Caminhadas pelas quadras de Brasília

     Gosto de caminhar pela manhã, enquanto o sol ainda está fresco e a cidade acordando. Os comerciantes abrem as portas de seus estabelecimentos  com  grande ruído e os empregados chegam tagarelando, na maior animação para começar mais um dia de labuta. Os ambulantes montam suas barracas nas calçadas e os feirantes  organizam seus produtos nas mesas e caixotes de madeira. A rotina se repete todos os dias da semana.
      Sempre levo minha mãe, que já está com 88 anos, e a Haseena, nossa poodle velhinha e cheia de problemas de saúde, para as caminhadas. Andamos devagar pela quadra, aproveitando as sombras das árvores frondosas que enfeitam os jardins. Gostamos de observar o desabrochar das flores e os inúmeros pássaros que vivem nos arredores. São tantas sabiás cantando para alegrar o dia que nasce, o simpático joão de barro que dá três passinhos e uma corridinha curta pelo gramado, os negros anus bicando o chão em busca de algum petisco e alguns outros pássaros que sequer sei os nomes. Eles tornam nossas caminhadas mais interessantes e divertidas.
Ao longo do caminho sempre encontramos alguém indo ou vindo em nossa direção. São pessoas que caminham apressadas para chegar em seus locais de trabalho, alguns idosos que moram nos apartamentos vizinhos que caminham com seus cuidadores ou são levados em suas cadeiras de rodas, algumas outras que, como eu, caminham com seus cachorros de estimação.
Gosto de observar as pessoas e acabei, com o tempo, aprendendo a acertar quem irá nos cumprimentar ou responder ao nosso cumprimento de bom dia, quem vai ignorar e simplesmente seguir adiante e quem vai fingir que não nos vê. Acho divertido observar a diversidade humana e seus humores. Algumas pessoas cumprimentam com tanto entusiasmo que parecem nos conhecer de longa data, outras até param para bater um papinho enquanto outras passam duras, sem olhar para os lados, quase emburradas, ensimesmadas... O que será que lhes corrói a alma?
A Haseena quase atrapalha nossa caminhada. É que ela quer cheirar tudo e para a todo instante conferindo alguma coisa diferente ou apenas para fazer um xixi e marcar território. Ela enfia o focinho, sem o menor cuidado ou cerimônia, em todo lugar  e foi assim que ela acabou furando o olho direito numa cerca viva e ficando cega. Como ela viveu muitos anos em casa e reinava sozinha como cachorro ela se acha a rainha da cocada preta e late para qualquer cachorro que cruze nosso caminho. É uma chata, mas gostamos muito dela assim mesmo.



Caminhar pelas quadras em Brasília é um exercício muito bom, mas precisa ser feito com muito cuidado. É que a cidade está muito mal cuidada, as calçadas estão quebradas e cheias de buracos e tem lixo para todo lado. Agora, com a chegada da chuva, o mato está tomando conta dos canteiros e as folhas caídas das árvores enchem os bueiros e ajudam a causar alagamentos. Uma tristeza ver a capital da república nesta sujeira e abandono. Retrato de um país atolado na lama da corrupção
1 Response
  1. Nessa Says:

    Fico bem que você está bem! beijooo


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou