Levanta-te e anda
quarta-feira, julho 18, 2012
Desde
que iniciei o tratamento para ficar curada do câncer metastático que tentava
matar meu corpo, a religião, que nunca foi meu ponto forte, ficou ainda mais
fragilizada.
Um dia em que eu estava me sentindo
muito cansada, desanimada mesmo, e achando que não havia mais horizonte em
minha vida que parecia escorrer lentamente por entre meus dedos, que sequer
conseguiam segurar um copo, senti um
impulso inexplicável para ir conversar com o Padre Pedro Bach. Uma amiga havia
me falado muito dele, resolvi conhecê-lo e ouvir o que ele tinha para me dizer.
Cheguei desconfiada, sem saber bem o
que eu estava fazendo ali, mas bastou vê-lo de perto para ficar desarmada. O
Padre Pedro era uma pessoa de estatura pequena, aparência frágil, que andava
com dificuldade, mas a energia que o envolvia era poderosa, era de um gigante.
Conversamos muito naquele primeiro encontro e uma das coisas que ele me sugeriu,
depois de me perguntar se eu estava disposta a fazer um sacrifício para ficar
curada, foi assistir missa e comungar
durante 90 dias ininterruptos.
Num primeiro momento nem achei que
fosse tanto sacrifício assim ter que assistir missa e comungar todos os dias,
mas a medida que o tempo passava ficava cada vez mais difícil ir todos os dias
na igreja. Eu estava muito debilitada. Comentei com ele o tanto que estava
sendo difícil manter o propósito de assistir missa todos os dias e ele até
sugeriu diminuir o tempo, mas eu disse que preferia insistir e continuar
tentando cumprir os 90 dias de comunhão.
Durante as homilias eu ficava
prestando atenção nos relatos dos inúmeros milagres atribuídos a Jesus Cristo e
pedia em silêncio que Ele operasse um milagre em mim também. Eu me sentia tão
fraca que havia dias em que eu só levantava do banco da igreja na hora de
receber a comunhão, porque era difícil ficar em pé por muito tempo, mas
consegui cumprir o propósito das noventa comunhões.
O tempo foi passando e eu continuei
encontrando com o Padre Pedro todas as vezes que ele vinha a Brasília até o dia
que ele nos deixou definitivamente para voltar à casa do Pai. Ele faleceu no
dia 29 de Julho de 2010.
Quantas coisas aconteceram em minha
vida desde que conheci o Padre Pedro. Eu gostava muito dele e para mim ele
continua sendo uma referência. Todas as vezes que faço qualquer exame, quando
estou dentro de um tomógrafo, ou nas vezes em que precisei me submeter a alguma
cirurgia, é nele que penso. Para mim ele continua sendo meu canal direto com
Deus.
Nas minhas reflexões, e numa
conversa com minha psicóloga, acabei por compreender que a graça de um milagre
já aconteceu algumas vezes em minha vida e eu nem havia me dado conta disto. O
mais recente aconteceu no início deste
ano.
Em dezembro de 2011 meu pé quebrou do nada, sem que eu
tivesse escorregado ou torcido o pé, fazendo uma fratura grave que me deixou na
cadeira de rodas por dois longos meses. Eu poderia ter me conformado em não
fazer a viagem que eu havia programado para o mês de abril deste ano e ter
apenas lamentado a fratura, ficado irritada, lamentando o azar, mas não foi o
que fiz. No mês de março, assim que eu soube que não havia nenhum problema mais
grave com minha saúde fui atrás de uma preparadora física e comecei a fazer
musculação e alongamento, tão logo me vi livre do gesso. Foram apenas dois
meses de preparo físico para uma viagem que me obrigou a caminhar muito, subir
e descer ladeiras e escadas e eu dei conta de tudo sem a menor dificuldade.
Como disse a Dani, se isto não é um “levanta-te e anda” o que será?
Compreendi finalmente que para um
milagre acontecer em nossas vidas não é necessário que Deus se faça homem e
coloque as mãos sobre nossas cabeças. Se a centelha divina está dentro de cada
um de nós, cabe também a nós a iniciativa de usar os recursos que estão ao
nosso alcance para fazer com que os milagres aconteçam.
No meu caso, que tenho câncer ósseo, uma fratura pode
acontecer, mas se eu fortalecer corretamente a musculatura do meu corpo posso
evitar outro episódio como a fratura do
pé. Foi por isto que procurei a ajuda da Janaína que é minha preparadora física
até hoje. Ela me orienta no exercício de
musculação e depois me ajuda no alongamento. É meu jeito de ajudar o milagre
acontecer.
Houve um tempo em que eu não
conseguia usar minhas mãos, também era difícil engolir, perdi o paladar, eu
engasgava muito facilmente até com minha própria saliva, fiquei sem voz, era
penoso andar, as unhas do pés encravaram por causa da quimioterapia... Superei
todas estas dificuldades, ficou tudo no passado. São os pequenas grandes milagres
com que Ele agraciou minha vida. É o meu “levanta-te e anda”.