Fim de Ano



Último dia do ano, acabou 2010. Como acontece em toda virada de ano, os povos do mundo inteiro criam grandes expectativas para o ano novo que se inicia. Quanta esperança... Os céus se enchem de luzes e cores com o espoucar dos fogos de artifício. Nos lares, nos clubes e em qualquer lugar onde haja pessoas comemorando também se ouve a explosão das rolhas de cortiça arremessadas das garrafas de espumante. Todos se cumprimentam, todos querem comemorar.


Feliz Ano Novo

E o tempo, ora mocinho, ora vilão, continua seu curso inexorável, indiferente a mudança no calendário. Os acontecimentos se sucedem, novas tragédias sepultam as antigas e assim o mundo continua rodando sem parar.
No apagar das luzes de 2010, no último dia de seu governo, o presidente Lula concedeu o direito de permanência no Brasil ao italiano Battisti, condenado em seu país. Vamos sofrer as consequências dessa decisão, não tenham dúvidas. Quem viver verá!
E as decisões do Supremo Tribunal ficam cada dia mais desacreditadas...
Alguém ainda se lembra dos atletas cubanos que desertaram e foram depois deportados pelo Brasil? Eles não eram bandidos, eram apenas atletas tentando uma vida melhor num país "democrático". Por que será que não houve nenhuma clemência para com eles???
Que pena, dois pesos e duas medidas. É assim que funcionam as coisas por aqui. Para o Battiste, condenado por morte na itália, visto de permanência. Para os pobres atletas cubanos, deportação. E o pequeno Sean continua impedido de ter contato com sua família brasileira...
Nossa, acho melhor parar por aqui. Enxergar somente o lado podre dos acontecimentos faz mal a saúde. Vamos continuar acreditando em dias melhores e torcer para que 2011 seja um ano cheio de paz e prosperidade. Vamos torcer também para que o novo governo seja mais comprometido com o real crescimento e desenvolvimento do nosso Brasil varonil.
Para todos que visitam o pausa para viajar meus votos de um Feliz 2011.

Era um portão que não fechava nada


Tentei estacionar numa entrequadra da Asa Sul para fazer compras com minha filha, mas foi impossível porque estava tudo lotado. Paramos numa quadra residencial próxima, caminhamos pelos jardins e veja o que encontramos: este portão da foto ao lado, que não fecha lugar nenhum.
Minha primeira reação foi rir da inutilidade do portão que parece se equilibrar sozinho sobre a calçada. Ele interrompe o acesso livre da calçada, mas não impede a passagem de ninguém. Só atrapalha. Pode até ser que algum dia uma cerca viva cresça dos lados para completar o obstáculo, mas até que isso aconteça o portão fica no mínimo inútil, e engraçado...
Quantos obstáculos encontramos em nosso caminho pela vida afora? Muitos. Alguns, como o caso do portão, nos obriga apenas a dar uma pequena volta. Outros, complicam um pouco mais mas não impedem nossa caminhada. Só depende de nossa determinação.

O Espírito do Natal


Acordei nesta manhã de natal envolvida por um silêncio quase opressor. Todos na casa continuavam dormindo e até os pássaros permaneciam calados, quietos.

Tomei o primeiro remédio da manhã e fui até a cozinha. Na pia uma pilha de pratos e talheres, copos e travessas sujas lembravam a ceia da noite anterior. Deixei tudo em ordem, tomei outro remédio e fui fazer uma caminhada pelas ruas do condomínio até dar a hora de tomar meu café da manhã.

Estava tudo em silêncio, nenhuma criança ou adulto na rua ou nas varandas de suas casas. Os jardins também estavam vazios mostrando sinais da chuva que caíra na noite anterior. Uma brisa fresca enchia o ar.

Continuei minha caminhada solitária até encontrar uma senhora que subia a rua apressada. Desejei-lhe um feliz natal, no que fui correspondida com um bate papo até a casa onde ela trabalha. Os patrões viajaram, mas deixaram o cachorro sob seus cuidados e ela chegou bem cedinho para alimentar o animal.

