     É impressionante observar a reação dos animais de estimação quando alguém da família tem qualquer problema de saúde. Eles ficam atentos, e não deixam a pessoa sozinha um minuto sequer, e em alguns casos parece até que absorvem tanto o problema dos donos que acabam contraindo a mesma doença. Tive uma gatinha que morreu com os mesmos sintomas que eu vinha sentindo quando iniciei o tratamento para combater o câncer. O cachorrinho de estimação do meu afilhado, que teve um tipo raro de câncer, também acabou morrendo vitimado por um câncer no cérebro. Já ouvi muitas histórias semelhantes a estas, e isto não me parece somente uma triste coincidência...
     Será que nossos animais de estimação captam nossos problemas de saúde?
     

Aniversário da Suzi, uma futura chef de cozinha

          Minha irmã e também minha cuidadora completou 51 anos no dia 7 de dezembro. Mais de meio século de vida, muitos deles dedicado a cuidar de pessoas de quem ela gosta. Foi ela quem cuidou de minha filha desde que ela tinha apenas alguns dias de vida. Ela também cuidou de muitas outras crianças que tiveram a sorte de tê-la como cuidadora. A Suzi foi sempre muito maternal, e seu sonho era ser mãe de gêmeos, porém  a vida pregou-lhe uma peça, e ela nunca conseguiu ter seus próprios filhos.
          Ela pode não ter tido filhos biológicos, mas não tenho a menor dúvida de que minha irmã realizou seu desejo pela maternidade sendo a outra mãe da minha filha. A Bárbara é uma jovem de sorte, ela tem duas mães, e isto não é para todo mundo.
          Depois que fui diagnosticada com câncer a Suzi sempre esteve ao meu lado, nos bons e nos maus momentos. É ela quem sempre me carrega para baixo e para cima, atrás de médicos e de tratamento, seja em Brasília ou em São Paulo. A Suzi também sempre foi muito talentosa na cozinha, e faz comidas deliciosas. Todos os nossos amigos sempre se deliciaram com os quitutes feitos por ela. A Suzi é uma verdadeira alquimista dos temperos e dos sabores.
          Já faz algum tempo que venho insistindo com ela para voltar a estudar até que finalmente ela tomou a decisão de fazer vestibular para gastronomia. Fazer comidas e revelar sabores tem tudo a ver com a Suzi. Ano que vem ela já vai se formar, mas desde setembro deste ano ela e mais dois colegas da faculdade começaram a fazer comidas congeladas para vender e as vendas tem sido um sucesso. Quando a formatura chegar os Congelados Gourmet 2R&S já serão conhecidos e reconhecidos como uma comida de qualidade e a preço justo.
          A Suzi pode até não ter realizado o sonho da maternidade biológica, mas o sonho da chef de cozinha está começando a se tornar realidade. Ela merece todo o sucesso do mundo.   

Pseudoartrose - Você sabe o que é?

          Hoje fui atendida por um ortopedista especializado nos problemas dos pés, afinal não acho nenhuma graça no fato de ficar quebrando meu pé antes mesmo da completar um ano da última fratura. 
          Assim que o dr. José França comparou a radiografia que fiz no ano passado, quando meu pé sofreu uma fratura espontânea  ou de stress, sei lá, com a que tirei na última sexta-feira quando meu pé tornou a quebrar no mesmo lugar, ele disse que parecia ser uma pseudoartrose, isto é: a fratura do ano passado não consolidou completamente e bastou um pequeno trauma para que o osso partisse novamente.
          O médico também me perguntou se eu vinha fazendo acompanhamento com um ortopedista desde que meu pé quebrou no ano passado, porque meu caso requer um cuidado mais de perto. É claro que não fiz nenhum acompanhamento e não foi porque eu simplesmente não quisesse, mas porque os três ortopedistas que me atenderam no ano passado disseram textualmente que não era necessário.
          Fico muito aborrecida quando uma coisa assim acontece. Não consigo entender o porquê da falta de cuidados que alguns médicos dispensam aos seus pacientes. Custava um dos médicos que me atenderam no ano passado ter pelo menos sugerido que eu acompanhasse a evolução da consolidação da fratura. Eu não sei se esta falta de cuidado é apenas um descaso ou falta de conhecimento mesmo, mas posso garantir que isto me deixa muito irada. Médico, qualquer que seja sua especialidade, precisa ser cauteloso, precisa conhecer melhor os procedimentos que envolvem sua área de atuação. Um médico cuida de pessoas e estuda para preservar vidas.
          O dr. França me pareceu criterioso. Ele examinou cuidadosamente e comparou minhas radiografias,  e também leu atentamente o laudo da última cintilografia óssea a que me submeti. No final das contas ele solicitou uma tomografia para poder avaliar melhor a situação  do meu pé para então sugerir o melhor procedimento. Dei sorte e consegui fazer a tomografia ainda hoje, agora é só aguardar mais um pouco para ver o que vai acontecer realmente; enquanto isto continuo no meu repouso forçado.

Refratura - gesso - repouso forçado

          Dezembro e janeiro são meses que não despertam em mim o desejo de viajar, mas também não vale quebrar o pé novamente e precisar ficar na cadeiras de rodas e dependendo de ajuda até para as coisas mais simples. Esse câncer ósseo está fragilizando meu pé além do necessário. Que coisa mais chata e frustrante... detesto ficar de repouso e ainda por cima dependente... haja exercício de paciência, tolerância e humildade.
          Ontem foi a festa de aniversário da Maura, uma de minhas amigas mais queridas, e nem pude participar. Fiquei plantada no Pronto Socorro do Hospital Brasília esperando atendimento por mais de uma hora. Acho um desrespeito com os pacientes que procuram ajuda por um motivo ou outro. Não havia ninguém na fila, mas como era troca de plantão também não havia nenhum técnico de enfermagem para fazer a triagem e eu fiquei lá plantada, com o pé inchado e doendo prá caramba, esperando por mais de meia hora a chegada do profissional e depois ainda fiquei esperando um bocado de tempo para que o médico me chamasse para atendimento e eu era a única paciente aguardando atendimento com um ortopedista.
          O Pronto Socorro do Hospital Brasília é todo arrumadinho, mas o atendimento fica a desejar... uma lástima. O hospital separa os pacientes por cores, de acordo com a urgência do caso. Minha cor era laranja, que demanda uma certa urgência por causa do edema e da dor, mas mesmo assim fiquei esperando muito mais tempo do que o razoável, e olha que o Pronto Socorro estava quase vazio. Imagina se estivesse cheio?
          O RX revelou o que eu já esperava: meu pé tornou a quebrar no mesmo lugar que fraturou em dezembro do ano passado. Será uma praga do mês de dezembro? Sempre acreditei que o calo ósseo tornasse o osso mais resistente naquele ponto. Ledo engano. Refratura... nunca tinha ouvido a expressão, mas senti no próprio osso a dor... agora sei bem o que significa.
          Eu já vinha sentindo dor no pé há algumas semanas. Cada médico falava uma coisa diferente, só a dra. Juliana sugeriu que eu procurasse um ortopedista para conferir a fratura anterior. Eu tinha decidido procurar o ortopedista depois da festa da Maura, mas o pé resolveu quebrar poucas horas antes da festa. Eu já estava com os cabelos arrumados e toda animada, mas ao invés de ir para a  festa fui para o hospital. Troca mais bizarra. Ir para a festa teria sido tão mais interessante...

Acupuntura e o alívio da dor


           Desde que comecei o tratamento para o câncer metastático observo com mais atenção tudo o que diz respeito a hospitais e procedimentos médicos. Nos últimos tempos a população de um modo geral tem ficado cada vez mais perplexa e assustada com os erros médicos divulgados pela mídia.
Na manchete de capa da revista Época que saiu na última segunda-feira, dia 26 de novembro, está escrito em letras garrafais: “O que os hospitais não contam para você”.  O artigo fala do livro escrito pelo médico americano Martin Makary,  e escancara erros médicos grosseiros, o problema das infecções, de amputações desnecessárias e outras mazelas dos hospitais e propõe a transparência como forma de revolucionar a assistência à saúde.
            Imagino a repercussão do livro tanto para os profissionais da área de saúde como também para o leigo que necessita atendimento médico e hospitalar. Eu, como paciente oncológica de longa data, sinto até arrepios quando leio um artigo como este. Se já não gostava de hospitais agora é que vou ficar com um pé atrás mesmo.  Infelizmente estamos a mercê de muitos médicos inescrupulosos, vaidosos e mercenários e isto é muito perigoso. Quando encontramos um médico realmente sério e comprometido com a profissão é uma verdadeira benção.
            Tenho tido muita sorte neste quesito, pois ao longo desta minha jornada em busca do tratamento para o câncer de mama que fez várias metástases em meu corpo tive a sorte de encontrar profissionais competentes, que fazem da medicina seu sacerdócio. A Dra. Juliana por exemplo, que atende na clínica onde faço quimioterapia,  é uma destas profissionais. A Dra Luci e a Dra Fabiana também. Elas se preocupam com o paciente e se esforçam para que eles tenham qualidade de vida. Seus pacientes não são apenas um número para a clínica.
Ontem tive que fazer o zometa para tratar o câncer ósseo  e aproveitei para dizer à Dra. Juliana que ao prestar mais atenção nas dores que tenho sentido na região do tórax pude observar que elas parecem ser também musculares além da dor óssea. Ela, que além de clínica geral  também é acumputurista, me examinou na mesma hora e perguntou se eu deixaria que ela me agulhasse. Ohh bênção, assim que ela agulhou o ponto onde estava localizado o gatilho para a dor muscular eu senti um alívio imediato. Ela ficou tão feliz quando conseguiu localizar o ponto exato para minimizar minhas dores que até parecia que a dor era nela e não em mim. Tenho motivos de sobra para ser fã incondicional da Dra. Juliana. Ela é uma médica competente, atenciosa, uma profissional como poucas.

Apagão e barulho em condomínio


      Morar em casa é muito bom, mas como tudo na vida tem também seus inconvenientes. O condomínio onde moro é ótimo e muito tranquilo, mas dei o azar de ter dois vizinhos inadequados: um deles é a academia que funciona bem ao lado da minha casa e o outro um vizinho sem noção, que plantou ou mandou plantar várias palmeiras imperiais embaixo da rede elétrica.
Os problemas com a academia são os frequentadores que falam alto demais, a música que é irritante além de ensurdecedora, e a aqueles "atletas" que ao se exercitarem para criar músculos definidos deixam cair um aparelho pesado e o som reverbera pelo chão até minha casa ribombando como um trovão. É horrível. Só ouvindo para entender minha irritação. Agora mesmo a música na academia está tão alta que fica difícil concentrar para ler ou escrever um simples texto.
O outro vizinho é o que chamo de sem noção. Ele ou o paisagista contratado por ele não se deu ao trabalho de olhar para cima para observar onde iriam parar as pequenas e lindas mudas de palmeiras que plantou beirando o muro da sua casa, que por sua vez fica embaixo dos fios da rede elétrica.
Ora gente qualquer um sabe que palmeira não aceita poda como uma árvore. Certo? Segundo: é claro que aquele tronquinho miúdo e delicado que foi plantado pode até demorar mas vai crescer vários metros acima do solo e vai ultrapassar a altura dos fios da rede elétrica. É claro também que a palmeira adulta vai provocar cortes na energia todas as vezes que uma de suas folhas despencar lá de cima, pesando sei lá quantos quilos. O fio elétrico nem é tão frágil, mas não aguenta o peso da folha que cai e arrebenta deixando todo um condomínio sem energia. Será que meu vizinho já ouviu falar em gravidade?  Só uma criatura sem noção e sem respeito pelo direito do outro mantém as palmeiras no mesmíssimo lugar e ainda não se dá ao trabalho de pelo menos mandar retirar as folhas velhas que estão para cair, antes que as mesmas provoquem um apagão. Nunca vi o tal vizinho, mas ele consegue me deixar irada cada vez que minha casa fica horas sem energia por culpa dele e de suas palmeira imperiais.
  Ontem, mais uma vez, fiquei sem energia em casa desde às 15:30h e ela só foi restabelecida após às 20 horas. Isto é um absurdo! O vizinho não está nem aí, pois não é a primeira vez que isto acontece.  O que me causa espanto é o condomínio não tomar nenhuma providência enérgica para resolver o problema que atinge toda a comunidade.  Por muito menos o mesmo condomínio costuma notificar os condôminos...

O rastro do sândalo

      Sábado encontrei uma amiga que havia acabado de fazer sua mudança e ainda estava com alguns livros espalhados pelo chão. Ela pegou um deles e me disse ter certeza de que eu gostaria da leitura. Peguei o livro e fui para casa e a noite, antes de deitar, resolvi começar a ler e não consegui parar enquanto não cheguei ao final da história.
        O livro conta a história de três crianças, duas indianas (Muna e Sita) e uma etíope (o garoto Solomon),  seus infortúnios e suas lutas, e nos mostra o destino de cada uma delas 30 anos depois. O livro fala também da exploração infantil, consequência da miséria e da falta de perspectiva.  Por fim, o livro nos leva a pensar nas voltas que o destino dá.
         Muna e Sita foram separadas ainda crianças quando viviam em Shaha, na Índia. Sita era muito criança e não tem nenhuma lembrança daquele período de sua vida. Seu maior desejo é encontrar pais que possam criá-la com amor. Muna nunca aceitou a separação que lhe fora imposta e ainda foi forçada a trabalhar como escrava durante muitos anos. Ela não conseguiu esquecer Sita, sua irmã caçula, criada por ela desde que a mãe falecera. Solomon que nasceu na Etiópia, já era órfão de mãe quando perdeu o pai na guerra e foi estudar em Cuba por causa de um acordo de ajuda entre os dois países. O livro também traz um questionamento, polêmico por sinal, das adoções por estrangeiros de crianças de países pobres.
     Fiquei pensando sobre as voltas do destino na vida de cada um dos personagens e na minha própria vida. Quantas coisas que me pareceram horríveis num primeiro momento e que acabaram se revelando benéficas ao longo dos anos... quantos altos e baixos me transformaram  na pessoa que sou hoje... O milho duro precisa passar pelo fogo para se transformar na pipoca macia e gostosa. Pensem nisto.
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Dor no câncer metastático ósseo

       Há alguns anos, quando comecei a sentir dores no tórax, depois de um longo tempo de remissão do câncer de mama, foi constatado que eu estava com metástase nos ossos (esterno, arcos costais e  uma vértebra), no pulmão e no baço. Foi uma triste surpresa, mas precisei encarar a nova realidade e iniciar o tratamento. 
        Assim que iniciei o tratamento as dores que eu vinha sentindo no tórax cederam e eu até consegui esquecer o assunto. Agora, após quase 7 anos do início do tratamento, as dores voltaram a incomodar. Dói bastante o tórax, principalmente no esterno. O braço direito e as pernas e pés também doem, mas o que mais incomoda é o tórax e qualquer movimento que faço a dor piora.
          Fiz uma cintilografia óssea que comprovou o avanço da doença nos ossos. O esterno está bem comprometido e este é o motivo das dores atuais. As articulações também estão estragadinhas... coisas da idade também.
          Ontem conversei longamente com a dra. Luci para decidir como ficará meu tratamento daqui para frente, pois desde que fiz uma consulta com outro oncologista, para ouvir uma outra opinião, acabei ficando  mais confusa do que esclarecida. O outro oncologista sugeriu algumas mudanças no tratamento que venho fazendo e mandou que eu parasse de usar o anastrozol. 
          Como não gosto de decidir nada quando estou brava ou confusa, preferi fazer a viagem para Bonito como já estava programada e só depois que voltei da viagem fui conversar com alguns médicos da minha confiança para não precipitar com nenhuma atitude ou decisão insensata que pudesse piorar ainda mais as coisas.
          Minha conversa com a dra. Luci foi ótima. Eu já estava convencida de que usar o zometa para meu caso era melhor do que o denosumabe  sugerido pelo outro oncologista,  e ela confirmou isto. Ela também mandou eu voltar a usar o anastrozol porque ele ajuda a potencializar os efeitos benéficos do zometa. Ela agora vai decidir se eu devo voltar a usar o herceptin sozinho ou associado ao tykerb e ao xeloda. Vamos ver, mas sinceramente eu gostaria de não precisar voltar a usar o xeloda.
          Quanto as dores, já é esperado que isto venha a ocorrer no caso de lesões ósseas que, no meu caso, são blásticas, isto é, o osso parece crescer.  Enquanto puder controlar a dor com medicamento ótimo, mas em último caso, quando os remédios não derem mais a resposta esperada, o jeito será partir para a radioterapia.

Hoje completam 17 anos

          Meu primeiro pensamento assim que acordei  foi para o pai da minha filha. Foi quase inevitável, pois hoje está completando 17 anos do seu falecimento. Quanto tempo se passou... e ele se foi sem conhecer sua melhor obra, sua filha. Que pena! 
          Meu pensamento voou para um tempo distante que não volta mais,  saudades...
         Sorri sozinha rememorando lembranças gostosas, coisas engraçadas de nós dois. Lembrei da primeira vez que acordamos juntos e da cara de surpresa dele quando olhou para mim e viu meu cabelo todo arrumadinho. Ele exclamou: "Nossa, você não acorda descabelada!" Mal sabia ele que eu tinha levantado mais cedo e  penteado meus cabelos antes de voltar para a cama. Ele nunca desconfiou deste meu segredinho...
         Ele foi importante para minha vida, mas se com ele vivi o céu também vivi o inferno. Foi muito difícil aceitar o abandono dele num momento tão especial e difícil para mim. Eu estava grávida e ele não hesitou em virar as costas e ir embora sem olhar para trás. Coitado, perdeu a melhor parte da nossa história.
         Quando as lembranças dele ocupam meus pensamentos procuro pensar que foi ele quem  me deu o que tenho de mais importante na vida: minha filha. É por isto que prefiro guardar apenas as lembranças dos bons momentos que tivemos, mas é só.
         

