Cuidando da área verde
sexta-feira, abril 29, 2016
Já se passou um ano desde que vendi minha casa e mudei para um apartamento no Plano Piloto. Quem mais sentiu a mudança, sem dúvida, foi minha mãe que ficou sem o seu jardim e a horta que ela cuidava com tanto carinho. Eram tantas flores, tantas ervas cheirosas esperando o momento certo para serem colhidas e transformadas em deliciosos chás ou saladas nutritivas, diversos tipos de pimenteiras e as frutas amadurecendo no pé e alimentando os passarinhos.
No final do ano passado, numa reunião de condomínio, sugeri que fosse feita uma horta na área verde da quadra para que todos tivessem acesso a ervas frescas e livres de agrotóxicos. A idéia foi aprovada, mas não havia nenhum sinal de horta até o mês passado.
A calçada de acesso entre nosso bloco e o comércio estava cheia de mato e com aparência de abandono. Um verdadeiro horror e aquilo incomodava todo mundo. Enviei mensagem para o GDF cobrando providências, falei com as pessoas encarregadas da limpeza e nada. Ninguém fazia absolutamente nada e a sujeira só piorava.
Conversando com uma vizinha do bloco, que também se incomodava muito com a sujeira e o aspecto de abandono da quadra, combinamos que iríamos contratar um jardineiro por nossa conta para fazer a limpeza da calçada e cuidar da área verde e colocamos nosso plano em prática já na semana seguinte.
Luan, o jardineiro que contratamos, chegou cedo no final de semana e passou o dia inteiro capinando e carregando a terra e o mato retirado das calçadas em frente do nosso bloco e colocando tudo num grande buraco que havia se formado na área verde com a queda de uma árvore pela raiz. Depois de muitos carrinhos de terra e mato o buraco finalmente desapareceu e uma pequena elevação se formou no meio do gramado maltratado e cheio de galhos secos e pedras.
A sujeira era tanta que tudo o que o Luan conseguiu fazer no primeiro dia de trabalho foi capinar e carregar a terra e o mato para a área verde. Havia mais de um palmo de terra e mato em cima da calçada. Depois de tudo retirado eu e a Kênia jogamos água com a mangueira e a calçada finalmente, depois de tanto tempo escondida pela sujeira, apareceu limpa.
Alguns vizinhos, entusiasmados com a limpeza, resolveram aderir a nossa idéia e colaboraram com as despesas que estávamos tendo com o jardineiro e a compra das mudas de ervas e da terra adubada para nossa pequena hora.
No final de semana seguinte o Luan voltou para cavar em volta das árvores já plantadas, retirar todo o mato e jogar uma terra adubada e cheia de nutriente. Ele também rastelou o gramado e preparou a terra embaixo de um frondoso flamboyant, que dava sol e sombra na medida certa, para fazermos nossa horta. As sabiás e outros passarinhos ficaram por perto comendo os insetos e as larvas que saiam do meio da terra revolvida. Era uma festa. Plantamos algumas mudas de manjericão, sálvia, tomilho e alecrim, regamos nossa recém plantada horta e deixamos a terra preparada para outras mudas de ervas que pretendíamos cultivar.
Minha mãe, que estivera internada por dez dias na UTI, voltou fraquinha para casa e foi então que tive a idéia de usar a horta como terapia ocupacional para ajudar na recuperação dela. Depois de algumas sessões de fisioterapia ela melhorou um pouco e finalmente conseguiu descer para plantar algumas mudas de cebolinha, salsa, salsão, pimenta e coentro na horta do nosso bloco. Olhando a velhinha curvada, cavando a terra como nos velhos tempos, esquecida dos dias internada no hospital, percebi que cuidar da horta era o remédio certo para fazê-la recuperar as forças e voltar a se sentir viva, feliz e útil novamente.
Cuidar da natureza é sempre um benefício.