Uma anciã muito ativa
sexta-feira, junho 07, 2013
Seus cabelos já estão brancos há muito tempo, mas seu corpo magro e
pequeno continua ágil. Nem parece uma anciã de 86 anos. Levanta cedo e vai
direto para o quintal, varre a grama, recolhe o lixo e em seguida vai cuidar
dos passarinhos de estimação que ficam na gaiola.
Limpa a gaiola e troca a água e a comida do Neto,
um melro metálico. Ele é um pássaro azul escuro brilhante de olhos muito
amarelos. É lindo! E ninguém diz que já está com mais de dez anos. O Neto adora
comer frutas, e suas prediletas são maça, mamão, laranja, mas ele também não
dispensa uma suculenta e gorda minhoca. Ele é fascinado por insetos e sempre
que vejo algum dando bobeira em casa eu levo o bichinho até a gaiola. É uma
verdadeira festa. Outra iguaria que ele adora é um ovo cozido.
Se a parte da manhã é dedicada as plantas e aos
bichos, sejam eles de estimação ou aqueles soltos na natureza, a tarde costuma
ser dedicada a costura enquanto ela assiste algum programa na televisão. Ontem
ele fez roupas novas para algumas bonecas que retiramos das caixas onde estavam
guardadas, para colocá-las expostas nos armários com portas de vidro. Ela lavou
e penteou os cabelos das bonecas e também do cavalo branco da Barbie. Está tudo
limpinho e organizado nas vitrines. Acho que estamos na estação nostalgia...
Deve ser porque a Bárbara foi morar na própria casa.
Hoje pela
manhã minha mãe entrou na lavanderia carregando uma vasilha de comida de
passarinho com um agaporne morto dentro. Era um dos seus passarinhos que estimação
que estava doentinho. Ele ficava tremendo o tempo todo e dizíamos que o
bichinho devia sofrer de Alzheimer. Peguei uma sacola plástica para colocar o
passarinho no lixo, mas ela disse que preferia enterrar no canteiro dos bichos
de estimação da casa, e lá se foi ela carregando o passarinho para enterrar.
Passado algum tempo, depois que todos saíram de
casa, ela foi para a cozinha tomar o café da manhã. Sempre que estamos sozinhas
ela costuma relembrar seu passado, no tempo em que ela era criança e morava na
roça e hoje não foi diferente. Seus olhos ficam distantes e ela então começa a
falar. Hoje ela se lembrou dos campos branquinhos, cobertos pela geada que caía
durante a madrugada e se perguntou: - porque naquele tempo eu pisava no gelo e
andava léguas sem me incomodar com o frio e hoje sinto frio o tempo todo? Sorri
para ela e disse-lhe que criança não costuma sentir muito frio e naquele tempo
ela não devia ter muita opção. Depois ela se lembrou de sua irmã Suzana e das
artes e brincadeiras que as duas faziam juntas. Elas colhiam frutos silvestres
no mato, pescavam e corriam soltas pelos campos das grandes fazendas no
interior de São Paulo.
Minha mãe adora mexer na terra até hoje. Ela
gosta de plantar e colher. Seu maior prazer é ver a flor se transformar em fruto ou
legume e colher para a família ou algum amigo comer. Hoje foi dia de colher
tangerina. Ela trouxe um balde cheio para a cozinha e fez uma enorme jarra de
suco que eu saboreei em seguida. Estava uma verdadeira delícia.
Li o texto comendo uma dessas tangerinas. Delícia!!!! A vovó é um espetáculo!