Cadê meu presente?

      Tenho a impressão de que o mundo está mesmo perdido, não tem mais conserto.
     Um amigo jornalista que está em contagem regressiva para viver um ano no Exterior onde fará uma especialização, contou-me muito contrariado que antes de sair de São Paulo, onde morou por mais de dois anos, resolveu doar sua máquina de lavar para uma idosa com mais de 70 anos que vive sozinha e ainda precisa ganhar a vida fazendo faxina. 
      Dona Idosa ficou muito feliz quando meu amigo resolveu lhe presentear com a máquina de lavar, que apesar de usada ainda funcionava muito bem. Menos de 500m de distância separava a casa deles, mas era preciso contratar alguém que tivesse carro para que a máquina pudesse ser transportada. Dona Idosa não teve dúvidas em chamar o mesmo taxista que já fizera algumas corridas para ela e as amigas assistirem a um evento religioso que acontecia em local distante. Era seu velho conhecido, então o chamou para transportar o presente.
      O taxista entrou no apartamento do meu amigo e fez questão em ajudar a carregar alguns pratos, copos e utensílios que D. Idosa ganhou além da máquina e assim que tudo ficou acomodado no carro saiu. Chegando na casa de D. Idosa ele retirou todos os materiais pequenos deixando a máquina para o final. Ela, feliz com os presentes, foi levando tudo para seu pequeno apartamento, e voltou saltitante até a rua para receber sua tão preciosa máquina de lavar, mas qual não foi sua surpresa: não havia sinal do carro, do taxista ou da máquina. A rua estava completamente deserta.
      Dona Idosa olhou para todos os lados, esperou um pouco, voltou até sua casa, e depois de alguns minutos de perplexidade concluiu que havia sido ludibriada pelo motorista de sua confiança. Ele havia desaparecido levando seu presente e ela, que além de idosa ainda vivia sozinha no pequeno apartamento, não tinha ninguém a quem recorrer e teve medo de denunciar o malandro e ainda acabar sofrendo alguma maldade por isto.
      É lamentável que um homem saudável e pleno de vigor, que ganha a vida dirigindo pela grande São Paulo, tenha a coragem e a cara de pau de furtar uma pessoa idosa e que ainda trabalha fazendo faxina para poder sobreviver. Ele sabia, tinha certeza absoluta de que ela não teria coragem em denunciá-lo porque além de viver sozinha ainda é idosa. Ela ficaria com medo e se calaria. Jamais teria coragem de ir até uma delegacia registrar uma ocorrência como esta.
      Um sujeito como este taxista merece, no mínimo, uma surra daquelas. É um ladrão de galinhas muito sem vergonha que só tem coragem mesmo é de furtar velhinhas indefesas.

Meu fluxo salivar parece ter voltado ao normal

     Quinta-feira fiz a segunda dose do novo protocolo de quimioterapia, após ter adiado o tratamento por duas semanas por causa da baixa imunidade. No primeiro ciclo desse protocolo, com mais de quatro horas de infusão na veia, senti muito dificuldade para usar o banheiro porque fiquei muito grogue por causa do antialérgico, então para me poupar do desconforto resolvi experimentar usar uma fralda geriátrica para evitar ter que me levantar. 
     No início achei muito estranho usar a fralda, mas só de não precisar levantar auxiliada por duas pessoas já valeu a experiência. Ir até o banheiro carregando aquela parafernália com soro e químio, e ainda amparada, é complicado e eu tinha medo de cair.
     Ontem durante o dia me senti bem melhor do que no primeiro ciclo, pois não fiquei nauseando e nem senti aquela fadiga horrível. Acho que é porque da outra vez fiz a dose de ataque que é mais pesada. Uma coisa que observei durante o dia era que de vez em quando eu engasgava com a saliva e percebi durante a noite, quando eu acordava por ficar engasgada, que voltei a produzir saliva e acho que meu cérebro ainda está se acostumando com a nova condição, então ainda engasgo. Quando minha boca ficou com baixa salivação eu acordava com os dentes pregados nos lábios e era muito desconfortável. Meu dentista chegou a recomendar o uso de saliva artificial para aliviar o problema e evitar cárie.
     Fiquei pensando no que pode ter acontecido para que meu corpo voltasse a produzir o fluxo normal de saliva e me animei em pensar que se isto aconteceu espontaneamente quem sabe o mesmo mecanismo que proporcionou a reposição da saliva também não resolva parar de produzir novas células neoplásicas? Se um dia meu corpo se desprogramou para me adoecer acredito que ele também poderá voltar a se reprogramar para me deixar saudável. Sabe que gostei desta idéia. Quem sabe dá certo?

