No corredor da morte

     Nos últimos dias li muitos comentários ora aplaudindo, ora condenando a execução do brasileiro Marco Archer, ocorrida na Indonésia, pelo crime de tráfico de drogas. Até a presidente reeleita no Brasil, que não faz nada efetivamente eficaz para evitar que milhares de brasileiros morram todos os dias sem atendimento médico nos hospitais do país, se deu ao trabalho de interceder pelo condenado. Cheguei a ouvir pessoas esclarecidas dizendo que ele não havia praticado nenhum crime hediondo e portanto não merecia pena de morte.
     Fiquei pensando sobre o assunto e confesso que não lamentei a morte do traficante. Na minha opinião, uma pessoa que vende drogas para usufruir lucro, sem se importar com as consequências disto, comete sim um crime hediondo. Alguém parou para pensar em quantas vidas esse traficante conseguiu destruir com as drogas que vendia? Alguém pensou nas famílias que ele conseguiu desestruturar com estas drogas que ele ajudava a distribuir? Certamente muito poucas pessoas pensaram nisto.
     Muitos lamentaram o tempo que ele passou no corredor da morte, aguardando sua sentença. O Marco deve ter sofrido; eu não tenho a menor dúvida disto. Ele deve ter sofrido muito e repensado várias vezes, todos os dias, o quanto não valera a pena ter corrido o risco de transportar drogas, mesmo ganhando muito dinheiro para fazer isto. Duvido que se tivesse outra oportunidade ele correria o risco de ser descoberto carregando drogas, por maior que fosse a quantia que viesse a receber por isto e por melhor que fosse a vida que ele pudesse levar usufruindo do dinheiro sujo com a venda de drogas.
    Pensando sobre a angústia do condenado que está no corredor da morte acabei traçando um paralelo com minha própria vida  e conclui que desde que recebi o diagnóstico das metástases do câncer de mama que tive há mais de quinze anos também me sinto presa num corredor da morte, só e eu não trafiquei drogas e nunca cometi nenhum crime para merecer esta pena.
     Alguém poderá dizer que o corredor no qual me sinto presa não é real. Será?  Não sei se o  meu corredor da morte é real ou emocional, mas sem dúvida é devastador e muito cruel. Ontem as paredes deste corredor pareceram se estreitar mais um pouco. É que recebi o diagnóstico do último PET que fiz e o resultado, mais uma vez, mostrou aumento da atividade metabólica na lesão do esterno e um discreto aumento do metabolismo no pulmão esquerdo. As lesões nas vértebras e arcos costais diminuíram e as demais lesões permaneceram inalteradas, mas só se passaram pouco mais de três meses do último PET que eu havia feito. No ritmo que as lesões estão crescendo o prognóstico não me parece nada animador... Será que existe luz no fundo do túnel?
     O Marco Archer sofreu no corredor da morte e sua vida acabou com um tiro no peito. Apenas um tiro. Sua dor física, se é que houve, foi rápida. A dor do paciente oncológico pode ser constante e crescente e é devastador conviver com a angústia e a possibilidade do aumento desta dor. O que será pior: um tiro no peito ou uma doença corroendo seu corpo e te enchendo de dores dia após dia?
     O Dr. Fernando resolveu alterar novamente o protocolo para ver se consegue deter o avanço dessa doença maldita, que mesmo com a evolução da medicina e as novas drogas ainda continua matando sem dó. A carboplatina estava acabando com minha imunidade e nos sete ciclos que fiz ela não conseguiu deter o avanço da doença. Fiquei livre desta quimioterapia que eu não gostava, mas vou ter que fazer outra que não me parece nem um pouco santinha. Além do trastuzumabe e do pertuzumabe que ele manteve foi acrecentada a quimioterapia doxorrubicina lipossomal. Vamos ver se desta vez vai dar certo.
     Serei enfim libertada ou terei que aguardar mais um pouco por minha lenta e inexorável sentença de morte?
3 Responses
  1. Unknown Says:

    Peco a Deus que te de forcas e coragem para encarar esta nova fase. Entregue tudo nas mãos de Deus, pois assim ele nunca faltara. Um forte abraco.
    Vania


  2. Lou Says:

    Obrigada pela força Vania. Só Deus na causa para nos dar força e coragem nestes momentos de angústia. bjs


  3. Lourdinha, não sei se alivia, mas é bom lembrar que todos estamos condenados... Espero apenas que tenha mais força e fé, como sempre demonstrou ter, nestes períodos mais difíceis. E que você continue tendo inspiração para escrever bem do jeito que escreve para aliviar as tensões.Você é vitoriosa e muita gente torce por você! Beijo!


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou