Cintilografia e metástase óssea

     O resultado da cintilografia não saiu como eu gostaria, mas não chegou a ser nenhuma surpresa para mim. O esterno, onde tenho sentido dores, está com atividade metabólica mais acentuada e como se não bastasse ainda apareceu metástase na vértebra T3 e em mais um arco costal. Esta droga de câncer ósseo ao invés de acabar de vez  fica dando cria... ninguém merece. Já está passando da hora de aparecer uma medicação realmente eficaz para dar fim nesta novela e deixar meus ossinhos inteiros novamente.
      A notícia boa é que a ressonância e a tomografia confirmaram que o restante do corpo vai muito bem, obrigada. Sinal que o tykerb e o anastrozol  estão cumprindo o papel deles e isto já é um ganho e tanto. Só em saber que meus órgãos vitais estão preservados já é uma excelente notícia.
      Vou viajar amanhã pela manhã e quero aproveitar muito os dez dias de férias. Vou comemorar os bons resultados na tomografia e na ressonância, e o que não ficou bom na cintilografia não será motivo para estragar meu passeio. Vou deixar a preocupação com minha médica... ela é quem tem que pensar no assunto. Ficar preocupada não vai  resolver o meu  problema e ainda posso piorar as coisas  então... prefiro curtir o que a vida me oferece agora. Sinceramente, tenho tantas coisas boas para comemorar!
           

Dia de zometa e de bons resultados no exame de sangue

     Hoje foi dia de fazer o zometa (remédio para câncer ósseo), mas a novela mesmo foi achar uma veia que não estourasse, num braço que foi muito esburacado na semana passada, para fazer o contraste da tomografia, da ressonância e da cintilografia óssea. Cada vez que é necessário puncionar uma veia, acabo pagando todos os meus pecados... mas no final das contas a Marilene conseguiu uma veia que funcionou direitinho. Aleluia!
     A notícia boa é que os marcadores tumorais no exame de sangue que fiz ontem foram excelentes; estão melhores do que da última vez, e isto é sinal que o câncer está controlado. Acho que o resultado dos outros exames serão bons também, vamos aguardar. 
     Exames com bons resultados sempre merecem uma comemoração: desta vez vou viajar com a Raissa, Lili e mais dois amigos. Vamos para Buenos Aires e depois pegaremos o buquebus para Montevideo e de lá ainda iremos até Punta del Este. Serão dez dias de passeio e não vejo a hora de embarcar para esta  próxima viagem.
    Em Buenos Aires já nos programamos para assistir dois shows de tango e desta vez também iremos conhecer o famoso zoológico inaugurado em 1875, que é Patrimônio Nacional desde 1997.  O zoológico  fica no bairro de Palermo, possui 18 hectares que abrigam aproximadamente 2000 animais de 73 espécies.
     A bem da verdade, o zoológico de Buenos Aires está envolvido atualmente numa batalha política sem precedentes e quem paga o pato, naturalmente, são os animais que nem imaginam o que é política. O zoológico está em vias de sofrer uma licitação pública e o objetivo maior é a preservação e recuperação dos prédios de arquitetura  vitoriana. Os bichos em cativeiro, coitados, vão continuar em segundo plano...
     Mas prefiro falar de coisas boas: um dos tangos que vamos assistir, e que promete, é o Tango Rojo, no Hotel Faena. Dizem que vale cada centavo. Dizem também que a comida é excelente. Vou conferir e depois conto.
     Estou curiosa com a travessia de barco de Buenos Aires até Montevideo. Já vi o buquebus de longe e achei meio estranho... vamos ver ao vivo e em cores como é de fato.

