Desde
cedo nosso grupo estava pronto no saguão do hotel, para o passeio em Inhotim. Saímos de ônibus pontualmente
às 8:30h da manhã, com nossa guia Cristina. A distância de Belo Horizonte até
Brumadinho, onde fica o Inhotim, é de 60 quilômetros, e a viagem durou pouco
mais de uma hora. Enquanto o ônibus deslizava calmamente pelas estradas
mineiras, Cristina foi nos contando a história do Inhotim, o jardim botânico que
abriga uma das maiores coleções de arte contemporânea do mundo.
Inhotim, olha só que legal esta
história, fica nas terras da antiga fazenda de uma empresa mineradora do século
XIX. O responsável pela mineradora era o inglês Timothy, mais conhecido como Senhor Tim
ou Nhô Tim ou ainda Inhô Tim. Em 2004 Bernardo Paz, empresário da área de
mineração e siderurgia, resolveu abrigar
sua coleção de arte moderna nas terras da antiga fazenda e teve a idéia de manter o
nome Inhotim, porque era assim que as pessoas simples de Brumadinho se referiam
ao local.
Bernardo Paz, idealizador do
Inhotim, foi casado com a artista plástica Adriana Varejão, e foi a partir das
obras dela que tudo começou. O atual
acervo abrange cerca de 500 obras de mais de 97 artistas de 30 nacionalidades,
com foco em obras produzidas desde os anos 60. Hoje Inhotim possui várias
galerias espalhadas pelos seus belíssimos jardins e abriga obras de artistas
brasileiros e estrangeiros como Cildo Meireles, Tunga, Hélio Oiticica, Matthew
Barney, Valeska Soares e outros.
O Instituto Inhotim fica dentro da
Mata Atlântica. Sua área total é de mais de 700 hectares, sendo que mais de 400
hectares são áreas de preservação. A área de visitação é de 96 hectares,
compreendendo os jardins, as galerias, edificações e fragmentos de mata, além
de cinco lagos ornamentais.
O jardim botânico do Inhotim, que é
membro da Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB), possui mais de 4.500 espécies nativas e
exóticas em cultivo e está cercado por mata nativa. Os jardins do Inhotim
deixam qualquer visitante impressionado com sua beleza, lá existem mais de
1.500 espécies de palmeiras, o que lhe garante o título de maior coleção de palmeiras do mundo.
As obras de arte são outro capítulo
de Inhotim. Você pode até não gostar de arte contemporânea (ou conceitual), mas
não consegue ficar indiferente. Logo na entrada tem uma obra da artista
japonesa Yayoi Kusama intitulada Narcissus Garden. São 500 esferas de aço brilhante
que flutuam sobre um espelho d’água, e se movem ao sabor do vento refletindo o
céu, a vegetação e o visitante. Muito interessante.
Outra obra que chamou minha
atenção foi o “Sound Pavilion”. Fiquei no mínimo curiosa e até espantada com os
sons vindos do interior da terra e em tempo real. O artista Doug Aitken fez um
furo no solo com uns 200 metros de profundidade e instalou microfones de alta
sensibilidade ao longo da perfuração, que funcionam em tempos alternados. Os
microfones amplificam o barulho que vem do interior da terra. É bem legal e até
meio sinistro... os barulhos são quase
aterradores, lembram o som dos terremotos.
Os jardins atribuidos a Burle Marx
são na verdade um projeto de Orsini, que aliás ganhou recentemente um processo
judicial para ter seu nome ligado ao projeto dos jardins do Inhotim. A participação
de Burle Marx no projeto é modesta, de apenas 4%, e Pedro Nehring, aquele que
assina os jardins da famosa Casa da Dinda, da era Collor, tem uma participação
de 6%. Não precisa nem fazer as contas para concluir que foi Orsini quem projetou os
jardins do Inhotim.
Uma das galerias que costuma mexer
com a sensibilidade dos visitantes é a Galeria Praça. A artista Janet Cardiff
criou um semicirculo com 40 caixas de som distribuídas em 8 grupos de 5 caixas
reproduzindo a gravação de uma composição de 1575 e um choro masculino. No
centro da composição ouvimos o coro, mas aproximando-se das caixas ouvimos cada
uma das vozes separadamente. É emocionante.
Outra galeria nos leva a pensar no
esforço dos bailarinos durante a execução de uma dança. Ao entrar na sala
ouvimos a música enquanto os bailarinos aparecem dançando na tela. Aos poucos a
música é retirada e ouvimos apenas o som da respiração dos bailarinos. Haja
fôlego e controle da respiração. É interessante o destaque dado ao som da
respiração.
E é andando pelos jardins do Inhotim
que vamos apreciando as diferentes obras de arte contemporânea. Um dia é pouco,
pois tem muitas coisas para se ver e apreciar, e vale a pena fazer tudo com
calma. De vez em quando durante a caminhada pelos jardins é bom sentar e
descansar num dos muitos bancos feitos de tronco de árvores, enormes troncos
que um dia foram belas e antigas árvores frondosas. Os jardins são um espetáculo, lindos, de tirar o fôlego.
Inhotim possui uma excelente
infraestrutura. Para quem não quer andar muito eles oferecem carros elétricos
abertos para transporte interno que saem de 10 em 10 minutos, basta adquirir a
pulseira de acesso que custa R$ 15,00 por pessoa. Para portadores de necessidades especiais o transporte é
gratuito.
Quando a fome apertar não desespere,
o Inhotim oferece várias opções: tem o Café do Teatro, lanchonetes, pizzaria, O
Bar do Ganso e os Restaurantes Tamboril e Oiticica. Nosso grupo almoçou no
restaurante Tamboril e posso garantir que a comida estava deliciosa, para
ninguém botar defeito.
Passamos um dia muito agradável em Inhotim. Confesso que não sou fã de arte contemporânea e não gostei de muitas delas, mas algumas são interessantes, tenho que admitir. Além do mais, mesmo não gostando de arte contemporânea você não consegue ficar indiferente. Talvez seja este o objetivo do artista. Mas no quesito natureza Inhotim é tudo de bom. Os jardins são simplesmente fantásticos.
Um aviso importante: um dia é pouco para conhecer Inhotim. É muito grande e tem muita coisa para se ver. E só vendo de perto mesmo, pois é proibido fotografar as obras que ficam dentro das galerias, então... só visitando para ver tudo ao vivo e em cores...