Nos separamos e continuei meu passeio, solitária e em silêncio. Minha impressão era de caminhar por uma cidade fantasma. Tudo quieto, nem os cachorros latiam. Que diferença das manhãs de natal da minha infância quando as crianças acordavam cedo e saiam correndo para a rua exibindo seus presentes. Algumas estreavam suas bicicletas novinhas, usando as rodinhas auxiliares até aprenderem equilibrar a magrela. Os meninos testavam suas metralhadoras de brinquedo e enchiam a rua com um barulho ensurdecedor enquanto as meninas se juntavam em grupinhos para brincar com suas bonecas novinhas em folha trazidas pelo papai noel.

Continuei andando nas ruas silenciosas. Vez ou outra um pássaro enchia o ar com seu canto. Um casal de maritacas, pousados na ponta de uma longa folha de palmeira, fazia sua barulheira habitual. Era só o que se ouvia. Não havia carros na rua e muito menos pessoas. Fiquei pensando por onde andaria o espírito do natal. Será que ele morreu?

Voltei para casa caminhando devagar enquanto relembrava a noite de ontem. Estávamos receosas de que a festa não fosse ficar animada como gostamos porque era o primeiro natal, em muitos anos, que apenas a família estaria reunida para a ceia. Éramos eu e minha filha, minhas duas irmãs, uma sobrinha e minha mãe, mas foi uma noite imensamente feliz. O espírito do natal esteve presente o tempo todo. Havia uma energia de amor e amizade rondando o ambiente. Éramos uma família reunida, na mesma sintonia, para comemorar o nascimento de Jesus, Aquele que nasceu e morreu para nos ensinar a amar incondicionalmente e respeitar o próximo.

Natal

Antevéspera de Natal. Época triste para alguns e festiva para outros. Não tenho certeza em qual das categorias me incluo, fico oscilando entre as duas...
Por um lado vejo o Natal como uma data apenas comercial, época em que somos induzidos a mergulhar nas compras enfrentando lojas lotadas, preços altos e filas quilométricas. Todos querem um presente. Todos esperam por um presente. Tá na mídia, a TV fala disso o tempo todo, os jornais estão cheios de propaganda, as revistas, nem se fala...
Na minha memória, desde que eu era apenas uma garotinha magrela e tímida, de longos cabelos negros cheios de cachinhos, o natal parecia mágico: cheio de lindas árvores enfeitadas para encher os olhos das crianças e adultos, alguns presépios bem montados e muito música natalina.
Na cidade de interior, onde vivi grande parte de minha infância, todos os anos era montado um enorme presépio na rua em que eu morava, num terreno sem edificação. Para meus olhos de criança não havia nada mais bonito e de mais apelo religioso. Eu ficava maravilhada com os personagens, as luzes e toda a história de Jesus. Todos os dias, numa espécie de adoração, eu fazia minha visita ao presépio e ficava por ali algum tempo olhando para aquele menininho que nasceu numa mangedoura e rezava baixinho.
O tempo passou, eu cresci, mudei de cidade e tive a oportunidade de passar o natal em diversos lugares. Vi árvores e presépios enormes, muito mais bonitos e enfeitados mas, sinceramente, nenhum teve ou tem para mim o apelo daquele presépio simples da minha infância.
Ainda ecoa em minha memória a algazarra das crianças nas manhãs de natal correndo e gritando pela rua para exibir seus presentes. Era uma festa. Todos queriam mostrar seus brinquedos e a criançada parecia embriagada de prazer e alegria. Eram brinquedos na maioria modestos: bolas coloridas, bonecas, jogos e carrinhos. Algumas crianças mais abastadas ganhavam bonecas que falavam, bicicletas ou carrinhos de pedal, mas a maioria ganhava mesmo eram bonecas mudas, bolas, carrinhos de plástico e jogos de tabuleiro. Mesmo assim todos se sentiam felizes. Alguns, talvez, um pouco frustrados mas não infelizes.
Passei minha infância inteira sonhando com uma bicicleta que nunca chegou nem no natal ou outra data qualquer, mas isso nunca foi motivo para eu me sentir infeliz. Acho que aprendi ainda muito pequena a ser feliz com o que eu tinha na mão, mas nunca deixei de perseguir meus sonhos. Sempre acreditei que as coisas acontecem na hora certa. E acontecem.

