Carinho matinal






















Todas as manhãs quando acordo
A primeira coisa que vejo
São dois olhos redondos e amarelos
Me encarando em silêncio.
Ela fica quieta, bem quietinha
Aguardando que eu também 
abra meus olhos,
e então toca meu rosto bem de leve,
com a patinha peluda
pedindo um carinho,
uma leve passada de mão
no seu pelo macio.
Não resisto e acaricio a viralata
Ela é uma gata assustada,
que tem medo de gente
Só não tem medo de mim,
Ela sabe que eu jamais a machucaria.


É feia de dar dó,
Mas isto não faz a menor diferença
Gosto dela mesmo assim.
Ela ronrona de prazer quando a acaricio,
Depois levanta a cabeça
para receber uma coçadinha no pescoço.
Fecha os olhos e
fica quietinha sentindo minhas mãos
deslizarem sobre seu pelo escuro.
Se  paro o carinho
Ela me toca de leve com a pata
E me encara com seus enormes olhos dourados,
Pedindo mais um pouco de atenção.
E quem resiste a um pedido assim?

Inhotim, um jardim botânico recheado de arte contemporânea


          Desde cedo nosso grupo estava pronto no saguão do hotel,  para o passeio em Inhotim. Saímos de ônibus pontualmente às 8:30h da manhã, com nossa guia Cristina. A distância de Belo Horizonte até Brumadinho, onde fica o Inhotim, é de 60 quilômetros, e a viagem durou pouco mais de uma hora. Enquanto o ônibus deslizava calmamente pelas estradas mineiras, Cristina foi nos contando a história do Inhotim, o jardim botânico que abriga uma das maiores coleções de arte contemporânea do mundo.




            Inhotim, olha só que legal esta história, fica nas terras da antiga fazenda de uma empresa mineradora do século XIX. O responsável pela mineradora era o inglês Timothy, mais conhecido como Senhor Tim ou Nhô Tim ou ainda Inhô Tim. Em 2004 Bernardo Paz, empresário da área de mineração e siderurgia, resolveu abrigar sua coleção de arte moderna nas terras da antiga fazenda e teve a idéia de manter o nome Inhotim, porque era assim que as pessoas simples de Brumadinho se referiam ao local.


            Bernardo Paz, idealizador do Inhotim, foi casado com a artista plástica Adriana Varejão, e foi a partir das obras dela que tudo começou.  O atual acervo abrange cerca de 500 obras de mais de 97 artistas de 30 nacionalidades, com foco em obras produzidas desde os anos 60. Hoje Inhotim possui várias galerias espalhadas pelos seus belíssimos jardins e abriga obras de artistas brasileiros e estrangeiros como Cildo Meireles, Tunga, Hélio Oiticica, Matthew Barney, Valeska Soares e outros.


            O Instituto Inhotim fica dentro da Mata Atlântica. Sua área total é de mais de 700 hectares, sendo que mais de 400 hectares são áreas de preservação. A área de visitação é de 96 hectares, compreendendo os jardins, as galerias, edificações e fragmentos de mata, além de cinco lagos ornamentais.


            O jardim botânico do Inhotim, que é membro da Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB),  possui mais de 4.500 espécies nativas e exóticas em cultivo e está cercado por mata nativa. Os jardins do Inhotim deixam qualquer visitante impressionado com sua beleza, lá existem mais de 1.500 espécies de palmeiras, o que lhe garante o  título de maior coleção de palmeiras do mundo.


            As obras de arte são outro capítulo de Inhotim. Você pode até não gostar de arte contemporânea (ou conceitual), mas não consegue ficar indiferente. Logo na entrada tem uma obra da artista japonesa Yayoi Kusama intitulada Narcissus Garden. São 500 esferas de aço brilhante que flutuam sobre um espelho d’água, e se movem ao sabor do vento refletindo o céu, a vegetação e o visitante. Muito interessante.


            Outra obra que chamou minha atenção foi o “Sound Pavilion”. Fiquei no mínimo curiosa e até espantada com os sons vindos do interior da terra e em tempo real. O artista Doug Aitken fez um furo no solo com uns 200 metros de profundidade e instalou microfones de alta sensibilidade ao longo da perfuração, que funcionam em tempos alternados. Os microfones amplificam o barulho que vem do interior da terra. É bem legal e até meio sinistro...  os barulhos são quase aterradores, lembram o som dos terremotos.


            Os jardins atribuidos a Burle Marx são na verdade um projeto de Orsini, que aliás ganhou recentemente um processo judicial para ter seu nome ligado ao projeto dos jardins do Inhotim. A participação de Burle Marx no projeto é modesta, de apenas 4%, e Pedro Nehring, aquele que assina os jardins da famosa Casa da Dinda, da era Collor, tem uma participação de 6%. Não precisa nem fazer as contas para concluir que foi Orsini quem projetou os jardins do Inhotim.


            Uma das galerias que costuma mexer com a sensibilidade dos visitantes é a Galeria Praça. A artista Janet Cardiff criou um semicirculo com 40 caixas de som distribuídas em 8 grupos de 5 caixas reproduzindo a gravação de uma composição de 1575 e um choro masculino. No centro da composição ouvimos o coro, mas aproximando-se das caixas ouvimos cada uma das vozes separadamente. É emocionante. 


            Outra galeria nos leva a pensar no esforço dos bailarinos durante a execução de uma dança. Ao entrar na sala ouvimos a música enquanto os bailarinos aparecem dançando na tela. Aos poucos a música é retirada e ouvimos apenas o som da respiração dos bailarinos. Haja fôlego e controle da respiração. É interessante o destaque dado ao som da respiração.


            E é andando pelos jardins do Inhotim que vamos apreciando as diferentes obras de arte contemporânea. Um dia é pouco, pois tem muitas coisas para se ver e apreciar, e vale a pena fazer tudo com calma. De vez em quando durante a caminhada pelos jardins é bom sentar e descansar num dos muitos bancos feitos de tronco de árvores, enormes troncos que um dia foram belas e antigas árvores frondosas. Os jardins são um espetáculo, lindos, de tirar o fôlego.


            Inhotim possui uma excelente infraestrutura. Para quem não quer andar muito eles oferecem carros elétricos abertos para transporte interno que saem de 10 em 10 minutos, basta adquirir a pulseira de acesso que custa R$ 15,00 por pessoa. Para portadores de necessidades especiais o transporte é gratuito.
            Quando a fome apertar não desespere, o Inhotim oferece várias opções: tem o Café do Teatro, lanchonetes, pizzaria, O Bar do Ganso e os Restaurantes Tamboril e Oiticica. Nosso grupo almoçou no restaurante Tamboril e posso garantir que a comida estava deliciosa, para ninguém botar defeito.


               Passamos um dia muito agradável em Inhotim. Confesso que não sou fã de arte contemporânea e não gostei de muitas delas, mas algumas são interessantes, tenho que admitir. Além do mais, mesmo não gostando de arte contemporânea você não consegue ficar indiferente. Talvez seja este o objetivo do artista. Mas no quesito natureza Inhotim é tudo de bom. Os jardins são simplesmente fantásticos.



                Um aviso importante: um dia é pouco para conhecer Inhotim. É muito grande e tem muita coisa para se ver. E só vendo de perto mesmo, pois é proibido fotografar as obras que ficam dentro das galerias, então... só visitando para ver tudo ao vivo e em cores...

Visitando Belo Horizonte


            No final da semana passada eu e Maria Luiza, uma amiga muito querida,  viajamos com um grupo de mais 34 pessoas para Belo Horizonte. Madrugamos no aeroporto, pois nosso vôo saiu às 7 horas da manhã. Todos estavam muitos animados com o passeio.
            Chegamos em Belo Horizonte, embarcamos num confortável ônibus de turismo e saímos para um city tour pela capital mineira. Nossa primeira parada foi no complexo da Pampulha, projetada pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer. Nossa guia Cristina falava da cidade com o entusiasmo de uma boa mineira.


            A lagoa da Pampulha é um lago artificial construído na década de 40.  O então prefeito Juscelino Kubitschek contratou o jovem arquiteto Oscar Niemeyer, pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado, para  projetar a igreja de São Francisco de Assis, o Museu de Arte, a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube que ficam no entorno da lagoa.
            São palavras de Oscar Niemeyer explicando seu gosto pelas curvas: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”


            A igreja de São Francisco de Assis, cheia de curvas e um projeto absolutamente diferente de qualquer outra igreja até então contruída, é um marco da arquitetura moderna brasileira. Por causa de seus traços modernos e também por causa do mural com traços abstratos pintado por Portinari, ficou sem a benção da igreja católica por muitos anos, e quase foi demolida. No interior da igreja apreciamos de perto os 14 famosos painéis de Portinari, que retratam a Via Sacra.
            Na orla da Pampulha ficam também o ginásio do Mineirinho, o Mineirão, o jardim Zoológico, o Centro de Preparação Equestre e as pistas para ciclismo e caminhada. Foi o conjunto da Pampulha que deu a Niemeyer projeção internacional.


            O Museu de Arte da Pampulha funcionou inicialmente como cassino, até ser fechado em 1946, por causa da proibição do jogo no país. O atual museu só começou a funcionar em 1957. O interior do prédio se destaca pelo belo revestimento de alabastro, mas assim que entramos no grande salão o que chama mesmo a atenção são as enormes pilhas de tijolos de diferentes formatos e tamanhos. Confesso minha ignorância e insensibilidade para entender aquilo como arte... para mim, desculpem-me os entendidos e apreciadores, aquilo mais parece restos de obras...  Os jardins externos, decorados com esculturas de Ceschiatti, Zarnoiski e José Pedrosa, são assinados por Burle Marx.


