Saudade das amoras do passado
quarta-feira, agosto 26, 2009
Além de viajar também gosto de ler e escrever. De vez em quando uma situação qualquer costuma inspirar e acabo por escrever uma crônica.
Fui passar o final de semana na casa de uma amiga e no domingo pela manhã saímos caminhando pela quadra e nos deparamos com vários pés de amora carregadinhos. Num instante estávamos com as mãos lambuzadas com a tinta das amoras maduras e muito doces. Tive uma inspiração e escrevi esta crônica.
Fui passar o final de semana na casa de uma amiga e no domingo pela manhã saímos caminhando pela quadra e nos deparamos com vários pés de amora carregadinhos. Num instante estávamos com as mãos lambuzadas com a tinta das amoras maduras e muito doces. Tive uma inspiração e escrevi esta crônica.
Saudades das amoras do passado
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Quem teve a sorte de passar a infância nas pequenas cidades do interior, curtir férias escolares nos sítios ou fazendas saberá muito bem do que vou falar. Você comeu fruta no pé? Já subiu em goiabeira para catar e comer aquela goiaba amarelinha que cresceu lá nas grimpas?... Já catucou a mangueira para fazer cair aquela manga cheirosa e suculenta? Já comeu pitanga no pé? Já se fartou debaixo de uma árvore cheinha de jabuticabas negras e brilhantes? Já se lambuzou todo de amoras maduras muito doces? Já correu de marimbondo e levou picadas de abelhas nervosas? Ah! Se você já passou dos quarenta e cresceu numa cidadezinha tranquila desse nosso Brasil certamente já fez um pouco de tudo isso e tem gostosas lembranças daquela infância alegre e cheia de histórias para contar.
Um dia desses fui passar o final de semana na casa de uma amiga e depois do almoço resolvemos passear com o cachorro, num local cheio de amoreiras carregadinhas. O cachorro, criado em apartamento, nem sabia aproveitar a oportunidade de correr livre, rolar pelas folhas secas, dar galope nos passarinhos... Ele ficou ali parado, embaixo de uma árvore, enquanto nós nos deliciávamos com as amoras maduras e adocicadas. Enchíamos nossas mãos, que ficavam cor de vinho, e jogávamos aquele monte de amoras na boca para deixar o sabor espalhar por toda a língua. Que delícia!...
Parecíamos duas crianças de férias na fazenda, correndo de árvore em árvore, colhendo frutos maduros, saboreando devagar, sem pressa. O cheiro das amoras penetrou minhas narinas, o sabor da fruta despertou meus sentidos e de repente voltei no tempo... Fechei os olhos e me vi novamente criança correndo pelos pomares dos sítios e das fazendas. Ouvi as risadas cristalinas das crianças que povoaram minha infância, senti o cheiro dos currais, o som dos animais, o barulho das águas do rio descendo seu curso. Quanta saudade!
Lembrei do pai de meu amigo que nos levava para as fazendas onde ele ia fazer vistoria para o banco onde trabalhava. Enquanto ela fazia seus relatórios nós aproveitávamos tudo o que o lugar oferecia. Pescávamos usando enormes balaios, brincávamos nos longos cipós imitando o Tarzan e sua mulher Jane. Fingíamos fumar cachimbos usando goiabas verdes e talos de mamão, corríamos pelos enormes pastos, subíamos em árvores para colher frutos maduros.
A noite nos alcançava ainda cheios de energia. Adorávamos dormir nas fazendas para escutar os "causos" contados cheios de detalhes pelos velhos moradores locais. Eram histórias de fantasmas, lobisomens e afins. A molecada, ao redor das grandes mesas de madeira, ouvia extasiada todas as histórias arrepiantes. As casas mergulhadas na escuridão da noite eram iluminadas por singelas lamparinas. Os olhos arregalados da garotada incitavam os velhos a continuar suas aventuras. Quando o sono apertava as crianças se juntavam para dormir num dos enormes quartos, nos colchões de palha. Íamos devagar, ouvindo as tábuas rangerem sob nossos passos, com medo de encontrar a mula sem cabeça, o lobisomem ou qualquer outra figura daquelas gostosas histórias de arrepiar.
