Descoberta da doença
segunda-feira, agosto 31, 2009
Quando iniciamos esta importante aventura que se chama vida não podemos vislumbrar as alegrias e as tristezas que um dia farão parte de nossa trajetória.
Definições, rótulos e preconceitos geralmente acompanham o surgimento de patologias físicas ou mentais que podem acometer as pessoas, acasionando-lhes alguns desequilíbrios transitórios.
Vou compartilhar com vocês minhas reflexões como paciente de câncer. Espero fazê-lo com leveza e coragem...
Definições, rótulos e preconceitos geralmente acompanham o surgimento de patologias físicas ou mentais que podem acometer as pessoas, acasionando-lhes alguns desequilíbrios transitórios.
Vou compartilhar com vocês minhas reflexões como paciente de câncer. Espero fazê-lo com leveza e coragem...
Descoberta da doença
Foi em julho de 1998, na véspera de uma viagem de férias, que descobri um enorme caroço na mama direita. Resolvi ignorar o achado e curtir a viagem com minha filha, então com 11 anos, minha prima e o marido dela. Foi a melhor coisa que fiz. Curtimos as belezas naturais de Minas Gerais onde visitamos Poços de Caldas e Araxá, terra de dona Beja. Retornei das férias renovada e pronta para enfrentar com coragem uma consulta ao mastologista.
A primeira consulta foi tranquila: o médico examinou o nódulo e disse que parecia ser apenas um simples cisto, mas pediu alguns exames complementares. Fiz primeiro a ecografia mamária. Já na sala de exames percebi que era algo mais sério, pois o médico ficou preocupado com o que viu na tela e me pediu para fazer, imediatamente, uma mamografia. Fiz o exame e lá estava o câncer escondido atrás de um simples e inofensivo cisto. Em seguida vieram as punções, biópsias e todos aqueles exames indispensáveis.
Voltei ao médico com os exames. Ele olhou tudo, confirmou o diagnóstico do câncer e marcou a cirurgia. Confesso que não foi uma conversa fácil, mas decidi que não queria morrer. Minha filha tinha somente 11 anos, o pai já havia morrido, e eu não queria que ela ficasse também sem mãe. Decidi ir em frente, não tinha nada a perder. Aliás, muito pelo contrário, eu só teria a ganhar se vencesse a batalha contra a doença.
Fiz a cirurgia para a retirada de um quadrante da mama direita. Não foi uma cirurgia traumatizante. Um mês depois comecei o tratamento com radioterapia. Durante 30 dias eu tive que ir todos os dias ao hospital. Aguardava na sala de espera ouvindo as histórias mais escabrosas, depois entrava naquela sala cheia de sinais de perigo e coisas do gênero e recebia a radiação. Na hora eu não sentia nada, mas com o tempo os efeitos da radiação se manifestaram: eram enjôos, mal estares e queimaduras radiológicas. Não foi fácil. Terminei a série e ainda tive que fazer um reforço de rádio. Em seguida veio a quimioterapia. Coisa difícil... A cada 21 dias eu recebia a quimioterapia na veia. Vieram os enjôos e todas aquelas coisas que envolvem o tratamento. Ficava difícil comer, as dores incomodavam... Resolvi fazer então o jogo do contente. Aquele jogo da Polyana, a menina do livro que li quando era criança. Ao invés de pensar em quantas sessões eu ainda teria que me submeter eu contava quantas já tinham acabado. A cada sessão que eu fazia eu sabia que era menos uma para acabar o ciclo. Finalmente cheguei ao fim do tratamento. Eu estava feliz porque iria retornar a minha vida normal. Eu só não poderia imaginar que uma desagradável surpresa me aguardava na primeira consulta após o final do tratamento. Queixei de uma dificuldade para engolir e minha médica percebeu que havia um enorme nódulo na minha tireóide. Fiquei arrasada.
Fiz a cirurgia. Felizmente tive a sorte de cair nas mãos de um médico fantástico e superei mais um problema.
Passados mais 6 meses lá estava eu de volta aos exames de rotina e para minha surpresa, desagradável, diga-se de passagem, foi encontrado outro nódulo na mesma mama que havia sido operada.
Lembro bem que chorei, xinguei todo o repertório de palavrões conhecidos, fiquei muito brava. Eu não queria acreditar que estava acontecendo tudo de novo. Minha médica esperou minha fúria acalmar para dizer que eu teria que passar por outra cirurgia para retirada do nódulo e talvez toda a mama. Ela me sugeriu pensar no assunto para decidir o que fazer.
Pensei, pensei muito e conclui que o melhor a fazer seria uma mastectomia radical para me livrar de vez do problema. Eu perderia uma mama, mas em compensação me livraria definitivamente de uma doença que já estava tirando meu sossego.
É claro que a essa altura eu já estava com acompanhamento psicológico, afinal, eu que sempre levara uma vida ativa, trabalhando fora e correndo de um lado para o outro estava a quase dois anos dependendo de alguém para me levar ao médico, ao hospital, a fisioterapia... Eu estava completamente dependente.
Fui novamente operada, dessa vez para retirada da mama. Decidi, no mesmo procedimento cirúrgico, fazer a reconstrução da mama com o músculo da barriga. Foi a melhor coisa que fiz apesar das dores e dificuldades do pós operatório. Acho que psicologicamente, para mim, a retirada da mama funcionou como um instrumento que pos fim ao câncer e a reconstrução da mama permitiu que minha autoestima ficasse intacta.
Três meses depois daquela longa e difícil cirurgia eu estava morando em Londres e aproveitando o que a vida me oferecia de melhor. Resolvi fazer do limão uma limonada. Afinal, entendi que bastava adicionar água e açúcar para fazer o azedo ficar gostoso. Fiz o mesmo com a minha vida.
Não costumo ficar sentada lamentando aquilo que não posso mais fazer. Aprendi que às vezes é preciso nos reconstruir, é preciso reescrever nossa história. Depois de superar uma doença ainda tão estigmatizada consegui renascer das cinzas como uma fênix e sou uma nova mulher. Hoje faço com prazer tudo aquilo que gosto. Entre as várias atividades adoro viajar pelo mundo afora. Viajo sempre e adoro escrever minhas memórias de viagens. São histórias divertidas das viagens com amigos ou minha filha.
Cada um de nós é capaz de encontrar sua própria motivação. Precisamos, em qualquer idade, em qualquer circunstância, manter o entusiasmo pela vida, nos reinventar. Precisamos também compreender que o motivo de nossa felicidade não está fora, mas dentro de cada um de nós; no encontro com nosso Deus interior.
Foi em julho de 1998, na véspera de uma viagem de férias, que descobri um enorme caroço na mama direita. Resolvi ignorar o achado e curtir a viagem com minha filha, então com 11 anos, minha prima e o marido dela. Foi a melhor coisa que fiz. Curtimos as belezas naturais de Minas Gerais onde visitamos Poços de Caldas e Araxá, terra de dona Beja. Retornei das férias renovada e pronta para enfrentar com coragem uma consulta ao mastologista.
A primeira consulta foi tranquila: o médico examinou o nódulo e disse que parecia ser apenas um simples cisto, mas pediu alguns exames complementares. Fiz primeiro a ecografia mamária. Já na sala de exames percebi que era algo mais sério, pois o médico ficou preocupado com o que viu na tela e me pediu para fazer, imediatamente, uma mamografia. Fiz o exame e lá estava o câncer escondido atrás de um simples e inofensivo cisto. Em seguida vieram as punções, biópsias e todos aqueles exames indispensáveis.
Voltei ao médico com os exames. Ele olhou tudo, confirmou o diagnóstico do câncer e marcou a cirurgia. Confesso que não foi uma conversa fácil, mas decidi que não queria morrer. Minha filha tinha somente 11 anos, o pai já havia morrido, e eu não queria que ela ficasse também sem mãe. Decidi ir em frente, não tinha nada a perder. Aliás, muito pelo contrário, eu só teria a ganhar se vencesse a batalha contra a doença.
Fiz a cirurgia para a retirada de um quadrante da mama direita. Não foi uma cirurgia traumatizante. Um mês depois comecei o tratamento com radioterapia. Durante 30 dias eu tive que ir todos os dias ao hospital. Aguardava na sala de espera ouvindo as histórias mais escabrosas, depois entrava naquela sala cheia de sinais de perigo e coisas do gênero e recebia a radiação. Na hora eu não sentia nada, mas com o tempo os efeitos da radiação se manifestaram: eram enjôos, mal estares e queimaduras radiológicas. Não foi fácil. Terminei a série e ainda tive que fazer um reforço de rádio. Em seguida veio a quimioterapia. Coisa difícil... A cada 21 dias eu recebia a quimioterapia na veia. Vieram os enjôos e todas aquelas coisas que envolvem o tratamento. Ficava difícil comer, as dores incomodavam... Resolvi fazer então o jogo do contente. Aquele jogo da Polyana, a menina do livro que li quando era criança. Ao invés de pensar em quantas sessões eu ainda teria que me submeter eu contava quantas já tinham acabado. A cada sessão que eu fazia eu sabia que era menos uma para acabar o ciclo. Finalmente cheguei ao fim do tratamento. Eu estava feliz porque iria retornar a minha vida normal. Eu só não poderia imaginar que uma desagradável surpresa me aguardava na primeira consulta após o final do tratamento. Queixei de uma dificuldade para engolir e minha médica percebeu que havia um enorme nódulo na minha tireóide. Fiquei arrasada.
Fiz a cirurgia. Felizmente tive a sorte de cair nas mãos de um médico fantástico e superei mais um problema.
Passados mais 6 meses lá estava eu de volta aos exames de rotina e para minha surpresa, desagradável, diga-se de passagem, foi encontrado outro nódulo na mesma mama que havia sido operada.
Lembro bem que chorei, xinguei todo o repertório de palavrões conhecidos, fiquei muito brava. Eu não queria acreditar que estava acontecendo tudo de novo. Minha médica esperou minha fúria acalmar para dizer que eu teria que passar por outra cirurgia para retirada do nódulo e talvez toda a mama. Ela me sugeriu pensar no assunto para decidir o que fazer.
Pensei, pensei muito e conclui que o melhor a fazer seria uma mastectomia radical para me livrar de vez do problema. Eu perderia uma mama, mas em compensação me livraria definitivamente de uma doença que já estava tirando meu sossego.
É claro que a essa altura eu já estava com acompanhamento psicológico, afinal, eu que sempre levara uma vida ativa, trabalhando fora e correndo de um lado para o outro estava a quase dois anos dependendo de alguém para me levar ao médico, ao hospital, a fisioterapia... Eu estava completamente dependente.
Fui novamente operada, dessa vez para retirada da mama. Decidi, no mesmo procedimento cirúrgico, fazer a reconstrução da mama com o músculo da barriga. Foi a melhor coisa que fiz apesar das dores e dificuldades do pós operatório. Acho que psicologicamente, para mim, a retirada da mama funcionou como um instrumento que pos fim ao câncer e a reconstrução da mama permitiu que minha autoestima ficasse intacta.
Três meses depois daquela longa e difícil cirurgia eu estava morando em Londres e aproveitando o que a vida me oferecia de melhor. Resolvi fazer do limão uma limonada. Afinal, entendi que bastava adicionar água e açúcar para fazer o azedo ficar gostoso. Fiz o mesmo com a minha vida.
Não costumo ficar sentada lamentando aquilo que não posso mais fazer. Aprendi que às vezes é preciso nos reconstruir, é preciso reescrever nossa história. Depois de superar uma doença ainda tão estigmatizada consegui renascer das cinzas como uma fênix e sou uma nova mulher. Hoje faço com prazer tudo aquilo que gosto. Entre as várias atividades adoro viajar pelo mundo afora. Viajo sempre e adoro escrever minhas memórias de viagens. São histórias divertidas das viagens com amigos ou minha filha.
Cada um de nós é capaz de encontrar sua própria motivação. Precisamos, em qualquer idade, em qualquer circunstância, manter o entusiasmo pela vida, nos reinventar. Precisamos também compreender que o motivo de nossa felicidade não está fora, mas dentro de cada um de nós; no encontro com nosso Deus interior.