O gato é velho, mas não é burro

De novo volto a falar de um dos meus bichos... É que eles sempre acabam me inspirando por um motivo ou outro.
Nesse instante estava eu absorvida com um joguinho no computador quando ouvi o ruído característico das longas unhas do Nino, o gato velho, batendo contra o piso de madeira. Olhei para trás e vi que o gato havia encerrado seu cochilo da tarde sobre o sofá e resolveu descer as escadas para o térreo onde fica de fato seu território (qualquer lugar onde também esteja minha mãe) e ela nunca sobe até o piso superior da casa.
Fiquei atenta para ver como é que ele consegue subir e descer a escada sem cair, curiosidade de muitos, já que o coitado está bem velhinho e cego e acaba trombando em tudo o que é mobília da casa. Vou contar o truque usado pelo espertinho.
Como qualquer gato que se preze o bichano tem um excelente senso de direção e conhece muitissimo bem a geografia da casa onde sempre viveu. Desde jovem sempre subiu e desceu a escada sabendo que um dos lados está grudado na parede e o que ele faz quando quer descer em segurança?
Vou contar o simples truque que ele usa: primeiro o bichano velho e alquebrado localiza a parede do fundo da sala e anda grudado nela até alcançar a escada e então é só continuar no mesmo sentido para não correr o risco de se esborrachar lá em baixo. Pronto. Simples assim, mas só vendo para acreditar.
Triste mesmo é quando ele dá de cara com uma parede construída depois que ficou cego, não entende onde está e começa a miar grosso. Ele mia desesperado até ouvir uma voz conhecida ou até que alguém vá buscá-lo; engraçado é vê-lo tateando o caminho com cuidado para pisar em segurança.
Um dia desses alguém teve a infeliz idéia de colocar uma vela acesa no chão e o coitado do gato, não conseguindo vencer a curiosidade do calorzinho emanado pela pequena chama, acabou com os bigodes chamuscados.
A velhice é um fardo muito pesado até mesmo para os animais. A decrepitude vai deteriorando tudo... O velho Nino é agora um arremêdo do lindo gato que foi um dia. Está magrinho e vacilante, mas ainda anda atrás da minha mãe como um cãozinho de estimação, chorando o tempo todo, tirando-lhe a paciência. Acho que em alguns momentos ela sente muita vontade de lhe dar uns tabefes, mas jamais seria capaz de uma perversidade destas com um velho gato cego e indefeso. Isso não a impede de dar uns gritos irritados com ele de vez em quando para logo a seguir fazer exatamente o que ele quer: atenção e muito carinho. O gato é velho, mas não é burro.

Lou – abr/2010
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Obrigada pelo comentário. bjs Lou