E a gripe me pegou de jeito desta vez

     Ontem era dia de fazer o zometa, mas com a imunidade baixa por causa de uma forte gripe foi necessário adiar para o próximo dia 2 de janeiro. Melhor assim, pois o zometa provoca muitas dores no corpo e o meu já está todo dolorido da gripe. 
    Na ceia do Natal eu estava tão devagar que fui dormir cedo e o natal em família ficou desfalcado. Minha garganta doía tanto que era difícil engolir água, imagina então qualquer coisa sólida. Foi uma pena, pois sei o quanto minha filha e a Raissa gostam de comemorar o Natal. 
     Hoje amanheci me sentindo melhor. Ainda estou um pouco fanhosa, mas já consigo respirar melhor. A garganta continua incomodando um pouco, mas nada que uma boa pastilha não consiga resolver. Acho que até amanhã estarei em forma.

Gente sem noção

      Dia 26 de dezembro vou fazer o zometa novamente e para isto preciso de exame de sangue recente. O Laboratório Sabin fica no comércio próximo da minha casa e o prédio tem apenas uma rampa de acesso para cadeirante, e o piso do estacionamento, para variar, está cheio de buracos dificultando o uso da cadeira de rodas. Muito bem, com todas estas dificuldades consegui chegar ao laboratório mas na hora de voltar para o carro... adivinhem o que aconteceu? Um sujeito sem noção e sem o menor respeito pelo direito do outro fez o favor de estacionar uma moto enorme bem ao lado da rampa de acesso dos cadeirantes.
        Fiquei parada olhando sem conseguir acreditar no que eu estava vendo até que um rapaz se ofereceu para chamar o motoqueiro sem noção, que estava tranquilo fazendo seus exercícios na academia que funciona no mesmo prédio. Agradeci e fiquei ali parada aguardando até que vi outro cadeirante se aproximando. A esposa que o acompanhava contou-me que no dia anterior um motorista, também sem noção, havia estacionado em cima da rampa bloqueando completamente o acesso ao cadeirante.
      Ficamos os dois ali parados aguardando o sujeito folgado chegar. Passado mais algum tempo ele chegou todo faceiro, usando bermuda e tênis, pediu desculpas pelo transtorno mas teve a ousadia de dizer que a rampa estava livre, pode? A rampa realmente estava livre, mas era impossível descer com a cadeira, pois havia um carro estacionado em frente e a moto dele ao lado impedia a manobra.
      Há pessoas que realmente não se tocam. O chão estava marcado para que ninguém estacionasse atrapalhando os cadeirantes, o sujeito estaciona em cima da marca e ainda acha que ele é que está certo. Dá ou não dá vontade de xingar uma criatura folgada assim?       

Não sou surda, nem muda e muito menos retardada...

     Tenho a impressão de que as pessoas que desejam abordar um cadeirante devem pensar que além de não conseguir andar com as próprias pernas eles também devem ser mudos e surdos ou, quem sabe, até um pouco retardados. É que algumas pessoas quando querem perguntar alguma coisa ao cadeirante não se dirigem a ele, preferem fazer a pergunta ao cuidador. Se não fosse trágico seria até cômico...
     No dia em que eu fui alugar minha cadeira de rodas eu estava acompanhada pela minha irmã e pela minha filha. Elas me deixaram no carro e foram até a loja solicitar uma cadeira de rodas para que eu pudesse sair do carro e entrar na loja. Pois bem, até o atendente da loja, especializada em produtos para cadeirantes e afins, não se dirigia a mim e sim a minha filha ou a minha irmã. Eu era invisível aos olhos dele, ou uma idiota que não tinha vontade própria...
     Conversei com a Leó, uma grande amiga que também precisou usar cadeira de rodas por um longo tempo, e ela me disse que com ela acontecia a mesma coisa. As pessoas não se dirigiam a ela, mas sempre ao cuidador. Rimos muito da situação.
     Para concluir, os cadeirantes, além de seus inúmeros problemas com a acessibilidade, ainda precisam conviver com a idéia de serem considerados meio bobos, meio surdos, incapazes de articular uma frase com coerência... Alooouuu, meu problema é apenas uma fratura no pé. Minha cabeça e minha capacidade de compreensão das coisas continua intacta. Consigo ouvir com clareza e não sou muda e nem retardada então... perguntem diretamente a mim que eu mesma respondo.

