TSH alto = fraqueza e outras mazelas

     O novo protocolo de quimioterapia além de ter provocado o efeito colateral da síndrome pés e mãos ainda descompensou a absorção dos hormônios da tireóide e meu TSH foi para as alturas. No dia 31 de maio comecei a tomar uma dose mais alta do syntroid e na próxima semana farei novos exames para saber se está tudo bem. A medicação com a nova dosagem leva alguns dias para fazer efeito, então o jeito é aguardar alguns dias para me sentir bem novamente.
     Estou ficando expert neste assunto e agora já consigo identificar quando os hormônios estão ficando descompensados.  Ainda bem, pois assim não passo por todo o transtorno causados pelo hipertiroidismo ou do hipoteroidismo como aconteceu no anos passado.
     Esta semana já estou me sentindo muito melhor e com energia. Ufa! Que alívio, pois a fraqueza e a falta de energia com o descontrole hormonal deixa a pessoa com a sensação de que não consegue segurar sequer a escova de dentes. É muito ruim.
     O bom de estar atenta ao funcionamento do próprio corpo e não demorar para tomar providências é conseguir se recuperar rapidinho. Detesto me sentir doente ou ter cara de quem está com o pé na cova. Quem olha para mim jura que sou a pessoa mais saudável do planeta. Melhor assim. Não gosto nem um pouco daquele olhar de piedade que algumas pessoas dispensam para aquelas pessoas que estão doentes. 

Síndrome pés e mãos, um efeito colateral do novo protocolo

     Fiz o primeiro ciclo do novo protocolo de quimioterapia e viajei para Punta Cana e Cidade do Panamá por dez dias, só mesmo para relaxar um pouco das tensões que envolveram a venda da minha casa e a procura por um apartamento na Asa Sul, o mais próximo possível da clínica onde faço tratamento, para facilitar meu deslocamento e evitar ter que enfrentar longos congestionamentos que infernizam a vida de qualquer um.
      Nos últimos dias em Punta Cana, mesmo me escondendo do sol, percebi que as juntas dos dedos das minhas mãos começaram a escurecer. Confesso que não liguei o fato a nenhuma reação ligada ao tratamento e ainda brinquei que só tinha ficado bronzeada nos dedos das mãos.
     Cheguei em Brasília na segunda-feira de madrugada, fiz o exame de sangue nas primeiras horas da manhã e no dia seguinte fiz o segundo ciclo da quimioterapia. Não observei nenhuma reação mais adversa a não ser que minha mão estava ficando mais escura e só então me dei conta que o escurecimento da pele estava ligado a algum efeito adverso do novo protocolo.
     Duas semanas após o terceiro ciclo de quimioterapia minhas mãos incharam e ficaram muito vermelhas, além de doerem bastante. Fui até a clínica e a doutora Ana Carolina diagnosticou como síndrome pés e mãos, uma reação adversa da doxorrubicina lipossomal. Iniciei um tratamento com predinisona 20mg por cinco dias na segunda-feira e na sexta minhas mãos estavam com uma aparência bem melhor. Fiquei animada e crente que tinha me livrado do problema até que no domingo de madrugada acordei com a mão esquerda doendo muito. Levantei, lavei as mãos com água fria e passei uma pomada de cortisona. Senti um certo alívio, mas no domingo a mão esquerda começou a inchar e ficou toda roxa, além de doer muito.
     Liguei para a doutora Ana Carolina que me aconselhou ir até o Pronto Socorro do Hospital Brasilia para descartar uma possível trombose e ser medicada para aliviar os sintomas. Não existe nenhuma antídoto para a síndrome pés e mãos provocada pela quimioterapia. 
     O Pronto Socorro do Hospital Brasília estava caótico, com pelo menos uns três pacientes com sintomas de AVC chegando quase que ao mesmo tempo. Fui colocada no box 9 e esquecida lá por mais de uma hora. Fui até a recepção saber quando eu seria atendida, já que estava sentindo muito dor e minha mão estava cada vez mais inchada e roxa. A bagunça era tanta que sequer encontraram meu prontuário e foi necessário pegar uma cópia na recepção.
     Depois de quase duas horas esperando atendimento um médico apareceu para examinar minha mão que estava com uma aparência horrível, inchada e escura. Parecia uma luva de box prestes a arrebentar. A pele brilhava de tão esticada com o inchaço. O médico plantonista  conversou com minha médica por telefone e decidiram fazer uma ecografia do braço, além de medicação para a inflamação e a dor. 
     Puncionar uma veia foi outra novela. A técnica de enfermagem começou esburacando o braço, passou para a mão esquerda que estava horrivelmente inchada, tentou o polegar para novamente tentar a veia do braço. Depois de várias tentativas ela conseguiu retirar sangue para exames e colocou um acesso com o soro e aplicou a medicação. Demorou um pouco, mas finalmente a dor cedeu me dando o alívio que eu precisava. Fui então levada para fazer a ecografia que descartou qualquer sinal de trombose. O exame de sangue  estava normal, então tive alta e pude voltar para casa. Dormi bem toda a noite, pois a medicação cumpriu o papel e acabou com a dor.
     Amanheci com a mão quase normal, mas ainda pela manhã ela começou a inchar novamente, mas sem aquela dor desesperada. Na parte da tarde fui até a clínica para ser examinada pela doutora Ana Carolina. Ela fotografou minha mão e discutiu com o doutor Fernando que mandou eu tomar prednisona por mais quatro dias e iniciar  dez dias do antibiótico cefalexina. O próximo ciclo de quimioterapia que deveria  ser amanhã está adiado e talvez seja até necessário trocar o protocolo, já que a reação alérgica está muito violenta.

