Quero conhecer tudo o que li em suas cartas.
sexta-feira, julho 19, 2013
Eu estava na clínica aguardando ser chamada para fazer o faslodex quando
um senhor que também aguardava na sala de espera com sua esposa abriu seu
caderno de palavras cruzadas e exclamou rindo: “Mas sou muito rápido mesmo.
Despachei o envelope pelo correio, mas esqueci de colocar a carta que escrevi.
Ela está aqui dentro da palavra cruzada.”
Tive que rir, pois ele
falou alto e em bom som e nem se abalou, apenas riu da situação e comentou que
o destinatário da carta não iria entender nada quando recebesse um envelope
vazio.
Fiquei imaginando a
cara de surpresa de uma pessoa que recebe um envelope e não encontra nada lá
dentro. Até me lembrei de uma
correspondência que recebi quando morei fora e fiquei indignada com minha filha
e minha irmã que não me escreveram nem um simples bilhetinho para acompanhar os documentos que estavam me enviando. Onde já se viu
enviar uma correspondência para alguém e não escrever uma simples frase! Não
consigo entender uma coisa destas.
É uma pena que as
pessoas tenham perdido o hábito de escrever cartas. Escrever cartas é tão prazeroso
quanto recebê-las. O ritual de abrir o envelope e ler uma carta escrita
especialmente para você é muito bom. Quando morei fora eu escrevia cartas para
minha filha, que na época estava com 13 anos, todos os dias e enviava uma vez
por semana aquele monte de cartas. Ela adorava recebê-las, pois eu relatava
tudo o que eu fazia de interessante e isto incluía minhas longas visitas aos
museus, meus passeios pelos parques e jardins, minhas idas ao teatro, minhas
escapadas de final de semana.
Quando minha filha foi
me visitar em Londres nas férias ela queria ver tudo o que eu havia descrito
nas cartas e foi uma experiência fascinante mostrar tudo aquilo para ela.
Lembro-me de sua expressão de alegria e prazer quando a levei para assistir
Cats. Nós estávamos sentadas na primeira fila e ela ficou encantada com os
atores fantasiados de gatos, que saiam de buracos na lateral do palco que era
alto, e se misturavam com os espectadores das primeiras filas. No intervalo da
peça ela subiu no palco e ganhou uma livreto da peça autografado e ainda tirou
fotos.
Na peça do Fantasma da
Ópera pude vê-la debulhada em lágrimas, emocionada. Era sua primeira vez em um
teatro, assistindo a uma grande produção. Ela gostou tanto da peça que, além de
ter decorado todas as falas, já assistiu a peça em outras três oportunidades
pelo menos, e chora todas as vezes como se fosse a primeira vez.
Visitar os museus era
uma verdadeira festa. Ela queria ver tudo, queria saber detalhes de tudo. Seus
olhos brilhavam de alegria e entusiasmo. Ela estava vendo de perto, ao vivo e
em cores, tudo o que eu havia relatado em minhas cartas.
A Bárbara ficou encantada com o
passeio no tempo, visitando o Museu de Cera de Madame Tousseaud. Acho que ela tirou foto com todos os bonecos
de cera de pessoas que ela conhecia e se divertiu com cada um deles.
Os
passeios nos parques eram momentos de encanto e descoberta porque era inverno e a
paisagem era muito diferente daquela que ela estava acostumada a ver por aqui.
Ela ria quebrando a água congelada de um espelho d’água e corria pelos jardins
ora espantando um bando de patos e gansos, ora tentando alcançar um esquilo
esperto. Tudo era novidade.
Quando ela voltou para casa começou a escrever cartas para mim também. Numa de suas últimas correspondência lembro-me dela escrever que as paredes da casa sentiam falta das minhas gargalhadas. Compreendi que era seu jeito de dizer que estava com saudades e que eu precisava voltar para casa.
Mama, amava receber suas cartas. Vc sempre detalhava tudo e as vezes ainda mandava postais para eu ter uma ideia do que vc estava falando. Encantador! Vc realmente me fez apaixonar por tudo em Londres. Uma cidade incrível, mas vista pelos seus olhos ela é ainda mais fascinante! Amei tudo!!!!!
Não acredito que te mandei alguma coisa sem um recadinho... Q absurdo! rs (minha cara)
Te amo!