Ressonância normal, cérebro perfeito e uma cabeça cheia de sonhos

     O resultado da ressonância magnética ficou pronto e revelou que estou livre de câncer ou qualquer outro problema em meu precioso cérebro. Ufffa, que alívio! As dores de cabeça são tencionais mesmo. Voltei para casa até mais leve... estes últimos dias foram muito estressantes, pois conviver com a hipótese de ter o cérebro invadido por um alienígena deixa qualquer um em pânico. Um cérebro perfeito e uma boa cabeça são o que temos de mais importante em nosso corpo e quero que o meu continue intacto.
     O cérebro está em perfeita ordem, mas o osso do pé continua quebrado e eu, em consequência, mantenho o repouso forçado, mesmo não gostando disto.  Sinceramente, prefiro ficar quieta para ter certeza de que o meu pé vai colar de novo e desta vez para sempre, mesmo sem cirurgia. Aproveito meu tempo para ler e sonhar com minha próxima viagem. Os amigos que viajaram comigo para a Toscana irão para a Provence no próximo ano, quem sabe eu consigo ir também... só preciso ficar boa. A Provence é tão linda! Pelo sim e pelo não já comecei a ler e buscar na internet todas as informações sobre aquele pedaço especial da França, cujas paisagens serviram de fonte de inspiração para Cezànne, Van Gogh, Picasso, Gauguin e outros artistas geniais.

As caçadas da Mingau

     A viralata que adotamos recentemente já se sente dona do pedaço e está cada vez mais a vontade em casa. Ela vigia a porta do meu quarto o tempo todo, tentando entrar para medir força com a Tutuca, uma outra viralata  adotada há muito tempo.