Uma gata assustada

     A mudança estava marcada para quinta-feira pela manhã então, na véspera, resolvi que era melhor para mim e minha mãe, e também para a Mingau e a Haseena, dormirmos no apart hotel onde iríamos ficar hospedadas até que a reforma do apartamento ficasse concluída. Afinal era necessário fazer uma pintura nova naquelas paredes sujas e cheias de marcas do tempo, lixar e resinar o piso, além de desmontar e jogar fora alguns armários que estavam bastante destruídos e com cheiro de mofo.
     Assim que chegamos ao hotel e abrimos a caixa de carregar gatos a Mingau saiu desconfiada, andando rasteiro, procurando um lugar onde se sentisse segura para esconder até sentir o medo passar. Ela estava apavorada e nem mesmo a presença da minha mãe conseguiu acalmá-la. Ela descobriu uma passagem embaixo do forro da cama box e se esgueirou para dentro e ficou lá bem quietinha.   Acho que ela deve ter se lembrado do tempo em que ficou perdida na rua com fome, sede e medo, antes de ser resgatada. Ela estava imunda, muito magra e cheia de sarna quando a encontramos escondida dentro de um bueiro na rua. Mal miava de tão fraquinha e doente.


     Na quinta-feira a noite, preocupada, a Raissa veio até nosso hotel e resolveu que iria tirar a Mingau do esconderijo, mesmo que fosse na marra. Ela precisou colocar a cama de pé e empurrar a gata até a abertura no forro e puxar. A Mingau saiu, mas continuava assustada, tão assustada que não conseguiu comer ou beber, e assim que teve uma oportunidade voltou a se meter no mesmo buraco de onde saíra alguns minutos antes.
     Achamos melhor deixá-la quieta e durante a madrugada ela saiu novamente do esconderijo, daquela vez por vontade própria, e ficou olhando o jardim pela janela, talvez sonhando com o jardim da nossa antiga casa, onde ela gostava de passar o dia deitada na terra, de preferência na sombra fresca, no meio das flores.
     Ela ronronou e subiu na minha cama, depois foi até a cama da minha mãe para em seguida ficar novamente espiando pela grade que colocamos na janela, para evitar uma fuga ou um tombo do terceiro andar. Fiquei com pena da gatinha. Ela continuava sem comer ou beber, apenas olhava pela janela sem entender o que estava acontecendo. Quando o dia começou a clarear ela se enfiou novamente embaixo do forro da cama.
     No sábado, já passava das seis horas quando a Mingau resolveu sair da toca. Ela comeu alguns grãozinhos de ração e lambeu um pouquinho da sua comida favorita, um sache de carne para gatos. Minha mãe coitada respirou aliviada, pois ela estava muito preocupada com a saúde de sua gatinha de estimação.


     De volta na janela a Mingau observava atenta algumas pessoas que conversavam enquanto caminhavam para um carro estacionado. A Haseena, incomodada com as vozes estranhas, latiu forte assustando a gata que novamente se meteu na toca embaixo da cama. Ela só voltou a sair quando a Suzi e a Raissa chegaram e acabou passando o restante da noite circulando pelo pequeno apartamento. Ela devia estar achando tudo muito estranho e apertado, pois estava acostumada com uma casa grande cercada de canteiros cheios de flores e árvores no quintal e agora estava confinada num pequeno apartamento, no terceiro andar de um hotel.
     O bom é que hoje, domingo de páscoa, ela finalmente comeu direito e parece estar se sentindo mais segura, ou menos assustada. Vamos ficar por aqui mais algumas semanas antes de nos mudarmos definitivamente para nossa nova casa, um apartamento. Vou colocar alguns vasos com flores para que a Mingau se sinta mais próxima de um jardim como ela tanto gosta. Espero que funcione...