Quimioterapia - baixa imunidade - granuloquine

     Ontem pela manhã fui novamente ao consultório do Dr. Gustavo Lara, o otorrino que me atendeu semana passada depois da forte crise de zonzeira durante uma consulta com meu oncologista. A tal manobra de Brandt Daroff é realmente mágica, pois resolveu o problema. De qualquer forma precisei fazer a ressonância magnética do crânio e da coluna. O Dr. Fernando solicitou a ressonância do crânio para descartar uma possível metástase no cérebro. A da coluna é por causa da metástase óssea que tenho na vértebra T3 e das fortes dores em minhas costas. Precisamos descobrir a origem dessa dor que me impede até pequenas caminhadas, estragando o meu prazer em andar por aí.
     Hoje estava agendada a segunda dose do novo protocolo de quimioterapia, mas como minha imunidade estava muito baixa o Dr. Fernando achou melhor adiar por mais uma semana enquanto tomo 5 doses de granuloquine. Mais uma vez será necessário tomar esta medicação que deixa meu corpo moído de dor, mas o que não tem remédio...
     Pior que tomar cinco doses de granuloquine é saber que daqui para frente será necessário tomar outras cinco doses após cada quimioterapia. E depois ninguém entende porque não gosto de usar carboplatina. Era tão mais fácil quando eu fazia apenas o Herceptin.
    

Manobra de Brandt Daroff e o mundo parou de girar ao meu redor

      Depois que fiz a primeira dose da quimioterapia do novo protocolo comecei a me sentir zonza todas as vezes que me virava na cama ou mexia com a cabeça para os lados ou para cima e para baixo. A vertigem piorou bastante esta semana, mas como eu já estava com consulta agendada com meu oncologista acabei adiando a do otorrino.
     Hoje pela manhã passei pela consulta com o Dr. Fernando e senti uma zonzeira muito forte quando tentei me deitar para o exame clínico. Ele fez um teste mandando eu seguir a ponta de seu dedo apenas com os olhos e concluiu que o melhor seria adiar a quimioterapia que estava agendada para hoje para a próxima sexta-feira, e me encaminhou para o consultório do Dr. Gustavo Lara, que é otorrino, para um atendimento emergencial.
     O Dr. Gustavo fez alguns testes de equilíbrio corporal e acabou concluindo que tudo não passava de uma vertigem posicional. Ele explicou que isto pode acontecer por causa do uso de alguns quimioterápicos e outras causas, mas que não é grave e é relativamente simples de resolver. Não prescreveu nenhum tipo de remédio, o que me agradou muito, e optou pela manobra de reposição canalítica, chamada Manobra de Brandt Daroff.
     A Manobra de Brandt Daroff tem o objetivo de reposicionar corretamente alguns cristais que ficam dentro do nosso ouvido interno, no labirinto. Estes minúsculos cristais chamados otólitos são responsáveis pelo equilíbrio do nosso corpo e quando saem do lugar tiram nosso corpo do prumo. São alguns segundos assustadores que parecem nos jogar no olho de um furacão. É uma sensação muito ruim.
     Na hora que o Dr. Gustavo iniciou a manobra o mundo ao meu redor girou feito louco e manter os olhos abertos foi bem difícil, mas na medida que os exercícios avançavam a zonzeira foi cedendo e quando saí do consultório já me sentia muito melhor. Que manobra mais eficiente! Fiquei encantada. Agora vou fazer alguns exercícios em casa e retorno ao consultório para outra avaliação na próxima quinta-feira.
     De qualquer forma o Dr. Fernando achou mais seguro pedir uma ressonância magnética de crânio para descartar qualquer problema mais grave. Na próxima quinta-feira vou fazer a ressonância do crânio e também da coluna para saber exatamente o que está provocando as dores nas costas e na sexta-feira faço a segunda dose no novo protocolo.

Sintoma novo: zonzeira

     Há umas duas semanas mais ou menos percebi que as vezes, ao me virar na cama, ficava zonza. Não dei muita importância para o problema até ontem quando a coisa começou a piorar. Agora quase todas as vezes que abaixo, levanto ou viro a cabeça o mundo inteiro parece girar ao meu redor. Ainda bem que a zonzeira passa relativamente rápido, mas nem por isto deixa de ser um grande incômodo.
     Não sei se a zonzeira é algum efeito colateral da nova medicação que estou usando ou se é labirintite ou algo relacionado com o ouvido, mas na próxima semana vou fazer uma consulta com um otorrino. Ficar zonza toda vez que faço algum movimento com a cabeça é muito chato, além do perigo de acabar esborrachando no chão por falta de equilíbrio.
     Na próxima sexta-feira também vou fazer a segunda dose do novo protocolo quimioterápico, mas antes vou passar por mais uma consulta com o dr. Fernando. A primeira semana depois da quimio foi bem difícil e cheia de efeitos colaterais, mas a segunda foi mais tranquila. Agora sinto mais é fraqueza, mas também não é o tempo todo.
     Minha unha do pé continua dando trabalho e o dedão do pé direito está muito dolorido. Hoje fui na podóloga e a Inês, além da órtese, colocou também uma borracha para ajudar a levantar a unha para que ela não continue enterrando na lateral do dedo e provocando dor. Tomara que dê certo, pois sentir dor o tempo todo é irritante demais e eu não tenho a menor vocação para mártir e detesto sentir dor (será que alguém gosta? Acho difícil, mas como existe doido para tudo...).