Um Giro por João Pessoa - Visitando Areia e Campina Grande

  No domingo, dia 15, fomos passear pelo interior da Paraíba. No caminho, passando por municípios pobres, ficamos impressionados com a sujeira jogada nos pequenos barrancos na beira da estrada. As comunidades jogam todo tipo de lixo: é papel, sacos plástico, restos de toda natureza. Vi até um vaso sanitário jogado ao largo da rodovia. Ficamos imaginando aquilo tudo entupindo bueiros e provocando alagamentos na época das chuvas. Nós, o povo, somos responsáveis por esse tipo de crime contra a natureza.  Haveremos  de pagar o preço... Infelizmente.





         Continuando a viagem de carro, passamos por Alagoa Grande, cidade natal de Jackson do Pandeiro, cantor e compositor de forró, samba, baião, xote, xaxado, coco etc. Detalhes: o rei do ritmo faleceu em Brasília. Sabe-se que, passando pelo Aeroporto de Brasília, e acometido de mal súbito, foi socorrido no Hospital Santa Lúcia onde veio a falecer. Em homenagem ao famoso cantor, o portal da cidade de Alagoa Grande é um enorme pandeiro.


      De lá, seguimos em direção a Areia, cidade tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, principal município do Brejo Paraibano, localizado na serra da Borborema. O clima na região é ameno, o que motiva a frequência de turistas, especialmente  durante  o Circuito do Frio, época em que uma leve neblina cobre a região, e que se dá  nos  meses  de  julho  e agosto.



A Paraíba é berço de várias figuras ilustres e foi em Areia que nasceu Pedro Américo, pintor da obra "O Grito do Ipiranga", cujo quadro está em exposição no Museu do Ipiranga, em São Paulo. Em Areia também nasceu José Américo de Almeida, ex governador da Paraíba, romancista, ensaista, poeta, cronista, cuja obra mais conhecida chama-se "A Bagaceira". Ele foi o quinto ocupante da cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras, em 1966.


A cidade de Areia tem hoje aproximadamente 26 mil habitantes. Ela possui um bem conservado casario do Século XIX, entre eles a Igreja do Rosário e o Teatro Minerva, com capacidade para 250 pessoas e acústica excelente, construído em estilo barroco e inaugurado em 1859 objetivando a arrecadação de fundos para a libertação de escravos. O teatro é a primeira casa de espetáculo da Paraíba e foi construído 50 anos antes que o teatro da capital. O povoado de Areia foi transformado em Vila no ano de 1818, e em cidade no ano de 1846. Era o maior município da região e foi a principal civilização do Alto Brejo Paraibano no Século XIX.  Foi considerada a "terra da Cultura".

O jegue perdeu seu posto para as motos

Areia fica no topo da serra e por isto tem um clima ameno durante todo o ano, com temperaturas frias no inverno. A beleza natural do município se deve as suas serras, aos vales, fontes de água e ainda aos trechos remanescentes de floresta atlântica que guarda uma importante biodiversidade. A cidade atrai muitos turistas porque oferece diversas atrações culturais na música, na pintura e nas artes em geral. O Bregareia, Festival Brasileiro da Cachaça e Rapadura, por exemplo, é evento  que atrai turistas principalmente dos estados vizinhos - Rio Grande do Norte e Pernambuco.




Saímos de areia em direção a Campina Grande, a maior cidade no interior da Paraíba, com aproximadamente 450 mil habitantes, localizada entre as Serras do Compartimento da Borborema. É lá que acontece o maior São João do mundo, realizado durante 30 dias, de junho a julho, atraindo turistas do Brasil e do mundo. Passeamos pela cidade e depois do almoço retornamos para João Pessoa, que fica distante pouco mais de uma hora de viagem, em pista dupla de excelente qualidade.

Um Giro por João Pessoa - Estação Ciência e Praia do Jacaré

O Cícero, marido da Marta, chegou em João Pessoa na sexta-feira. Bom para nós porque agora temos carro com motorista para explorar mais facilmente as belezas da região. Aproveitamos para ir até a Estação Cabo Branco - Ciência, Cultura e Artes um equipamento público projetado por Oscar Niemayer cujo espaço central é disponibilizado às escolas para realização de experimentos científicos com os alunos. O espaço está aberto também para  visitação pública.



No Altiplano Cabo Branco além da Estação Ciência há outros dois equipamentos públicos: a Concha Acústica, um anfiteatro com capacidade para 300 pessoas sentadas, onde nos  finais de tarde e começo da noite sempre acontece eventos musicais e representações teatrais, e um auditório destinado a múltiplos eventos. Neste se destaca o Mural de 9m de comprimentos por 3m de altura, intitulado "O Reinado do Sol", do artista plástico paraibano Flávio Roberto Tavares de Melo. A pintura retrata a história da cidade de João Pessoa, fundada em 1570 pelos portugueses e chamada originalmente de Filipéia de Nossa Senhora das Neves e mais tarde Paraíba. Na falésia do Cabo Branco também está o Farol do Cabo Branco, de onde é possível avistar toda a costa norte do litoral de João Pessoa.


Duas tribos indígenas habitavam a região: os Potiguaras e os Tabajaras. Os potiguaras eram predominantes no Rio Grande do Norte e os tabajaras na Paraíba.



O mural retrata a chegada dos primeiros colonizadores, os portugueses, e a formação do povo paraibano pela miscigenação de índios, negros, portugueses, espanhóis e holandeses. Tem destaque as edificações por períodos históricos como o Convento dos Franciscanos e a Casa da Pólvora.  Os usos e costumes da época são mostrados nos eventos religiosos e ambientes mundanos como o carnaval e casas de "vida fácil". Destacam-se também algumas figuras ilustres na cultura da paraíba como Ariano Suassuna, José Lins do Rego, Augusto dos Anjos  e outros.


O ponto focal do mural é uma figura de mulher com o sol sobre a cabeça, significando que o sol nasce primeiro na Paraíba, na Ponta do Seixas, que é o ponto mais oriental das Américas e um dos símbolos da cidade.



É preciso dar destaque aos jardins da Estação Ciência que abriga seis esculturas do artista Abelardo da Hora. As mulheres de proporções exageradas, esculpidas em bronze e concreto, exploram a sensualidade feminina e chamam a atenção pela beleza e formas voluptosas. Os jovens não hesitam em se abraçar a elas para e deixar o momento registrado em foto. Vi vários fazendo isto e se divertindo com a situação.


        Surpreendentemente, pelo menos para mim, é óbvio, estava acontecendo  uma Feira de Ciências, onde alunos do ensino médio, orientados por universitários, apresentavam seus projetos na área de automoção.
    Vimos propostas muito interessantes como um projeto de irrigação autônoma que funciona mais ou menos assim: é colocado um sensor no solo e cada vez que ele indica que a terra está seca automaticamente uma bomba d'água  é acionada para molhar a plantação. O interessante é que é possível controlar a irrigação de acordo com a necessidade da planta. Outro projeto que também chamou minha atenção foi um de controle autônomo de uma casa. Um sensor colocado sobre o telhado indica quando começa a chover então, imediatamente, as janelas são fechadas. Este  projeto permite também controlar a temperatura ambiente e a quantidade de iluminação. Um terceiro projeto, entre os muitos que vimos, era de robos para auxiliar em resgate. O objetivo   neste caso é colocar o robô para explorar o local do acidente e indicar a temperatura ambiente antes dos socorristas iniciarem o trabalho. Uma câmera mostra para os socorristas o tipo de terreno, se acidentado ou não, e em quantos graus está a temperatura local porque muitas vezes  existe fogo na cena do acidente. Os socorristas já se preparam adequadamente para o resgate, sabendo antecipadamente o que irão encontrar. 


Quem dera que a juventude do Brasil estivesse mais envolvida em projetos desta natureza. Vimos muitos projetos interessantes, saídos daquelas cabeças jovens e cheias de boas idéias. É uma pena que haja tão pouca divulgação desses trabalhos em nosso país. A Paraíba parece  ser um celeiro desse tipo de iniciativa e eles são, inclusive, detentores de prêmios no exterior.

Visitamos também o bosque que fica perto da Estação Ciência e onde ficam expostas as esculturas em terracota feitas por um artista local. A vista lá do alto é soberba, linda demais. É um mar sem fim que se mistura com o céu azul no horizonte que deixa qualquer um extasiado com tanta beleza.



De lá fomos até a Praia do Jacaré, que é na verdade um estuário onde se encontram os rios Paraíba e o Sanhauá, mas chegamos logo depois do pôr do sol, então perdemos a apresentação do Jurandy do Sax. Uma pena, mas assistimos pontualmente às 18 horas a apresentação da Ave Maria com o mesmo artista, no palco armado no calçadão, em frente ao rio Paraiba. Já estava escuro e muitos turistas se aproximaram para ouvir esta música que toca no coração da gente.
          Vale a pena uma visita a João Pessoa, uma cidade de belezas naturais que enchem os olhos da gente, um centro histórico cheio de atrações e outras coisas mais, além de uma gastronomia para não se colocar defeito. 

Um giro por João Pessoa - Observando a vida acontecer

       Saímos cedo para a praia, pouco depois das 6 horas, e já encontramos várias pessoas aproveitando a manhã de sol quente, céu azul e água fria, mas muito agradável.  Dia perfeito para um mergulho ou uma longa caminhada. Optamos pelo banho, mas escolhemos um local onde a arrebentação estava forte e as ondas vinham cheias de sargaço atrapalhando o mergulho. Acabei desistindo de ficar na água muito tempo porque torci meu pé ontem e como está inchado e dolorido perco o equilíbrio com facilidade. Achei melhor evitar que as coisas piorassem para o meu lado.
    Quando sentei na areia fiquei observando a vida que acontecia à minha volta. Um cachorrinho preto corria frenético balançando a cauda indo ao encontro de seu dono que saía da água. Outro cachorro, um pouco maior, corria para o mar, furando as ondas em busca do brinquedo que seu dono jogava. Ele voltava encharcado e balançava o corpo para se secar antes do próximo mergulho. Ele não se cansava da brincadeira e latia pedindo mais. Um idoso da  cara amarrada caminhava com passos firmes na areia molhada enquanto um grupo de jovens, logo atrás, vinha conversando e dando risadas. Como dizia Vinícius: "É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe..."
Entre a solução de uma palavra cruzada e outra eu observava as pessoas na praia, que já estava bem cheia naquela hora da manhã. Só lamentei não estar com a máquina fotográfica para registrar tantas cenas interessantes. 
Pouco antes das 9 horas voltei para casa, tomei um banho e agora estou aqui escrevendo para fugir do calor que não dá trégua. Marta e Lia ficaram na praia aproveitando a água tépida e a calmaria. Mais tarde sairemos novamente, mas vamos para algum lugar onde tenha sombra e água fresca e só no final da tarde pretendemos voltar para a praia para outro mergulho.

Um Giro por João Pessoa - A morte da tartaruga

        Em João Pessoa o dia amanhece muito cedo (antes das 5 horas da manhã), mas em compensação escurece muito cedo também, por volta das 17 horas. Assim que o sol se pôs saímos para caminhar no calçadão da praia. O vento soprava de leve trazendo uma brisa suave e agradável que refrescava o dia que tinha sido muito quente e ensolarado. Alguns idosos aproveitando a brisa fresca papeavam sentados em cadeiras colocadas na areia, de frente ao mar. Achei a cena interessante e me aproximei para fotografar, mas outra cena me chamou mais a atenção: uma enorme tartaruga marinha morta na arrebentação.


Vários garis  que faziam a limpeza da areia pararam o trabalho, na tentativa de retirar o animal da beira d'água. Alguns gritavam orientando sobre como proceder e todos juntos faziam muita força para virar a velha e pesada tartaruga. Dava para perceber que estavam aborrecidos com a morte do animal. Algumas pessoas se aproximaram curiosas ao perceberem a tartaruga morta sendo arrastada com dificuldade na areia. Perguntei o que poderia ter provocado aquela morte e eles disseram que sem dúvida era a quantidade de plástico e todo tipo de sujeira em alto mar. Um dos garis ainda disse: "quando as pobrezinhas não morrem presas em redes de pesca, morrem porque comeram plástico ou alguma outra sujeira. Uma covardia".  Ainda disseram que este é um problema recorrente na praia de Cabo Branco. Por justiça, é bom que se diga,  a polícia ambiental acompanha este tipo de problema com presteza.


Uma verdadeira tristeza ver uma cena daquelas. Um animal tão grande e belo, e pelo que se sabe, em processo de extinção,  que percorrera enormes distâncias por este mar sem fim, morto por culpa de nossa indiferença com o meio ambiente. Olhei aquelas grandes nadadeiras que pendiam do casco enorme caídas inertes, os olhos sem vida, a boca semiaberta. Senti muita pena daquela tartaruga morta por causa da sujeira lançada por nós no mar. Um crime ambiental que acabará trazendo consequências para o próprio e inconsequente homem; Ser classificado como animal racional. Será?


