Ontem durante
minha caminhada no final da tarde pude observar um pé de caqui carregadinho de
frutos maduros, que pareciam muito suculentos. Minha boca chegou a salivar e
eu, que adoro caquis, logo pensei: como é que deixam esses caquis maduros
estragando no pé? E continuei caminhando enquanto conversava com minha irmã.
Andamos um pouco
mais enquanto nuvens espessas e ameaçadoras, muito negras e pesadas, que
cobriam o céu acima de nós, começaram a jogar pingos bem finos que se
dissipavam tão logo tocavam nossos corpos. Resolvemos retornar antes que a
chuva desabasse prá valer e nos encharcasse.
Quando estávamos
chegando próximo da casa do caquizeiro percebemos alguns pássaros pousados em
galhos que caiam sobre o muro, por causa do excesso de frutos. Os
pássaros, muito quietos e concentrados, bicavam os frutos maduros e suculentos.
Paramos para observar e percebemos que não eram periquitos como havíamos
pensado e sim vários papagaios verdinhos e da cabeça amarela, espalhados por
toda a árvore se banqueteando com os frutos maduros.
Paramos um pouco para curtirmos aquela cena
inusitada e contamos mais de vinte pássaros. Eles também nos observavam atentos
enquanto comiam seu banquete. Lamentei
não estar com uma máquina fotográfica para registrar aquela bela cena.
Estávamos ainda
paradas na calçada, do outro lado da rua, quando um carro passou fazendo muito
barulho, assustando as aves que levantaram vôo imediatamente. O bando verde e
amarelo bateu asas e voou para longe gritando sem parar.
Assim que as aves
desapareceram do campo de nossa visão comentei com minha irmã: agora entendi
porque não colhem os frutos maduros. Os moradores também gostam de pássaros e
os bichinhos precisam comer .
Continuamos nossa caminhada de volta para casa. Os
últimos raios de sol, apesar das nuvens negras que cobriam o céu, caiam sobre
nós projetando nossa sombra à frente. Nossas pernas ficaram bem compridas e
finas e imediatamente lembrei-me de um livro que li há muitos anos: “Papai
Pernilongo”. Era a história de uma jovem que vivera num orfanato e que na época
em que precisava sair da casa por causa da idade encontra um doador anônimo que
resolve pagar seus estudos numa escola privada. Ela não o conheceu pessoalmente,
apenas viu sua sombra projetada no chão, e como a minha própria sombra na
calçada, suas pernas eram compridas e finas, daí ela tê-lo chamado de Papai
Pernilongo.
A sombra de minhas pernas me fez também lembrar uma
grande amiga que já se foi, a Didi. Foi ela quem me emprestou o livro do Papai
Pernilongo e era ela também quem me orientava na escolha de outros livros para
ler. Senti uma saudade gostosa... Aquela saudade que sentimos das pessoas que
marcaram nossas vidas de uma forma muito positiva. Foi assim com a Irmã Adair,
ela foi muito especial para mim e continuamos amigas até sua morte. Ela era
freira e vivia no colégio onde eu estudei desde que entrei para o jardim da
infância até terminar o que hoje chamam ensino médio.
Lembrei-me das conversas e dos conselhos da Didi. Que saudade daquela risada gostosa, daquele abraço apertado e cheio de carinho, das cartas que ela me enviava... Quantas coisas boas ela deixou em minha memória.
Cheguei em casa e fui correndo contar para minha mãe, que
adora pássaros, sobre o bando de papagaios que havíamos visto durante nossa
caminhada. Ela lamentou não estar conosco e ver aquilo de perto.