O primeiro vôo da garrincha

Pendurei embaixo do telhado da varanda uma pequena casinha de madeira pintada de verde, com telhado vermelho e ornamentada com uma cerquinha marrom que fica na frente da entrada em forma de círculo. Não demorou muito tempo para que um casal de garrinchas resolvesse usá-la como ninho.
Foi um intenso vai e vem do casal para forrar o ninho com pedaços de folhas e capim que colhiam no jardim. Depois tudo se aquietou.
Passados alguns dias começou o entra e sai dos pais carregando pequenos insetos e larvas para alimentar os filhotes famintos. Eles piavam muito reclamando pela comida que parecia nunca saciá-los e o trabalho dos pais durava o dia inteiro.
Ninguém podia chegar perto da casinha que as garrinchas irritadas piavam alto tentando espantar os curiosos.
Hoje pela manhã eu estava na varanda quando percebi que um dos filhotes estava caído no chão e os pais voavam em volta tentando guiá-lo de volta ao ninho. Como o telhado é alto, mesmo subindo pelo arbusto florido que fica no canteiro embaixo da casinha, o filhote não conseguia voltar para a segurança do ninho.
Preocupada com os gatos que andam soltos pelo quintal, e adoram comer um passarinho distraído, fiquei sentada numa cadeira próxima observando os passarinhos. Um deles cuidava dos filhotes e parecia incentivá-los voar enquanto o outro entrava e saía da casinha levando um bichinho no bico.
Instantes depois os outros dois passarinhos se aventuraram no desajeitado primeiro vôo e caíram pesados no canteiro coberto de folhas secas. A mãe piava em volta e os três pequenos filhotes tentavam subir pelos galhos do arbusto. Volta e meia despencavam no chão para começarem a escalada novamente.
Dois filhotes conseguiram alcançar a escada que fica pendurada junto a parede e de lá voaram até a madeira onde está pendurada a casinha. Como a porta é pequenina e eles ainda não têm controle do vôo despencaram pesadamente no chão do canteiro.
Como todo bebê eles são persistentes e num instante recomeçaram a escalada. Na medida que o tempo passava eles ganhavam mais confiança e arriscavam um vôo mais longo. Um dos pais ficava em volta incentivando o vôo enquanto o outro continuava indo e voltando com um pouco de comida no bico para alimentar os filhotes.
A penugem dos passarinhos é da mesma cor do barro e das folhas secas. Uma boa camuflagem para despistar os predadores. No primeiro vôo, ainda muito desajeitado, eles também começam a aprender encontrar comida para conseguirem sobreviver sozinhos.
Os pássaros, animais ditos irracionais, parecem mais espertos que o homem. Ensinam seus filhotes voarem assim que a plumagem se completa, mesmo a cauda estando ainda bem curtinha. Ensinam também como procurar sua própria comida e, mais importante, os estimulam na busca da independência e da liberdade.