     A Tutuca já está velha e é uma gata arisca e assustada, que passa o dia escondida de tudo e de todo o mundo. Ela fez seu refúgio na parte oca de uma cadeira reclinável que fica em meu quarto e só sai a noite para comer e fazer suas necessidades. Ninguém a vê  ou ouve seu miado, ela é quase invisível e só aparece mesmo quando entro no quarto. Quando o dia está amanhecendo ela sempre vem me pedir um carinho e gosta de sentir minha mão em seu pelo macio; nesses momentos ela ronrona de prazer.
     A Mingau é uma gata mais jovem, mas não sabemos a idade certa dela. Ela estava perdida na rua, imunda, faminta e doente quando a encontramos. Na veterinária a primeira providência foi dar um banho para saber exatamente o que existia embaixo de toda aquela sujeira, e foi aí que descobrimos que ela era branca com os olhos amarelos. Depois do banho foi preciso mais de um mês de tratamento para curar uma sarna horrorosa nos dois ouvidos. A coitada deve ter sofrido muito na rua, pois além da sarna ela também tinha dois dentes quebrados e estava que era apenas pele e ossos. Ela teve um dono antes de ir parar nas ruas, pois quando a encontramos ela usava uma coleira vermelha no pescoço.
     A Mingau é o oposto da Tutuca, a começar pela cor:  ela é branca, a outra é preta. A Tutuca não mia enquanto a Mingau mia parecendo uma doida. Quando quer comer alguma coisa ela abre uma boca enorme e dispara a miar sem parar até ver a comida na vasilha. Nunca vi uma boca se abrir tanto. Tenho a impressão de que se eu olhar  o fundo daquela bocarra com atenção consigo enxergar até o estômago da gata...
    A Tutuca é séria e nunca brinca, já a Mingau gosta muito de brincar. Até um pedacinho de papel que ela encontra no chão vira brinquedo entre suas patinhas. Uma coisa que acho muito engraçado é seu jeito de espreguiçar pela manhã: ela estica para trás as patinhas traseiras e alonga e depois sai correndo e miando atrás da gente porque quer mesmo é sair para o quintal. Ela sempre sobe na varanda que dá acesso ao meu quarto para ver se encontra a porta está aberta. Quando dá esta sorte ela entra no quarto e fica em cima do criado vigiando a cadeira da Tutuca, esperando pacientemente para ver se a outra resolve dar as caras para começar uma briga.
    A Mingau é mau... ela adora brigar e quando encontra uma oportunidade vira aquela confusão de gatos. Outro dia um gato da vizinhança entrou em nosso quintal e foi aquela bagunça: era pelo voando para todo lado e miados horríveis. Foi difícil separar a briga, pois os dois gatos eram metidos a valentes.
     A Tutuca é delicada para andar e se deita com graça, já a Mingau... ela não se deita, ela se joga no chão. Chega a ser engraçado observar a cena. Aliás, aqui em casa tudo é muito engraçado e diferente do usual. Os bichos daqui são hilários. A cachorra tem medo da gata branca, a gata branca tem medo da galinha enquanto esta tem medo da cachorra que adora lhe dar umas corridas. Os passarinhos andam assustados com a Mingau que de vez em quando consegue matar algum, principalmente as rolinhas que estão muito gordinhas e são meio bobas. Os calangos também estão em pânico, pois vários deles já morreram nas garras da gata. Ela fica de tocaia embaixo dos arbustos do jardim e quando vê um presa distraída ela dá uma reboladinha, balança e cauda e dá um salto certeiro.

Adotando a cadeira de rodas

     Para ter um pouco mais de mobilidade e não depender tanto de ajuda quando quero me deslocar dentro de casa ou na rua resolvi alugar uma cadeira de rodas mais leve e confortável. A Suzi e a Bárbara foram comigo até a rua das farmácias para escolhermos uma que atendesse minhas necessidades. Meu novo meio de transporte me permite dirigir sozinha, então saí da loja e fui experimentar a cadeira passeando no Conjunto Nacional onde resolvemos almoçar.
     A experiência é um pouco estranha, e não me senti de todo confortável, mas pelo menos saí um pouco da rotina de estar o tempo todo dentro de casa lendo, escrevendo ou assistindo algum filme. Nestes últimos dias só saí de casa para ir ao médico e isto não dá para ser considerado um passeio.


     Usar cadeira de rodas, no momento, é uma necessidade então é melhor eu me acostumar com a ideia e aproveitar para sair e fazer o que posso, já que fazer o que quero não é possível. Além do mais precisar de uma cadeira de rodas não é nenhuma tragédia, é apenas um incômodo. Pensando bem, tenho é que me dar por satisfeita por poder ter uma cadeira a minha disposição.
     Sinceramente,  prefiro olhar as dificuldades com olhos de Poliana mesmo... é menos complicado. Ficar lamentando, além de não resolver o problema, vai me deixar mais infeliz e eu detesto sofrer além do absolutamente necessário.   

