Uma aula sobre moldura
domingo, fevereiro 13, 2011
Uma amiga, que é pintora e professora de artes, presenteou minha irmã com uma de suas pinturas. O quadro retrata um bosque cheio de árvores frondosas, um plácido rio refletindo a paisagem ao redor e um pastor conduzindo um bando de ovelhas gordas e branquinhas, por um caminho protegido pela sombra fresca.
Escolhemos uma parede, com todo o cuidado, e decidimos onde o quadro ficará pendurado em nossa sala de jantar. Como o mesmo não estava emoldurado, fomos até uma loja mandar fazer o serviço.
Eu, muito distraidamente, entrei numa loja onde vi algumas molduras expostas, sem me atentar que o local vendia algumas obras, além de também exucutar serviços de molduras. Mal tinha dado alguns passos fui recebida por uma jovem toda sorrisos, sugerindo que eu ficasse a vontade e perguntando o que eu desajava. - Emoldurar este quadro, respondi. Ela olhou para mim com um risinho de Mona Lisa na cara e perguntou se eu havia pintado a tela. - Com um sorriso entre o sarcástico e o enigmático, ou um sorriso de Monsa Lisa, revidei: - O que você acha? Ela não se deu por vencida e veio logo com uma saraivada de perguntas: - Como é sua casa? Qual a cor dos seus móveis? Qual a cor da parede? Entre outras. Atônita com tantas perguntas, apenas porque queria emoldurar um quadro, procurei por uma cadeira onde pudesse sentar para responder tantos questionamentos enquanto tentava escolher a moldura ideal para a tela.
A jovenzinha, que se dizia arquiteta ou, no mínimo, entendida em decoração de ambientes, tentava convencer-me do tanto que eu não sabia nada de decoração ou escolhas de molduras. Tudo isto porque eu disse não querer uma moldura muito larga e que também estava pensando em não usar paspatur. Pode?
A chatinha entendida em decoração e molduras, olhou para mim dizendo que uma moldura escura iria levar o escuro dos móveis da minha sala para a parede. Que sendo a parede de um creme clarinho e blá, blá, blá. Fiquei olhando para ela com cara de idiota. Ela então, do alto do seu conhecimento e experiência em decoração, esclareceu que as molduras para as quais eu estava olhando eram clássicas. Eu disse ohhhhhhh. É mesmo? E eu nem gosto de nada clássico (e o melhor é que até gosto). Mas era só para ser chata também.
Resumindo, pedi que ela sugerisse algo para o bendito quadro que naquela altura eu já tinha arrependido de ter levado para emoldurar. Ela pegou uma moldura enorme, meio esbranquiçada e um paspatur maior ainda, e disse que ficaria perfeito no meu quadro. Achei aquela combinação horrenda e ela então sugeriu algo mais na cor de madeira até que encontrou uma que fez, pelo menos um pouco, minha cabeça.
Pedi então para fazer o orçamento e um rapaz que trabalha com ela, e que ficou o tempo todo de lado, observando nossa conversa com cara de quem estava se divertindo, foi fazer as contas. Só não caí dura no chão porque estava sentada num sofazinho baixo, mas o valor da moldura era quase o preço de uma pintura feita por um artista aclamado. Cruzes, além de chata a criatura era careira demais. Ninguém merece.
Agradeci a atenção (e de certo a delicadeza em tentar a todo custo fazer-me acreditar em minha falta de gosto e absoluta ignorância) e saí da loja arrastando o quadro embaixo do braço. Andei mais um pouco e encontrei bem na esquina da mesmíssima rua, uma loja especializada apenas em moldura. Entrei, escolhi a moldura sem ser importunada ou chamada de idiota e mandei executar o serviço pagando um terço do valor cobrado pela pseudo-decoradora.
De algum tempo para cá alguns tipos de profissionais deram para se sentir os reis da cocada preta e os únicos entendedores de determinados assuntos. Basta entrar num restaurante comandado por um chef histérico, que adora fazer combinações exóticas e tem certeza absoluta de que ninguém possui um paladar refinado além dele, é claro, e que não fará nenhuma cerimônia em fazer um rombo em seu bolso na hora de pagar a conta; ou num salão para um simples corte de cabelo e ficar nas mãos de um cabeleireiro estereotipado, acabando com seu pobre cabelo para depois ainda te cobrar os tubos por um simples corte feito com uma tesoura que durará o tempo de vida que durar o salão. Esses tipos estão dando cria por aí. Todo cuidado é pouco.
De algum tempo para cá alguns tipos de profissionais deram para se sentir os reis da cocada preta e os únicos entendedores de determinados assuntos. Basta entrar num restaurante comandado por um chef histérico, que adora fazer combinações exóticas e tem certeza absoluta de que ninguém possui um paladar refinado além dele, é claro, e que não fará nenhuma cerimônia em fazer um rombo em seu bolso na hora de pagar a conta; ou num salão para um simples corte de cabelo e ficar nas mãos de um cabeleireiro estereotipado, acabando com seu pobre cabelo para depois ainda te cobrar os tubos por um simples corte feito com uma tesoura que durará o tempo de vida que durar o salão. Esses tipos estão dando cria por aí. Todo cuidado é pouco.
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Obrigada pelo comentário. bjs Lou