Ainda temos um ao outro
domingo, junho 09, 2013
-
Dadai, dadai, não vai embora...
Era assim que
Mercedinha se despedia do pai no portão da casa, todos os dias pela manhã,
quando ele saía para o trabalho. Enquanto o pai se afastava ela ficava acenando e
chorando. Ele olhava para trás, jogava um beijo e seguia seu caminho. Ela adorava
aquele pai carinhoso, e ele amava profundamente a única filha. A menina de
olhos verdes muito vivos tinha longos cabelos cheios de cachos dourados que
emolduravam um rostinho redondo e corado. Ela era linda. Era a paixão daquele
pai.
Na volta do trabalho
ela disparava até a porta da casa tão logo ouvia os passos firmes de Heitor
ecoando na calçada. O ritual se repetia todos os dias, e assim que a porta se
abria ela se jogava no pescoço dele e enchia seu rosto de beijos e os dois
entravam abraçados e ficavam brincando juntos por algum tempo até Mercedes se
cansar e dormir nos braços do pai.
A
mãe de Mercedes era uma senhora baixinha, de cabelos curtos e castanhos e corpo
roliço. Era uma mãe carinhosa e estava grávida do seu segundo filho. Ela vivia
para cuidar do marido e da filha pequena.
Certa ocasião Heitor, o
pai de Mercedes, precisou viajar alguns dias a trabalho. Durante sua ausência a
cidade onde moravam foi tomada por um surto de doenças contagiosas que dizimou
várias pessoas, principalmente crianças. Anita ficou muito aflita quando
Mercedes ficou amuada por causa de uma febre constante. Em seguida a menina começou
a vomitar e uma diarreia a deixou bastante prostrada. Ela ficou gravemente
doente.
Com o pai ausente e uma
gravidez já bastante adiantada Anita precisou internar Mercedes num hospital já
superlotado de pacientes com os mesmos sintomas. Ela não saía de perto da cama
da menina, mas todos os cuidados foram em vão. Mercedes, assim como vários
outros pacientes, também não resistiu ao forte vírus e acabou falecendo poucos
dias depois, aos três anos de idade.
Desesperada de dor e
angústia pela perda da filha e sem o marido por perto para lhe dar apoio Anita,
de saúde frágil, entrou em trabalho de parto. Sua gravidez, de alto risco, a
deixava num estado muito delicado. Os médicos usaram de todos os recursos, mas
tudo foi em vão. A criança nasceu morta e Anita ficou entre a vida e a morte na
UTI do hospital.
Heitor, sem sequer
imaginar a tragédia que atingira sua família, voltando de viagem entrou
correndo em casa chamando pela filha querida que não viera ao seu encontro. Um
silêncio sinistro... uma casa vazia. Onde estariam sua mulher e sua filha?
Uma vizinha, muito a
contragosto e sem saber direito como abordar o assunto, veio ao seu encontro e
relatou a desgraça que se abatera sobre sua família. Heitor soltou um grito de
horror e desespero. Levantando as mãos aos céus ele clamava aos gritos que
saíra para trabalhar e voltando para casa encontrara suas duas filhas mortas e
sua mulher agonizando no hospital. – O que aconteceu meu Deus? Tenha piedade de
mim. Minha família está quase toda destruída. O que eu fiz para merecer tamanho
castigo?
Heitor saiu correndo
para o hospital, sua mulher agonizava. Ele segurou suas mãos muito frias e
lançou uma súplica a Deus – salve ao menos a minha mulher, já que minhas filhas
estão mortas. Tenha piedade de mim.
As horas foram se
arrastando e a noite alcançou Heitor suplicando a Deus, ajoelhado na beira da
cama de sua esposa muito amada. Ela resistiu àquela noite e nos dias que se
seguiram foi recobrando as forças devagar. Deus ouvira as preces de um homem
desesperado.
Passado alguns dias
Anita recebeu alta hospitalar. Ela recuperou a saúde, mas ficou sabendo que não
poderia mais ter filhos e suas duas filhas estavam mortas. Anita sentiu-se
morrer, mas foi amparada pelo marido que muito a amava. Voltou para casa arrasada,
e um silêncio sepulcral, devastador, os recebeu no lar vazio. As gargalhadas de
Mercedes silenciaram... estava tudo muito triste e desolador.
Heitor abraçou Anita carinhosamente e sussurrou em seu ouvido: - ainda temos um ao outro.
Heitor abraçou Anita carinhosamente e sussurrou em seu ouvido: - ainda temos um ao outro.
Mama, ficou excelente! Mto triste, mas excelente!