Repouso forçado e dependência

Já se passaram alguns dias desde que meu pé resolveu se quebrar sozinho, por vontade própria, quem sabe... em consequência, continuo em repouso e com o pé engessado para cima. Confesso que é um exercício de paciência para alguém que aprecia muito sua independência.  Mas, o que não tem remédio... É muito bizarro precisar de ajuda até para usar o banheiro.

Por falar em banheiro, ficou tudo mais fácil depois que comprei a cadeira de rodas para banho. "Mais fácil" talvez não seja a palavra apropriada, já que preciso de ajuda mesmo assim, mas posso garantir que agora está menos difícil, pois a cadeira se adapta por cima do vaso, evitando manobras mais complicadas e perigosas. Tomar banho usando a cadeira de rodas não me pareceu assim tão confortável, então continuei usando uma cadeira de alumínio. As barras de segurança no banheiro ajudam bastante.

Neste final de semana minha irmã precisou viajar e quem virou minha cuidadora foi minha filha. Nossa! Ela é uma cuidadora muito preocupada e paciente. Gostei. Ela chegava em meu quarto muito cedinho pela manhã, mesmo detestando acordar cedo, só para me ajudar com os remédios e também para me levar ao banheiro. Vinha com a carinha melhor do mundo e um sorriso largo, mas chegava ainda zonza de sono. Só muito amor mesmo para fazê-la sair tão cedo da cama.

Passamos o final de semana juntas, ora lendo, ora assistindo uma série de TV ou fazendo palavras cruzadas. Foi ótimo! Na segunda-feira ela ficou trabalhando em casa para não me deixar sozinha com minha mãe que já está muito idosa e não dá conta de arrastar minha cadeira. Tive algumas visitas na segunda pela manhã, e ela pode trabalhar mais sossegada enquanto eu conversava com meus amigos.

Já passava das 21h quando a Suzi chegou de viagem com a Raissa, o irmão e a mãe, que não está muito bem de saúde. Eles vão ficar por aqui algum tempo para que a Taninha possa recuperar a saúde. Acho que só pelo fato dela ficar ao lado da minha mãe já é meio caminho andado para ficar bem.

Repouso forçado

Estou engessada e em repouso desde sexta-feira a noite, mas a sensação é de que muito tempo já se passou. É muito difícil ficar quieta e ser dependente para quase tudo...
Minha filha faz o possível para ser útil e quando está por perto tenta me ajudar a levantar, deita ao meu lado para fazermos juntas uma palavra cruzada ou assiste um filme. A Raissa até me deu de presente um apoio para que eu possa usar o computador sem esquentar muito as pernas. A Suzi, esta nem precisa comentar, pois ela faz tudo o que pode para facilitar minha vida. Meus amigos, estes são especiais, e também fazem o possível para estar sempre presentes.
O gesso ainda não secou direito e ainda está pesando uma tonelada. Basta baixar a perna para ficar tudo dolorido e formigando.A cadeira de rodas, que está viciada e só anda bem se for para trás, vai ser trocada hoje. Preciso de uma cadeira mais leve e fácil de manobrar.
Estou sentindo falta de andar pelo meu jardim e estico meu olhar pela janela do quarto. Está tudo molhado lá fora, pois ontem choveu quase o dia todo. Embaixo da pitangueira está cheio de frutos caídos no chão e as sabiás estão fazendo a festa. Ai que vontade de voar...