A força das águas

Todos os anos vemos nos noticiários imagens de pessoas e automóveis sendo arrastados por enchentes em São Paulo. É sempre a mesma coisa, basta a chegada das chuvas para que essas cenas aterradoras entrem em nossas casas causando tristeza e indignação.
Semana passada eu e alguns amigos voltávamos do litoral para São Paulo quando fomos surpreendidos por uma forte enxurrada na entrada da cidade.
Aconteceu muito rápido. A chuva piorou por volta da meia noite quando chegávamos em São Paulo e o trânsito ficou lento. Faltava mais ou menos quarenta minutos de viagem mas, uma hora depois, estávamos completamente parados e ainda distantes de casa.
A chuva ficou mais forte, alguns motoqueiros voltavam na contramão da pista para avisar que não dava para prosseguir, pois a água estava subindo muito rápido. Os motoristas tentavam dar marcha ré para escapar da enchente. Sacos de lixo boiavam sob as águas escuras de lama e sujeira. Gritos aflitos enchiam a noite escura. O caos começou a se instalar e crescer.
Tentei manter a calma porque sabia que nosso carro, uma caminhonete alta e com tração nas quatro rodas, era potente o bastante para sair, com um mínimo de segurança, daquela armadilha de água suja e detritos. Naquela confusão de carros tentando fugir na contramão e gritaria geral dos motoristas que dirigiam carros pequenos conseguimos furar o cerco, dar marcha ré e escapar pela primeira rua íngreme que surgiu a nossa direita. Sequer sabíamos onde estávamos, nossa única preocupação era afastar daquele ponto de alagamento o mais rápido possível.
Alguns minutos depois e já distante do problema tentamos nos orientar para encontrar uma saída que nos levasse para casa. Quando o carro parou em frente ao portão respiramos aliviados. Estávamos ilesos em casa e em segurança. A chuva tinha diminuído de intensidade, mas continuou caindo a noite inteira.
Imóvel na cama quentinha e confortável fiquei pensando na aventura que vivemos. Fora assustador.
Quando vemos no noticiário um carro sendo arrastado pela correnteza não conseguimos avaliar a força das águas e a rapidez com que ela sobe e alaga tudo. É impressionante! Não dá tempo de fazer muita coisa.
A imagem dos sacos pretos cheios de lixo e da sujeira das ruas boiando sob as águas insiste em voltar à minha memória. É o resultado da falta de educação da população que não se preocupa com o meio ambiente e joga todo tipo de lixo nas calçadas e nas ruas. Esse lixo cai nos bueiros que ficam entupidos e transbordam acabando por invadir as ruas, calçadas e residências destruindo tudo e disseminando doenças.
É triste concluir que as pessoas atingidas pelas enchentes, de alguma forma, são também responsáveis pelas tragédias que as atingem na medida que não se preocupam com o meio ambiente, com o desmatamento e principalmente com o lixo que produzem e que descartam fora dos locais para isso destinados. Jogam nas ruas e nas enconstas todo tipo de lixo e entulho.
Vamos aprender a jogar na lixeira um simples palitinho de picolé, um papelzinho de bala ou qualquer outro material descartável. Lugar de lixo é na lixeira.

Adeus xeloda

Hoje tive uma boa notícia, ou melhor, uma excelente notícia: o PET que fiz no AC Camargo no dia 7 de dezembro revelou que o câncer está em atividade apenas no esterno e costelas e suuuumiu nos outros órgãos. As ziquiziras que eu venho sentindo nos últimos tempos são apenas efeitos colaterais do xeloda combinado com o tykerb.
Quando tomei os comprimidos do xeloda depois do café da manhã, olhei bem para eles e disse em voz alta: vocês serão os últimos. Os anjos disseram amém e eu realmente me livrei deles. Vou ficar usando apenas o tykerb e um hormônio para controle e daqui a 3 meses volto ao hospital para repetir os exames e ver como o organismo está reagindo.
A chuva está caindo lá fora, mas sinto que dentro de mim tudo está iluminado como se eu estivesse sob o sol do meio dia. É bom ter certeza de que o meu corpo está reagindo e vencendo a doença.

Fazendo exames e passeando

Cheguei em São Paulo na tarde de quinta-feira e no dia seguinte fiz as tomografias. Aproveitei o sábado e domingo para passear pela cidade. No domingo eu e Maria fomos ao MASP, que é sempre uma boa opção de passeio, e encontramos uma feira de antiguidades fantástica embaixo do prédio. Ficamos por ali apreciando as belas peças antigas. Paramos para almoçar no restaurante do museu que tem uma comida muuuito boa. Amei as saladas e nem dei bola para o prato principal que também parecia muito bom.
Saímos do museu e fomos papear no parque em frente, pois o calor estava insuportável. Ficamos um pouco por lá e quando o tempo mudou a cara resolvemos voltar para o hotel. Foi a nossa sorte, pois assim que pisamos no hotel não demorou cinco minutos e caiu o maior temporal.
Hoje amanheci o dia no hospital para fazer o exame de sangue. Estou quieta no hotel, seguindo a orientação para o PET que farei amanhã. Na quarta-feira vamos para a praia com minha amiga Eliete e a Márcia e só voltamos para São Paulo na outra quarta, pois na quinta tenho consulta médica para saber o resultados dos exames e como seguirá o tratamento daqui para frente. Tomara que eu possa finalmente encerrar com a quimioterapia. Quem sabe?

Uma minhoca, dois passarinhos




O quintal da minha casa é um verdadeiro jardim do édem para os passarinhos que voam livre na natureza. Lá eles encontram tudo o que gostam: frutas frescas nos pratos pendurados nas árvores, sementes, alpiste e outras comidas próprias para passarinho que minha mãe espalha pelo jardim (para meu desespero) deixando tudo com aparência de bagunça.
Num cantinho, mais ou menos discreto, separei um espaço para preparar a compostagem feita com as sobras orgânicas da casa. Naquele pedaço de terra minha mãe joga as cascas das frutas e legumes, as sobras das comidas, enfim, tudo o que é orgânico. Uma verdadeira festa para as duas galinhas de estimação que ela cria no quintal, para os passarinhos e também para os calangos que estão cada dia mais gordinhos e robustos.
As galinhas e os passarinhos ciscam o dia inteiro aquele pequeno pedaço de terra em busca de larvas e insetos. As galinhas gordas também ciscam o restante dos canteiros que elas conseguiram destruir desde que chegaram em minha casa ainda pintinhos. Os calangos ficam atentos em cima das pedras e atacam numa rapidez impressionante qualquer inseto que se aventure pousar na compostagem. O pouco de matéria orgânica que sobra acaba se decompondo e por fim a terra fica negra, rica em nutrientes e cheia de minhocas suculentas.
Essa terra adubada é depois espalhada pelos canteiros do jardim de frente da casa que ficam protegidos dos pés (e das cacas) das galinhas. Aliás, as cacas das penosas é outro rico adubo natural que completa a compostagem, mas confesso que é bem nojento (e fedido). Detesto tropeçar nessas cacas quando ando pelo quintal ou caminho pelo gramado verdinho. Não sei onde minha irmã e minha sobrinha estavam com a cabeça quando resolveram comprar os pintinhos para presentear minha mãe??? O pior é que a velhinha adora galináceos e para ela não existe bicho de estimação melhor do que uma galinha gorda (e as dela estão até quadradas) e cheias de manias.
É isso mesmo, cheia de manias. Minha mãe bota qualquer bicho de estimação mal acostumado. Suas galinhas ficam esperando por ela todo final de tarde para irem dormir protegidas no cantinho delas. Elas não vão sozinhas para o galinheiro e também não se acostumaram com o poleiro e só dormem em cima de um banco alto e largo. Elas ficam absolutamente perdidas e inquietas até minha mãe chegar e levá-las para dormir. Pode? Até onde sei, qualquer galinha que se preze encontra seu próprio canto para dormir, sozinha.
Além dos passarinhos soltos na natureza minha casa abriga dois passarinhos na gaiola (coisa que detesto), mas os coitados já nasceram em cativeiro e são presentes que minha mãe ganhou. O Neto, um melro metálico lindo, de penas azuis brilhantes e olhos bem amarelos, é o xodó da minha mãe (e meu também, tenho que admitir). Ele adora comer bichinhos e frutas. É louco por maça e alucinado por minhocas, caramujos ou qualquer outro inseto comestível.
Hoje pela manhã o quintal ainda mostrava restos da chuva torrencial que caiu ontem a noite. Encontrei uma minhoca se contorcendo sobre a cerâmica clara do corredor e lógico, peguei a coitada e no momento seguinte a levei até a gaiola que o Neto divide com outro pássaro. Coloquei a bichinha na vasilha de comida e a Bibi caiu de bico em cima dela, mas como o Neto é mais esperto conseguiu roubar o petisco. A pobre Bibi ficou com cara de boba, sem entender como havia perdido a minhoca suculenta.
Olhei dentro da piscina, onde sempre encontro minhocas suicidas no fundo (quando chove muito elas se desesperam, saem da terra e acabam caindo dentro d'água). Resgatei uma com a peneira para jogá-la dentro da gaiola para a Bibi saborear, mas novamente o Neto roubou o petisco. A Bibi, furiosa, voou atrás dele mas novamente se viu frustrada na corrida pela minhoca que já havia sido engolida pelo esperto melro.