Construindo ou reformando o inferno é o mesmo
sexta-feira, setembro 25, 2009
Você faz planos de construir ou reformar sua casa ou apartamento, contrata arquiteto, paga engenheiro, mestre de obra e peões e sonha com a obra pronta e acabada.
O que você sequer sonhou é a mão de obra e dores de cabeça que terá até ver a obra concluída. Isso sem contar com a despesa que começa com um orçamento e termina no mínimo três vezes mais.
Se for casado os problemas decorrentes da obra chegam até a abalar o casamento. Solteiro tem que absorver sozinho ou chorar com os amigos todas as raivas que te fazem passar.
Alguém garante que aquele engenheiro é o bicho. Excelente profissional. Aí você contrata, paga os tubos de honorários e ele faz os cálculos para transformar em realidade a planta genial que o arquiteto bolou.
Todo arquiteto (ou a maioria deles) é meio doido e sonhador. Cria projetos mirabolantes e quase impossíveis de ser executados. O engenheiro que se vire para calcular. Afinal ele estudou foi prá isso... Não é assim que pensam os projetistas? E você, o tolo da vez, paga para ver.
A bendita obra começa e os problemas se sucedem. Dos menores, como falta de material já no finalzinho do dia, como aqueles quase insolúveis que deixam todos de cabelo em pé.
O mestre de obra grita com os peões, esbraveja, e eles continuam agindo como se não fosse com eles. Emporcalham tudo por onde passam. Destroem tudo a sua volta. É o inferno de Dante...
O engenheiro, aquele que recebe honorários mensais, além do que recebeu para fazer os cálculos, passa na obra de vez em quando, olha tudo por cima e vai embora como se tudo estivesse correndo as mil maravilhas. Na véspera de encher a laje (isso qdo a obra já está bem adiantada) ele examina o escoramento, confere as vigas e resolve: impossível encher essa laje do jeito que está. Pode ligar para a empresa e adiar a entrega do concreto. Você quer morrer de raiva. Já foi um custo conseguir vaga para aquele dia e terá que adiar o enchimento da laje. Valha-me Deus! Então você passa a bola para o engenheiro que explica na empresa sobre a impossibilidade de entregar o concreto no dia seguinte e adia para, no mínimo, daí uma semana ou dez dias.
O mestre fica fulo da vida e garante que o trabalho dele está perfeito, dentro dos conformes, mas se rende e faz o que o engenheiro determina. Puto, mas faz do jeitinho que é ordenado e a obra continua.
Novamente, na véspera de encher a laje, o engenheiro aparece para conferir tudo e resolve que não está assim tão perfeito, mas dá para continuar com os planos de encher a bendita laje. Você respira aliviado e espera o dia seguinte.
O horário para a chegada do concreto é 8:00 horas da manhã. Dá 8, 8:30 e nada de caminhão. Lá pelas nove horas o pessoal aparece como se nada tivesse acontecido e o mestre determina: não aceito esse concreto. Já ultrapassou a hora e ele não está mais prestando. Você olha desconsolado para tudo aquilo e senta com vontade de chorar.
O motorista do caminhão argumenta, telefona para a empresa e no final das contas vai embora com o concreto... Todos os peões procuram um lugarzinho para esticar o esqueleto e descansar enquanto esperam pela chegada de outro caminhão de concreto.
Finalmente o caminhão chega e vira aquela confusão e gritaria. Arrumem aqui, a madeira cedeu. Corre, coooorrre. Faz isso, faz aquilo. Enche aqui que ainda não está bom. É um horror. Você assiste tudo aquilo estarrecido. Parece que aquela bagunça não vai acabar nunca, mas uma hora alguém grita que já está tudo pronto e você dá aquele suspiro de alívio. Por alguns dias tudo vai estar mais calmo na obra.
Aí começa o reboco. O profissional garante que é o melhor e a parede fica parecendo com a areia da praia, cheia de ondinhas... É um faz e desfaz sem fim. A quebradeira parece nunca acabar.
O acabamento é outro tormento. O material caríssimo e a mão de obra de fazer chorar qualquer santo, mas de raiva não de emoção. Quando tudo parece estar pronto você abre a torneira do banheiro do segundo piso e a água começa a pingar no piso de baixo. Ninguém merece. Você tem vontade de matar só um pouquinho todos aqueles envolvidos na obra. E de novo é preciso quebrar o gesso e descobrir onde foi que o infeliz do peão deixou de colar bem os canos.
Bom, mas um dia (antes tarde do que nunca) sua obra finalmente é dada por pronta e acabada. Você olha tudo aquilo e percebe que apesar de tantas raivas a residência dos seus sonhos está concluida e do jeitinho que você sempre quiz. Triste mesmo é quando depois de todo esse inferno você ainda conclui que não era aquilo que queria. Aí, só Deus na causa...
Sufoco, hein, tia!