Sonhei que eu era uma águia

Sonhei que eu era uma águia
Que voava bem alto
Quase tocando as nuves no céu.
De asas abertas
Sem muito esforço
Eu planava numa poderosa corrente de ar.
Virei de cabeça para baixo
E me deixei levar prá bem  longe,
Me sentia em perfeita sintonia com o universo que me cercava.
Tornei a virar e com a velocidade de uma flexa,
Voei em direção a grande montanha
Pousando suavemente no enorme ninho
No alto do topo,
Lá onde o ar é mais puro
E somente o ruído do vento consegue chegar.

flamboyants em flor

   

                    Andar por Brasília na época da floração dos ipês e dos flamboyants é uma verdadeira orgia de beleza, para onde se olha é possível encontrar uma árvore em flor. Falei apenas dos ipês e dos flamboyants porque são as minhas prediletas, mas por aqui também encontramos as belíssimas sapucaias, o pau-brasil e muitas outras. Olha só este flamboyan da foto, ele não é lindo!


          A floração dos ipês já acabou. Tentei  guardar algumas imagens para deixar o registo, mas elas se perderam porque meu computador resolveu travar e morrer. Vou ver se outro técnico consegue salvar alguma coisa. O problema do computador pifar é levar com ele algumas imagens e textos importantes.  Eu costumo fazer cópia de tudo, mas ele pifou antes que eu conseguisse salvar meus últimos arquivos. Paciência.

            Agora é a vez da floração dos flamboyants. Tenho meu flamboyant de estimação, ele fica próximo da clínica onde faço quimioterapia, e todas as vezes que passo por ele  trocamos uma energia muito boa. Este ano ele floresceu muito, está belíssimo. Acho que nos anos que ele floresce muito ele gasta tanta energia que no ano seguinte ele não consegue explodir em flor, fica mais minguado, mas nem por isto deixa de ser o meu flamboyant especial. Com flor ou não eu adoro aquela árvore. Olha só a foto dele. Confiram a exuberância da minha árvore de estimação. Ele reina sozinho no meio do nada.


          Brasília parece um imenso jardim, e o ano inteiro os canteiros espalhados pela cidade mostram diferentes espécies de flores. É incrível observar que mesmo a terra estando rachada pelo calor e pela seca, ela não nega a beleza das flores de suas árvores, de seus pequenos arbusto. O cerrado é rico em diversidade.
          

Colhendo acerolas no pé

          Passo muito tempo em casa e minha mãe também. Quando ela vem falar comigo é  uma surpresa gostosa, pois ela está sempre inventando alguma novidade. Às vezes ela começa a falar de um passado distante e seus olhos parecem perdidos em lembranças que são apenas dela. Eu a deixo falar e de vez em quando pergunto alguma coisa na tentativa de participar um pouco do seu mundo interior. Outras vezes ela vem dar alguma notícia bombástica do que acabou de ouvir na TV e quer compartilhar. Ela dá notícia de tudo: assiste o jornal, fica atenta as fofocas contadas nestes programas transmitidos durante a tarde na televisão e se diverte conversando sobre o assunto.

minha mãe e sua galinha de estimação

          Hoje a tarde eu estava deitada tirando um cochilo quando ela chegou carregando um pedaço de cano  de PVC com uma sacola de plástico amarrada numa das pontas. Ela entrou  rindo na sala, se divertindo com o que iria me contar. Levantei do sofá rindo também, só esperando ouvir a novidade do dia. Ela me olhou com a melhor cara do mundo e disse: "olha só o que inventei para pegar acerola no pé!" Dei uma gostosa gargalhada e disse-lhe que tinha achado muito criativa sua mais recente invenção, pois sei o quanto ela adora colher frutas no pé, mas também sei o quanto ela detesta pegar acerola e ficar com o corpo pinicando. Alguém já tentou colher acerola no pé? É infernal, pois os braços ficam coçando a beça.


          Há algum tempo ela  já tinha arranjado um cano para pegar as frutas, mas agora ela aperfeiçoou a invenção. Ela arrumou um cano um pouco mais largo e amarrou a sacola plástica, assim a fruta já cai direto dentro da sacola que depois de cheia só precisa ser desamarrada. Ela não precisa mais ficar colhendo os frutinhos no chão. Minha veinha é muito criativa. 
          Falei: "preciso tirar uma foto sua e de sua invenção" e ela como sempre retrucou: "prá quê?" mas eu sei muito bem o quanto ela gosta que eu a fotografe aprontando das suas. Ela adora saber que coloquei sua foto no facebook e que as pessoas conhecidas fizeram algum comentário. É seu tantinho de vaidade... 
          Minha mãe também é muito talentosa e caprichosa com tudo o que se propõe fazer. Ela está com 85 anos e até hoje costura fazendo lindas colchas de patch work. As sobrinhas de tecido ela vai juntando numa caixa para depois costurar e fazer colchas de retalhos coloridos. Eu só durmo usando uma colcha de retalhos feita por ela. Acho que a maioria das pessoas que ela gosta já ganhou uma de presente.
          Acho minha mãe uma figura! Ela é nota 10.

Pantanal Sul - Fazenda São Francisco

          Já que estávamos em Bonito resolvemos dar uma esticada até o Pantanal. Eu nunca tinha ido ao Pantanal e confesso que estava curiosa, afinal o Pantanal do Brasil é considerado Reserva da Biosfera pela UNESCO, e eu queria ver de perto a flora e a fauna local, que por todas as reportagens que já assisti parece ser simplesmente fantástica e de uma exuberância ímpar.



          A Fazenda São Francisco fica próxima de Bonito, o acesso é fácil e a rodovia bem conservada torna a viagem tranquila. Nosso motorista foi nos pegar às 6:00 horas porque tínhamos que estar na fazenda às 8:00 horas para pegarmos o transporte para o safari. No caminho até a fazenda assistimos o nascer de um sol fabuloso. Aquela bola dourada foi clareando o céu e deixando uma visão fantástica e inesquecível.


        Como não conseguimos fazer a reserva antecipada do passeio decidimos tomar o café da manhã na fazenda, ao invés de pararmos em Miranda para um lanche. Para nosso azar, a falta de comunicação com a fazenda no dia anterior foi ocasionada por um trabalho de dedetização que eles fizeram na área e por este motivo não foi possível preparar o café da manhã que eles servem para os turistas que desejam experimentar um legítimo café pantaneiro. Buáaa.
          Estávamos famintas e d. Terezinha ficou brava e disse que não arredava o pé da varanda da fazenda se não pudesse comer alguma coisa. Achei bom porque eu estava com a mesma disposição, mas como ela já está com mais de 80 anos a queixa dela é levada mais a sério do que a minha...
          A Maura olhou para um lado e para o outro e percebeu que um outro grupo tinha levado uma matula e não estavam comendo nada (certamente eles haviam parado em Miranda para tomar o café da manhã). Ela não se fez de rogada e com a maior cara de pau foi até eles e pediu uma banana para a d. Terezinha comerr. Eles foram gentis e cederam duas frutas, a d. Terezinha comeu uma e a  Rosângela partiu a outra banana em sete pedaços para que cada um pudesse comer um pouquinho. Quando uma das moças do outro grupo viu a cena ficou decerto penalizada e resolveu dar o restante das frutas para nosso grupo que recebeu o regalo com alegria, pois todos estavam realmente famintos
          Um dos empregados da fazenda percebendo nossa movimentação foi até o pomar e pegou um cacho de bananas e algumas laranjas, foi uma festa. Comemos as frutas até nos fartarmos e saímos em seguida para o passeio  num carro alto e aberto para fazermos o safári fotográfico e a trilha na mata ciliar do Rio Miranda.

borboletas no leito seco do rio

          Um guia com olhos muito bem treinados fica sentado acima da cabine do caminhão para observar onde estão os bichos, que na maioria das vezes ficam escondidos no meio do mato durante o dia, e assim que ele observa algum faz um sinal para o motorista parar o carro e fala um pouco sobre o animal avistado, seus hábitos e sua importância para o ecosistema local. Os turistas aproveitam para fotografar enquanto se encantam com um pássaro, uma capivara, um bando de garças, um tuiuiu magestoso ou um assustador jacaré. Vimos até um veadinho pantaneiro no meio de um extenso arrozal.


          Num determinado ponto da estrada descemos do caminhão para fazer a trilha sobre o Rio Miranda. Antes de iniciarmos a trilha sobre uma passarela de madeira, o guia nos mostrou um arbusto e contou que durante a floração aquele arbusto dá uma flor belíssima, que o turista desavisado e predador por natureza, costuma cortar e acaba com a mão cheia de formigas de fogo. O problema é que este tipo de formiga, que tem uma picada extremamente dolorosa, que dói por 24 horas e dá até  febre, vive dentro do caule deste arbusto. Fiquei tão impressionada com o assunto das formigas de fogo que achei mais prudente embrulhar todo o meu braço direito com uma echarpe longa, que estava úmida e fresquinha, para evitar qualquer acidente com meu braço durante a caminhada (meu braço direito não possui glânglios linfáticos e qualquer picada pode ser um grande problema). A trilha estava repleta e pernilongos, mosquitos, mutucas e todo tipo de inseto irritante. Ainda bem que eu tinha passado bastante repelente, mas a Rô, que estava um pouco adiante de mim, parecia que ia ser carregada pela nuvem de mosquitos que foram atraídos pela roupa escura que ela estava usando. Fiquei impressionada. Nunca vi tantos insetos juntos.


          Terminada a trilha voltamos para o caminhão e iniciamos o retorno para a fazenda onde iríamos almoçar. Depois do almoço fui descansar numa rede, mas o calor infernal não deu trégua mesmo com os ventiladores ligados o tempo todo. No período da tarde voltamos para o caminhão para irmos até o pier onde iríamos embarcar nas chalanas para um passeio pelo Rio Miranda e uma pescaria. Fomos pescar piranha, mas o que consegui mesmo  foi apenas alimentar as danadas, pois elas comiam minha isca e fugiam numa boa. Cheguei a conclusão de que sou péssima pescadora, pois não fisguei nenhuma piranha e nem mesmo um dos muitos aguapés que cobriam o rio.


          Alguns turistas e pescadores mais talentosos do que eu conseguiram pescar até mais de uma piranha (peixe feio e com cara de mau) que iam colocando dentro de um balde. Depois da pescaria saímos para o outro lado do rio onde o guia chamava um jacaré (treinado é claro) e o bicho vinha até perto da chalana para pegar a piranha que ele amarrara na ponta da linha de pescar. O jacaré, que não tinha uma das patas, era chamado de Lula e parecia gostar de comer sem fazer muito esforço para pegar a presa... jacaré folgado...



          O guia também chamava uma garça e jogava a piranha no rio para ela pescar. Era bonito ver o mergulho da garça no rio. Ele fez o mesmo com algumas águias. Fiquei encantada com a rapidez das aves pescando as piranhas, mal elas tocavam as águas do rio.


          O calor dentro da chalana (mais de 40 graus na sombra), no meio do rio era enlouquecedor. Eu me sentia derreter de tanto que suava. Dava para sentir o fio de suor escorregando devagar pelo meu corpo molhado. Era horrível. Minha impressão era que eu estava na boca do inferno... "nem está  tão quente assim. Calor mesmo faz nos meses de dezembro e janeiro" disse-me o guia. Deus me livre! Se eu já estava derretendo no mês de outubro não quero nem pensar em passar perto de um lugar assim no final do ano. Detesto calor.


          Voltamos para o pier no final da tarde e antes de desembarcar resolvi tirar uma foto segurando uma piranha. Já que eu não tinha conseguido pescar uma, ao menos segurar uma delas eu queria... empalhada é claro! Não vou arriscar minha mão preciosa com aqueles dentes afiados...


          De volta a fazenda fomos recepcionados por um bando de araras pousadas na cerca. Tinha outros pássaros como papagaios, martim pescador e alguns que não sei o nome. Havia também algumas emas que vivem soltas no quintal da fazenda para comer bichinhos rastejantes que turistas não gostam de ver...


          Na fazenda São Francisco o turista tem a oportunidade de ver como funciona uma fazenda no Pantanal. Lá eles também desenvolvem alguns projetos de pesquisa e preservação de araras, papagaios, jaguatirica, pumas, onças-pintadas e outros animais silvestres. São mais de 340 espécies catalogadas por biólogos e ornitólogos. O Pantanal abriga uma das maiores populações de onça-pintada, pardas e jaguatiricas.
          Quem gosta deste tipo de aventura pode dormir na fazenda para fazer um expedição noturna para observar animais de hábitos noturnos.

www.fazendasanfrancisco.tur.br
www.bonitoway.com.br
e-mail: bonitoway@bonitoway.com.br
fones: 55 (67) 3255-1046  e  3255-1465  ou  8417-5084

Balneário Municipal e Ilha do Padre

          Passamos a manhã no Balneário Municipal, que delícia de lugar. O balneário fica bem próximo do centro de Bonito (uns 6 ou 7 km aproximadamente), o que facilita o acesso, e o lugar é muito agradável. A entrada custa apenas R$ 15,00 e não é preciso estar acompanhado de guia. O Rio Formoso, que dá charme ao lugar, tem águas cristalinas e prá onde se olha é possível ver uma incrível abundância de peixes, principalmente  piraputangas. Existem outros, mas em menor quantidade.



          O balneário tem um grande estacionamento, além de quadras de vôlei e futebol de areia, lanchonetes, restaurantes e algumas churrasqueiras. Dentro do parque o rio Formoso, que nasce na Serra da Bodoquena e deságua no Rio Miranda,  forma piscinas naturais bem rasas, permitindo que até crianças aproveitem suas águas geladas. Em alguns pontos as enormes pedras fazem uma espécie de bancos dentro d'água.



          Embora o sol estivesse quente, as águas do rio estavam geladas, mas tão geladas que era difícil encarar um mergulho. Fui entrando devagar, para acostumar o corpo com o frio, pois minha garganta estava incomodando desde que eu havia chegado na cidade, e eu não quis arriscar piorar a situação. Depois que mergulhei todo o corpo na água ficou até gostoso estar ali batendo um papo, jogando conversa fora e deixando o tempo passar sem pressa. Maurinha, eu e d. Terezinha ficamos um bom tempo na água até  a fome reclamar e nos obrigar sair para comer alguma coisa para aguardar a hora do almoço que estava marcada para as 13 horas.


          Enquanto a Maura e d. Terezinha aguardavam nas cadeiras alugadas ali mesmo, fui até uma das lanchonetes comprar pastel. Pedi 3, mas eram tão grandes que todo o grupo acabou comendo um pedaço para tapear a fome, pois ainda estava bem longe da hora do almoço.


          A Conceição e o marido se juntaram a nós na hora do almoço e em seguida fomos em direção a Fazenda Estância Araçá para iniciar a aventura de rafting nos 6 km de rio que terminam na Ilha do Padre. O percurso, de aproximadamente uma hora e meia, passa por duas corredeiras e três cachoeiras (a Cachoeira Postal, a do Segredo e a do Caldeirão).


          Assim que chegamos o pessoal que ia fazer o rafting trocou a roupa e saiu para o passeio, e eu fui com o motorista para a Ilha do Padre aguardar a chegada do bote. Fiquei lá com os motoristas que aguardavam seus grupos, e um deles foi me mostrar os segredos da ilha: uma sucuri jovem que mora na mata a beira do rio e a mãe dela que se esconde do outro lado da margem, os pássaros que vivem soltos na mata, como a arara Lucio, e as piscinas naturais nos recantos sombreados da ilha.




          Achei a Ilha do Padre com aspecto de abandono e questionei o motivo. O guia me disse que a ilha esteve realmente abandonada por muito tempo por causa de uma questão judicial, mas que recentemente a questão foi solucionada e agora a ilha já tem novos donos que estão providenciando o alvará para abrir o espaço para o público em geral. Como continua proibida qualquer construção na ilha, os novos donos estão consertando o que já existia e vários carpinteiros estavam ocupados reparando as passarelas de madeira que ligam um espaço a outro da ilha. Tomara que o alvará saia logo, pois a ilha é linda e é um excelente lugar para se passar o dia. Ela é cheia de pequenas cachoeiras que dão o maior charme ao lugar, e o rio, de águas cristalinas, também é cheio de peixes.



          Meus amigos demoraram mais do que o tempo previsto para chegar na Ilha do Padre, mas chegaram felizes e animados com a aventura. Dona Terezinha, com mais de 80 anos, disse que o passeio tinha sido demais! Maura, que vai completar 70 anos no final deste mês, também adorou a aventura. Minhas amigas são animadíssimas, e as melhores companheiras de viagem que alguém pode desejar. Adoro gente com entusiasmo pela vida.




Bolo de Cenoura

          Viajei para Bonito com minhas amigas e antes da minha volta para casa quem viajou foi minha filha, então ficamos quase duas semanas sem nos vermos e a saudade cresceu... Como é bom estar perto de quem se ama.
          A chegada dela estava prevista para a manhã de domingo, mas com aquela história da passagem do Sandy nos Estados Unidos todos os vôos para o Brasil acabaram sendo afetados, de alguma forma. Em resumo o avião em que ela voltava só pousou em Brasília depois das 15 horas do domingo. Ela e o Henrique saíram do desembarque com cara de quem só pensava em cair na cama e dormir horas a fio... Eles estavam exaustos, pois tinham ficado muitas horas aguardando o embarque no aeroporto de Miami.
           Ainda bem que tive a idéia de acordar cedinho e preparar o bolo de cenoura que a Bárbara adora, para recepcioná-la. Ela ficou tão feliz quando viu a travessa de bolo em cima da mesa.  Foi meu jeito de dizer: seja bem vinda de volta a casa. Amo você.
         O bolo de cenoura é bem fácil de fazer e até decorei a receita. Se alguém se animar pode experimentar porque eu garanto que dá certinho e fica uma delícia.

Bolo de Cenoura

3 ovos
1 xícara de óleo de arroz
3 ou 4 cenouras picadas
3 xícaras (chá) de farinha de trigo (branca ou integral)
3 xícaras (chá) rasas de açúcar
3 colheres (sopa) de fermento em pó

modo de fazer:
Coloque os ovos e o óleo no liquidificador e bata com as cenouras picadas até fazer uma pasta mole. Em seguida coloque esta pasta na batedeira e junte as 3 xícaras de açúcar e bata bem. Coloque as 3 xícaras de farinha de trigo e continue batendo, em seguida acrescente o fermento em pó. Coloque para assar.

obs: costumo acrescentar nozes ou castanhas picadas na massa, mas é opcional

obs1: depois de assado o bolo você pode jogar uma camada de chocolate por cima. Eu costumo derreter um pouco de chocolate meio amargo ao invés de fazer a calda com nescau.

Semana difícil

Fiz o zometa na quarta-feira e o restante da semana foi de dores por todo o corpo; meu consolo é saber que a dor mostra também que estou recebendo medicação de boa qualidade. Preciso muito desta medicação para evitar o avanço do câncer ósseo.
Meu pé está doendo bastante exatamente no local onde tive a fratura no ano passado. Será que é normal? Confesso que dor é um negócio que não consigo lidar direito. Vai me dando uma falta de paciência... quando começo a andar é uma dificuldade, saio mancando muito e depois até melhora mas não para de doer. Também não quero ficar dopada de remédio para dor, então tento desviar a atenção para alguma coisa que me interesse. Tirar o foco da dor é importante, mas há momentos que só tomando remédio mesmo... sexta-feira passei a maior parte do dia dormindo. O corpo inteiro doía, então o jeito foi tomar  remédio e ficar grogue. 
Ontem eu já comecei a melhorar dos efeitos colaterais do zometa, que bom. Faço este protocolo a cada 28 dias. Será que algum dia ainda vai aparecer um remédio eficaz e sem efeitos colaterais? Remédio é uma faca de dois gumes: conserta uma coisa e estraga outra...

Rio Sucuri - Bonito/Mato Grosso do Sul


         Saímos para o Rio Sucuri que fica a uns 40 km do centro, mas como a estrada é de terra e estava com muitos  buracos cheios de água da chuva que tinha caído, o percurso demorou mais tempo do que o necessário.

            Assim que chegamos fomos até o galpão onde ficam as roupas de mergulho e cada um recebeu a sua. A roupa de neoprene era ruim de vestir porque estava molhada, além de muito mal cheirosa. Os sapatos eram umas botas encharcadas e fiquei só imaginando quantas pessoas já teriam calçado aquilo antes de mim... (sou muito nojenta mesmo, confesso).


            Alguns minutos depois de vestir a roupa de neoprene senti meu braço incomodar e percebi que a roupa estava apertando muito o braço direito que é mais inchado por causa da retirada dos glânglios linfáticos. Perguntei  quanto tempo duraria a flutuação no rio e quando o guia informou que seria de mais ou menos uma hora e meia resolvi não participar porque seria um desastre ficar com o braço apertado durante tanto tempo. Ele tentou me convencer do contrário, mas quando eu disse que poderia dar trabalho por causa do meu problema de saúde ele também recomendou que eu não fizesse o passeio.


            Quando meus amigos estavam prontos para embarcar no caminhão que os levaria para o início do passeio  a chuva voltou a cair, mas como eles iriam entrar na água isto não fazia muita diferença. Eu e dona Terezinha, que também não fez o passeio, fomos com o grupo até o ponto de partida que era uma caminhada pela mata para observar a natureza e os animais. Como a chuva tinha dado uma estiada, fomos com o motorista até o mirante onde fica a nascente do Rio Sucuri e vimos um poço incrivelmente cristalino, de águas muito azuis. O grupo já havia se distanciado, então nós retornamos para o caminhão e voltamos para a fazenda onde ficamos batendo papo enquanto aguardávamos a volta do grupo para almoçarmos juntos.

