Descanso final

Nem sei como começar... Sei que não vou conseguir dizer o que ela gostaria, mas acho que todos que a seguiam merecem saber... Hoje ela descansou. Foi em paz, dormindo e sem dor. Ela sempre pediu para ir assim.

Vocês sabem que ela batalhou muito, foi muito guerreira. Ela não gostava de ser vista como uma mulher forte, mas ela era. Ela era a mais forte de todas! Encarou essa vida sempre com o olhar de Pollyanna, procurou beleza em tudo e sempre aproveitou ao máximo o que a vida tinha a oferecer.

Com esse blog, ela quis inspirar, mostrar que a vida pode ser bela. E sei que é isso que ela quer que se mantenha. Que vale a pena lutar até o final, ser feliz e aproveitar cada instante, porque não sabemos quando a vela vai se apagar.

Queria agradecer em especial a todos aqueles que se comunicavam com ela, que trocaram experiências e até ofereceram ajuda de diversos tipos. Minha mãe adorava receber essas mensagens, adorava saber que podia estar ajudando, nem que fosse um pouquinho.

Os últimos meses fora difíceis, mas ela reforçou várias vezes o fato de não se arrepender de nada, de ter vivido tudo que podia viver. Então, quem passar por aqui para procurar consolo, auxílio, informações sobre a doença, saiba que a luta vale a pena. Cada dia a mais conta.

Muita saúde e felicidades a todos. Que minha mãe descanse em paz. Obrigada!

Cuidados paliativos

Desapareci por uns três meses. É que as coisas pioraram um pouco. As dores voltaram com força total e o câncer avançou sem controle sob a pele da mama e da axila, deixando tudo com uma aparência muito ruim. A pele machucada exalava um odor desagradável e deixava tudo muito sensível. Foi necessário fazer uma limpeza mais profunda para tirar a pele morta. Parece que funcionou. A cicatrização, embora lenta, está acontecendo. Não foi nem necessário usar o carvão ativado para mascarar o odor, como as enfermeiras sugeriram.

Nesse período, precisei fazer hidratação inicialmente todos os dias, um litro de soro vitaminado. Depois, a frequência foi reduzida para de três em três dias.  Nas últimas semanas a hidratação foi suspensa, pois meus braços, barriga e pés estão muito inchados.

Para o controle da dor, passei a usar o adesivo Durogesic. A princípio, a dosagem era de 25 mcg. Agora já estou com 150 mcg. Esse adesivo precisa ser trocado a cada três dias. Além disso, ainda tomo morfina, que começou com 10 mg a cada 4 horas e agora podem ser 30mg, até de hora em hora. Tomo, ainda, Pregabalina para amenizar as pontadas que sinto no peito, metadona para tentar controlar a dor no braço direito, que estava me deixando zureta e alguns outros remédios para me auxiliar a dormir, ir ao banheiro etc.

Meu TSH está completamente descompensado. Parece que meu corpo se recusa a absorver a medicação. Já estou tomando Syntroid 225 para tentar baixar, mas o índice que deveria ser entre 0,55 e 4,78, está em 36,2! Faço exames de sangue a cada 15 dias para ajustar a medicação.

Tem sido uma jornada muito difícil.

Como estou fora de possibilidade terapêutica, já que a quimioterapia não faz mais efeito, estou em cuidados paliativos, apenas controlando a dor. Os médicos não sabem precisar quanto tempo me resta, então estou aproveitando o que tenho com minha família e amigos.


Acho que a natureza tem feito um trabalho interessante. Pessoas com quem não falava há muito tempo estão reaparecendo como num passe de mágica. Isso é muito bom, pois são pessoas queridas. A vida acaba afastando as pessoas por um motivo ou pelo outro, e isso não significa desamor ou qualquer coisa do gênero. Então é muito bom poder revê-las antes que a cortina se feche.