Exames de controle no tratamento do câncer


             Com câncer metastático em estadiamento IV não dá para baixar a guarda. É importante ficar atento ao menor sinal de problema para cuidar antes que seja tarde, afinal ainda pretendo permanecer neste conturbado, mas lindo planeta terra um pouco mais de tempo (na dúvida quanto ao outro lado, prefiro ficar por aqui mesmo...)
            Minha oncologista solicitou vários exames e para minha sorte consegui marcar tudo para ontem e hoje na Clínica Vilas Boas, que tem máquinas de última geração, com excelente qualidade de imagens; mas         por melhor e mais modernas que sejam as máquinas, o paciente oncológico sofre um pouco na hora de fazer os exames: além da angústia pela espera do resultado dos exames, é sempre necessário puncionar uma veia que já está bem maltratadinha com as quimioterapias. As minhas coitadas, parece até que sumiram todas... oooh dificuldade para achar uma que seja boa!  Ontem até que dei sorte, mas hoje esburacaram toda minha mão e braço esquerdo. Ficou tudo cheio de marcas roxas e doloridas.
            Ontem fiz uma cintilografia óssea de corpo inteiro para conferir a quantas andam os ossinhos do meu esqueleto que tem alguns pontos com câncer. Alguém já fez cintilografia óssea? Euzinha aqui sinto a maior agonia ao fazer aquele exame. Quando aquele aparelho vai baixando e se aproximando do meu rosto quase entro em pânico, pois tenho a impressão de que a máquina pode não parar e vai acabar me esmagando... Coisa horrível de se pensar... Olha, se existe vida passada eu devo ter morrido prensada, cruzes...
Aliás, depois de ficar uns vinte minutos deitada numa maca estreitinha e dura, sem poder me mexer e com a coluna doendo horrores, ainda precisei ficar mais de quarenta minutos na mesma posição, mas com os braços esticados para trás da cabeça. Pensem num corpo todo doendo... Os braços e a coluna ardiam. Doía tanto que num instante me vi na câmera de tortura do Museu de Cera da Madame Tousseaud e fiquei pensando: eu aqui fazendo um exame para continuar bem de saúde e estou morrendo de dores, imagine as dores que sentiam as pessoas torturadas na idade média? Nossa! Aquilo deve ter sido horrível. Como o ser humano consegue ser tão cruel.
Quando o exame terminou eu sequer conseguia mexer os braços, eles pareciam pregados atrás da minha cabeça. Precisei de ajuda, e meus braços estavam apenas esticados. Quando o técnico me falou que talvez fosse necessário repetir o exame eu quase tive um treco! Arregalei os olhos e disse: de jeito nenhum. Deus me livre passar por isto novamente. Por hoje chega! E saí correndo da clínica.
Hoje voltei na clínica Vilas Boas para fazer uma ecografia mamária e uma ressonância magnética de torax. Tenho sentido dores e a dra. Luci achou melhor conferir para ter certeza de que o câncer no esterno está sob controle. Hummm, eles disseram que seria fácil puncionar minha veia, pois seria usada uma agulha de bebê, mas não foi bem assim. Picaram primeiro minha mão que ficou roxa e inchada na hora, desistiram e picaram o braço e nada. Garrotearam meu pulso tão forte que parecia que estavam tentando arrancar minha mão na marra, e ainda assim foi difícil pegar uma veia boa para fazer o contraste. Conseguiram uma veia no dedão, lugarzinho dolorido... E agora ainda resta a angústia da espera...

Primavera em Brasilia


           Na primavera do cerrado as chuvas fortes do verão são apenas uma lembrança distante... O solo agora está vermelho e quebradiço, a grama secou e muitas árvores perderam suas folhas,  a mais leve brisa faz levantar uma poeira fina que consegue penetrar qualquer fresta, por menor que seja. O sol quente e o  ar parado e abafado faz secar a garganta e resseca a pele,  mas o cerrado é mais do que apenas terra vermelha, seca e calor.


            Um curto passeio pela cidade encanta o brasiliense e surpreende o turista: é a explosão de cores das flores do cerrado. O ipê que já perdeu todas as folhas, deixando a mostra seus galhos secos e retorcidos numa paisagem desolada pela terra vermelha, toda seca e rachada, sem um fiapinho de grama, agora exibe sem o menor pudor sua roupagem nova: está cheinho de flores douradas, está no esplendor de sua floração. O ipê branco está florido, e o pau brasil, árvore símbolo da nossa pátria, também está exibindo suas flores douradas, com um toque de vermelho vivo. A paisagem está linda! 




            Nos extensos jardins da cidade, até o mais jovem dos ipês já se exibe vestido num amarelo ouro que chama a atenção. As árvores adultas, inteiramente douradas, são de tirar o fôlego. É impossível não parar para admirar, nem que seja apenas um pouquinho. Alguns não resistem e guardam a beleza na memória da máquina fotográfica, querem registrar o florescer dos ipês na primavera do cerrado.