            A Casa do Baile, que fica numa pequena ilha, foi inaugurada em 1943 e funcionou até 1948. Depois de alguns anos de abandono, passou por uma reforma geral e foi reinaugurada em dezembro de 2002.


            Interrompemos nosso passeio para almoçar no Restaurante Dona Lucinha, que tem a fama de ser muito bom. Fiquei um pouco desapontada, para mim a comida não correspondeu a fama. Já comi melhor pelo valor da conta que tive de pagar.
            Depois do almoço fomos para o hotel onde ficamos hospedadas, descansamos um pouco e saímos para passear nos arredores. De volta ao hotel ficamos no saguão ouvindo música enquanto esperávamos nosso jantar. Algumas pessoas do grupo estavam prontas para sair quando uma delas, uma senhora com mais de 70 anos, caiu desmaiada no chão após uma parada cardíaca. Foi um susto. Um homem do corpo de bombeiros que estava lá iniciou os procedimentos de ressussitação enquanto aguardava a chegada do socorro que demourou pelo menos uns 15 minutos por causa do intenso trânsito nas noites de sextas-feiras em BH. A senhora foi removida para o UTI onde ficou internada.
             Eu estava sentada numa cadeira bem em frente ao local onde a senhora caiu desmaiada. Num instante ela estava em pé animada com o passeio e no instante seguinte estava lá caída entre a vida e a morte.  Fiquei pensando  no quanto nossa vida é  frágil... Ninguém sabe a hora da partida... Mais uma vez tive a certeza de que é melhor viver intensamente o aqui e tentar ser feliz agora.

Susto na caminhada

A poodle que temos em casa já está, digamos, na meia idade. Como todo cão da raça ela adora brincar e correr atrás de uma bolinha e isto acabou provocando o rompimento parcial dos ligamentos de uma das pernas traseiras. A veterinária não recomendou a cirurgia porque é certo que o ligamento romperá novamente, assim não vale a pena submeter a cachorrinha a uma cirurgia que não trará o benefício esperado. Ela ficará mancando para sempre, mas isto não é nenhum problema para um cachorro sem vaidades...
Um dia destes pela manhã estávamos caminhando na rua, próximo da guarita do condomínio, quando por pouco não aconteceu uma tragédia. É que um cachorro enorme e com cara de poucos amigos, que havia acabado de escapar de sua casa em outro condomínio próximo ao meu,  entrou pela cancela onde passam os carros e veio direto para cima de mim e da Haseena. Quando me virei para ver o porquê a Haseena não andava dei de cara com um cachorro com a cara de bravo me encarando. Levei o maior susto e pensei: estamos encrencadas... Eu não sabia o que fazer, então gritei por socorro enquanto andava devagar em direção a guarita para me proteger.
Nem percebi que havia levantado a Haseena pela coleira colocando-a embaixo do meu braço para protegê-la, mas aproveitei a desorientação do cachorro que estava em território desconhecido para tentar espantá-lo enquanto andava em direção a guarita. O porteiro viu a cena pelo monitor das câmeras de segurança e veio em nosso socorro espantando o cachorro que saiu por um lado e tornou a entrar pelo outro lado da guarita. Eu e a Haseena já estávamos trancadas e em segurança, mas confesso que eu continuava tremendo feito vara verde e minhas pernas continuavam bambas.  A Haseena latia feito uma louca.
Enquanto o porteiro e o segurança tentavam afugentar o cachorro uma caminhonete entrou e parou em frente a cancela. Era o dono do cachorro fujão e assim que o homem desceu do carro o cachorro parou e se deitou no chão em completa submissão. Ele devia saber com quem estava lidando. Quando olhei para o lado de fora da guarita vi outro homem chegando ofegante e assustado. Era talvez um empregado da casa  que vinha correndo atrás do animal, pois trazia nas mãos uma coleira e uma guia para prender o cachorro que naquela altura dos acontecimentos já estava no colo do seu dono.
Depois que tudo acalmou saí da guarita e fui caminhando devagar até minha casa, mas a cena da quase tragédia não saía da minha cabeça. Quando fecho os olhos ainda consigo ver com nitidez o focinho comprido do cachorro com as orelhas pontudas e em pé olhando em meus olhos (acho que era um doberman). Foi assustador. Nossa sorte, eu acredito, foi o cachorro ser um macho e a Haseena fêmea. O contrário teria sido um desastre.
As pessoas que criam animais perigosos precisam ser mais cuidadosas. Aquele cão poderia ter provocado uma tragédia. Se ele tivesse me atacado prá valer eu não teria a menor chance e muito menos a Haseena.