Engana-se quem pensa que um gato ou qualquer outro bicho, por ser classificado como animal irracional, não tem sentimentos. Posso garantir que eles sentem e reagem a tudo o que se passa no ambiente em que vivem.
Poucos meses depois que eu e minha família viemos morar na casa onde vivemos até hoje, um colega de trabalho presenteou minha mãe com uma gatinha jovem, que não poderia mais viver na casa dele, por causa do seu filhinho que estava para nascer.
Luana chegou desconfiada e assustada em seu novo lar, e logo de cara precisou se defender dos ciúmes do Nino, um outro gato que já era o dono do pedaço; mas com os cuidados e carinhos da minha mãe ela logo se adaptou, como também se entendeu com o Nino. Os dois se tornaram amigos inseparáveis.
Quando entrou no cio, Luana, uma siamesa muito elegante e charmosa, fugiu de casa e ficou desaparecida uns dois dias, o que resultou numa ninhada com três filhotes de raça absolutamente indefinida, ou seja, legítimos viralatas, embora dois deles tivessem os olhos azuis da mãe e também o desenho das cores do siamês, só que mais claro.
Doamos dois filhotes da Luana, e o que ficou em casa recebeu o estranho nome de Bubu. Nino, Luana e Bubu formavam um trio do barulho. Eles brincavam o tempo todo juntos e o que mais gostavam de fazer era correr um atrás dos outros subindo no sofá para alcançar o piano e escorregar para o chão recomeçando tudo de novo. Daquela época de correrias e brincadeiras ainda restam as marcas das unhas dos gatos nos pés do piano.
Havia mais um animal de estimação que gostava de entrar na brincadeira dos gatos, uma cadela fox paulistinha chamada Crica. Todas as noites os gatos e a Crica corriam pela casa, fazendo bagunça e divertindo todos os que assistiam as brincadeiras.
Dos quatro bichinhos de estimação a Criquinha foi a primeira que partiu, deixando uma enorme saudade. Anos depois, numa ocasião em que fiquei bastante doente, foi a vez da Luana partir deixando mais um vazio e, na semana passada foi o Nino.
Depois da morte do Nino, o Bubu, que já está com 16 anos, ficou muito sozinho e triste e começou a miar mais do que o normal. Era um miado sofrido, como se ele estivesse chorando a morte do amigo que o acompanhou desde o seu nascimento. Quatro dias depois que o Nino morreu o Bubu parou de comer, não conseguiu mais evacuar e o veterinário precisou intervir e medicar. Ele está melhor e mais calmo, embora triste. Um dos diagnósticos diz que o gato está deprimido e que talvez tenha que passar a usar fluoxetina. Pode?
Hoje, como se não bastasse a morte do Nino e o adoecimento do Bubu, a Haseena, nossa poodle pretinha e encrenqueira estava indo tomar banho e fazer a tosa quando teve uma convulsão bem na porta da clínica veterinária. Ainda bem que foi chegando na clínica e, apesar da correria que causou, o atendimento pode ser imediato e eficiente.
O Wanderlei, veterinário que atende meus animais, disse que ela pode estar epilética já que está com mais de 5 anos, que é normal um poodle ficar epilético a partir desta idade, e por isto convulsionou daquele jeito. Vamos observar e se ela tiver outra crise terá que passar a fazer uso de gardenal, um remédio usado para controlar as convulsões causadas pela epilepsia.
Minha teoria é outra, não acredito que a Haseena esteja epilética. Acho mesmo é que ela ficou muito nervosa ao sentir o cheiro da clínica veterinária e acabou tendo uma crise.
Sabe porquê? No dia em que o Nino morreu ele esteve naquela clínica para atendimento. Quando chegamos em casa com o gato morto e todo embrulhado, a Haseena entrou no carro muito agitada e pulou na caixa onde o Nino estava e ficou cheirando o gato. Ela não saiu de perto dele até o momento em que o enterramos num canteiro coberto de flores, onde estão enterrados nossos outros bichos de estimação.
Para mim, posso até estar delirando, ou com complexo de psicólogo, mas acho que a Haseena ficou tão nervosa e teve a convulsão porque sentiu o cheiro da morte, que estava impregnada em seu amigo Nino, assim que entrou na clínica. Será?