Um giro por João Pessoa - Tirando a rede do mar

       Saí bem cedo para caminhar no calçadão da praia com a Marta e a Lia. Voltamos pela faixa de areia molhada, que é mais firme e facilita o caminhar, principalmente no meu caso porque preciso usar sandália de solado firme, para proteger meu pé de outra refratura (já refraturei uma vez e precisei ficar muito tempo em cadeira de rodas). Tenho pseudoartrose e cuido do pé com carinho porque adoro fazer longas caminhadas e preciso muito deles.
Quando estávamos chegando perto de casa a Lia e a Marta resolveram entrar na água, mas eu preferi ficar na areia enquanto observava dois pescadores fazendo muita força para puxar do mar a rede que deveria estar cheia de peixes. Eu estava curiosa para ver o resultado da  pesca e me aproximei. Dois rapazes que estavam fazendo caminhada pararam para ajudar e precisaram fazer muita força também.
Puxa daqui, puxa dali, finalmente a rede apareceu bem roliça sobre a areia,  cheia de algas que ajudavam a aprisionar os peixes. A água salgada escorria sobre a  areia firme. Os pescadores aguardaram a água se esgotar e então um deles correu para pegar um cesto onde eles jogavam os peixes que iam retirando do meio das algas. Eram vários peixes, entre eles vi um bagre bem grandão que eles quebraram os ferrões para evitar ferimentos e o jogaram no cesto. Os pequenos eles devolviam de volta para o mar. Os peixes espadas, compridos e bem finos,  tinham uma boca cheia de dentes afiados, e uma cara de poucos amigos. Fiquei bem longe deles, mas usei a aba do meu chapéu para ajudar um bagrinho pequeno ir de volta para a água.
Os pescadores continuaram recolhendo os peixes, mas como o sol já estava começando a ficar muito quente resolvemos voltar para casa. Lamentei não estar com a máquina para fotografar. As imagens ficaram apenas em minha memória e não tenho como reproduzi-las...  Mais tarde vamos sair novamente para apresentar os pontos turísticos da cidade para a Lia que visita João Pessoa pela primeira vez.

Um giro por João Pessoa - Chegada

Não tenho mesmo como escapar de fazer quimioterapia mais pesada então, antes de começar o novo protocolo, resolvi aceitar o convite da Marta para passar uma semana no apartamento dela, de frente para o mar em João Pessoa, na Paraíba. A viagem transcorreu tranquila, mas faltando uma meia hora para chegarmos comecei a sentir enjôo.  Acho que o lanche a bordo não caiu muito bem...


O Sr. Francisco já estava a nossa espera no desembarque e nos auxiliou com as malas. Como o aeroporto fica a mais ou menos uma hora de viagem até a praia de Cabo Branco, resolvemos parar para almoçar antes de chegarmos ao apartamento. Pedimos um peixe com um creme de camarão que estava ótimo. O cardápio informava que o prato servia três pessoas, mas pela quantidade de comida posta à mesa, sem sombra de dúvida comiam pelo menos umas quatro pessoas e ainda sobrava comida.


Já havíamos terminado o almoço quando se aproximou de nossa mesa um vendedor ambulante que, vendo a quantidade de comida que havia sobrado, nos perguntou se poderia levar aquela sobra com ele. Pedimos ao garçom para colocar tudo numa quentinha e o senhor, que não tinha conseguido nos vender nada, saiu todo satisfeito com o farto e saboroso almoço.


Chegamos ao apartamento sonolentas (acho que exageramos no almoço), arrumamos nossas roupas nos armários e caímos num sono profundo até quase seis horas. O Sr. Francisco foi nos pegar pontualmente às sete para irmos ao supermercado. Fiquei impressionada com o preço das frutas, muito mais caras do que em Brasília. Credo! Fizemos nossas compras para o café da manhã e voltamos para o apartamento. Dormimos cedo, logo depois de termos lanchado, porque estávamos ainda muito cansadas da viagem. A idade é um fato e cobra seu tributo...


  Acordei hoje muito cedo também, antes do sol nascer, e estou aqui na sala ouvindo o som das ondas quebrando na praia e sentindo a brisa fresca que entra pela  porta  escancarada da varanda que dá vista para o mar sem fim. O sol está começando a aparecer no horizonte agora, às cinco e trinta da manhã de um céu azul, mas cheio de nuvens. Será que vai chover um pouquinho?