Graduação de uma Chef que já sabia cozinhar

          Ainda me lembro como se fosse ontem: ela nasceu chorando forte e foi uma criança sapeca, que não parava quieta um minuto sequer. Não podia ver uma porta aberta que escapava correndo para a casa do outro lado da rua onde era sempre recebida com carinho pela D. Neusa, uma vizinha que a chamava de “Pinguinho do I” porque era muito magrinha e miúda.
            Aprontava tantas que volta e meia machucava feio. Uma vez levou um tombo na rua e caiu de cara no chão. O queixo magrinho bateu na quina da calçada fez um rombo feio e um pedacinho da carne caiu no paralelepípedo encharcado pelo sangue rubro que saía do corte. A pequena pegou o pedacinho de seu queixo e berrando a pleno pulmões entrou correndo em casa espalhando gotas de sangue pelo chão. Foi levada para o hospital e levou alguns pontos que deixaram uma cicatriz que ela carrega até hoje.
            De outra feita ela subiu na mureta da varanda da casa vizinha e caiu estatelada no chão quase arrancando um pedaço da língua que ficou presa apenas por uma pele fininha. Foi outro berreiro, sangue escorrendo e outra visita ao hospital. A pequena levou um monte de pontos na língua, mas nem assim deixou de aprontar suas artes.
            Ficou órfã de pai aos 7 anos e como era muito fujona sua mãe a carregava para o trabalho, no colégio das freiras. A Irmã Geralda, uma freira boazinha e carinhosa que trabalhava na cozinha, mandou fazer dois aventais xadrezinhos para a pequena e a colocava para ajudá-la na cozinha e assim dar sossego para a mãe trabalhar em paz. Sua primeira tarefa na grande cozinha foi catar arroz e feijão, mas em pouco tempo a menina estava ajudando a Irmã Geralda fazer biscoitinhos caseiros. Foi assim que a garotinha levada tomou gosto pela culinária, seus cheiros, sua alquimia. Ela adorava fazer coisinhas e se divertia em cima de um banquinho para alcançar o enorme fogão e mexer as panelas que ferviam com comidas cheirosas e muito gostosas.
          Naquela ocasião a menina começou a ter um sonho recorrente: ela sonhava com uma cozinheira negra, muito gorda, mexendo uma enorme panela que fervia no fogo. Ela tinha a sensação de que aquela mulher era ela mesma, embora não entendesse como podia ser criança e se enxergar numa mulher velha e gorda. A imagem daquela cozinheira que aparecia em seus sonhos mexendo a panela a perseguiu muito de perto, durante boa parte de sua infância.
          O tempo passava e a cada dia a menina tomava mais gosto pela culinária e sentia um prazer enorme em experimentar receitas e revelar sabores. Ela cresceu e todos que a conheciam de perto experimentavam seus pratos deliciosos e muitos a incentivavam explorar aquele dom de extrair sabores sutis, que enchiam a língua e despertavam o paladar dos amigos.
          Anos se passaram, mas só agora aquela garotinha levada da breca, que começou ajudando a catar arroz e feijão na cozinha de um colégio de freiras no interior de Minas Gerais, conseguiu se formar em gastronomia pelo IESB de Brasíla. Ela precisou primeiro vencer seus medos, enfrentar seus fantasmas, lutar contra a insegurança e a baixa autoestima para ter coragem de se inscrever no vestibular. Ela demorou, mas finalmente conseguiu acreditar que era capaz de realizar qualquer sonho pessoal e acabou de se graduar.

Erasmo - Suzi - Andre - Aline
(Grupo do Degust 2013 do IESB)

          Parabéns Suzi, estou muito orgulhosa de você minha irmã. Tenho certeza absoluta que tanto eu quanto todas as pessoas que convivem ao seu lado e admiram a pessoa generosa e talentosa que você é torcem pelo seu sucesso como chef.  Aliás, quem a conhece e já teve a oportunidade de provar seu tempero especial  sabe que você é uma grande chef há muito tempo, que agora conquistou o título. A faculdade serviu apenas para aprimorar seu dom e o seu talento.
1 Response
  1. Anônimo Says:

    Mama,

    Com certeza estamos todos mto orgulhosos da Tia Suzi. Mais uma vez ela mostrou que é foda em tudo o q faz! Parabéns Tia! Vc é espetacular!

    A Tia Suzi faz a melhor comida do mundo, seja ela qual for. Não tem nem discussão. Dá água na boca só de pensar nessas delícias! Hummmmm!

    E os próprios professores comprovam isso. Essa turminha recebeu mtos elogios no Iesb, inclusive de melhor degust EVER! E a Tia Suzi ao longo do curso aprimorou suas técnicas, mas também ensinou algumas na faculdade. Uma artista nata!

    Mto orgulho da melhor tia do mundo! Pessoa maravilhosa, que sempre está disposta a ajudar a todos. Um orgulho e exemplo a ser seguido.

    Amo vcs!


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Obrigada pelo comentário. bjs Lou