Sopa de abóbora
segunda-feira, janeiro 15, 2018
Certos costumes ficam impregnados no inconsciente coletivo de forma indelével.
Na cidade mineira onde cresci, era comum alimentar porcos com abóboras que eram abundantes no campo, nas chácaras, nos sítios e nas fazendas então, abóbora passou a ser visto como alimento de porcos e animais rústicos.
Meu sobrinho, um gigante magrelo com mais de 1,80m e alma de criança, tendo em vista ser portador de um problema genético que o faz ter idade mental de menino, muito embora já tenha 30 anos, vive na mesma cidade onde passei boa parte da minha infância. Como era de esperar ele rejeita abóbora sem nunca ter sequer provado a iguaria.
Todos os anos ele e seus pais vem passar as festas de final de ano em Brasília e ano passado não foi diferente. Uma noite, quando fui olhar o que tinha para o jantar, dei de cara com uma panela cheia de abóbora refogada com a cara mais sem graça do mundo. Logo pensei: isso não vai dar certo. Nem eu, que não tenho nenhum preconceito com a iguaria, fiquei animada com a cara da abóbora refogada.
Pensei, pensei e decidi transformar aquela abóbora sem graça numa deliciosa sopa de abóbora, mas eu não podia simplesmente dizer que era sopa de abóbora. Enquanto eu preparava a sopa fiquei matutando e tentando descobrir um jeito de tornar aquela simples abóbora num prato atraente, mas como?
De repente me veio uma ideia: vou inventar um nome diferente para essa abóbora. Como não tenho o hábito de inventar mentiras, continuei pensando e decidi não mentir mas tornar mais palatável o nome da sopa de abóbora. Eureka! Dei-lhe o nome de sopa de pumpkin. Não menti, apenas dei o nome inglês para minha sopa de abóbora.
Assim que a sopa ficou pronta servi duas tigelas e chamei meu sobrinho para provar uma deliciosa sopa que eu tinha aprendido a fazer na última viagem que eu havia feito na França. Ele ficou empolgado. Olhou para a sopa e perguntou: que sopa é essa tia? - Pumpkin, respondi. Ele tornou a me perguntar: pumpe o quê? - Pumpkin, respondi novamente. E expliquei: é um legume muito usado na França. Vi campos enormes de cultivo de pumpkin para todos os lados por onde andei. Falei sério e comecei a comer.
Ele sentou ao meu lado e começou a tomar a sopa de abóbora. Parou segurando a colher no ar e me disse sorrindo: essa sopa de pumpkin está uma delícia. E comeu tudo até a última colherada e ainda pediu para repetir. Pensei: nada como uma história atraente e um nome diferente para nossa simples abóbora...