Já faz algum tempo que não escrevo nada sobre meu tratamento, afinal a doença estava sob controle e tudo caminhava relativamente bem durante mais de seis meses até que comecei a perder peso e sentir dores nas costas, principalmente quando eu caminhava. Meu intestino também não estava normal, e depois de perder uns seis quilos, sem fazer nada para que isto acontecesse, logo imaginei que alguma coisa errada devia estar acontecendo com meu corpo.
Agendei o PET e o resultado, por causa dos jogos da copa, demorou um pouco mais do que o normal para ficar pronto. Acho muito estranho, e realmente não consigo entender, que jogos de futebol, sejam de copa ou de qualquer outro campeonato, interfiram até mesmo no tempo para sair o resultado de um exame tão importante para o controle e o tratamento de uma doença como o câncer. Os pacientes graves não estão preocupados com o resultado da copa do mundo...
Assim que peguei o resultado do PET no laboratório fui direto para minha consulta com o dr. Fernando Maluf e, como eu já esperava, fiquei sabendo que o câncer no esterno e na vértebra T3 havia piorado, mas os demais focos do doença continuavam estáveis. Pensei: menos mal do que eu esperava, pois os órgãos vitais continuam preservados e só isto já é uma grande vantagem.
O Dr. Fernando optou por mudar o protocolo que eu vinha fazendo desde que iniciei o tratamento com ele. Foi retirado o Tykerb e mantido o zometa (só que mensal e não mais trimestral como era antes) e o Herceptin, mas foi acrescentado o Pertuzumab e a Carboplatina. Quando ele mencionou a carboplatina cheguei a sentir um arrepio, pois me lembro muito bem que já usei esta quimioterapia e não foi nada fácil. Minha imunidade despencava e já viu o resto... Protestei mas fui voto vencido e hoje fiz a primeira dose do novo protocolo, com a tal da carboplatina.
Quando cheguei na Oncovida tive a grata surpresa de encontrar em treinamento o Humberto, um auxiliar de enfermagem que trabalhava na outra clínica onde eu fazia tratamento. Demos um gostoso abraço naquele encontro inesperado, pois foi muito bom rever alguém com quem convivi durante mais de cinco anos.
Como a clínica estava lotada fui encaminhada para uma sala coletiva ao invés do box individual e em poucos minutos eu já estava conversando abobrinhas com todos os outros pacientes e acompanhantes e dando gostosas gargalhadas. O enfermeiro que nos atendia deve ter estranhado tantas risadas e insinuou, muito discretamente, que era melhor diminuir a alegria, pois era possível ouvir nossas risadas nas outras salas. Olhamos uns para os outros e rimos ainda mais, afinal, rir ainda costuma ser o melhor remédio para a cura de muitos males.
Logo depois da discreta bronca o enfermeiro aplicou uma medicação na minha veia e falou alguma coisa que não registrei, mas poucos minutos depois senti meu corpo ficar estranho e pesado, minha língua parecia grossa e então comecei a sentir dificuldade na fala. Perguntei o que estava acontecendo comigo e ele riu dizendo que havia alertado que estava aplicando um forte antialérgico que já estava fazendo o efeito esperado e eu iria dormir. Ainda rindo das conversas fiadas com os outros pacientes que estavam tomando medicações mais leves do que a minha falei com o enfermeiro que ele tinha me aplicado um sossega leão para que eu calasse minha boca e parasse com a conversa e as gargalhadas. Só me lembro que ainda ri um pouco mais com a brincadeira e fui sentindo que eu era tragada para um buraco negro bem longe dali. As vozes foram ficando cada vez mais distantes. Tentei resistir mas foi impossível, dormi profundamente e quando acordei todos já haviam ido embora, só eu ainda estava ali sozinha fazendo quimioterapia. A Suzi, como sempre, aguardava pacientemente.
Hoje fiquei mais de quatro horas na clínica para fazer todo o protocolo. Saí de lá completamente grogue e precisei de ajuda para caminhar até o carro. Cheguei em casa e continuei a dormir um sono pesado, cheio de imagens confusas... Acordei ainda meio mole, cansada, sem muita vontade de conversar. Achei melhor vir escrever um pouco.