De repente ouvi meu nome e esse chamado trouxe-me de volta ao presente. Eu não estava mais correndo de mãos dadas com meu amigo Romualdo, sentindo o vento despentear meus cabelos. Não havia mais nenhum sítio ou fazenda, era apenas uma porção de pés de amora plantados numa entrequadra num daquelas enormes espaços verdes de Brasília. (27/10/2007)
Um dia desses fui passar o final de semana na casa de uma amiga e depois do almoço resolvemos passear com o cachorro, num local cheio de amoreiras carregadinhas. O cachorro, criado em apartamento, nem sabia aproveitar a oportunidade de correr livre, rolar pelas folhas secas, dar galope nos passarinhos... Ele ficou ali parado, embaixo de uma árvore, enquanto nós nos deliciávamos com as amoras maduras e adocicadas. Enchíamos nossas mãos, que ficavam cor de vinho, e jogávamos aquele monte de amoras na boca para deixar o sabor espalhar por toda a língua. Que delícia!...
Parecíamos duas crianças de férias na fazenda, correndo de árvore em árvore, colhendo frutos maduros, saboreando devagar, sem pressa. O cheiro das amoras penetrou minhas narinas, o sabor da fruta despertou meus sentidos e de repente voltei no tempo... Fechei os olhos e me vi novamente criança correndo pelos pomares dos sítios e das fazendas. Ouvi as risadas cristalinas das crianças que povoaram minha infância, senti o cheiro dos currais, o som dos animais, o barulho das águas do rio descendo seu curso. Quanta saudade!
Lembrei do pai de meu amigo que nos levava para as fazendas onde ele ia fazer vistoria para o banco onde trabalhava. Enquanto ela fazia seus relatórios nós aproveitávamos tudo o que o lugar oferecia. Pescávamos usando enormes balaios, brincávamos nos longos cipós imitando o Tarzan e sua mulher Jane. Fingíamos fumar cachimbos usando goiabas verdes e talos de mamão, corríamos pelos enormes pastos, subíamos em árvores para colher frutos maduros.
A noite nos alcançava ainda cheios de energia. Adorávamos dormir nas fazendas para escutar os "causos" contados cheios de detalhes pelos velhos moradores locais. Eram histórias de fantasmas, lobisomens e afins. A molecada, ao redor das grandes mesas de madeira, ouvia extasiada todas as histórias arrepiantes. As casas mergulhadas na escuridão da noite eram iluminadas por singelas lamparinas. Os olhos arregalados da garotada incitavam os velhos a continuar suas aventuras. Quando o sono apertava as crianças se juntavam para dormir num dos enormes quartos, nos colchões de palha. Íamos devagar, ouvindo as tábuas rangerem sob nossos passos, com medo de encontrar a mula sem cabeça, o lobisomem ou qualquer outra figura daquelas gostosas histórias de arrepiar.
De repente ouvi meu nome e esse chamado trouxe-me de volta ao presente. Eu não estava mais correndo de mãos dadas com meu amigo Romualdo, sentindo o vento despentear meus cabelos. Não havia mais nenhum sítio ou fazenda, era apenas uma porção de pés de amora plantados numa entrequadra num daquelas enormes espaços verdes de Brasília. (27/10/2007)
Já apanhei amora no pé e tenho uma cicatriz de picada de marimbondo de quando eu tinha 2 anos, hehehe...
Tia querida, fiquei muito feliz ao ver que vc está divulgando seus escritos na internet. Nada melhor para uma escritora de mão cheia como vc. Adoro seus textos, vc sabe. Passarei sempre aqui para lê-los. Beijos!
Nuss, agora sim vc me mostrou intensidade tudo que li me veio como um filme na cabeça, lembrei de mtas coisas boas e imaginei tudo que vc pasou e q comigo não aocnteceu...
Isso foi tão clean, tão relaxante de ler... Gostei, foi intenso e verdadeiro, pena que a leitura acabou!
Me fez voltar ao passado, como num filme e sabe qdo vc acorda de um sonho bastante assustada? Foi assim que aconteceu qdo vc disse q voltou e acabou a crônica =/
Eu ainda nao cheguei nos 40, mas tive a sorte de passar por quase tudo que vc descreveu perfeitamente. As amoras, eu melembro delas quando morava na 303 sul, e embaixo do meu bloco tinha um pé. Eu não gostava muito de comer, mas adorava a cor que elas faziam quando caindo no chão. Era de umr oxo tão intenso e tão magnético, que eu por aventura comia.
Quanto aos marimbondos... bem.. tive uma experiência traumática. fui picado por um enxame inteiro! E o mais legal, que o que me 'salvo' foi o MEL das abelhas.
Morando lá em Deus me livre, onde a gente mora, ou seja lá nos condomínios, eu tive a oportunidade de vivenciar mta coisa próxima de como se vive em fazendas, sítios, ou até mesmo no interior!
E assim como todos, adoro ler o que vc tem a contar!
bjos
Pop!