            No final da trilha o grupo pegou o barco a remo para iniciar a flutuação. A descida demorou aproximadamente 45 minutos flutuando na correnteza e observando os cardumes de piraputangas e outros peixes, e também as plantas aquáticas. Esta parte do passeio não posso descrever  porque infelizmente não fiz, mas todos que fizeram disseram ter gostado da experiência, apesar da água fria do Rio Sucuri. A Kátia que é muito magra reclamou que sentiu muito frio durante a flutuação e que isto acabou sendo um pouco desconfortável. Os outros disseram apenas que ficaram um pouco desapontados porque não conseguiram visualizar muitos peixes como era o esperado.
            Assim que o grupo retornou fomos almoçar e depois do almoço retornamos para Bonito. Já era tarde quando chegamos na pousada, e desistimos do passeio para o Balneário Municipal. Achamos melhor deixar para a manhã do dia seguinte para podermos aproveitar melhor tudo o balneário oferece.
A noite Maura e eu saímos para dar uma volta pela cidade e paramos para comer o famoso Pastel Bonito, um pastel feito na hora e muito gostoso. Escolhemos o pantaneiro II que é recheado com carne seca, banana e requeijão, e o de mandioca, com recheio de mandioca, carne seca e mussarela, ambos deliciosos. O pastel com recheio de jacaré é muito recomendado, mas não experimentamos. São mais de 20 diferentes recheios de pastel, que saem quentinhos e crocantes. Lá eles também servem sucos naturais, café cremoso, chocolate quente e caldos. Vale a pena experimentar.

Pastel Bonito
Rua Cel. Pilad Rebua, 1975

Passeio no Rio de Peixe - Bonito/Mato Grosso do Sul



 O guia queria sair muito cedo e fui logo dizendo: estamos de férias e não precisamos madrugar. Que tal marcarmos a saída para as 9 horas? Simples assim. O guia concordou e todos gostaram da idéia de dormir um pouco mais antes de sairmos para conhecer as cachoeiras e trilhas do  Rio do Peixe, em Bonito.




            Saímos pontualmente às 9:00 horas e em pouco tempo estávamos na Fazenda Água Viva que fica a mais ou menos 35 Km do centro. O passeio é dividido em duas partes: pela manhã fizemos uma trilha percorrendo um pouco menos do que dois quilômetros, mas andamos devagar para apreciar a vegetação e tentar ver algum animal silvestre. Ouvimos mais do que vimos é verdade, mas o passeio valeu a pena. Paramos em vários pontos para um banho de cachoeira bem geladinho e também passamos por algumas cachoeiras que estavam secas nesta época do ano, mas nem por isto deixaram de exibir uma beleza incrível, que só a natureza sabe esculpir.


            Durante o percurso o guia ia mostrando uma árvore diferente aqui, outra ali,  e chamou nossa atenção para a figueira mata pau, uma espécie de árvore que vai crescendo e abraçando a árvore hospedeira até matá-la. Ela faz isto principalmente com uma palmeira da região. É o abraço da morte. Figueira oportunista...



            Ele nos mostrou a sensível  flor desta orquídea minúscula da foto abaixo, a coisinha mais delicada que já vi. Eu, certamente, teria passado batido por ela.


            De vez em quando parávamos para um banho de cachoeira. A água era gelada que dava até medo, mas uma vez mergulhado ficava gostoso, pois o calor era de rachar o côco.


            Paramos numa cachoeira seca que dava até dó. As pequenas poças d’água que sobraram  das chuvas passadas aprisionavam alguns peixes de pouca sorte. Ainda bem que a estação das chuvas está chegando para livrar os coitados da morte certa...



O que deveria ser uma cachoeira de águas frescas e cristalinas era agora  uma pequena gruta linda demais, cheia de estalactites ou alguma coisa muito parecida com isto. Até pensei em entrar, mas a primeira que se aventurou saiu correndo e gritando por causa de morcegos. Preferi ficar só fotografando... deixei os morcegos sossegados nas frestas frescas e escuras da caverna. Contou-nos o guia que aquele local, há muitos e muitos anos, era o fundo do mar. Não conferi a veracidade da história, mas posso afirmar que o lugar era lindo.


Continuamos na trilha e paramos num local para banho que estava repleto de peixes. Eram piraputangas gordas e tranquilas, pacus e até dourados. Eles nadavam tranquilos  naquelas águas onde a pesca é proibida.

Passamos por duas pontes suspensas que balançavam prá caramba e chegamos num poção bem fundo que servia para saltos incríveis. Alguns turistas mais corajosos se jogavam gritando no fundo do poço e saiam do outro lado nadando e rindo para começar tudo de novo. Confesso que fiquei só olhando e morrendo de vontade de dar um salto, mas não tive coragem. Preciso voltar a ser criança novamente...




Ficamos na parte rasa do rio, próximo de uma cachoeira linda. Os peixes nadavam em volta sem se incomodarem com a presenta de tantos turistas. O guia me passou um saco cheio de ração que eu jovava só para ver o cardume pular fora d’água. Era uma festa!



Voltamos devagar pela mesma trilha, pois já passava das 13:00 horas e todos estavam famintos. O almoço estava muito gostoso e as sobremesas também. Em seguida deitamos nas redes para um cochilo, pois depois das 15:00 horas teria a segunda parte do passeio que era outra trilha de uns 800m, com mais três cachoeiras.
Dormi embalada pelo ruído das águas do rio que passava próximo e até sonhei. Sonhei que eu era de novo uma garotinha destemida, pulando no rio gelado, mergulhando sem medo no poço fundo... eu gargalhava alto no sonho e acordei sorrindo ouvindo a voz do dono da fazenda que carregava um punhado de bananas maduras enquanto chamava os macacos.


Após a exibição dos macaquinhos que vinham pegar os pedaços de bananas nas mãos dos turistas, foi a vez da exibição da arara azul. Ele primeiro colocou a arara em cima do meu ombro e depois na minha cabeça. A arara era mansa e bem esperta, pois sabia que cada vez que atendia um comando ganhava um petisco gostoso.




A tarde caía devagar quando saímos da fazenda. Estávamos todos cansados, mas felizes. A noite fomos jantar no restaurante Casa do João que serve uma das melhores comidas da cidade. Pedimos um prato de torresmo que estava tão gostoso que precisou ser repetido. Foi na Casa do João que provei carne de jacaré e aprovei o sabor. Recomendo sem medo de errar.

Casa do João
Rua Nelson Felício dos Santos, 664-A
Bonito - Mato Grosso do Sul
www.casadojoao.com.br
joao@casadojoao.com.br