Acessibilidade

Estou sentindo na própria pele as dificuldades que os portadores de necessidades especiais precisam enfrentar em seu dia a dia. Os problemas começam dentro de nossas próprias casas. Elas não são planejadas para o uso de uma cadeira de rodas, por exemplo.
As portas internas da minha casa são todas de 70cm e as portas dos banheiros, pior ainda, pois a medida são de ridículos 60 cm, uma verdadeira porcaria, pois aí é que não cabe mesmo nenhum tipo de cadeira. Minha casa foi reformada há três anos e deveria ter sido sugerido a troca das portas internas por outras maiores, pois esta já deveria ser uma preocupação dos arquitetos e engenheiros. E antes que alguém pergunte,  ambos profissionais foram contratados para fazer o projeto e acompanhar a obra.
Outra coisa que percebi é a dificuldade que a pessoa tem em fazer a cadeira subir um degrau, por menor que ele seja. Da sala para a cozinha por exemplo, a diferença é de no máximo 1cm, mas mesmo assim é difícil. O ideal é que o piso de uma casa seja uniforme, sem ressaltos.
Usar o banheiro é outro problema,  uma novela mexicana, um verdadeiro parto... O vaso é baixo e fica difícil conseguir assentar com a perna engessada e sem poder usar o pé como apoio. Ainda bem que tenho barras de segurança no banheiro da minha mãe, o que ajuda um pouco. Vou mandar colocar barras até no banheiro social, porque numa hora destas elas ajudam muito.
Minha irmã alugou uma cadeira de rodas e achei o aluguel muito caro. Acho que poderia custar um pouco menos ou então a cadeira ser um pouco mais leve e melhor. A que estou usando é pesada e eu tenho dificuldade em manobrá-la. Ela parece viciada e só gosta de andar de ré. Meus braços já estão doloridos das poucas vezes que tentei manobrar a cadeira sozinha. Vou ver se encontro uma cadeira melhor e mais leve.
Meu pé quebrado está doendo. Lidar com dor é muito difícil... tira qualquer um do sério. Como se já não bastasse estar em repouso... Nossa, para mim é um verdadeiro castigo precisar ficar em repouso e dependente. Detesto, mas o que não tem remédio...

Câncer ósseo e fraturas

Ainda bem que no último domingo aproveitei o dia para comemorar a vida com alguns amigos que vieram até minha casa. Ficamos conversando até tarde enquanto beliscávamos os quitutes feitos pela Suzi e pela Inês, que também está fazendo o curso de gastronomia. Elas estão ficando cada dia melhores na cozinha. Não há quem resista aos sabores de seus pratos. Huuuummm.
Ontem, no final da tarde, eu estava na varanda molhando meus bonsais quando ouvi um forte estalo em meu pé, seguido de uma dor infame. A dor era tão forte que precisei sentar-me para tentar ao menos respirar com calma antes de  pedir ajuda. Chamei a Suzi que já chegou apavorada tentando ajudar, mas  eu simplesmente não conseguia apoiar o pé para andar e tive que sair pulando feito um saci.
Fomos para o Pronto Socorro mais próximo, que fica no Hospital Brasília, e fui atendida por um ortopedista jovem, mas que conseguiu passar segurança no que faz. Fazer a radiografia não foi tarefa fácil, pois o pé doia desesperadamente. Voltei ao consultório e encontrei outro médico, pois o que havia me recebido estava na UTI atendendo uma emergência. O médico olhou a radiografia, viu uma extensa fratura que quase dividia ao meio o osso correspondente ao dedo mínimo e mandou engessar o pé até o joelho,  mandou também  que eu tomasse um antiinflamatório por 6 dias.
Enquanto eu estava na sala do gesso o médico que me atendeu inicialmente chegou, olhou o raio X e disse que a fratura era gravíssima. Pediu-me que voltasse ao consultório para conversar assim que eu terminasse de engessar a perna. Ele explicou que meu esqueleto é mais frágil por causa do câncer ósseo e que aquela fratura, que parecia ter acontecido do nada, era por causa disto. Recomendou-me fazer acompanhamento com um ortopedista especializado em tumor ósseo para evitar outras surpresas desta natureza.
Um terceiro ortopedista estava na sala conosco naquele momento. Perguntei-lhes se tinham algum ortopedista oncológico que pudessem recomendar e foi este outro ortopedista quem recomendou o que estava me atendendo naquele momento. Olha só que sorte, eu estava sendo atendida justamente por um ortopedista oncológico, que podia avaliar com segurança o que acontecera comigo. Ele foi taxativo ao dizer que não havia necessidade de tomar nenhum tipo de remédio além de remédio para dor, caso a dor ficasse muito forte. Já gostei desta parte, pois detesto tomar remédio, e muito menos sem necessidade.
Mais uma vez ficou evidenciado que existem médicos e médicos. Um insistiu que eu teria que tomar o antiinflamatório, mesmo eu argumentando que já tomava remédio demais. Pedi então um remédio que fosse apenas um comprimido por dia e ele prescreveu um remédio para ser tomado de 12 em 12 horas por no mínimo 6 dias. O outro, que é especialista em câncer ósseo, já disse que não precisava de remédio. A única recomendação foi repouso absoluto, por 6 semanas, para consolidar a fratura.
Agora vou precisar ficar de molho por um bom tempo. Ohhhhh castigo... Vou passar as festas de final de ano numa cadeira de rodas. Ninguém merece, mas... o que não tem remédio, como diz o velho e sábio ditado, remediado está.