Serviço Médico - quimioterapia - autorização

     Meu plano de saúde é excelente, não tenho do que reclamar, mas os médicos que atendem no Serviço médico do tribunal não se entendem e estão sempre dificultando a liberação dos tratamentos oncológicos. Agora ficou decidido que todas as vezes em que houver mudança no protocolo do tratamento será necessário passar este novo protocolo pela Junta Médica.
     Acho a medida normal e até mesmo sensata, mas no meu caso, que já faço o mesmo protocolo há pelo menos três anos... não faz nenhum sentido um médico se recusar a autorizar a liberação do tratamento para que o mesmo seja submetido à Junta Médica. Onde está a lógica disto depois de três anos do uso do mesmo remédio?
     Mês passado uma das médicas que atende na Junta falou sobre o assunto comigo e deixou claro que se houver alguma mudança no meu protocolo daqui para frente eu terei que passar pela Junta, mas o tratamento antigo é autorizado na hora. É o lógico. Além do mais, em outubro deste ano, entreguei no Serviço Médico, a pedido da chefia, um relatório atualizado sobre o meu tratamento. O relatório deixa muito claro que faço uso do Tykerb e do Zometa há no mínimo três anos. Qual é o problema para autorizar o serviço agora? Só pode ser falta de critério e organização do Serviço Médico, não tenho outra explicação.
     Quarta-feira minha irmã foi ao Serviço Médico do tribunal e a médica do plantão se recusou autorizar meus remédios. Falei com a diretora e ontem, depois que eu já havia passado horas na Clínica Villas Boas para fazer uma ressonância magnética, fui para o tribunal e foi outra novela para liberar meu pedido, mesmo a diretora tendo autorizado. Eles queriam que eu deixasse o pedido lá para ser autorizado hoje pela mesma médica que autorizou no mês passado e que faz parte da Junta Médica. Será que alguém consegue me explicar a lógica disto? Os médicos que atendem no tribunal não receberam a mesma orientação que os médicos que atendem na Junta? Mas, como diz aquele velho ditado: Se pode atrapalhar... para quê facilitar?  

Diagnóstico da fratura = pseudoartrose - Qual será o diagnóstico da ressonância de crânio?

     O dr. José França, ortopedista especializado em pés, que está acompanhando minha refratura, acabou de me atender e confirmou que o problema no quinto metatarso do meu pé direito é realmente uma pseudoartrose, isto é, a fratura no meu pé nunca consolidou de verdade, só fez de conta... Ele explicou que em casos como o meu a indicação é cirúrgica, com enxerto ósseo e colocação de pinos.
     Como faço tratamento oncológico para metástase óssea com o uso do zometa, o melhor é não precisar fazer nenhuma intervenção no osso. Ele optou por manter o robofoot por mais algum tempo e acompanhar a evolução da fratura que não está doendo mais. Vou fazer outra radiografia no dia 9 de janeiro para que ele possa avaliar e dizer como será daqui para frente. Quem sabe acontece alguma intervenção divina e o osso resolva colar direito desta vez... A esperança é a última que morre.
     Amanhã vou fazer uma ressonância magnética para ver o que pode estar provocando as dores de cabeça sinistras que venho sentindo. Nunca tive dor de cabeça e confesso que não estou achando nenhuma graça nesta experiência. A dor começa no olho direito e é tão forte que tenho a impressão que o olho vai saltar da órbita, depois ela desce pela narina direita e sobe até o topo da cabeça e pulsa o tempo todo. É horrível! Há ocasiões em que deito para dormir sem dor e acordo no meio da noite com a cabeça doendo tanto que tenho a impressão de que alguma coisa vai explodir do lado direito do meu cérebro. Só me faltava uma coisa destas... espero que o câncer não tenha chegado lá... o doença maldita, ao invés de acabar de vez fica dando cria... 
     Vamos torcer para que seja apenas uma enxaqueca, mas não custa nada pensar no pior pois, como diz o velho ditado: é melhor prevenir do que remediar. A dra. Juliana achou melhor investigar direito estas dores de cabeça e começar pelo pior prognóstico para não perder tempo. Os médicos já erraram muito comigo e ela não quer correr mais riscos. Agora é esperar e torcer por um diagnóstico favorável para mim. Ainda quero ficar por aqui mais algum tempo, mas quero ficar com qualidade de vida.

A solidariedade dos pets quando estamos doentes

     Meu repouso forçado é acompanhado bem de perto pela Haseena, a poodle que temos em casa. Ela fica deitadinha em sua cama vigiando cada movimento meu e todas as vezes que sento na cadeira de rodas ela me segue, colada na cadeira. Fico até preocupada que a roda acabe machucando a bichinha e tento espantá-la, mas não adianta ela me segue mesmo assim. Ela me olha com aqueles olhos negros cheios de compaixão, como se entendesse muito bem o que está acontecendo comigo.


     É impressionante observar a reação dos animais de estimação quando alguém da família tem qualquer problema de saúde. Eles ficam atentos, e não deixam a pessoa sozinha um minuto sequer, e em alguns casos parece até que absorvem tanto o problema dos donos que acabam contraindo a mesma doença. Tive uma gatinha que morreu com os mesmos sintomas que eu vinha sentindo quando iniciei o tratamento para combater o câncer. O cachorrinho de estimação do meu afilhado, que teve um tipo raro de câncer, também acabou morrendo vitimado por um câncer no cérebro. Já ouvi muitas histórias semelhantes a estas, e isto não me parece somente uma triste coincidência...
     Será que nossos animais de estimação captam nossos problemas de saúde?
     

Aniversário da Suzi, uma futura chef de cozinha

          Minha irmã e também minha cuidadora completou 51 anos no dia 7 de dezembro. Mais de meio século de vida, muitos deles dedicado a cuidar de pessoas de quem ela gosta. Foi ela quem cuidou de minha filha desde que ela tinha apenas alguns dias de vida. Ela também cuidou de muitas outras crianças que tiveram a sorte de tê-la como cuidadora. A Suzi foi sempre muito maternal, e seu sonho era ser mãe de gêmeos, porém  a vida pregou-lhe uma peça, e ela nunca conseguiu ter seus próprios filhos.
          Ela pode não ter tido filhos biológicos, mas não tenho a menor dúvida de que minha irmã realizou seu desejo pela maternidade sendo a outra mãe da minha filha. A Bárbara é uma jovem de sorte, ela tem duas mães, e isto não é para todo mundo.
          Depois que fui diagnosticada com câncer a Suzi sempre esteve ao meu lado, nos bons e nos maus momentos. É ela quem sempre me carrega para baixo e para cima, atrás de médicos e de tratamento, seja em Brasília ou em São Paulo. A Suzi também sempre foi muito talentosa na cozinha, e faz comidas deliciosas. Todos os nossos amigos sempre se deliciaram com os quitutes feitos por ela. A Suzi é uma verdadeira alquimista dos temperos e dos sabores.
          Já faz algum tempo que venho insistindo com ela para voltar a estudar até que finalmente ela tomou a decisão de fazer vestibular para gastronomia. Fazer comidas e revelar sabores tem tudo a ver com a Suzi. Ano que vem ela já vai se formar, mas desde setembro deste ano ela e mais dois colegas da faculdade começaram a fazer comidas congeladas para vender e as vendas tem sido um sucesso. Quando a formatura chegar os Congelados Gourmet 2R&S já serão conhecidos e reconhecidos como uma comida de qualidade e a preço justo.
          A Suzi pode até não ter realizado o sonho da maternidade biológica, mas o sonho da chef de cozinha está começando a se tornar realidade. Ela merece todo o sucesso do mundo.   

Pseudoartrose - Você sabe o que é?

          Hoje fui atendida por um ortopedista especializado nos problemas dos pés, afinal não acho nenhuma graça no fato de ficar quebrando meu pé antes mesmo da completar um ano da última fratura. 
          Assim que o dr. José França comparou a radiografia que fiz no ano passado, quando meu pé sofreu uma fratura espontânea  ou de stress, sei lá, com a que tirei na última sexta-feira quando meu pé tornou a quebrar no mesmo lugar, ele disse que parecia ser uma pseudoartrose, isto é: a fratura do ano passado não consolidou completamente e bastou um pequeno trauma para que o osso partisse novamente.
          O médico também me perguntou se eu vinha fazendo acompanhamento com um ortopedista desde que meu pé quebrou no ano passado, porque meu caso requer um cuidado mais de perto. É claro que não fiz nenhum acompanhamento e não foi porque eu simplesmente não quisesse, mas porque os três ortopedistas que me atenderam no ano passado disseram textualmente que não era necessário.
          Fico muito aborrecida quando uma coisa assim acontece. Não consigo entender o porquê da falta de cuidados que alguns médicos dispensam aos seus pacientes. Custava um dos médicos que me atenderam no ano passado ter pelo menos sugerido que eu acompanhasse a evolução da consolidação da fratura. Eu não sei se esta falta de cuidado é apenas um descaso ou falta de conhecimento mesmo, mas posso garantir que isto me deixa muito irada. Médico, qualquer que seja sua especialidade, precisa ser cauteloso, precisa conhecer melhor os procedimentos que envolvem sua área de atuação. Um médico cuida de pessoas e estuda para preservar vidas.
          O dr. França me pareceu criterioso. Ele examinou cuidadosamente e comparou minhas radiografias,  e também leu atentamente o laudo da última cintilografia óssea a que me submeti. No final das contas ele solicitou uma tomografia para poder avaliar melhor a situação  do meu pé para então sugerir o melhor procedimento. Dei sorte e consegui fazer a tomografia ainda hoje, agora é só aguardar mais um pouco para ver o que vai acontecer realmente; enquanto isto continuo no meu repouso forçado.

Refratura - gesso - repouso forçado

          Dezembro e janeiro são meses que não despertam em mim o desejo de viajar, mas também não vale quebrar o pé novamente e precisar ficar na cadeiras de rodas e dependendo de ajuda até para as coisas mais simples. Esse câncer ósseo está fragilizando meu pé além do necessário. Que coisa mais chata e frustrante... detesto ficar de repouso e ainda por cima dependente... haja exercício de paciência, tolerância e humildade.
          Ontem foi a festa de aniversário da Maura, uma de minhas amigas mais queridas, e nem pude participar. Fiquei plantada no Pronto Socorro do Hospital Brasília esperando atendimento por mais de uma hora. Acho um desrespeito com os pacientes que procuram ajuda por um motivo ou outro. Não havia ninguém na fila, mas como era troca de plantão também não havia nenhum técnico de enfermagem para fazer a triagem e eu fiquei lá plantada, com o pé inchado e doendo prá caramba, esperando por mais de meia hora a chegada do profissional e depois ainda fiquei esperando um bocado de tempo para que o médico me chamasse para atendimento e eu era a única paciente aguardando atendimento com um ortopedista.
          O Pronto Socorro do Hospital Brasília é todo arrumadinho, mas o atendimento fica a desejar... uma lástima. O hospital separa os pacientes por cores, de acordo com a urgência do caso. Minha cor era laranja, que demanda uma certa urgência por causa do edema e da dor, mas mesmo assim fiquei esperando muito mais tempo do que o razoável, e olha que o Pronto Socorro estava quase vazio. Imagina se estivesse cheio?
          O RX revelou o que eu já esperava: meu pé tornou a quebrar no mesmo lugar que fraturou em dezembro do ano passado. Será uma praga do mês de dezembro? Sempre acreditei que o calo ósseo tornasse o osso mais resistente naquele ponto. Ledo engano. Refratura... nunca tinha ouvido a expressão, mas senti no próprio osso a dor... agora sei bem o que significa.
          Eu já vinha sentindo dor no pé há algumas semanas. Cada médico falava uma coisa diferente, só a dra. Juliana sugeriu que eu procurasse um ortopedista para conferir a fratura anterior. Eu tinha decidido procurar o ortopedista depois da festa da Maura, mas o pé resolveu quebrar poucas horas antes da festa. Eu já estava com os cabelos arrumados e toda animada, mas ao invés de ir para a  festa fui para o hospital. Troca mais bizarra. Ir para a festa teria sido tão mais interessante...