Um Giro pela Toscana - dia 5 - Galeria dell'Academia


      Florença, considerada o berço do Renascimento, é uma cidade cheia de atrações e merece uma visita com mais vagar.  Resolvemos ficar por lá mais um dia para conhecer  com calma a famosa Galeria dell’Academia, onde está a escultura original do Davi, de Michelangelo (é proibido tirar fotos, e como detesto levar bronca, prefiro ser obediente). 



Esse Davi é uma cópia na Piazza della Signoria.
 Olha só as mãos, os músculos, os detalhes anatômicos...



     A academia de belas artes guarda também pinturas pós Giotto, o artista que inovou a pintura gótica, dando um ar mais realista às figuras. Sabe porquê? Porque foi  Giotto quem descobriu a perpectiva, e a partir desta importante descoberta, as pinturas ganharam mais naturalidade, e os rostos começaram a parecer mais humanos. Houve também uma ruptura com o imobilismo e a hierarquia da pintura medieval.
        O HA nos explicou que naquele período (1370 – 1430)  as molduras também passaram a ser importantes, tão importantes quanto a pintura, porque a idéia era de que a moldura complementava a idéia da pintura.
      O Renascimento, esta fase rica da história da arte,  é dividido em três grandes fases: o Trecento (1300 – século XIV), o Quattrocento (1400 – século XV) e o Cinquecento (1500 – século XVI).  E não é que o Cinquecento coincide com a época do descobrimento do Brasil! Gosto deste tipo de associação, para não esquecer as datas.
     A descoberta da perspectiva, abordando o espaço e a luz,  inovou tanto a pintura que permitiu a reprodução da realidade associada ao ideal de beleza grego. O renascimento conseguiu trazer de volta aquele espírito clássico grego, resgatando a estética e dando formas mais simétricas e ordenadas a pintura.
Um detalhe que não posso deixar de mencionar:  se foi Giotto quem deu o pontapé inicial na nova fase da pintura,  com a descoberta e o uso da perspectiva, não podemos esquecer que a literatura também teve suas figuras de destaque: o poeta Giovanni Boccacio e Francesco Petrarca, considerado o pai do humanismo e o inventor do soneto. Acho o que alguns chamam de cultura inútil um negócio muito divertido. Não é legal aprender estas coisinhas? Pode até não acrescentar muita coisa em nossas vidas, mas treina o cérebro e ajuda a evitar males maiores.
O Renascimento é uma época efervecente na história da humanidade e,  com o incentivo dos Medici, que foram os grandes mecenas daquela Era, Florença conseguiu reunir os maiores e melhores artistas daquele tempo.

Hércules e o gigante Cacus

O Renascimento atingiu seu auge no século XV, no período chamado Quattrocento, também conhecido com Alto Renascimento.  Os artistas que mais se destacaram na época foram Botticelli, Leonardo da Vince, Rafael e Michelangelo.


    Foi no Cinquecento, último período do renascimento, que  as obras de arte atingiram seu mais alto grau de elaboração e beleza, e foi aí também que teve início sua decadência. Os artistas começaram a se cansar de tudo muito certinho e perfeito e começaram a procurar outras formas de se expressarem,  e então apareceu o Maneirismo, que pode ser classificado como um estilo anticlássico.

Rapto da Sabina, de Giambologna - típica escultura maneirista

Como disse o HA, a evolução da pintura pode ser assim descrita: período gótico, renascimento, maneirismo e barroco;  aí o barroco ficou gay e se transformou no rococó. Depois vieram o romantismo, realismo impressionismo,  etc.
       Sabiam que visitar a Galeria dell'Academia aliás, conhecer Florença e passar por uma overdose de arte e beleza,  pode até causar um mal estar em pessoas mais sensíveis?  É a chamada Síndrome de Sthendal e Síndrome de Davi. A criatura pira legal e algumas precisam até voltar para suas cidades porque não aguentam. Já imaginou?


       A Galeria preserva ricas obras de arte desde os fins do gótico até o final do século XIX. O modelo em gesso do Rapto das Sabinas, de Giambologna, que está na Academia, é um belo exemplo das obras máximas do Maneirismo (o original está na Piazza della Signoria, na Loggia dei Lanzi). Lá também estão expostas várias esculturas inacabadas, incluindo a belíssima Pietá de Palestrina, atribuída a Michelangelo, é de arrepiar.  E para concluir, e fechar com chave de ouro,  ainda tem o incrível Davi em seu lugar de honra, no alto de um pedestal. É impossível ficar indiferente diante daquela obra. Ela é magistral. Dá até para entender porque alguns piram. O Davi é lindo! Acho até que me faltam palavras para descrever aquela obra.

Pietá, de Michelangelo (Museu dell'Opera del Duomo)

      Saímos da Academia e fomos conhecer o Museu de São Marcos (4,00 euros), onde não é permitido fotografar. Na Academia a entrada custou 6,50 euros.


      Pouca gente sabe que no Museu de São Marcos está uma das três pinturas da Última Ceia, a de Ghirlandio. As outras duas ceias, sendo a mais famosa delas a de Leonardo,  está numa das paredes do refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão; e a outra ceia, de Andrea del Castagno, está no Convento de Santa Apolônia, também em Florença. Todas são belas, e cada uma tem sua característica própria.


      O Museu de São Marcos é uma verdadeira jóia que poucos turistas conhecem. É lá que no século XIII funcionou um convento dominicano e foi lá que viveu Fra Angelico, famoso por seus belos afrescos.


    A arquitetura do prédio é uma construção típica do Renascimento italiano. Sua importância para a arte são os afrescos pintados  por Fra Angelico nas diminutas celas dos monges e em outros espaços do prédio (umas duas ou três celas até que são maiores, deveriam ser as celas dos chefes). Os afrescos são cenas  retratando a vida de Cristo. Não fiz nenhuma foto porque era proibido fotografar, mesmo sem flash.
     No museu vimos também algumas figuras em terracota de Della Robbia. 
  Sabiam que naquele convento viveu Savonarola, aquele monge dominicado  que era chegado a fazer uma fogueira com os livros que ele confiscava? Pois é, ele gostava tanto de queimar livros que acabou condenado a morrer queimado na fogueira da Inquisição. Coitado! Sentiu na própria pele o remédio que gostava de dar aos livros (não sei com certeza se ele também mandou queimar gente. Não duvido. Aqueles padres da inquisição adoravam botar gente na fogueira. Só para se ter uma idéia, foram 500 anos que eles gastaram mandando mulheres para a fogueira (a desculpa é que eram bruxas). Pensa bem, 500 anos, quase o mesmo tempo de existência do nosso Brasil varonil. E depois o povo ainda não consegue entender porque tantas mulheres ainda são submissas. É o medo inconsciente de ser mandada para a fogueira...


      Saímos do Museu de São Marcos e ainda fomos conhecer o Convento de Santa Apolônia para ver de perto o Cenacolo de Del Castagno. Lá pudemos ver com calma e até assentados. É permitido fotografar sem flash.


      O convento de Santa Apolônia é pouco conhecido pelos turistas, o que é uma pena para os amantes das artes. O afresco da Última Ceia pintado por Del Castanho em 1447 é lindo,  e as outras obras de arte no convento também.




      Para quem se interessar, o Convento de Santa Apolônia fica perto da Piazza de San Marco, na Via 27 aprile, n° 1. Detalhe: não cobra o ingresso.
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Obrigada pelo comentário. bjs Lou