sábado, março 19, 2016
Lou
Na última quinta-feira fui fazer mais um ciclo de quimioterapia, mas como minha mão já apresentava sinais da síndrome pés e mãos, em nível II, a médica suspendeu a doxo e fiz apenas o herceptin, o perjeta e o prolia.
Os nós dos dedos das mãos já estão bem escuros e entre os dedos também, e a palma está vermelha e muito sensível, além de um pouco inchada. O punho também está escuro. Esta síndrome é bastante dolorosa e não existe nenhum remédio eficaz para acabar com ela. Das outras vezes precisei tomar antibiótico por causa da inflamação e agora que sei como funciona não quero deixar chegar neste ponto.
É difícil fechar os dedos quando toda a mão começa a ficar inchada e como a pele fica muito fina é fácil se cortar. A pele em volta das unhas também começa a levantar e romper deixando os dedos bastante doloridos.
Este é um dos efeitos colaterais da doxo, e mesmo o médico tendo reduzido a dose do quimioterápico estou sentindo novamente o problema. Meus pés também ficam muito sensíveis e doloridos. Uso meias para amaciar a pisada, mas preciso usar o lado direito para dentro porque até a trama da meia de algodão machuca a sola dos meus pés.
Vou me adaptando da melhor forma possível, mas depois de tanto tempo enfrentando um problema depois do outro a gente acaba ficando cansada e de saco bem cheio de tudo. Manter o bom humor é tarefa árdua, mas continuo tentando.
Minha voz continua rouca e baixa. Não a reconheço mais, e ela soa muito irritante para os meus ouvidos. O problema com a comida entalando até melhorou um pouco depois que passei a usar uma nova medicação que o gastro prescreveu, porém continuo engasgando muito, principalmente com saliva. Tenho que beber líquidos com cuidado, mas de vez em qualquer acabo engasgando e tossindo muito.
Rir também continua sendo outro problema, pois sempre que tento dar risada, coisa que adoro fazer, começo a tossir sem parar. Pode? Será que a doença vai me tirar até o prazer de dar gostosas gargalhadas? Espero que não.
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domingo, março 06, 2016
Lou
Hoje acompanhei minha mãe e assistimos juntas a missa das 9h da manhã. O evangelho era sobre a parábola "A Volta do Filho Pródigo" e o pároco foi muito feliz em sua homilia.
Lembrei-me imediatamente do quadro do mestre Rembrandt que pintou esta cena bíblica com muita sensibilidade. Tive a felicidade de ver de perto esta obra no Museu Hermitage, em São Petesburgo. Foi emocionante.
O pároco, durante a homilia, de forma muito sutil, descreveu a pintura de Rembrandt sem contudo mencionar seu nome. Descreveu o detalhe das mãos do pai que acolhe o filho mais novo que retorna a casa, roto, cansado, faminto e arrependido. A mão esquerda é uma mão masculina que toca o ombro do filho, enquanto a mão direita é mais feminina e repousa suavemente nas costas do jovem cuja cabeça está amparada no peito do pai representando o ventre materno que acolhe e nutre. O sandália gasta está caída deixando ver um pé sujo e maltratado. A roupa está em farrapos. O filho mais novo é a imagem da decadência enquanto o pai e o irmão mais velhos usam túnicas vermelhas que simbolizam a riqueza que eles possuiam.
As mensagens sutis de Rembrandt não param por aí. O pai está de pé, numa atitude acolhedora para com o filho perdido que retorna a casa, depois de gastar toda sua parte da herança. O filho mais velho também está de pé como um observador crítico e rancoroso. Ele está com inveja e ressentido pelo fato do pai ter perdoado o filho mais novo. Nesta parte o pároco observa que o filho mais velho acusa o irmão de ter gasto sua parte na herança com prostitutas e festas o que, na realidade, era o que ele faria se estivesse no lugar do irmão mais novo.
A homilia deixa claro o perdão do pai para com o filho mais novo, perdulário, que se arrepende e volta a casa. O pai pede ao servo que pegue uma túnica para vestir o filho andrajoso. Pede também um anel e uma sandália, e manda matar um novilho gordo para fazer uma festa e comemorar a volta de um filho que estava perdido. Deus é assim misericordioso, sempre pronto a perdoar e acolher um filho arrependido.
É uma homilia que nos leva a uma reflexão e nos mostra a decadência e miséria do homem egoista que apenas busca os prazeres da vida em detrimento aos dons espirituais. Antes de voltar a casa do Pai este homem precisa reconhecer seus erros e se arrepender. O Pai, misericordioso, está sempre disposto a perdoar e receber de volta seu filho perdido. Ele tem compaixão e um amor incondicional.
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