Gesto de amor e solidariedade
domingo, outubro 18, 2009
O dia amanheceu ensolarado para logo em seguida fechar e iniciar uma chuva fininha. Aquele tipo de chuva que dura o dia inteiro e vai molhando tudo devagar mas intensamente. Um friozinho também tomou conta do tempo e até precisei colocar uma meia porque meus pés estavam gelados.
Na verdade o dia se transformou naquele tipo de dia que dá vontade apenas de ficar embaixo das cobertas assistindo a um bom filme, comendo pipoca ou tomando chocolate quente.
O telefone tocou. Minha irmã atendeu. Era Dª Coraci. Nossa! Já faz quanto tempo não falo com ela. Quanta saudade. De repente fui transportada no tempo...
Nossa história é recheada de muito amor e solidariedade. Já se passaram mais de vinte anos, eu morava num pensionato de freiras na Asa Norte, estava grávida e precisava me mudar antes que a barriga começasse a aparecer. A bem da verdade eu não sabia o que fazer, pois não tinha para onde ir e o dinheiro curto não dava para pagar aluguel de casa ou apartamento.
Um dia eu estava ensaiando para um desfile, mas minha cabeça estava concentrada de fato no problema que eu estava vivendo: minha gravidez e o que eu iria fazer dali em diante. Para ser bem realista a situação era bastante ruim. Eu estava vivendo um grande dilema, pois estava grávida, sozinha, morando em pensionato de freiras e sem ter para onde ir.
Uma colega que desfilava comigo me chamou em particular quando viu minha aflição e sugeriu que fossemos conversar com um amigo dela que era uma pessoa muito boa e espiritualizada. Como eu não tinha nada a perder fui e confesso que foi a melhor coisa que fiz naqueles dias.
Conversamos muito, contei-lhe da gravidez, minhas preocupações e angústias. Ele tentou me acalmar e disse que iria ajudar-me. Não passou muitos dias ele telefonou para dizer que havia encontrado um lugar onde eu poderia morar.
Fui então conversar com Dª Coraci. Ela morava no Cruzeiro Novo e estava de mudança para uma outra cidade com o marido. A filha, uma jovem de uns 16 anos iria ficar morando sozinha no apartamento e ela me disse que eu poderia ficar morando com ela o tempo que fosse necessário para que eu não precisasse me separar de meu bebê.
Foi emocionante encontrar uma pessoa que nunca havia me visto e que sem questionar o fato de eu estar grávida e solteira não se incomodou em me abrigar em sua casa com sua filha caçula. Combinamos que eu faria a mudança tão logo ela saisse do apartamento, o que aconteceu daí a alguns dias.
Eu e Karine nos demos bem de cara. Moramos juntas por alguns meses até que ela também se mudou para outra cidade onde decidiu continuar os estudos e eu permaneci no apartamento com minha irmã e minha filha que era apenas um bebê. De vez em quando Dª Coraci e o Sr Jaime vinham passar alguns dias em Brasília e ficávamos todos no apartamento. Eles me tratavam como filha e a Bárbara como uma netinha querida.
Morei lá até o dia que consegui comprar o ágio de meu próprio apartamento em Taguatinga. A Bárbara era ainda um bebê quando mudamos para Taguatinga onde moramos por um ano. Nessa ocasião pude vender o ágio do apartamento e comprar outro no Cruzeiro onde moramos por uns seis ou sete anos até mudarmos para a casa onde estamos até hoje, nos condomínios do Jardim Botânico.
Dª Coraci ainda continua sendo uma referência para mim. Ela, sem nunca ter me visto, sem conhecer minha história não hesitou em me acolher dentro de casa para que eu pudesse ter minha filha em segurança. Ela foi meu anjo da guarda no momento que eu mais precisava de ajuda. Sempre penso nela com muito amor e carinho. Foi bom falar com ela hoje.
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Obrigada pelo comentário. bjs Lou