Vôo para liberdade




Nasceram em gaiola. Filhos de pais cativos. Coitados... Nunca viram o mundo além das grades da casa que lhes serve de lar e prisão. Sequer imaginam o prazer de voar livre, ao sabor do vento.
Depois que a casinha de madeira foi colocada dentro da gaiola grande e espaçosa, teve início uma função sem fim. Os dois periquitos, inicialmente assustados, mas também curiosos, arriscavam uma espiadinha pelo buraco da casinha. Aos poucos foram tomando coragem e entraram pela abertura.
Certos de que a casinha não era nenhuma armadilha mortal, perceberam que poderia ser usada como ninho pois, mesmo cativos, seu instinto de preservação da espécie continuava inalterado. Acasalaram.
Na proteção da casinha fechada completamente de um dos lados, botaram os ovos e começaram a chocar. Pai e mãe se revesavam na tarefa. Alguns dias depois nasceram os passarinhos.
Não dava para saber quantos eram e todos em casa ficaram curiosos, mas se contiveram para não atrapalhar os cuidados dos pais com as crias. Era um entra e sai sem fim.
Um dos pais, talvez o pai, quem sabe, enchia o papinho de comida e ia regurgitar no biquinho do outro adulto que, por sua vez, alimentava os filhotes. O tempo foi passando e tudo o que se ouvia era um piado sem fim de passarinhos reclamando por comida, até que um belo dia um dos filhotes aventurou botar a carinha para fora do buraco da casinha. Foi uma festa! Todos queriam ver de perto o filhotinho que era azul bem clarinho.
Um dia minha mãe chegou muito aflita dentro de casa contando que os periquitos adultos jogaram um dos filhotes no fundo da gaiola. O pobrezinho parecia um ET todo peladinho e muito feio. Os olhos eram estufados e escuros sob a pele clarinha e sem penas. Sentenciei: jogaram o filhote fora do ninho para matá-lo porque nasceu muito atrasado e é muito menor do que os outros. Não existe clemência na natureza. É a lei do mais forte, do mais preparado para perpetuar a espécie. Esse vai acabar morrendo mesmo.
Minha mãe ficou inconformada e com muita pena do etezinho. Sugeri então que ela o pegasse usando uma luva e o recolocasse no ninho para ver o que iria acontecer. Ela seguiu minha sugestão e se sentiu a salvadora do filhotinho que, alguns dias depois, estava jogado novamente no fundo da gaiola morrendo de frio e fome. Ela o recolocou no ninho e ficamos observando para ver o que iria acontecer.
Acho que os pais se deram conta de que a velhinha não iria desistir do filhote e o filhotinho também não desistiria de viver. Acabaram se conformando em alimentar o pequeno que em poucos dias estava cheio de pequenas penugens azuis bem clarinhas.
Nesta altura já se sabia que eram quatro filhotes: um azul escuro e três azuis bem clarinhos. O mais velho saiu do ninho mas, bastava qualquer um se aproximar da gaiola, que ele fugia rápido para o abrigo seguro da casinha de madeira.
Os outros dois também saíram do ninho em poucos dias, permanecendo apenas o filhote que nasceu por último, o que parecia um ET quando caiu do ninho. Este chegava na porta da casinha e lá era alimentado pelos pais, enquanto os outros já estavam aprendendo a comer alpiste sozinhos.
Minha mãe, todas as manhãs, limpa a gaiola, troca a água e coloca comida fresquinha. Um dia desses, quando ela foi colocar uma vasilha com comida, o filhote que saiu primeiro do ninho escapou pela porta aberta e ganhou a liberdade. Primeiro pousou no pé de pitanga do quintal para em seguida voar para o quintal do vizinho, que também é cheio de árvores frutíferas. Pousou no pé de romã e ficou ali olhando para o céu azul e para as árvores verdinhas a sua frente então, de repente, abriu suas asas azuis e voou.
12/fev/2011

1 Response
  1. shan-Tinha Says:

    oi
    lindo texto Lu!
    bj e ótimo final de semana, assim como espero que sejam todos os seus dias!!!
    sta


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou