O primeiro vôo da garrincha

Pendurei embaixo do telhado da varanda uma pequena casinha de madeira pintada de verde, com telhado vermelho e ornamentada com uma cerquinha marrom que fica na frente da entrada em forma de círculo. Não demorou muito tempo para que um casal de garrinchas resolvesse usá-la como ninho.
Foi um intenso vai e vem do casal para forrar o ninho com pedaços de folhas e capim que colhiam no jardim. Depois tudo se aquietou.
Passados alguns dias começou o entra e sai dos pais carregando pequenos insetos e larvas para alimentar os filhotes famintos. Eles piavam muito reclamando pela comida que parecia nunca saciá-los e o trabalho dos pais durava o dia inteiro.
Ninguém podia chegar perto da casinha que as garrinchas irritadas piavam alto tentando espantar os curiosos.
Hoje pela manhã eu estava na varanda quando percebi que um dos filhotes estava caído no chão e os pais voavam em volta tentando guiá-lo de volta ao ninho. Como o telhado é alto, mesmo subindo pelo arbusto florido que fica no canteiro embaixo da casinha, o filhote não conseguia voltar para a segurança do ninho.
Preocupada com os gatos que andam soltos pelo quintal, e adoram comer um passarinho distraído, fiquei sentada numa cadeira próxima observando os passarinhos. Um deles cuidava dos filhotes e parecia incentivá-los voar enquanto o outro entrava e saía da casinha levando um bichinho no bico.
Instantes depois os outros dois passarinhos se aventuraram no desajeitado primeiro vôo e caíram pesados no canteiro coberto de folhas secas. A mãe piava em volta e os três pequenos filhotes tentavam subir pelos galhos do arbusto. Volta e meia despencavam no chão para começarem a escalada novamente.
Dois filhotes conseguiram alcançar a escada que fica pendurada junto a parede e de lá voaram até a madeira onde está pendurada a casinha. Como a porta é pequenina e eles ainda não têm controle do vôo despencaram pesadamente no chão do canteiro.
Como todo bebê eles são persistentes e num instante recomeçaram a escalada. Na medida que o tempo passava eles ganhavam mais confiança e arriscavam um vôo mais longo. Um dos pais ficava em volta incentivando o vôo enquanto o outro continuava indo e voltando com um pouco de comida no bico para alimentar os filhotes.
A penugem dos passarinhos é da mesma cor do barro e das folhas secas. Uma boa camuflagem para despistar os predadores. No primeiro vôo, ainda muito desajeitado, eles também começam a aprender encontrar comida para conseguirem sobreviver sozinhos.
Os pássaros, animais ditos irracionais, parecem mais espertos que o homem. Ensinam seus filhotes voarem assim que a plumagem se completa, mesmo a cauda estando ainda bem curtinha. Ensinam também como procurar sua própria comida e, mais importante, os estimulam na busca da independência e da liberdade.
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Excelente, mama. O dia q estava observando, a mãe garrincha estava com comida na boca, mas não entrou na casa de jeito nenhum enquanto eu estava por lá... acho q ela não foi com a minha cara.kkkk
    te amo!


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou